BIOÉTICA MEIO AMBIENTE E SAÚDE.

O meio ambiente se formou ao longo de milhões de anos, o homem, em milhares de anos. A aquisição do conhecimento, pelo homem, a respeito do que o cerca ocorreu pela observação repetida de cada fenômeno e sinal. A natureza repetindo-se incessantemente oferece-se ao homem, e este observando-a e repassando a sua observação ao longo dos anos, produz o conhecimento sobre o seu próprio ecossistema que permite o domínio do meio ambiente e de suas inter-relações.

 

Mesa redonda

 

XXVI Congresso Brasileiro de Homeopaia


Ângela Augusta Lanner Vieira,
médica homeopata/RS.

Natal, outubro de 2002
“Seja a mudança que você deseja na sociedade”.Gandhi
“Tendo, pois o Senhor Deus formado da terra todas as criaturas, os animais terrestres e todas as aves do céu, levou-os a Adão para este ver como os havia de chamar. E, o nome que Adão pôs a cada criatura é o seu verdadeiro nome. Ele os chamou pelo nome que lhes era próprio.” Gênesis

 

O homem usufrui da natureza e convida-a a lhe presentear através da domesticação das espécies, tanto vegetais como animais. Assim ele fez com que a natureza produzisse variações genéticas que lhe fossem mais gratificantes. Essas variações genéticas ocorreram dentro do espectro de tempo da natureza num período muito curto (poucos milhares de anos), desde que o homem as maneja e submeteram-se a possibilidades da própria natureza. Assim o homem produziu a mula (estéril), o amendoim, a laranja de umbigo, várias espécies de grãos que hoje enchem nossos seleiros. As espécies viáveis foram sendo incorporadas gradativamente pela natureza e esta foi adaptando o seu entorno à criação do homem. Criador e criatura imiscuídos num processo respeitoso de aceitação mútua dos resultados deste ato que reunia de um lado a observação e a tentativa e de outro o potencial gerativo da natureza em uma nova espécie, e da adaptação desta última ao ecossistema já existente. Muito o homem conseguiu da natureza com esta atitude de predispor o nascimento de uma nova vida, mas nunca de determiná-la arbitrariamente. Assim os Incas produziram e presentearam a humanidade com o milho e todas as suas variedades, com a batata, e assim foi feito por outras Culturas, com inúmeros cereais. A viabilidade das novas sementes criadas foram o aceno positivo da natureza ao homem.

INÍCIO DO PROCESSO DE DESEQUILÍBRIO

O homem com seu desejo de domínio passa a produzir latifúndios de monoculturas, desequilibra os ecossistemas que, por sua vez, geram o aparecimento de “pragas” que concorrem com o homem pelo alimento. Para combater as “pragas” surgem os venenos químicos que são advindos das guerras para combater outro tipo de “praga” – o ser humano.
Cresce exponencialmente, no homem, o desejo de domínio, que transfere costumes e partes de ecossistemas para dentro de outros costumes, culturas e ambientes, carregando assim os desequilíbrios e, como arma contra eles, os agentes químicos. Usa-os inescrupulosamente, criminosamente contra a natureza, dando de ombros ao sofrimento e tortura impostos aos outros seres. Desconsidera o movimento orgânico ao longo do tempo e desconsidera a continuidade do pai no filho (ação de venenos genéticos). Surgem os primeiros grandes acidentes ecológicos.
O poder, o domínio considerando-se acima de tudo e renegando totalmente a sua própria origem (a natureza comum que nos cria e une), impõe aos vizinhos seus agentes químicos: a desgraça ocorrendo em terra alheia não lhes importa e até é melhor assim, torna o outro mais fraco.”
A isto a natureza responde-lhe: – temos todos a mesma origem e estamos sujeitos ao mesmo terror.
Surgem os lutadores pela vida, os que denunciam os crimes ambientais. Porém, para calar as suas bocas e subjugar-lhes na luta, os venenos agrotóxicos passam a ser geridos por “normas” e a ser chamados de defensivos agrícolas, praguicidas, inseticidas, fungicidades e bactericidas. Nenhum deles se chama biocida ou homicida.
Porém as “pragas” insistem em querer viver e as que sobram da dizimação pelos venenos rapidamente espalham a sua resistência oferecendo-a também, de forma dadivosa, a outros seres através de cruzamentos. Ocorre, então, aos poderosos a idéia de um outro “filão de ouro”, o controle biológico através de doenças provocadas por microorganismos e vírus. Este porém é mais fácil de ser dominado por todos e o alvo, então, dos que detém o poder econômico, direciona-se para a guerra biológica.
O dominador segue seu plano e agora adquiriu o domínio da tecnologia genética e com ela produz monstruosidades a semelhança da sua própria essência. O direito de gerar novas vidas cabe só e exclusivamente a ele. Sua produção não fará parte de cadeia da vida e suas sementes virão marcadas pelo “terminator” gen que torna a planta ou animal estéril.
Dominado o solo, os mananciais minerais e de biodiversidade, agora está também dominada a generosidade da própria vida, exterminada a generosidade em sua própria essência, o ato de reproduzir milhares de vida de uma só. Ao poderoso agora só é necessário mais um passo, implantar impositivamente no mundo a necessidade de acolher as suas sementes.
Com este caminho chegamos ao extermínio completo das culturas, cada uma com sua própria tradição vivendo em harmonia com seu ecossistema e especializando-se em sua própria diversidade. A imposição de monoculturas transgênicas é o próprio exterminador do futuro, usurpa do homem suas peculiaridades culturais, torna-o ignorante de si mesmo e do meio em que habita, impede-o de replicar e domesticar as suas próprias sementes e escraviza-o a mecanismos que lhe usurpam a condição de ser o Ser que nominou a própria natureza com o nome que lhe era próprio segundo as suas espécies.
No “Admirável Mundo Novo” de Huxel o dominador era possuidor do banco de vida indígena, a ele cabia a hegemonia e, determinava a seu prazer o tipo de vida que lhe interessava ter para os fins a que lhe servia.
O caminho do monopólio que hoje culmina nos transgênicos é a linha direta que nos leva a infração de todo o “código de ética” da própria vida, qual seja: – todo ser tem direito à vida, seu direito diminui a medida em que seus dotes não o torna apto a sobreviver na inter-relação com o meio ambiente. A vida tende cada vez mais a qualificar-se frente às mudanças a que está exposta. A sobrevivência do mais forte e mais apto também é a sobrevivência do que está mais adaptado. Na natureza o animal não come a melhor de suas presas e sim a que está menos dotada, a que está adoecida, mais lenta, menos atenta ou seja, a que apresenta algum defeito que a torna vulnerável. Desta forma, a natureza produziu um escripte exigente para seguir adiante com um único propósito, gerar e resguardar cada vez mais a sua essência – o potencial vital.

PANORAMA DA SAÚDE AMBIENTAL E HUMANA APÓS A EXPLOSÃO DOS PRODUTOS QUÍMICOS SINTÉTICOS DADOS EXTRAÍDOS DO LIVRO “O FUTURO ROUBADO”

Este livro foi escrito por diversos cientistas entre eles a cientista Theo Colborn, cientista  da World Wildlife Found, especialista em distúrbios endócrinos provocados por produtos químicos – Washington.
Theo Colborn passou 7 anos avaliando as pesquisas sobre alteradores hormonais e o resultado de seu trabalho está compilado na obra descrita acima.
1929 – Lançados os PCBs, após a I Guerra Mundial, quando o mundo começa a assistir tímida e esperançosamente a revolução química.
1938 – São anunciadas duas substâncias ao mundo, o DES – anunciada como uma droga maravilhosa, por Edward Doods (químico suíço) e o DDT – elogiado como um pesticida milagroso, por Paul Müller que recebeu o prêmio Nobel em 1948.
1947 – Declínio das águias na Costa Leste do Canadá e EUA, ninhos abandonados e contendo cascas quebradas. Os casais de águias tornaram-se indiferentes ao ritual de acasalamento. 80% das águias americanas estavam estéreis.
1950 – Desaparecimento das lontras. Em 1980 atribuiu-se ao dieldrin.
1960 – Diminuição acentuada do vision.
1967 – As fêmeas não procriam e os poucos filhotes que nasciam não sobreviviam. Os visons que escaparam desta estatística foram os alimentados com peixes importados da Costa Oeste. Os cientistas estabelecem um elo entre os PCBs poluentes dos Grandes Lagos e a diminuição  dos visons. (PCBs família de agentes químicos sintéticos clorados usados no isolamento de equipamentos elétricos (transformadores), tintas, borrachas, plásticos, etc.)
Os criadores de visons da região Centro-Oeste dos EUA tiveram seus rebanhos dizimados pelo uso de rações com resíduos de frango que recebiam dietilestilbestrol (DES) – hormônio feminino sintético para aumentar o crescimento.
1970 – Lago Ontário – Colônias de gaivotas exibem ovos por chocar, ninhos abandonados, filhotes mortos, 80% morreram antes de abandonar as cascas, observando-se os filhotes encontrou-se deformidades grotescas: penas de adultos ao invés de penugem, bicos entrecruzados, pés deformados, falta de olhos, saco vitelino ligado ao corpo. O mesmo ocorreu com pintos expostos à dioxina.
Os Grandes Lagos estavam contaminados com a dioxina.
Anos 70 – Ilhas do Canal, sul da Califórnia. Fêmeas dividindo os ninhos com outras fêmeas de gaivotas, cascas dos ovos finas. Isto passou também a ocorrer com as andorinhas-do-mar rosadas.
Anos 80 – A eclosão dos ovos de jacarés do lago Apokpa (Flórida) caiu de 90% para 18% e 1/2 dos filhotes morriam nos primeiros dias. Após o acidente da companhia Química Tower (vasamento de Dicofol), mais de 90% da população de jacarés desapareceu apesar de o exame da água mostrar-se limpo, 60% dos jacarés machos apresentavam micropenia.
1988 – Norte da Europa – aparecimento de filhotes abortados de focas Otárias. Todos os indícios sugeriam uma doença infecciosa. Morreram mais de 40% da população de focas do Mar do Norte.
1990 – Mar Mediterrâneo, mortandade dos golfinhos pelo mesmo virus que matava as focas. Encontradas dosagens altas de PCBs nas amostras animais.
1922 – Dinamarca – Deformidade de espermatozoides humanos: 2 cabeças, 2 caudas, inatividade ou hiperatividade frenética. A incidência de câncer de testículo triplicou entre 1940-80. A contagem de sêmen humano diminuiu 50% entre 1938 e 1990, aumentou a incidência de criptorquidia e encurtamento do trato urinário.
Animais silvestres com defeitos nos órgãos sexuais e anomalias comportamentais, diminuição da fertilidade, perda de filhotes.
Final dos anos 80 o quebra-cabeças começa a fazer sentido. Grande surto de câncer em peixes foram registrados somente depois da revolução química sintética e ocorreram em peixes do lodo e do sedimento. A suspeita caiu sobre os PAHs (hidrocarbonetos poliaromáticos) decorrentes da queima incompleta de materiais com carbono (encontrados em derivados do petróleo).
Ligação dos PAHs com o DNA no núcleo das células foram apontados como desencadeadores dos cânceres.
A cada ano indústrias químicas lançavam centenas de novos agentes químicos sintéticos no mercado, um rítmo muito mais acelerado do que o dos cientistas pesquisadores. Para cada gente químico havia um efeito diferente.
Estudos passam a mostrar feminização de embriões machos de pássaros (70%), e (60%) de malformações genitais em fêmeas. Exposição dos pássaros masculinos ao estrógeno durante o desenvolvimento mostra sinais de afecção cerebral, alterações do comportamento sexual e do sistema reprodutor. O abandono do ninho e os ovos inviáveis mostraram-se em índices aterradores em locais contaminados. Crianças cujas mães haviam comido peixes dos Grande Lagos, mesmo que somente 2 a 3 vezes por mês, tinham nascido mais cedo, de menos peso e apresentavam cabeças menores e quanto maiores os índices de PCBs no cordão umbilical piores os resultados em testes de avaliação de desenvolvimento neurológico, diminuição da memória de curto prazo. Entre os vilões estavam o DDT, Organoclorados, Dieldrim, Clordane, Lindane e os PCBs. Colborn chocou-se com o alto teor destes agentes na gordura do leite materno.
A observação de pássaros jovens que enfraqueciam e morriam por não produzirem energia levou a junção deste problema com o das “gaivotas gays”. Não era possível encontrar a chave do quebra-cabeças. Problemas como declínio populacional, efeitos reprodutivos, tumores, enfraquecimento, imunossupressão e mudanças comportamentais encontrados em espécies que se alimentavam de peixes dos Grandes Lagos não fechavam com o baixo índice de contaminantes no mesmo. O quebra cabeças fez sentido quando feito o estudo da cadeia alimentar evidenciou-se que o índice de contaminantes crescia exponencialmente da água para os predadores do topo da cadeia. Assim, a concentração de agentes persistentes pode ser 25 milhões de vezes maior no predador do topo da cadeia do que na água do seu ambiente.
Os problemas de saúde parecia ser mais nos filhotes do que nos animais adultos. Descobriu-se então, que estes venenos são venenos hereditários.
“Os venenos hereditários, encontrados na gordura do corpo dos animais silvestres, tinham uma coisa em comum: de uma ou de outra forma, todos agiam sobre o sistema endocrinológico que regula os processos vitais internos do corpo e orienta fases críticas do desenvolvimentos pré-natal. Ou seja, os venenos hereditários estavam alterando os hormônios”.

DOSES INFINITESIMAIS DE HORMÔNIOS COMO DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO

Frederick von Saal pesquisador com trabalhos na área da testosterona no desenvolvimento pré-natal, evidenciou que o nível aumentado de testosterona a que o feto está exposto na vida intra-uterina determina o seu teor maior de agressividade no comportamento. Estudos com ratos cujo útero tem o formato de duas trompas posicionadas uma em cada lado formando um semi-círculo, onde os bebês ficam acomodados como grãos de ervilha numa vagem, dispostos em número de seis em cada parte lateral deste útero, mostram que esta disposição faz com que algumas fêmeas se desenvolvam entre machos e que sofram a ação da testosterona destes, exibindo ao longo da vida um comportamento de gênero masculino. Este achado foi comprovado por técnica de marcadores fetais e com cesareana que permitiu a localização de cada feto em relação aos mensageiros químicos. O ambiente hormonal pré-natal deixa uma marca comportamental definitiva nos cobaias. A concentração típica para o estradiol agir interferindo com o comportamento, atividade sexual e desenvolvimento genital é da ordem de 1 parte para um trilhão (CH4)
“O grau de sensibilidade ao hormônio para a produção de mudanças é da ordem do inimaginável.”- von Saal
A diferenciação de machos e fêmeas nos mamíferos ocorre por pistas hormonais num determinado momento do desenvolvimento intra-uterino (7 semanas). Sem os hormônios na época certa não há o desenvolvimento nem do pênis e nem de um cérebro que combine com ele. No feminino as glândulas unissexes ou ovários se desenvolvem mais tarde, no 3 ou 4 mês de vida os ductos de Wolff sem as instruções da testosterona desaparecem e o estrógeno passa a definir o desenvolvimento normal da fêmea.
O processo do macho é mais complicado. A ordem química para o desaparecimento dos ductos de Müller ocorre num estágio precoce e muito curto do desenvolvimento e para isto a mensagem hormonal precisa chegar no momento certo. Desaparecidos os ductos de Müller os testículos começam mandar mensagens (testosterona) aos ductos de Wolff porque eles são programados para desapareceram na 14 semana a não ser que recebam estímulo contrário.
Os hormônios na fase intra-uterina modelam completamente o padrão sexual para toda vida. Um indivíduo que nesta fase do desenvolvimento recebe mensagem hormonal errada, mesmo que com genitais masculinos poderá nunca acasalar.
Na década de 30 foram feitas experiências em ratos de laboratório com doses extras de estrógeno natural ou sintético durante a gestação e houve alterações dramáticas no desenvolvimento genito-sexual dos fetos. Defeitos estruturais no útero, vagina e ovários. Os machos nasceram com pênis atrofiados e outras deformidades. O estrógeno em excesso pode ser devastador.
Na década de 40, surge o dietilestilbestrol (DES) que foi amplamente utilizado para manter a gestação de mulheres com dificuldades. 5 milhões de mulheres grávidas foram as cobaias do DES. O DES também foi utilizado em gestações normais como fortificante gestacional. O Journal of Obstetrics and Ginecology veiculou anúncios que defendia o uso do DES para qualquer gestação e promoveu a droga como produtora de super bebês.
O DES também foi largamente usado para o aleitamento e para a menopausa, acne, ca de próstata, gonorréia em crianças e para travar o crescimento na adolescência. Foi amplamente difundido como pílula anticoncepcional da manhã seguinte. Os fazendeiros usaram toneladas como em rações ou como implantes em seus animais. No pós guerra a tecnologia milagrosa foi amplamente utilizada. Foi a época do controle químico sobre a natureza.
As pesquisas que mostravam os resultados terríveis eram descartadas como irrelevantes, as anomalias nos ratos eram vistas como curiosidade.
Na década de 60 o escândalo da Talidomida chocou o mundo pela focomelia e em 70 a teratogenia do DES explodiu, após 30 anos de uso indiscriminado apoiado e aplaudido pela ciência.
A Talidomida acabou com o mito da inviolabilidade do útero e da barreira-placentária e o DES com a imediata visão e detecção dos defeitos congênitos (que para muitos só surgiu no momento de quererem gestar). O aparecimento de câncer de vagina na adolescência ou muitos anos após, nas usuárias do DES, é um típico exemplo disto.
Além de toda uma gama de alterações terríveis estudos posteriores provaram que o DES nunca preveniu nenhum aborto. Ao contrário estudos duplo-cegos mostraram que os índices de abortamento, natimortos e problemas gestacionais foram maiores no grupo que usou o DES.
Lista de problemas indubitavelmente atribuídos ao DES:

  1. ca de vagina
  2. gestação ectópica
  3. infertilidade
  4. mal formações congênitas (uterinas em 70% das expostas)
  5. criptorquidida
  6. atrofia de testículos
  7. cistos de epidídimo
  8. espermas anômalos
  9. tumores genitais
  10. infertilidade ou diminuição da mesma
  11. meninos com sobra de aparelhos genitais femininos
  12. alergias crônicas
  13. artrite reumatoide
  14. tu de células germinativas em outros órgãos
  15. deficiência imunológica

O DES age sobre o sistema imune, o cérebro, a hipófise, mamas, útero, próstata, e etc. Expostos ao DES antes do nascimento tem redução nas células T (coordenadores do sistema imune), também têm alteradas as Killer cells (patrulhadoras de tumores e controladoras de metástases).
Os indivíduos expostos ao DES na vida intra-uterina apresentam sensibilidade maior a cancerígenos químicos, maior evidência de febre reumática, tireoidites de Hashimoto, hipertireoidismo exoftálmico, artrite reumatóide.
Em animais de laboratório os estudos mostram que a medida que os animais expostos ao DES na vida intra-uterina envelhecem têm maior incidência de problemas imunes.
A ação sobre o cérebro e comportamento é tão intensa quanto sobre o resto do corpo. Padrão masculino de comportametno em fêmeas de ratos, camundongos, hamsters e porquinhos da Índia foram demonstrados em estudos com exposição ao estrógeno antes e logo após o nascimento. Em camundongos do sexo masculino cujas mães foram expostas com doses baixas de DES, os cientistas observaram um aumento do índice de comportamento territorial, notadamente a marcação de território com urina, e, durante a vida adulta, aumento nos níveis de atividade. Em doses altas, os efeitos contrários são observados juntamente com um comprometimento do comportamento masculino.
Estudos com 60 mulheres, 30 expostas ao DES, e 30 não expostas, mostrou que no grupo do DES havia 24% de mulheres com orientação bissexual ou homossexual contra nenhuma do outro grupo.
Outro estudo comparando 12 irmãs expostas ao DES contra irmãs não expostas, mostrou que 42% das mulheres expostas apresentavam bissexualidade contra 8% das não expostas.
Índices elevados de depressão profunda entre homens e mulheres expostos também foram encontrados, 40% em mulheres e 71% em homens.
“O mundo está cheio de substâncias que alteram os hormônios, diferentemente do DES, elas não vêm em cápsulas.
O DDT, “pesticida milagroso”, hoje chamado de defensivo agrícola tem um de seus mecanismos de ação semelhantes ao DES, feminiliza os galos.
Os receptores de estrógeno se unem tão facilmente com estranhos que os cientistas chamam-nos de promíscuos. Eles estão presentes em muitos locais do corpo, cérebro, mamas, útero, fígado.
Na década de 40, no Oeste da Austrália, os criadores de ovelhas estavam otimistas com o resultado de seus rebanhos sobre o pasto verdejante. Porém, no momento da procriação evidenciou-se um grande aumento no número de natimortos, as ovelhas prenhes não entravam em trabalho de parto, os cordeiros e as mães morriam, com o tempo as ovelhas foram parando de conceber. Após exaustivas pesquisas descobriu-se que o problema advinha de um trevo (doença do trevo). Identificado no trevo o agente formononetrin que como o DES e o DDT mimetizava os efeitos biológicos dos estrógenos. Atualmente 300 plantas foram identificadas com estes mimetizadores. A lista inclui muitos alimentos tais como, arroz, centeio, cevada (altos níveis), soja, maçãs, salsa, sálvia, alho, aveia, cerejas, ameixas, romãs, ervilhas, brotos da alfafa, café, etc.
Por que as plantas produzem estrógeno?
São os seus anticoncepcionais orais como defesa para não serem dizimadas por superpopulções de predadores. Os trevos produzem mais estrógenos em seus ramos terminais e quando são mordidos ou machucados descarregam mais hormônios nestas áreas.
Exposição a fitoestrógenos pode minar a capacidade de ratos expostos no início de suas vidas, produzindo mudanças comportamentais e alterações na fertilidade. As fêmeas ficam masculinizadas e os machos feminilizados.
O mesmo estrógeno que em fases precoces pode lesar também pode salvar em fases ulteriores.
As glândulas supra-renais são as mais atingidas por agentes químicos sintéticos. A Pirimidina (fungicida) inibe a produção dos hormônios esteroides impedindo o envio de mensagens vitais. Impede os fungos de crescer pela inibição dos compostos graxos esteróis. Os esteróides são formados a partir do colesterol, membro da mesma família.
O DDE (família do DDT) também tem a função de exaurir os hormônios através da aceleração de sua decomposição e eliminação produzindo deficiência de estrógeno, testosterona e outros esteróides. Como os fetos são os mais sensíveis, quantidades baixas podem ser tão devastadoras quanto as altas.
Os ursos no Norte do Círculo Ártico diminuíram de forma alarmante suas proles e o índice de contaminação de PCBs e DDT resultaram muito altos. 90 partes por milhão para os PCBs, (quantia infinitesimal para os padrões de medidas normais). Em focas a presença de 70 partes por milhão de PCBs causam problemas sérios de deformidades de orgãos reprodutores e problemas imunes.
Os PCBs, DDT, DDE, dioxinas são agentes químicos sintéticos persistentes que resistem a decomposição.
PCBs, lançados em 1929, produzidos pela adição de átomos de cloro a uma molécula com 2 anéis hexagonais de benzeno = bifenilos policlorados. Compostos estáveis e não inflamáveis. Em 1935 a Companhia Química Swann que mais tarde foi incorporada pela Monsanto, lançou os PCBs no mercado para serem utilizados como agentes seguros, não inflamáveis para a produção de transformadores, aparelhos elétricos, lubrificantes, fluídos hidráulicos, fluídos para resfriamentos e lubrificação de lâminas de corte, seladores químicos, tintas, resinas, venenos domésticos, etc.
36 anos desde seu lançamento foram necessários para que evidências e questionamentos sobre estes agentes químicos maravilhosos viessem a surtir efeito no público. Os PCBs, hoje, estão presentes em toda natureza até nos pelos de um urso recém nascido no extremo norte polar ártico. Em meio século o mundo produziu 1,1/2 milhão de Kg de PCBs.
A persistência é considerada virtude em seres humanos e, nos agentes químicos, a marca de um desordeiro. Os PCBs e dúzias de agentes químicos, agrotóxicos, organoclorados, DDT, clordane, lindane, aldrin, endrin, toxafeno, heptoclor, dioxina (comunicador universal) que são produzidos por processos químicos e pela queima de combustíveis fósseis e lixo, combinaram as propriedades demoníacas de estabilidade extrema, volatilidade e afinidade pelo tecido adiposo.

Partes por trilhão de estrógenos naturais ou de dioxinas não são inconseqüentes para a saúde. A Dioxina é milhares de vezes mais mortal para os porcos da Índia do que o Arsênico. Produz a morte na quantidade de 1 parte por 1 milhão por Kg de peso e é o mais poderoso agente cancerígeno jamais testado nesta espécie – 2-3-7-8 TCDD (dioxinas) é um subproduto acidental da vida do século XX, contaminante a partir de agentes clorados.
Após o acidente de Seveso, no norte de Milão com dioxina o índice nas pessoas passou a ser de 56 mil partes por trilhão. Logo após o incidente, 183 casos de cloroacne foram registrados (espécie de acne ligada à dioxina, pode durar por mais de trinta anos e recidivar após ter desaparecido, é extremamente severa.)
Os animais que recebem doses letais de dioxina não caem mortos na hora, definham misteriosamente com perda do apetite, semanas mais tarde.
Os PVCs para se tornarem mais resistentes e menos quebradiços são trabalhados com nonilfenois adicionados a poliestirenos e polivinil-cloreto conhecidos como PVC.
Trabalhos de laboratório feitos com tubos de ensaio produzidos com esta substância, onde foram colocadas culturas de células mamárias tumorais responsivas a estrógenos mostrou intensa atividade por parte destas células. Os cientistas após isolamento descobriram que o estímulo estrogênico era feito pelo próprio tubo de ensaio.
Policarbonato, plástico conhecido e utilizado tanto em laboratório como, também, em recipientes para armazenar água para beber contém um mimetizador estrogênico, o bisfenol-A que foi responsável por alterar pesquisas de laboratório.
Em 1982 e 1983 Times Beach foi acometida por um acidente com dioxina. A cidade foi evacuada, pássaros caiam mortos (duros) dos telhados e cavalos morriam. Crianças nascidas de mulheres expostas apresentaram disfunções cerebrais, anomalias nos lobos frontais e distúrbios imunológicos. O estudo também revelou que o índice de acometimento das meninas era mais alto que o dos meninos, mostrando que a dioxina semelhantemente a atividade hormonal pode ter maior impacto sobre o feminino.
Experiências feitas com ratos de laboratórios mostraram que somente uma dose (infinitesimal) aplicada no décimo dia de gestação (período crítico para a diferenciação sexual) alterou definitivamente o sistema reprodutor dos machos, a contagem de espermatozoides reduziu em até 56% em relação ao grupo controle. Esta experiência foi feita com doses tão baixas quanto as encontradas no leite materno. “Esta é uma ilustração dramática da extrema suscetibilidade do sistema reprodutor masculino em um estágio crítico do desenvolvimento.”- Moore
A dioxina também exibiu respostas em ratos que nos fazem pensar: alterou o comportamento sexual dos machos na fase adulta, quando estes foram expostos na vida intra-uterina a baixas doses de dioxina em períodos críticos. Quando maduros estes machos apresentavam comportamento sexual menos ativo durante encontros de acasalamento. Apresentavam também uma propensão a exibir comportamento sexual feminilizado com arqueamento das costas em resposta de lordose (tipicamente feminina) e se deixavam cobrir por outros machos.
O Metoxiclor e o Vinclozolin são venenos que se ligam a receptores de estrógeno. Os cientistas estão descobrindo que a dioxina, em humanos, se liga a um recptor órfão e logo ao DNA no núcleo celular incitando mudanças na expressão dos genes a semelhança do que faz em animais
Autópsias feitas em baleias do rio São Francisco exibiram alterações que nunca foram encontradas em similares de outros pontos menos poluídos: tumores malignos, benignos, de mama e intumescências abdominais, ca de bexiga, (como muitos operários da fábrica de Alumínio do rio Saguenay – afluente do São Francisco onde muitas baleias passam parte do tempo), úlceras na boca, no esôfago, no estômago e nos intestinos. A maioria apresenta gengivite e não possuem todos os dentes. Pneumonias e infecções virais e bacterianas generalizadas, desordens endocrinológicas, aumento da glândula tireóide e presença de cistos nessa glândula. Mais de metade das fêmeas examinadas apresentavam infecções severas nas mamas. As mães que estavam amamentando tinham pus no leite. Algumas baleias tinham espinhas dorsais retorcidas ou outras desordens do esqueleto. Porém, um caso examinado; chocou a equipe, o de um macho de 26 anos que na necrópsia exibiu hermafroditismo verdadeiro (fenômeno raríssimo em animais silvestres, somente visto anteriormente em 2 coelhos e um porco. Este macho Booly nasceu de uma mãe exposta a altos índices de contaminantes do São Francisco. Booly além do hermafroditismo possuia todos os acidentes encontrados nas outras baleias (falta de dentes úlceras, enfisema e etc.) O rio São Francisco é altamente poluído com PCBs, DDT e Mercúrio. Uma jovem baleia examinada exibiu mais de 500 partes por milhão de PCBs – 10 vezes maior do que o nível para caracterizar lixo contaminado. O lixo com 50 partes por milhão necessita licença especial para ser carregado.
As tartarugas de orelhas vermelhas do lago Apopka sofreram um drástico decréscimo. Ao serem investigadas, os cientistas descobriram que a causa da devastação está na quase total inexistência de machos. Muitos animais examinados estão num estado intermediário, nem fêmeas e, nem machos. Devido a alterações hormonais durante o desenvolvimento sexual os animais que deveriam ter sido machos ficaram perdidos na fase intersexo do desenvolvimento. Cientistas acreditam que estas alterações se deram a partir do vazamento de Dicofol (derivado do DDT e DDE).
Após a proibição do uso de DDT e dieldrin no início dos anos 70, o afinamento das cascas de ovos das aves observadas diminuiu, nos EUA e no Canadá.
Os ovos de trutas ou alevinos quando expostos a 40 partes por trilhão de dioxina têm um alto grau de letalidade, quando expostos a 100 partes por trilhão todos os ovos morrem. O que não acontece com a truta adulta, mostrando que, novamente, os embriões ou recém-natos apresentam muito maior sensibilidade.

NOSSO DESTINO ESTÁ LIGADO AOS ANIMAIS – RACHEL CARSON (DÉCADA DE 70)

Processos hormonais que hoje dominam as espécies tem milhões de anos de evolução e são ainda hoje, extremamente semelhantes ao que eram há milhões de anos. Talvez este parentesco tão antigo entre os seres da natureza explica nossa ligação tão estreita com todas as outras formas de vida. Ao descobrirmos que as plantas se utilizam de hormônios semelhantes aos nossos evidenciamos um elo muito próximo. Processos fisiológicos básicos como os governados pelo sistema endócrino persistem intocados há centenas de milhares de anos de evolução. O estrógeno que circula na tartaruga é exatamente igual ao que circula nos seres humanos. Nosso mapa genético difere menos de 10% do mapa genético de uma mosca. Fatores ainda desconhecidos traçam as diferenças entre os seres que vão além do mapeamento genético. Todos os cachorros têm o mesmo mapa cromossômico apesar de suas intensas diferenças.
John Muir, filósofo ambientalista “Quando tentamos isolar qualquer coisa, descobrimos que ela está presa através de mil cordas invisíveis … a tudo mais no universo”.

Os pesquisadores dinamarqueses descobriram que a contagem média de espermatozóides no sêmen masculino humano caiu 45%, de uma média de 113 milhões por milímetro de sêmen em 1940 para apenas 66 milhões em 1990. Ao mesmo tempo, o volume de sêmen ejaculado caiu 25%, tornando o declínio efetivo dos espermatozóides equivalente a 50%. Neste período triplicou o número de homens com contagem de espermatozóides na faixa de 20 milhões por milímetro. Esse grupo cresceu de 6 para 18%, enquanto que o percentual de homens com contagem alta de espermas, acima de 100 milhões decresceu.
Contagem de espermas em homens nascidos em:
1945 e medidas em 1975 = 102 milhões por ml
1962 e medidas em 1992 = 51 milhões por ml
1975 e medidas em 2005 = 32 milhões por ml = 1/4 do normal.
Todos os cientistas concordam que esta baixa nos espermatozóides se deve a eventos pré-natais.

Na Dinamarca triplicou nos últimos anos o câncer de testículo.
Entre 1962 e 1981 dobrou o número de criptorquidia na Inglaterra, Suécia e Hungria.
Fredirick von Saal descobriu que machos expostos no período pré-natal a níveis elevados de estrógenos desenvolvem mais receptores de andrógenos na próstata e ficam permanentemente sensíveis à testosterona. Com um pequeno aumento de exposição ao estrógeno na fase adulta o número de receptores de andrógenos em suas próstatas aumenta em mais de 50%. Esta fartura de receptores torna esta próstata extremamente sensível à testosterona e, portanto à hiperplasia. Este problema masculino tem consumido 6 bilhões de dólares ao ano nos EUA.
Entre 1973 e 1991 o Instituto Nacional de Câncer nos EUA registrou um aumento de 126% na incidência de ca de próstata, 3,9% ao ano.
Um estudo feito em colônia de macacos rhesus resultou na primeira pista sólida a respeito da endometriose. Os animais desenvolveram endometriose uma década após terem sido expostos à dioxina. Quanto maior foi a exposição maior foi a severidade da doença.
Desde 1940 o ca de mama vem aumentando 1% ao ano e sabe-se que ele depende da exposição ao estrógeno e do número de receptores estrogênicos.
Entre mulheres americanas de 40 a 55 anos o ca de mama é a maior causa de morte. Uma em cada 8 mulheres americanas terá ca de mama.
“A descoberta de que agentes químicos estrógenos nos espreitam nos plásticos, enlatados e em subprodutos dos detergentes também sugere que uma exposição significativa pode resultar de outros agentes químicos além dos suspeitos. Ainda não foram pesquisados no tecido humano a presença de bisfenol-A ou o nonilfenol (sabidamente mimetizadores do estrógeno). Em 1979 um acidente em Taiwan envolvendo PCBs em óleo de cozinha contaminou inúmeras gestantes. Seus filhos foram analisados na época da puberdade e exibiram alterações equivalentes aos jacarés do Apopka, os meninos tinham micropenia, diminuição das habilidades motoras e mentais e problemas de comportamento com sinais de desenvolvimento retardado.

Transferindo-se aos seres humanos tudo o que foi encontrado nos animais que sofreram a influência destes agentes químicos sintéticos teríamos a importante baixa na fertilidade, as alterações comportamentais bi e homossexuais crescentes em nossos dias, o déficit de atenção, hiperatividade frenética, aumento na incidência de cânceres, doenças auto-imunes, deficiência imunológica, mal-formações dentárias (posicionamento dos dentes alterados), abandono da prole (filhos), negligência ou violência contra as crianças (algum instinto básico deve estar alterado).

“Algumas pessoas poderão achar irônica esta probabilidade dos humanos, na sua busca insaciável de dominar a natureza, terem inadvertidamente, solapado a sua capacidade de se reproduzir, pensar e aprender. Talvez estas mesmas pessoas vejam justiça poética na hipótese de termos nos tornado cobaias involuntárias nessa nossa ilimitada experiência com agentes químico sintéticos. Entretanto, é bastante difícil considerarmos o resultado de tal violência, um assalto químico a nossos filhos e ao seu potencial de uma vida plena, a não ser como algo profundamente triste. Os agentes químicos que alteram as mensagens hormonais têm o poder de nos saquear ricas probabilidades que são não só o legado de nossa espécie mas, de fato, sua essência. Existem destinos piores do que a própria extinção”.

O que o salto em direção a novas tecnologias nos gerou?
Gerou saúde, luxo e conforto para uma minoria insignificante da população humana. Estas tecnologias com seus lados obscuros tornaram-se visíveis somente anos após, quando já não se podia evitá-las. Hoje cabe-nos a pergunta: – Qual o risco de se lançar no planeta organismo alterados geneticamente? Um dos biólogos moleculares mais importantes do mundo respondeu a esta pergunta dizendo: – Temos que ser corajosos.
Seguir adiante com novas tecnologias é um ato de coragem ou quem sabe um ato de irresponsabilidade e leviandade.

Alerta – 45% do PIB mundial é derivado da indústria que se alicerça sobres os combustíveis fósseis, seus derivados e químicos sintéticos.
Os CFCs foram lançados na natureza durante 50 anos até que a evidência do buraco na camada de ozônio foi descoberto sobre a Antártida. Cientistas foram ridicularizados em seus alertas. Sempre há por trás, uma estrutura econômica que se justifica e se coloca necessária para o sustento de populações. Tem algum ganho financeiro que justifique um gasto astronômico em pesquisas não só para provar que estas indústrias poluem como também para promover a despoluição? Tem algum imposto recolhido que chegue “aos pés” do que se necessita para reverter o problema? Quando este é ainda passível de reversão? Estas perguntas precisam ser por nós respondidas assim como, necessitamos estar presentes na formação de opinião de nossas populações.
Lançamo-nos imprudentemente à frente, sem admitir jamais o perigoso desconhecimento que está no cerne desta aventura. Talvez essa arrogância presunçosa seja uma parte inalienável da natureza humana. Os gregos antigos a chamavam de hubris. Por toda a história humana os seres humanos arriscaram-se rumo ao desconhecido cortejando ao mesmo tempo o sucesso e a catástrofe. O que difere agora é aquilo que estamos colocando em risco, é a magnitude da probabilidade dos erros. A escala das atividade humanas hoje envolvem a magnitude de todo o planeta.

DECLARAÇÃO DE WINGSPREAD

(Realizada por um grupo de 21 cientistas, pesquisadores e especialistas em efeitos de drogas sobre animais e seres humanos, em julho de 1991)
Temos certeza que um grande número de agentes químicos sintéticos que foram lançados no ambiente, assim como alguns agentes naturais, podem alterar o sistema endócrino dos animais, inclusive o dos seres humanos. Entre estes agentes se encontram os compostos organohalogênicos persistentes e biocumulativos que incluem alguns agrotóxicos (fungicidas, herbicidas, inseticidas) e agentes químicos industriais, além de outros agentes sintéticos e alguns metais. Entre os que reconhecidamente alteram o sistema endócrino estão o DDT e os produtos de sua degradação, DEHP (di(2-etilexil)ptalato); dicofol; BHC (hexaclorobenzeno); keltane, kepone, lindano e outros hexaclorociclohexanos; metoxiclor; octacloroestireno; piretróides sintéticos; herbicidas triazinas, fungicidas EBDC; certos PCBs; 2,3,7,8-TCDD e outras dioxinas; 2,3,7,8-TCDF e outros furanos; cádmio, chumbo, mercúrio, tributiltin e outros compostos de organo-estanho; alquillfenóis (detergentes não biodegradáveis e antioxidantes presentes em poliestireno modificado e PVCs); dímeros e trímeros de estireno; produtos de soja; produtos alimentícios para animais de laboratório e de estimação.

DEBCP – NEMAGON – fonte El Legado
1-2-dibromo-3cloropropano, produto criado em 1940. Em 1958 descobre-se os efeitos tóxicos e em 1977 descobre-se alto grau de esterilidade associado ao produto e o mesmo passa a ser proibido nos EUA. Em 1992/93 o produto é vendido pela mesma companhia em larga escala para a África.
Pesticida altamente persistente e móvel se decompõe lentamente no solo, perdura por 2 anos, muito estável na água mesmo em quantidades muito pequenas.
Causa esterilidade por aplasia de células germinais, câncer de estômago, câncer de rim, câncer de duodeno e câncer de testículos.
O Instituto Nacional contra o Câncer (entidade americana) cita o DBCP como uma das causas de câncer mais poderosas. Induz câncer sob as doses menores, produz teratogenia e aumento do número de abortamentos. Estudos efetuados em trabalhadores bananeiros contaminados mostrou azospermia total em 26 dos 28 casos estudados e oligoespermia em 2.
Quando a Shell (empresa responsável por sua produção e venda) contratou investigação para os efeitos do Nemagon não notificou que deveriam ser  feitas pesquisas que avaliassem a função testicular. Medição no ar das fábricas demonstraram que as concentrações estavam (normalmente mantidas), mas ocasionalmente se elevavam a 50 unidades por milhão (admitido 1 unidade por milhão) quando os fabricantes Shell e Dow Química informaram que o Nemagon e o Fumazone podiam ser utilizados sem risco excessivo, o governo suavizou sua posição e registou o produto. Desde então os trabalhadores não se inteiraram mais da esterilidade e atrofia testicular e demais danos.
Em julho de 1977 de 114 empregados que fabricavam DBCP, 35 estavam estéreis. Um mês após a agência de proteção ambiental proibiu o DBCP
Circular interna confidencial para os gerentes da Dow Chemical em 1958, advertia que o praguicida causava atrofia testicular, esterilidade, danos severos aos pulmões e rins em animais e humanos, câncer de fígado, rins, estômago, alergias severas, problemas ósseos, déficit visual, alterações menstruais e hormonais, teratogenias sérias, dano moral e psicológico.
Alerta – Os trabalhadores bananeiros da Costa Rica expostos ao DBCP têm sofrido, 5 tipos de situações que lhes têm impedido, até o momento, obter justiça

  1. os efeitos tóxicos físicos e psicológicos (sem volta);
  2. terem sido o primeiro grupo de trabalhadores costariquence vítima da globalização pois em meados de 80 aplicou-se a eles uma reestruturação produtiva do trabalho como conseqüência imediata, entre outras, tiveram a perda de seus sindicatos. A partir de então tiveram que enfrentar individualmente este processo de luta;
  3. os trabalhadores caíram nas mãos de advogados nacionais e norteamericanos que fizeram acordos com as transnacionais fabricantes de químicos. Milhares deles receberam 100 dólares de indenização pela causa;
  4. não há participação da sociedade civil na comissão nacional de agrotóxicos, somente representantes do governo e das empresas produtoras;

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES PRODUZIDAS PELOS AGENTES QUÍMICOS SINTÉTICOS

  1. Hexano – desmielinização, degeneração e desintegração dos axônios.

São compostos lipossolúveis que atravessam rapidamente a barreira das membranas, movem-se por difusão passiva. Quando o composto é lipossolúvel tem uma capacidade maior de fazer ligações.
Via inalatória. Produz neuropatia periférica de instalação sub-aguda ou crônica, diminuição da força muscular, paresias dos músculos dos membros tanto proximais como distais e perda dos reflexos tendinosos profundos. Alterações sensoriais simétricas (mãos e pés) progredindo para paresia muscular distal e perda dos reflexos tendinosos profundos, dormência nos dedos das mãos e pés, perda moderada da sensibilidade táctil dolorosa, vibratória e térmica.
A fraqueza muscular é geralmente observada nos músculos intrínsecos das mãos e extensores longos ou flexores dos dedos podendo envolver braços, antebraços e coxas. Há dismielinização, degeneração e desintegração dos axônios. Cãibras nas extremidades dos músculos inferiores. Instalação dos sintomas lenta e insidiosa. Em casos severos há quadriplegia em 2 meses após iniciado os sintomas. Também, há perturbação visual e perda de memória conseqüente a degeneração do núcleo visual e algumas estruturas do hipotálamo.

  1. Anelina – fenacetina acetanilida. Composto muito volátil e lipossolúvel o que faz com que seja facilmente absorvido pela pele e tubo gastrointestinal. Utilizado na fabricação de plásticos, pigmento, tintas.

Lesa o tecido cutâneo e mucosas e produz depressão. Transforma a hemoglobina em metahemoglobina. Produtos de degradação: fenilidroxilamina e nitrosobenzeno.
A intoxicação aguda produz cefaléia, vertigens, convulsões, sobretudo em crianças, transtornos na marcha e na palavra, arreflexia, sonolência e coma. Cianose, vômitos, palpitações e dispnéia, midríase e convulsões finais.

  1. Gasolina – mistura de hidrocarbonetos parafínicos, olefínicos, naftênicos e aromáticos. Os vapores são constituídos de n-butano+ isobutano+n-pentano+isso-pentano+2-metilpentano+3metil-pentano+hexona+isso-butileno+benzeno+tolueno+xilenos.

Lesões de pele pela ação desengordurante dos hidrocarbonetos.
Absorção pulmonar causa depressão central, distúrbios respiratórios com traqueobronquites exsudativas, edema pulmonar e pneumonia. Incoordenação + hiperexcitabilidade, distúrbios visuais, confusão mental, cefaléia e náuseas.
Cronicamente temos os efeitos da presença do benzeno e mais do aditivo chumbo tetralina.
Querosene, Acetona, Cloroformio, Tricloroetileno (utilizado na lavagem a seco, operações industriais de desengraxamento)
Possuem ação anestésica, inconsciência e coma, fibrilação ventricular. Transtornos nervosos, perturbações digestivas, estado nauseoso, anemia, perturbações visuais, confusão mental, tonturas, fadiga, edema pulmonar, paralizia do trigêmio, paralizia do nervo olfativo (anosmia) (auditiva), surdez, diplopia (nervo óptico), borramento de visão, neurite óptica com cegueira, glossofaríngeo (perda do gosto), pode perder o tato e também apresentar alterações eletroencefalográficas e psíquicas e produz toxicomania, fibrilação ventricular, taqui ou bradicardia, anorexia, transpiração excessiva, impotência, sono agitado, perda de memória neurastenia e demência.
Tricloroetano – solvente de óleos, cêras, resinas e adesivos e em formulação de inseticidas, desengraxantes e propelentes de aerosóis.
Intoxicação crônica – distúrbios gastrointestinais, hipotensão, bradicardia, arritmia, sintomas “like” embriaguez, distúrbios do equilíbrio eincoordenação motora, dermatites, conjuntivites, irritabilidade, ansiedade, insônia e gastrites, danos renais e hepáticos.
Diclorometano – cloreto de metileno. Líquido incolor, volátil. Muito usado como desengraxante nas fábricas de fibras sintéticas e nos compostos de fumigantes agrícolas.
Causa distúrbios de comportamento e depressão do SNC
Tetracloroetileno – Cefaléias, tonturas, incoordenação e depressão do SNC e deterioração nas áreas vitais da percepção e comportamento com alterações na velocidade de condução do impulso nervoso.
Estireno – Utilizado na produção industrial de polímeros plásticos e na produção da borracha sintética. É um contaminante de embalagens plásticas, recipientes de poliestirenos. O oliestireno deriva do aquecimento do estireno.
Produz anorexia, astenia, depressão do SNC, leucopenia, afeitos embriotóxicos.
Benzeno – Trabalho com indústria do couro, manejo de colas e indústria de síntese de fenol e manejo do carvão mineral.
É rapidamente absorvido e fixado no SNC e tecidos lipóides, fígado, baço, sangue e medula. Concentrações elevadas de seus sub-produtos são encontradas na medula.
Intoxicação crônica – euforia com desconhecimento do perigo, fadiga desproporcional ao esforço físico com palidez dos pigmentos e dispnéia, transtornos digestivos, epistaxes freqüentes, transtornos mesntruais, anemia com diminuição dos glóbulos vermelhos, leucopenia com predomínio de neutrofilia, eosinofilia, plaquetopenia com transtornos da coagulação, hemorragias, petéquias, equimoses, hemorragias viscerais e de mucosas, anisocitose, poiquilocitose, leucopenia severa (- de 1000) e plaquetas (-de 10 mil)
Tolueno – solvente tiner, usado nas tintas adesivos e na indústria gráfica. Amplamente utilizado pelos cheiradores de cola.
Absorção pulmonar. Na intoxicação acumula-se mais no corpo caloso. Euforia, confusão mental, incoordenação muscular, cefaléia, vertigem, midríase, náuseas e vômitos. Irritabilidade acentuada, cefaléia, náuseas e astenia.

  1. Sulfeto de Carbono – indústria de fibras de rayon obtidas pelo processo da viscose (massa gelatinosa obtida a partir da celulose para produção de fios texteis, pneus, fibras.

Produz alterações no matabolizmo das catecolaminas aumentando a dopamina e diminuindo a norepinefrina, aumenta os níveis séricos de lipídios, colesterol livre e total e beta-lipoproteínas e interação com o sistema enzimático microssomial (citocromo P-450) Excitação psíco-maníaca, parestesias, emagrecimento, dermatites, polineurites, dores musculares, abolição dos reflexos, anemia monocítica, anginopatia, degeneração hepática, frigidez e impotência.

  1. Tetracloreto de Carbono – líquido volátil, solvente não inflamável em tintas, ceras, lacas, agente de limpeza, produtos industriais de borracha e fumigantes no armazenamento de cereais. Carcinogênico em animais. Produz necrose centro-lobular no fígado e acúmulo de triglicerídios.
  2. Dibromocloropropano – DBCP líquido marron, fumigante, usado no controle de nematódios. Produz câncer em ratos, camundongos e humanos. Produz oligoespermia, azospermia, infertilidade. Atrofia de testículos. (Ver mais detalhes acima em El Legado)

GRUPO DOS METAIS

  1. Arsenicais – atua no sistema de descarboxilação oxidativa dos ácidos cetônicos especialmente, do ácido pirúvico.

Produz efeitos teratogênicos, carcinogênicos e mutagênicos.

  1. Mercuriais – Muito importante porque tem grande ação no ambiente e sofre biotransformação através de bactérias e é liberado do sedimento para a água acumulando-se nos peixes que vão nutrir a cadeia alimentar.

Têm afinidade pelos grupos sulfidrilas de sistemas enzimáticos essenciais. Alteram a atividade da monoamino-oxidase resultando em acúmulo de serotonina endógena produzindo distúrbios neuro-psíquicos.
Causa cronicamente alterações da personalidade e do caráter, ansiedade, perda da capacidade de concentração, depressão, irritabilidade, anorexia, insônia, tremores primeiro nos músculos faciais e após se estendem aos membros superiores e inferiores e transtornos renais.

  1. Chumbo – Liberado no 1/2 ambiente como contaminante através da indústria extrativa petrolífera, de tintas, corantes, cerâmicas, gráfica, bélica e de acumuladores. O chumbo está acumulado em locais de tráfego mais intenso.

Interfere nas várias fases da biossíntese do heme. Inibe a enzima ácido delta-aminolevulíco desidratase (ALA-D) e da hemissintetase.
Age nos eritroblastos aumentando a protoporfirina e no lugar de produzir heme produz protoporfirina zinco.
Produz encefalopatia com instabilidade, cefaléia, tremor muscular, alucinações,perda da memória e da capacidade de concentração, delírio, mania, convulsões, paralisias e coma. Profundas alterações do humor com problemas psiquiátricos com alucinações e delírios. No Sistema nervoso periférico produz debilidade muscular, hiperestesia, analgesia e anestesia da área afetada, ataxia. Dano reversível no túbulo proximal e redução crônica da função glomerular com danos vasculares e fibrose.
Produz tumores em especial nos rins e nos pulmões. Apresenta como sinal de evidência da intoxicação a linha de Burton junto à gengiva.

  1. Cádmio – Ocorre nos seres vivos e atmosferas de locais industrializados. Utilizado na fabricação de pigmentos, baterias de níquel e cádmio, células fotovoltaicas, lâmpadas e vapores de cádmio, etc. O hábito de fumar aumenta consideravelmente a retensão e assimilação pulmonar do cádmio. Um cigarro contem em média 1,4 ug de cádmio. A 1/2 vida do cádmio oscila entre 19 e 40 anos no organismo.

Produz descalcificação óssea com pseudofraturas da tíbia, fêmur, pelve e escápulas, aumenta a litíase renal e cálcio urinário. Proteinúria de até 1000 mg/l e aumento da eliminação de glicose e aminoácidos por diminuição na reabsorção tubular renal.

  1. Cromo – usado em ligas metálicas acidorresistentes, tintas anticorrosivas, cromagens, impregnação de madeiras por sais diversos. Está presente no levedo de cerveja, fígado, germe de trigo, gorduras animais, manteigas, cimento, etc.

Produz dermatite de contato, eczema alérgico e ulcerações características na pele exposta. Queratites de epitélio superficial da córnea e conjuntivites. Perfuração de septo nasal precedida de alterações do olfato e sangramento nasal.
Rinite, laringite, pneumoconiose, asma bronquica, anemia severa, necrose hepática e renal. Carcinogênico para o homem. Incidência aumentada de câncer de pulmão em trabalhadores expostos está comprovada epidemiologicamente.
6-Manganês e seus compostos – Essencial para o homem e outros organismos vivos. Amplamente distribuído na natureza como óxidos, carbonatos e silicatos. Mais de 90% do Manganês produzido no mundo destina-se à fabricação do aço. Na indústria química é utilizado na fabricação de permanganato de potássio e hidroquinona, fertilizantes, rações para animais, mistura despolarizante de pilhas secas, pigmentos para tinta, resistência elétrica e eletrodos para solda, fogos de artifício, curtição do couro, agentes branqueadores, fabricação dos organocompostos de manganês em ligas com níquel e cobre e na indústria de fertilizantes e fungicidas. O composto (metilciclopentadienila tricarbonila de manganês – MMT), usado como aditivo na gasolina para substituir o chumbo tetraetila.

A grande semelhança da intoxicação pelo manganês com o Parkinson pressupõe mecanismos de ação semelhantes, as alterações de catecolaminas no cérebro, especialmente a Dopamina e a boa resposta à sua intoxicação com o uso de L-DOPA demonstra que as alterações histológicas no SNC podem ser comuns aos 2 casos.
O manganês tem preferência pelos órgãos ricos em mitocôndrias. Atravessa a barreira placentária e hematoencefálica com preferência pelos núcleos da base e substância nigra.
A outra alteração importante é a redução de melanina da substância nigra, substância que junto com o globo pálido e os sistema estriado participam do sistema extrapiramidal.
Os sintomas que podemos ter são: choro e riso desconectado do estado emocional e com tendência a persistir mesmo após cessado o motivo. Apatia, sonolência, pesadelos, compulsividade, tendência à melancolia com crises de choro, inquietação, euforia, excitação psicomotora, aumento da libido, bulimia, alucinações. Confunde-se com o Parkinson e muito, também, com a neuropatia periférica de origem etílica, impressão confirmada pelos distúrbios de equilíbrio. O primeiro pensamento que nos vem à mente quando vemos um intoxicado pelo Manganês é de que o mesmo está alcoolizado.
Marcha característica, caminhar com o tronco inclinado para trás e região da articulação coxofemoral projetada para frente (caminhar de manequim em desfile). Os passos são curtos e a musculatura mais ou menos espástica, sendo que os pés quase não se elevam do solo, dando a impressão que ele está chutando alguma coisa. Nos casos mais adiantados os pés se arrastam pelo solo e, nos casos mais graves, o pé descreve um semi-arco ao ser deslocado para frente. A espasticidade conseqüente à liberação do sistema extrepiramidal costuma se manifestar inicialmente por uma contração da musculatura da região gemelar. Como conseqüência a parte posterior do pé se eleva. O paciente apóia-se com a parte ântero-lateral do pé (passo da bailarina ou passo de galo). Há aumento do polígno de sustentação e uso de bengalas. Ao descer uma escada há tendência a cair pelo problema da propulsão (projeção anterior). Retropulsão ou tendência a cair para trás, facilmente notada por um pequeno empurrão no peito do paciente. Dificuldade de executar uma volta sobre si mesmo caminhando, o que lhe trará muita dificuldade a atender uma chamado que venha de trás. Tendência dos braços a dirigirem-se para trás e o corpo acompanha esta tendência. Pode ocorrer paralisia espástica com acentuada deformidade e impotência funcional das mãos. O teste de pronossupinação, o de roda denteada, do dedo nariz, e a presença de disdiadococinesia indicam alterações significativas do comprometimento neurológico com disfunção da coordenação motora. Os reflexos podem estar aumentados como por ex., o de Romberg.
A face seja pela rigidez da musculatura, seja pelas alterações do humor, é muito inexpressiva (face gelada).
O tremor do paciente mangânico, ao contrário do parkinsonismo agrava-se com o movimento e pode ser muito intenso podendo até transmitir-se ao leito do paciente. Apresenta também distúrbios na fala, a intensidade da voz começa elevada e vai diminuindo para quando chegar ao final da frase está praticamente num murmúrio, além disso o intervalo entre as palavras tende a diminuir e a fala torna-se muito monótona e pouco inteligível. Isto igualmente ocorre com a letra que é tremida, as palavras iniciam-se com letras grandes que vão diminuindo e terminam como um traço. O espaço entre as palavras tembém está muito reduzido e, muitas vezes, as palavras aparecem ligadas umas as outras. Afeta também o aparelho respiratório causando pneumonia química que não deixa fibrose. Há também incidência aumentada de pterígio, câncer pulmonar, aberrações cromossômicas, aumento da atividade mitótica, efeitos mutagênicos, depressão da atividade tireoidiana, aumento de cálcio e redução do magnésio sérico, alterações imunológicas e distúrbio no metabolismo do nitrogênio. Sobre o aparelho reprodutor há impotência, disfunção sexual e esterilidade.

  1. Zinco – Não houve a pesquisa diretamente do zinco mas sim de produtos que o contenham e que estam descritos no grupo dos fungicidas.

O zinco é essencial para a formação do SNC e periférico. Seus efeitos tóxicos afetam diretamente as funções nervosas. Toda substância que impede a ação do zinco ou que o mimetiza, sem contudo cumprir com sua função produz alterações neurológicas graves. Mal formações do tubo neural são vistas em fetos de mães com problemas na absorção do zinco.

 

INSETICIDAS
1- Organofosforados – TEPP, Blandon, Rhodiatox, Benzefás E 605, DNTP, Sumiton, Fenitrotion, Danation, Folition, Fention, Diazinon, Dimetoato, Formation, Malation, Ekation, Disyston, Gusation, DDVP (Nuvan), Dipterex (Tugon, Neguvon, Dilox, Triclorfan).
São absorvidos por todas as vias. A eliminação do organismo ocorre por três vias. Uma delas é o da dessulfuração. É a primeira via de transformação da ligação P=S em P=O com a transformação da chamada forma oxon do inseticida que resulta em maior toxicidade. Por ex. o Paration etílico tem a DL50 aguda (dose mínima letal oral para ratos) em 4 a 8 mg/Kg e a sua forma oxon tem uma DL50 de 0,8 mg/Kg. São forma hidrossolúveis menos acumuláveis e mais excretáveis.
Os organofosforados inibem o centro esterásico da acetilcolinesterase incapacitando a mesma de exercer sua função, desdobrar acetilcolina em colina e ácido acético. Matam por insuficiência respiratória por ação local e central. Produz três efeitos, agudo, intermediário e tárdio.
Efeito tárdio – polineuropatia motora chegando a quadriplegia onde geralmente são poupados os nervos cranianos e respiratórios. Quadro com evolução de anos. Miose e fasciculações são sintomas de diagnóstico.
Uma gota de paration etílico no olho pode ser fatal.
Fosforados são derivados do ácido fosfórico ou ácido pirofosfórico. O Paraoxo E600 tem uma toxicidade muito elevada por ser muito anticolinesterásico. São absorvidos por todas a vias. Os sintomas são todos aqueles provenientes da falta de acetilcolina, substância essencial para a transmissão nervosa.
2- Fluor e cianofosforados – Sarin (isopropilmetilfluorfosfato), Soman (pinacolilmetilfluorfosfato), Tabum (O-etil N,N-dimetilcianofosfato.
São compostos gasoso, extremamente tóxicos, com elevada neurotoxicidade caracterizado pela existência de radicais fortemente eletronegativos ligados ao átomo de fósforo que favorecem a rápida ligação com o centro esterásico da acetilcolinesterase, formando uma enzima fosforilada refratária à reativação. A Atropina não funciona como tratamento pois estes compostos fazem uma forte ligação com os receptores nicotínicos.
Os inseticidas caseiros sprays  são geralmente do grupo dos clorofosforados.
3- Organoclorados – Hexaclorocicloexano, Endrin, Aldrin, Endosulfan, Dieldrin, Toxaphene, Lindane, Hexaclorocycloexane, Chlorophenothane (DDT), Heptaclor, Chlordecone, Mirex, Dienochlor (DDD).
Fixam-se no tecido adiposo e sua principal rota de eliminação é pela bile. São excretados no leite materno (todos os de fixação gordurosa). A toxicidade básica é nervosa. Influi no fluxo de cations através da célula nervosa aumentando a irritabilidade neural causando mioclonias, “jerking”, convulsões, arritmias cardíacas. Hipersensibilidade a estímulos, hiperpirexia, irritabilidade, vertigem, distúrbios no equilíbrio, tremores e convulsões.  Age na fibra nervosa sensitiva e motora do cortex motor. Altera o transporte dos ions NA e K através das membranas do axônio do nervo causando tremores, ataxia, convulsões e prostração intensa. Causa degeneração tubular renal. Produz quadros crônicos com hepatomegalia, tremores, salivação, reflexos pupilares lentos, respiração deprimida. Altera os hormônios esteroides e drogas terapêuticas.
4- Hexaclorobenzeno – causa porfiria cutânia tardia, desordens hematológicas (anemia aplástica). Cegueira em ovelhas, cataratas em ratos e camundongos.
DDD e DDT, concentram-se mais nas glândulas adrenais e inibem a síntese de corticosteroides.
5- Carbamatos – Carbaril, Sevin, Menktol, Carvin, Shellvin, Inivin. São compostos derivados do ácido carbâmico, mais particularmente do N-metilcarbâmico. Acumulam-se no tecido embrionário e produzem mal formação fetal. Agem inibindo a acetilcolinesterase, decréscimo da atividade metabólica do fígado, décréscimo na síntese cerebral de fosfolipídeos, alteração dos níveis de serotonina no sangue, e decréscimo da atividade da glândula tireoide.
6- Pyrethrin – pyrethrun  – resina oleosa das flores do crisantemo. O estrato contém 50% de produto ativo.
Os Ésteres cetoalcoólicos são conhecidos como pyrethrins, cinerins, jasmolins. A alta atividade inseticida dos piretroides tem possibilitado o aparecimento de produtos sintéticos novos e mais estáveis à luz e menos voláteis.
Os inseticidas feitos do pyrethrin vêm misturados com organophosphatos e carbamatos pois seu efeito paralizante é rápido e nem sempre letal.
São paralizantes do sistema nervoso. Produzem agressividade, tremores e espasmos convulsivos, incoordenação e prostração. É um forte alergeno dérmico e respiratório, produz rinite e asma, peneumonia e choque anafilático. Vários casos de convulsões em crianças foram associados a este produto, inclusive casos de recidiva quando a criança é novamente exposta. Esta substância é rapidamente inativada pelas enzimas hepáticas. Este inseticida é um dos produtos que a natureza produziu para defender-se do extermínio. É um poderoso veneno porém, para ele, o organismo tem enzimas específicas inativadoras.
Os compostos do grupo II dos piretroides produzem salivação excessiva, movimentos irregulares dos membros, convulsões tônico-clônicas e sensibilidade aumentada a estímulos externos.
7- Retonone -Tóxico para o sistema nervoso dos insetos, peixes e pássaros. Causa dormência da mucosa oral, dermatite e irritação respiratória. É usado como paralizante de peixes na pesca predatória. Os índios já o usavam mas tinham um ritual especial: nos dias de pesca as mulheres e crianças eram chamadas para urinar dentro da água logo que os peixes emergiam, inativando rapidamente o veneno.
8- Sabadilla – Possui o alcaloide Veratrina que tem ação semelhante ao Digitalis, diminui a condução cardíaca e produz arritmia. É muito irritativa do trato respiratório produzindo espirros.
Bacilus thuringensis
9- Gibberellic acid – culturas de fungos, é um produto metabólico para o crescimento das plantas.
10- Sodium fluoride – Muito usado para o controle de larvas e insetos
11- Sodium silico fluoride e sodium fluoduminate (Florocid, Prodan, Kryocid)
Altamente tóxico por via oral. Causa falência renal aguda por dano às células tubulares, inibe as enzimas intracelulares e afeta diretamente a ionização do cálcio. Apresenta um efeito corrosivo no trato gastrointestinal com edema, ulcerações, e hemorragias, sede, dor abdominal, vômitos e fezes sanguinolentos, reduz a concentração extracelular de Ca e Mg. Produz hipo e hipercalcemia resultando em tetania e alterações elétricas cardíacas. Arritmia e choque cardíaco. Hipotensão e arrtmia grave fibrilação ventricular). Falência respiratória é a causa comum de morte.
12- Ácido bórico e Boratos – irritante da pele, do aparelho respiratório (tosse e respiração encurtada). Usado para suprimir o desenvolvimento bacteriano (na medicina) – compressas em queimaduras. Muitos relatos dos efeitos tóxicos são provenientes de acidentes com queimados na década de 50 e 60. Facilmente absorvido pela via digestiva ou pela pele lesada (queimaduras). Afeta o trato gastro-intestinal, cérebro, pele, sistema vascular. Produz náuseas, vômitos persistentes, dor abdominal e diarréia que reflete a gastroenterite tóxica por absorção cutânea. Sangue nas fezes e no vômito são sinais das lesões mucosas (ulcerações)
Rash cutâneo (carne-viva) nas palmas, solas, nádegas e escroto (boliled lobster appearence). O eritema é seguido de intensa exfoliação.
13- Chlordimeform – Hematúria, cistite hemorrágica provavelmente por degradação da chloranilina. Hemorragia macroscópica intensa na urina, dor urinária, polaciúria com urgência, corrimento uretral, dor abdominal e dor nas costas, sensação de calor geral, sonolência, rash cutâneo e descamação, paladar doce e anorexia. Os sintomas persistem por 2 a 8 semanas.
14- Chlorobenzilate – Efeitos neoplásicos em animais. Usado como acaricida
15- Detamide Metadelphene – DEET Diethyltoluamide = repelente para insetos. Produz eritema, bolhas e erosão nas áreas antecubital e fossas poplíteas. Muito absorvido pela pele e pelo estômago. Concentração de 3 mg/l no sangue tem sido vistas após 2 a 3 horas da aplicação. Pode causar encefalopatia tóxica.
16- Chlorophenoxy – herbicidas. Dispigmentação local em partes com dermatite de contato. Hepato, encefalo e nefrotóxico. Miotonia (rigidez e incoordenação, desmielinização dos cordões posteriores da medula), mioglobinúria e elevação sérica da creatina posphoquinase reflete a injúria aos músculos esqueléticos. Hipertermia. Neuropatia periférica.
17- Diflubenzuron – metaheglobinemia.
18- Nitrophenolic e Nitrocresolic – herbicidas. Causam coloração amarela nas escleróticas, urina, cabelos e pele. Perda de peso crônica ocorre em pessoas expostas a doses baixas. Cataratas com glaucoma.
19- Pentachlorophenol – PCF, PCF Na, usado largamente como fungicida, herbicida, inseticida, bactericida. 80% de sua produção é destinada à preservação da madeira, fibras texteis, colas e tintas com amido. Na produção industrial deste agente, em função da necessidade de altas temperaturas e da condensação de 2 moléculas do mesmo ocorre a formação de diversos compostos entre eles PCDD (dibenzodioxinas). O PCDD além de teratogênico e carcinogênico. Tem sua potência letal DL50 em 1,0 ug/ Kg, sendo o mais potente agente tóxico de síntese conhecido. Sua 1/2 vida no solo é de cerca de 1 ano. Na intoxicação pelo TCDD o mais alarmante é a sua interferência no crescimento de lesões do SN e sintomas neurológicos, produção de dermatites acneiformes e ação teratogênica e carcinogênica. As lesões dérmicas provocadas em animais são caracterizadas microscopicamente por hiperplasia e hiperceratose do epitéio folicular. Lesões similares a acne dos adolescentes. Ocorre mais na face e pescoço, costas, torax e genitais, raramente nos pés e mãos. Podem durar por mais de 30 anos e podem recidivar. Pode também, ocorrer eritemas e edemas por maior sensibilidade dérmica à luz solar. Pode provocar erupção furunculosa (pequenos ou grandes) e pigmentação marron. Produz aumento da temperatura corporal 42,2 C, colapso e morte. Poduz hepatomegalia. É carcinogênico por sua grande atividade mutagênica.  Anemia aplástica, leucemia, neuropatia periférica. É facilmente absorvido pela via oral.
20- Paraquat e Diquat (Difyridylis). Compostos quaternários de amônio. Concentra-se especialmente nos pulmões causando fibrose pulmonar por rápida proliferação dos fibroblastos. Também ocorre miocardite tóxica  com falhas no eletrocardiograma. Na autópsia há hemorragia pulmonar, edema e áreas maciças que devido ao aparecimento de proliferação fibroblástica na parede alveolar e proximidades impedem a passagem de ar normal nos alvéolos. As alterações pulmonares são decorrentes do processo de síntese ou de degradação do colágeno. Também ocorre a alteração das enzimas que interferem nos processos de síntese do colágeno especialmente da prolil-hidroxilase que catalisa a hidroxilação dos resíduos de prolina. A hidroxilação dos resíduos de prolina é o ponto de controle da biossíntes do colágeno. A 4-hidroxiprolina é a responsável pela estabilidade conformacional da molécula de colágeno. O Diquat causa menos lesão pulmonar e mais no SNC
21- Fenoxiácidos – herbicidas que contém dioxina como impureza de fabricação. Concentram-se no tecido adiposo, rins, fígado, músculos, baço e cérebro.
A intoxicação produz pouca disposição para mover-se agravada por rigidez dos músculos esqueléticos e ataxia. Apatia progressiva, depressão, fraqueza muscular e coma. Marcada anorexia com irritação nos olhos e fossas nasais. Necrose por úlceras na mucosa oral e intestinal, necrose hepática e hipertrofia epitelial tubular renal, convulsões violentas. Erupção cutânea, oligúria, hematúria e albuminúria. É teratogênica e embriotóxica causando morte fetal, retardo no crescimentos.

FUNGICIDAS

  1. Hexaclorobenzeno – porfiria cutânea tardia. Eliminação de porfirina na urina, bolhas na pele exposta à luz, atrofia da pele com aumento do crescimento de pelos, aumento do fígado, perda de apetite, artrite e perda de massa muscular. A intoxicação é causada por resíduos nos alimentos.
  2. Dichloran – Causa injúria hepática e opacidade da córnea, metahemoglobinemia.

FUNGICIDAS DERIVADOS DO ZINCO E DO MANGANÊS

  1. Ditiocarbamatos – Maneb, Zineb, Ferbam, Ziran, Mancozeb, Dithane, Manzate.

Decompõem-se na presença de umidade e de ácidos e produz sulfeto de carbono, etilenodiamina e etilenotiouréia (ETU), sendo este último biologicamente ativo, com atividade carcinogênica, mutagênica e teratogênica (etileno bis-ditiocarbamato de manganês). O Maneb produz nódulos de tireóide em cães e ratos alimentados cronicamente com 2500 parte por milhão.

  1. Zineb – Etileno bis-ditiocarbamato de zinco
  2. Mancozeb – Etileno bis-ditiocarbamato de manganês e zinco

Absorção oral, respiratória e cutânea. Em animais de laboratório todos eles, provocam ataxia e hiperatividade seguida de debilidade e perda do tônus muscular, mudança de comportamento e convulsões, danos renais e hepáticos e efeitos teratogênicos, mutagênicos e carcinogênicos. O Zineb é responsável por hiperplasia da tireoide em cães e em ratos, tumores pulmonares, sarcoma do retículo endotelial, anomalias congênitas, leucopenia, danos hepáticos e danos gonadais. Reprime a maturidade e o crescimento dos espermatozoides e possui atividade embriotóxica. Os efeitos tóxicos estão associados com a defeciência de zinco por ser, este elemento, necessário às várias coenzimas e atividade enzimática.

  1. Ziran – Indivíduos expostos ocupacionalmente ao Ziran por 3 a 5 anos mostram anomalias cromossômicas que também foram evidenciadas in vitro com linfócitos humanos.
  2. Maneb – Produz insuficiência ranal aguda.
  3. Edifenfós – O-etil-S,S-difenilditiofosfato – Fungicida do arroz (aplicação proibida até 15 dias antes da colheita)
  4. Compostos de fluor – extremamente tóxicos em doses baixas. Inibem a formação de energia no ciclo de Krebs. Transforma-se no ciclo de Krebs em fluocitrato, um inibidor da aconitase e desidrogenase, enzimas responsáveis pelo metabolismo do citrato e succinato.

 

RODENTICIDAS INORGÂNICOS

  1. Sulfato de Zinco –
  2. Sulfato de Thallium – alopécia, paralizia respiratória, colápso cardíaco, neuropatia dolorosa crônica e paresia, atrofia do nervo óptico, ataxia e movimentos coreicos e demência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
-Fitofarmaci – Repertori Dei Principi Attivi e Dei Presidi Sanitari; Gelosi, Attilio; Edagricole; 1983
-Recognition and Management of Pesticide Poisonings; Morgan, Donald P.; EPA; 1989
-Toxicologia; Larini, Lourival; Ed. Manole Ltda; 1997
-Doenças Ocupacionais Causadas Pelo Manganês E Seus Compostos; Gomes, Jorge da Rocha; Cocioppo, Sérgio; Faculdade de Saude Pública de USP
-Quadri Lesivi Polmonari In Corso Di Manganismo Alimentare Nel Coniglio; Pinotti G., Luppi ª, Cantoni ª, Di Lecce R.; Instituto de Anatomia Patológica, Facoltà di Medicina Veterinaria, Università di Parma, 1999
-Major Hazards in Foods Ranked from Mosto to Least Hazardous – EXTOXNET FAQs
-The Safety of Foods Addtives – EXTOXNET FAQs
Misconceptions About Environmental Pollutin, Pesticides and the Causes of Cancer, NCPA Policy Report, n.214 March, 1998.
O Futuro Roubado; Colborn, Theo; Dumanoski, Dianne; Myers, John Peterson; LPM; 2002
Fronteiras – Revista do CPERS/Sindicato e da ADUFRGS, abril 1999, n.16
Cartilha Sobre Transgênicos – GIPAS – Grupo Interdisciplinar de Pesquisa e Ação em Agricultura e Saúde

Esta parte do trabalho que agora transcrevo foi totalmente retirada do CD-room de Sebastião Pinheiro, de 2001. A NATUREZA NO MERCADO E A ANGÚSTIA À SUA MESA

RESÍDUOS

O uso de agrotóxicos resulta em contaminação. Esta contaminação divide-se didaticamente em “depósito” e “resíduo”.
“Depósito” é o encontrado logo após a ultima aplicação do agrotóxico sobre a planta. Ele normalmente é alto e calculado para controlar eficientemente a praga ou doença, ficando centenas de vezes acima de sua tolerância.
No Brasil, é pratica comum, embora ilegal, o uso de produtos após a colheita, muitas vezes já dentro da embalagem de transporte para o mercado. Também é permitido, através das permissões cartoriais, os tratamentos pós-colheitas, para frutos e oleirícolas, que fazem o problema de “depósito tornar-se muito sério, principalmente com produtos sistêmicos.
O Ministério da Saúde afirma, após um levantamento realizado em Cantagalo (RJ), que 10 por cento das intoxicações de trabalhadores, naquele cinturão verde ocorrem na colheita de hortigranjeiros. O que é uma situação grave para o agricultor e seus trabalhadores.
Para a análise de qualidade dos hortigranjeiros é muito importante esta separação pois ela irá ser problema para o agricultor, ambiente, consumidor, indústria e qualidade internacional do produto exportado.
Os fatores que fazem um “depósito” se transformar em “resíduo” são vários: as características físico-químicas do agrotóxico, que lhe dotam de maior estabilidade, em função do tipo de ingrediente ativo, formulação, hidrossolubilidade, pressão de vapor, resistência à temperatura, à luz solar, vento. Também as características do cultivo, fase de crescimento do mesmo, pois isto indiretamente diminui a quantidade de resíduo presente. A respiração, oxidação celular e outras reações da planta.
Os resíduos de agrotóxicos podem ser divididos em:
A) Extracuticular, ou resíduo de superfície;
B) Cuticular quando sobre ou na cerosidade da epiderme;
C) Subcuticular quando na polpa do fruto.
A análise destes três tipos de Resíduos é denominada de “técnica ABC”.
Há aspectos importantes sobre cada um destes resíduos, pois o de tipo A e B são mais facilmente retirados, eliminados ou diminuídos por lavagem ou descascado, que o tipo C.
Deve-se levar em consideração a situação de certos cultivos como as folhosas ou morangos onde a lavagem é difícil e a retirada do resíduo A e B torna-se praticamente impossível. Como a relação entre superfície contaminada e a polpa deste hortigranjeiro é de 25:1, o problema de contaminação extracuticular e cuticular é grave.
No caso das frutas isto é importante, pois normalmente elas não são peladas ou descascadas, embora possam ser lavadas com maior cuidado, outras nem tanto.
As práticas de uso de agrotóxicos em estufas de plasticultura demonstram que a proteção contra a luz solar, vento e precipitação impedem uma retirada maior de resíduos que no cultivo em campo livre. Entretanto há também a possibilidade de decomposição de certos fosforados e piretróides mais rapidamente em função do calor e maior teor de gás carbônico no interior das mesmas. Isto é levado em consideração nos países mais avançados, embora seja desconhecido aqui.
Vamos tomar o estudo de dois casos:
A) Os resíduos de Ditiocarbamatos, os fungicidas mais utilizados no país (já severamente banido em outros países), em amostras de alimentos, caem de 50 a 80%, com o lavado, dependendo da intensidade do lavado e quantidade inicial do resíduo. Entretanto, em outros tipos de agrotóxicos, isto não segue o mesmo princípio.
Os fungicidas Ditiocarbamatos possuem uma análise especial, aceita internacionalmente, o método de Keppel, que determina a destruição dos resíduos e sua quantificação como Disulfeto de Carbono (CS2). Mas, por este método, não se consegue saber a situação higiênico-sanitária do produto hortigranjeiro ou alimento, pois as análises de Ditiocarbamatos são apenas indicativos e incompletos do ponto de vista toxicológico-higiênico-sanitário, já que cada um deles tem um grau de toxicidade específico.

Os principais metabólitos dos Ditiocarbamatos são:
NABAM PM 256g; Etileno Tiuram MonoSulfito (ETM) PM 178g; Etileno Tio Uréia (ETU) PM 134g; Etileno Tio-Disulfito (ETD) PM 210g; Etileno Diamina (EDA) 62g; Diisotiocianato de metila 134g; Isotiocianato de metila PM 74g ; Ácido tiocianidrico PM 60g.
Entretanto, seu metabólito de grande importância toxicológica é ETU, por causar câncer em tireóide em humanos, comprovadamente.
Quando um alimento é aquecido ou cozido, os metabólitos de ditiocarbamatos presentes se transformam em ETU. Para evitar a formação de ETU, as empresas, primeiro canadenses, depois norte-americana e européias passaram a lavar as frutas e hortaliças com uma solução de Hipoclorito de Sódio, que destruía os Ditiocarbamatos e impedia a formação de ETU.

Isto foi feito desde a década de setenta até os anos oitenta, quando se descobriu que o tratamento de água contaminada com matéria orgânica por cloro e hipoclorito potencializava a formação de Policloradas Dibenzo-para-Dioxinas e Furanos Clorados, os mais tóxicos de todos os venenos existentes.

B) O TRICLORFON é um inseticida organofosforado de intenso uso em alimentos, principalmente em frutas e hortaliças. Logo após aplicado, suas moléculas começam a transmutar-se em: DDVP, principalmente, por ação do pH. Ele é três vezes mais tóxico que o Triclorfon; TRICLOROETANOL, um álcool que se oxida rapidamene a ácido; ÁCIDO TRICLOROACÉTICO, que é extremamente corrosivo e explosivo; DICLOROACETALDEIDO; CLORAL e CLOROFÓRMIO; este três últimos, também, mutagênicos e carcinogênicos. O maior impacto toxicológico deste organofosforado é causar diminuição na capacidade intelectual e aprendizado nas crianças e depressão nos adultos.

C) O Glyphosate é um herbicida, ou seja, um agrotóxico que mata ervas daninhas, eliminando a concorrência das mesmas nas plantações. “Roundup” é a marca comercial do herbicida mais utilizado no mundo, Glyphosate (Glifosato), inventado, no início dos anos sessenta, pela Monsanto, dos EUA. No Brasil, se utiliza acima de 80 milhões de litros anualmente e com a soja transgênica a tendência é se utilizar mais de 200 milhões de litros.

Quimicamente, o “Roundup” é um composto fosforado (N-fosfono-metilglicina) sem ação inseticida. Ele é um herbicida não seletivo, pois destrói a quase totalidade das plantas existentes no reino vegetal. Devido a esta característica, não se pode aplicar diretamente o “Roundup” nos cultivos, pois mata tudo. Isto faz com que seja aplicado, diretamente, somente sobre as ervas daninhas, sem atingir os cultivos, o que reduz sua utilização e mercado.
Quando a solução de “Roundup” é aplicada sobre as ervas daninhas ou plantas, uma série de enzimas (delta ALA, PAL, catalase, etc.) é inibida, mas o principal mecanismo de funcionamento dele é o bloqueio da 5 enolpiruvilshikimico-3-phosfato sintase, conhecida pela sigla EPSPS.
Isto impede, nos vegetais atingidos pelo Glyphosate, a síntese de aminoácidos aromáticos precursores da síntese de proteínas, ligninas, taninos, flavonóides, vitaminas, etc., causando a morte.
Também, há bactérias, que, submetidas ao herbicida, têm inibição da EPSPS, outras são insensíveis.
Depois, descobriu-se que a inibição provocada pelo herbicida, nas bactérias sensíveis, podia ser bloqueada, quando foram agregados aminoácidos aromáticos à solução.
Os resíduos de Glyphosate ficam presentes no solo por até três anos, podendo contaminar os cultivos feitos sobre o mesmo.
Composição dos Resíduos de Glyphosate
AMPA – Ácido Aminometilfosfônico
HMPA – Ácido Hidroximetilfosfônico
MPA – Ácido Metilfosfônico
MAMPA – Ácido Metilaminometilfosfônico
Poucos são os estudos toxicológicos e ecotoxicológicos sobre os riscos destes produtos.
Resíduos Permitidos Na Soja Normal: 0,2 ppm (Port. Nº. 110 D. O U. 07/12/93) Intervalo de Segurança: Não Tem – Plantio Direto – (Port. Nº 110 D. O U. 07/12/93)
Na Soja Transgênica: Resíduos 20 ppm (Port. Nº 764 D.O.U 25/09/98).
Intervalo de Segurança: 45 dias antes da colheita.
Uso Adequado do “Roundup”: Em 27 de Novembro, devido à gritaria, o nível de resíduos na soja transgênica foi diminuído dez vezes, mas na Austrália, Canadá e EUA os níveis são os anteriores.
Por outro lado o Glyphosate é altamente solúvel em água e nela resiste a altas temperaturas. Com temperaturas próximas a 218 graus Celsius, ele se polimeriza em 2, 5 – Diketopiperazina que pode novamente se transformar em Glyphosate em contato com HCl do estômago. Qual a repercussão toxicológica disto?
No caso da inserção de um gene resistente ao Roundup não foi suficiente para permitir a soja sobreviver às aplicações do mesmo, foi necessário se introduzir duas inserções, com que a soja passou a ter uma atividade enzimática 83% superior à normal. Qual impacto disto na nutrição?
A engenharia genética da Monsanto deve apresentar uma resposta para os seguintes problemas:
I – O primeiro é agronômico. A soja, todos sabem, é uma planta que sintetiza o N do ar, através da simbiose com bactérias Bradirhizobium que vivem em suas raízes. Por isso inoculamos nossa soja para ter maiores colheitas. As Bradirhizobium possuem em seu organismo a proteína EPSPS sensíveis ao Glyphosate. Na presença deste herbicida, não podem sintetizar os seus aminoácidos aromáticos e, por outro lado, têm os microelementos essenciais para catalisar esta síntese, contudo, quelados pela alta dose do agrotóxico, que inibe a ação da nitrogenase, logo o rendimento em grãos da soja é diminuído. Seguramente a Monsanto está desenvolvendo um Bradirhizobium com EPSPS insensível e com alta conversão de microelementos, para solucionar esta situação.
II – O segundo é bromatológico. Se uma empresa prepara o molho de soja “shoyo”, o queijo de soja “tofu”, “missô”, “okara”, “yuba” com soja transgênica, que contém, um teor de 20 ppm de Glyphosate nos grãos, o que ocorre? Para preparar estes fermentados há inoculação com fungos e bactérias, para a fermentação da soja crua, em “shoyo”, “missô” e “tofu”, “okara” e “yuba”. Estes microorganismos possuem a proteína EPSPS sensível, que, na presença do resíduo de Glyphosate, altera a síntese de aminoácidos aromáticos, para a produção final destes alimentos.
Na composição destes alimentos, a alteração pode ocorrer em componentes que se formam em concentração inferior a 1 x 10 -11, como Biotina, Inositol, Ac. Pantotênico, Piridoxina (B6)?
Como se poderá identificar esta alteração nutricional analisando o “tofu”, “missô” e “soyu”, okara, yuba?
Durante a digestão humana, também, uma série de microorganismos, entre eles Bacillus subtilis, que contém EPSPS, desdobram alimentos, como a soja transgênica, contendo resíduos de Roundup e necessitam formar vitaminas e antibióticos para o metabolismo humano. Como a inibição destas vitaminas e antibióticos podem ser medidos, se os mesmos se formam em quantidades e concentrações próximas as acima expressas?
O mesmo se passaria para a qualidade do vinho, iogurt, chucrut, em caso de uva, pastagens, repolho respectivamente, Roundups Readys?
O Ministério da Saúde determinou o máximo de resíduo tolerado em 20 ppm. Por que a inserção do “gene de resistência” faz a “Glyphosate Tolerant Soybean” – GTS – absorver o herbicida do solo e acumular os resíduos nos feijões? Nos solos ricos em sais férricos este acúmulo é maior?
Universitários, professores e alunos ficam possessos, quando se apresentam os riscos dos transgênicos e os problemas toxicológicos dos agrotóxicos. A informação é escondida, no caso do Roundup, não se sabe que o produto técnico é mais seguro que ele formulado ao alcance do agricultor, devido ao Polyoxyetilenamina -POEA. Há registro de mortes no Japão e China devido a este surfatante/emulgador.

 

DISRUPTORES ENDÓCRINOS

Tradução Ocean. Fabíola Pinheiro, GIPAS

Peter Mortague, da União Nacional dos Escritores, dos EUA, fez um extrato do RELATÓRIO WEYBRIDGE, anais da Conferência Internacional sobre substâncias químicas disruptoras endócrinas.
É ele quem diz, “Nos últimos 6 anos, acumularam-se evidências indicando que os seres humanos e a vida selvagem podem ser afetados por produtos químicos industriais que interferem com hormônios. Hormônios são mensageiros químicos transportados pela corrente sanguínea, ligando e desligando processos corporais e, assim, regulando a reprodução, o crescimento, o desenvolvimento (inclusive o mental) e a saúde. O termo genérico para produtos químicos que afetam hormônios é disruptores endócrinos.
Cerca de 50 agentes químicos foram identificados como tais, mais aproximadamente 70.000 produtos químicos comercializados atualmente ainda não foram testados quanto a efeitos sobre o sistema endócrino.
Por estarmos, hoje, todos expostos diariamente a centenas (se não milhares) de agentes químicos no ar, água e alimentos, é (no mínimo) preocupante que alguns destes possam estar permanentemente alterando nosso desenvolvimento e o de nossos descendentes, sem mencionar nossa saúde.
No mês passado, a Agência Ambiental Européia publicou um relatório [1] de uma importante conferência sobre disruptores endócrinos realizada em Weybridge (Inglaterra) de 2 a 4 de dezembro de 1996. O workshop foi organizado pela Comissão Européia, Agência Ambiental, Centro Europeu da Organização Mundial de Saúde, para Ambiente e Saúde; Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD); Agências Ambientais da Inglaterra, Alemanha, Suécia, Holanda, Conselho Europeu das Indústrias Químicas (aproximadamente o equivalente europeu da Associação das Manufatoras Químicas dos EUA), Centro Europeu para Ecotoxicologia e Toxicologia de Produtos Químicos (aproximadamente o equivalente do Instituto de Toxicologia da Indústria Química dos EUA).
Este novo relatório, ao qual nos referimos, contém algumas conclusões importantes, tais como:
** É evidente que há efeitos adversos sobre os órgãos reprodutivos tanto dos homens quanto das mulheres. A incidência de câncer testicular aumentou dramaticamente, em países com registro de casos de câncer, incluindo Escandinávia, países vizinhos ao Mar Báltico, Alemanha, Reino Unido (Inglaterra), EUA e Nova Zelândia.
Igualmente, houve um aumento de incidência de câncer de mama em muitos países, e a incidência de câncer de próstata também parece ter subido. Enquanto alterações na incidência de câncer de próstata podem ter sido influenciados por melhores registros e diagnósticos, o mesmo não pode explicar o aumento maçico dos casos de câncer de testículos. Da mesma forma, a ascensão na incidência de câncer de mama parece real (1, pág. 13).
** O declínio aparente nas contagens de esperma em alguns países é provavelmente genuína, e não devida a variáveis metodológicas ou fatores de confusão. (1, pág 6).
**Contudo, “as evidências não são suficientes para estabelecer definitivamente uma relação causal” entre a exposição química e os efeitos observados sobre a saúde humana. (1, pág. 6)
** Em resumo: “Embora nosso conhecimento atual sobre os agentes ambientais (disruptores endócrinos) e da reprodução seja extremamente limitado, sabemos o bastante sobre efeitos adversos à saúde reprodutiva para que fiquemos preocupados,”conclui o relatório Weybridge. (1, pág. 14)
** Sobre a vida selvagem, foram percebidos os seguintes tipos de efeitos, quanto aos produtos químicos disruptores endócrinos:
** Fêmeas de moluscos (e.g., caramujos e mexilhões) tornaram-se machos, em conseqüência da exposição a produtos químicos disruptores endócrinos (condição denominada de “imposex”) (1, pág. 14)
** Em peixes, foi observada em machos a produção de vitalogenina (uma proteína formadora da gema do ovo e geralmente encontrada em fêmeas). Também foi observado hermafroditismo em peixes (um único peixe possuindo tanto órgãos sexuais masculinos como femininos). (1, pág 14)
** Certos répteis (tartarugas e jacarés) tiveram reduzida sua fertilidade em virtude do subdesenvolvimento dos órgãos sexuais masculinos (pênis pequeno).
** Em aves, foi observado um comportamento de nidificação anormal, ou seja casais constituídos por duas fêmeas.
** Quanto aos mamíferos, houve alterações da fertilidade nas panteras da Flórida e em penípedes.
Em animais de laboratório, foram observados os seguintes efeitos endócrinos-disruptores.
** Ratos e hamsters expostos à dioxina antes do nascimento e logo após o nascimento tiveram a quantidade de esperma reduzida quando adultos. O tempo de exposição determina os efeitos conseguintes. (1, pág. 28)
Também há evidências de que exposição permanente a baixos níveis de dioxina possam causar endometriose em macacos (1, pág. 28)
Endometriose é uma enfermidade dolorosa dos tecidos que revestem o útero., que geralmente resulta em esterilidade e atualmente atinge estimatidamente de 5 a 9 milhões de mulheres americanas.
** Ratos expostos a PCBs antes do nascimento apresentaram distúrbios dos hormônios tireodianos e, como efeitos colaterais, redução no tamanho dos testículos e na quantidade de esperma, quando adultos. (1, pág. 28)
** A exposição de roedores a produtos químicos endócrinos-disruptorres pode induzi-los à puberdade prematura e à persistência de “estrus”, ou seja, tempo anormalmente prolongado de “aquecimento”.
** Machos de roedores expostos a agentes químicos que interferem com os hormônios sexuais masculinos (andrógenos) podem nascer com hipompadia (defeito de nascença no pênis) e criptoorquidismo (testículos ocluídos). (1, pag.29)
O relatório Weyybridge salienta que, em humanos, há indicações de que, ao menos em alguns países… a incidência de testículos ocluídos e hipompadia aumentou”. (1, pág. 13). O relatório Weybridge associa especificamente estes efeitos (em roedores) com exposição a Vinclozolin, um poderoso agrotóxico anti-andrógênico. (Nos EUA, hoje, Vinclozolin está legalizado para uso em pepinos, uvas, alface, cebolas, morangos, tomates, pimentas, amoras e couve de Bruxelas. A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EUA) não tem planos anunciados de banimento do Vinclozolin).
** Há evidências a partir de um número de espécies animais, de que esteróides sexuais ( por exemplo, estrógeno e testosterona) exerçam efeitos a longo prazo sobre o tamanho do timo e “sobre o sistema imunológico em geral” (1, pág. 29). Em seres humanos, o timo é um órgão situado logo acima do coração e produtor de células T, as quais têm importância crucial no sistema imunológico.
O Relatório Weybridge chega a algumas outras conclusões sugestivas da dificuldade do trabalho que os pesquisadores têm pela frente ao tentar desvendar a relação entre agentes químicos endócrinos-disruptores e o desenvolvimento normal nos homens e outros animais.
** “Não é possível entender por completo a significância dos níveis encontrados no sangue e outros tecidos até que o mecanismo e o tempo da ação das substâncias endócrinos-disruptores (SED) e seus metabólitos sejam melhor compreendidos.” (1, pág.37) Em outras palavras, não somente as substâncias endócrino-disruptores precisam ser compreendidas.
Estando presentes no organismo (animal ou humano), são metabolizados e transformados em agentes químicos diferentes, cujos efeitos também devem ser examinados e entendidos. Além disso, o tempo de exposição é crítico.
Por exemplo, a exposição de uma rata prenhe à dioxina no décimo-quinto dia da gestação provoca efeitos que não sobreveêm se a exposição ocorre no décimo-quarto ou décimo-sexto dia. Isto torna a pesquisa laboratorial dos endócrinos disruptores muito mais complexa (e, por conseguinte, mais dispendiosa) do que a pesquisa tóxico-química típica.
Por fim, será preciso testar no mínimo duas gerações de animais, pois os efeitos sobre as proles são a preocupação principal quanto aos endócrinos-disruptores (1, pág. 43)
** “… não se antecipa surgimento de nenhuma relação útil do tipo SAR (1, pág.45) SAR significa “relação estrutura-atividade. Por vezes, a toxicidade desconhecida de uma substância química pode ser estimada através do exame da estrutura molecular de uma substância cuja toxicidade é conhecida. Caso isto seja possível, uma relação extrutura-atividade (na verdade, estrutura – toxicidade) pode ser observada, a atividade (toxicidade da substância, estimada a partir de sua estrutura química. A observação de SAR pode auxiliar os cientistas a decidir rapidamente sobre quais produtos químicos são provavelmente os vilões.
Infelizmente, como conclui o Relatório Weybridge, as substâncias químicas endócrino-disruptores não se assemelham estruturalmente, diferindo a tal ponto, que nenhuma relação estrutural-atividade parece surgir para ajudar os cientistas a identificar os vilões. Dessa forma, todos os produtos químicos são candidatos a testes cujos custos e complexicidade são enormemente aumentados, podendo ou não vir a ser identificados como endócrinos-disruptores.
** “Houve concordância geral no workshop de que um endócrino-disruptor só poderia ser definido apropriadamente por meio de testes de substâncias químicas no animal intacto.” (1, pág. 53), o que também é má notícia.
Traduzindo, testes em tubos-de-ensaios com as substâncias químicas não fornecerão as informações necessárias. Os testes deverão ser realizados em animais vivos, o que é caro (e cruel).
** Os feitos interativos potenciais da exposição a diversas substâncias simultaneamente devem ser considerados. ( 1, pág. 41).
Em suma, segundo o Relatório Weybridge, para compreender o problema das substâncias químicas endócrino-disruptoras, devemos estudar as interações entre combinações de substâncias químicas, em, no mínimo, duas gerações de animais vivos, expostos em momentos diversos ao longo de suas vidas (ocasiões diferentes prévias e posteriores ao nascimento). E, obviamente, os animais devem ser expostos às várias concentrações das substâncias químicas, a fim de verificar se uma relação dose-resposta fica evidente.
A necessidade de testar combinações complica enormemente o quadro. Por exemplo, para testar apenas os mil tóxicos mais comuns em combinações únicas de, seriam necessários pelo menos 166 milhões de experimentos diferentes (sem considerar a necessidade de estudar doses variáveis dados aos animais em períodos variáveis durante suas vidas).
Se quisermos conduzir 166 milhões de experimentos em apenas 20 anos, teríamos de completar 8,3 milhões de testes cada ano. Os EUA presentemente têm capacidade de conduzir somente poucas centenas de tais testes animais a cada ano. Simplesmente treinar pessoal suficiente para realizar 8,3 milhões de testes animais por ano está além da capacidade da nação.
** Destacadamente, o Relatório Weybridge recomenda que, até que a pesquisa necessária seja completada para fornecer pleno conhecimento científico, deve ser considerada a redução da exposição da vida selvagem e humana às substâncias químicas endócrinas-disruptoras, acompanhando o Princípio da Precaução (1, pág, 52) (Conforme estipulado no Príncipio 15 da Declaração do Rio 1992 sobre Ambiente e Desenvolvimento, o Princípio da Precaução estabelece que “onde haja ameaças de danos irreversíveis sérios, a falta de certeza científica não deverá ser usada como motivo para adiar medidas de custo efetivo que previnam a degradação ambiental”. (2)
Em suma, o Relatório Weybridge estabelece crítérios para compreender o problema dos produtos químicos endócrinos-disruptores, mas parece que mesmo as nações mais ricas do mundo não possuem capacidade de desempenhar a pesquisa científica necessária. Este é um problema pior do que todos os outros já enfrentados. O perigo de danos irreversíveis é real. Portanto, invocar o Princípio de Precaução, a fim de limitar nossa exposição a tais substâncias químicas mesmo antes de conhecê-las cientificamente por completo, parece ser a única medida racional a adotar. Nos EUA, isto provavelmente não é possível, devido à força política das corporações químicas. Talvez, porém, democracias mais racionais possam nos dar uma lição de ação cautelar.
Isto leva ao crescimento e avanço da agricultura ecológica, que cresce 21% ao ano nos EUA e 19% na União Européia.
Contudo, as grandes empresas estão investindo grandes somas para a produção de alimentos transgênicos e geneticamente modificados.

O QUE PODEMOS FAZER??????

1 – Não negar o problema
2 – Pressionar através de grupos, instituições, cidades, estados e países para que protocolos internacionais sejam assinados com o intuito de proibir o uso destes e outros agentes suspeitos. Através de movimentos internacionais pressionar através da imprensa, de universidades, de grupos de preservação, as reuniões que definem protocolos internacionais.
3 – comprometer com responsabilidades o país importador destes agentes.
4 – passar o ônus das provas para os produtores dos agentes químicos que deveriam lançar a droga no mercado somente após tê-las testado por protocolos desenhados por cientistas não ligados a empresa interessada na comercialização do produto.

  1. 4.1 – Testagem necessariamente precisa ter um enfoque também em embriões e filhotes.
  2. Obs. Os riscos são calculados para o peso de um homem adulto 67 Kg.

4.2 – Comprometer o produtor com a testagem de cruzamento de produtos e não somente com o novo produto isoladamente.
5 – Controlar o acúmulo da substância no ar, solo, água, alimentos, animais e outras fontes.
6 – Modificar as leis referentes a segredos industriais para tornar claro os riscos.
7 – Exigir que os produtores de alimentos e comerciantes trabalhem com monitoramento de fontes.
8 – Ampliar o conceito de inventário de lançamentos de agentes tóxicos. Lei aprovada em 1986.
9 – Exigir avisos prévios e informações irrestritas em ambientes onde é usado o agrotóxico ou outros venenos ambientais.
10 – Reformar os sistemas de dados sobre saúde para que eles contenham informações necessárias a políticas de saúde.

EXIGÊNCIAS QUE PODEMOS FAZER

  1. Reduzir o número de agentes químicos no mercado. Atualmente temos 100 mil agentes sintéticos disponíveis no mundo e 1000 novas substâncias sendo produzida e lançadas todos os anos para consumo. Como descobrir os seus malefícios?
  2. Reduzir o número de agentes utilizados em cada produto, tornando-os mais simples.
  3. Produzir e comercializar somente agentes que tenham componentes já conhecidos e capazes de serem avaliados.
  4. Restringir a produção de agentes que sejam de estrutura muito complexas e difíceis de serem identificados
  5. Impedir a produção de agentes químicos que não tenham comprovadas sua degradação no meio ambiente.
  6. Implementar políticas de estímulo ao uso de reciclados e de produtos feitos a partir de materiais que possam ser reutilizados na própria indústria ou outras parceiras.
  7. Consumir produtos de fontes que não utilizam agrotóxicos.
  8. Esclarecer aos nossos pacientes sobre o assunto
  9. Veicular a matéria sempre que possível
  10. Buscar informações
  11. Manifestar-se sempre que houver um acidente ecológico
  12. Estar alerta aos efeitos
  13. Formar em nossas comunidades núcleos de discussão sobre o problema com estudo de dados que já existem, envolvendo não só os ambientalistas mas todas as parcelas da população.

INFORMAÇÕES HISTÓRICAS SOBRE OS TRANSGÊNICOS

Em 26 de junho de 2000, o presidente Bill Clinton, a respeito do projeto Genoma Humano disse: “Hoje estamos aprendendo a linguagem que Deus usou para criar a Vida“. Uma frase de efeito, mais que isso uma imagem sacra. Francis Collins, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas do HUGO, dos EUA, usou o mesmo estilo: “A revelação do livro da Vida“.
Estamos diante de uma nova cruzada, um sacro-negócio, onde o governo americano investiu mais de três bilhões de dólares e amparou com um ar de seriedade para o bem

Desde o sucesso – pioneiro dos EUA – da transferência de um gene de um organismo para outro, muitos países começaram a se preparar para a evolução tecnológica. Dois países são apontados pelos defensores da engenharia genética como exemplos, por adotaram políticas públicas sobre a nova e promissora tecnologia: Cuba e China.
Quanto ao primeiro, a revolução cubana de 26 de julho de 1959 tornou-se, em final de 1960, pró-soviética e os cubanos se viram, imediatamente, às voltas com ataques de doenças fúngicas às suas monoculturas: de fumo, o “mofo azul”; e, na cana-de-açúcar, o “carvão”, além de epizootias animais como, a peste suína africana e epidemias humanas (hepatites), sem explicação aparente, a não ser a ação do vizinho desafeto. A resposta do governo cubano foi priorizar soluções para proteção à saúde, principalmente humana e animal, pois a agrícola contaria com os perniciosos agrotóxicos soviéticos. Daí o grande desenvolvimento cubano, perante o mundo, no campo da biotecnologia. Estas notícias muitas vezes ficam no limbo da espionagem, propaganda política, desinformação e contra-informação, sendo difícil de ser comprovado.
No caso chinês, a situação é semelhante, visto que o governo determina que toda e qualquer informação sobre organismos geneticamente modificados é de Segurança de Estado.
Isto é facilmente explicável, pois a China assombrou os EUA e o mundo, quando estes perceberam que milhares de hectares de cultivo de fumo eram de plantas transgênicas. Os chineses, assim como toda a fumicultura do mundo, têm um problema sério com as viroses.
Em rápidas palavras, os vírus que atacam o fumo são constituídos de uma capa protéica de proteção, no seu interior de RNA, que invade as células do fumo e impõe a sua mensagem, levando à destruição da planta.
Os chineses isolaram, através de plasmídios, o gene responsável pela fabricação da capa de proteína protetora do vírus e o introduziram nas células de plantas de fumos que foram clonadas. Estas plantas transgênicas (continham genes de vírus), ao serem infectadas pelos vírus, reconheciam a parte de seu corpo e a fagocitavam, o vírus sem proteção não podia infectar as plantas.
É de se imaginar o desespero do governo norte-americano e dos demais países industriais perante tal avanço. Que fazer?
A única e rápida forma de proteger o deus “Capital” é impedir que o dogma “TECNOLOGIA” mudasse de lado, ainda no período de guerra fria, era dar “luz verde”, para que as empresas ocidentais, principalmente as norte-americanas, recuperassem o terreno nesta corrida tecnológica. As empresas aceitaram o desafio, mas pediram, simplesmente, que o Estado yankee bloqueasse a ação de seus cartórios OTA, FDA, EPA e outros. Todas elas empresas experientes na petroquímica, não queriam a “regulamentação” exaustiva, vultuosa e, principalmente, melindrosa dos ensaios bromatológicos e ecotoxicológicos. Assim nasceu a desregulamentação dos organismos geneticamente modificados em todo o mundo…
Aqui temos de fazer referência a duas situações:
No caso cubano, o organismo produtor da vacina, quando geneticamente modificado, está contido em recipientes de máxima segurança. A vacina ou produto farmacológico usado não contém DNA recombinante. Apenas pode haver acidente no laboratório, o que não deixa de ser um risco, porém pode ser relativamente bem calculado e preservado.
Já, no caso chinês, é mais interessante, pois a capa do vírus foi introduzida em um pé de fumo e, se houver uma mutação deste gene, os chineses necessitam de um estoque com a estrutura das novas capas e inseri-las continuamente. O que não garante segurança ambiental, mas afasta o risco de impacto econômico. Do ponto de vista de saúde, há uma situação interessante, pois o fumo não é um alimento, nem sequer é ingerido. Ele é fumado, se destrói pelo calor antes de entrar no organismo e não há produto diferente em contato com o organismo humano. Também pode haver um acidente, não só em laboratório.
Imediatamente, as empresas norte-americanas com a “luz verde” passaram a investir gigantescas quantidades de capital nas “commodities” (soja, milho, colza), até então controladas por Chicago, agora controladas pela NASDAQ.
Nos poucos alimentos em que introduziram a tecnologia, o fizeram copiando, plagiando e guiando-se pelo pensamento chinês, com a inversão e “bricolagem de genes” (non sense) em tomates e abóboras (squash).
Esta prioridade “yankee” surpreendeu seus vizinhos e aliados. Como os europeus não são ingênuos ou bobos, logo perceberam que, se as “novas commodities transgênicas” chegassem ao mercado, haveria dois produtos os naturais e os transgênicos e puseram as “barbas de molho”.
Como os europeus, unidos economicamente, estavam se preparando desde o início dos anos oitenta, para criar dois tipos de agricultura: a ecológica (orgânica ou sustentável), já formatada em seus laboratórios sociais e institutos de pesquisas, em substituição à agricultura industrial, pois o lucrativo negócio dos venenos estava retornando para os seus cidadãos, através das importações de matérias primas.
A agricultura sustentável teria um novo marco ou matriz tecnológica (paradigma?) que substituiria os venenos e outros insumos por serviços. Assim os países produziriam sob a orientação deles que venderiam serviços (certificações, análises, garantias de qualidade e saber, principalmente saber), sem a necessidade de produzir dióxido de enxofre, gás carbônico ou gastar comprando energia para transformar matérias primas dos países “em desenvolvimento” ou “não desenvolvidos”. Contudo, foram surpreendidos pelos OGMs.
Com o instrumental da engenharia genética, a resposta dos estrategistas yankees foi simples: Os EUA é o grande produtor de matérias primas agrícolas. Havendo um produto natural e um produto transgênico, os EUA têm a condição de produzi-los (ambos), enquanto que a União Européia não tem esta condição para nenhum.
Compete, então, aos EUA determinarem não só a produção, mas também o preço de cada um. Se a União Européia não tiver onde buscar a alternativa, ver-se-á obrigada a pagar o preço que Chicago, ou melhor, a NASDAQ determinar, pelo alimento que desejar: transgênico ou natural. É de se imaginar como será caro este último.
A situação era somente impor a soja e o milho para os países súditos grandes produtores: Canadá, Argentina, Brasil, África do Sul, Tailândia entre outros que aceitassem incondicionalmente os transgênicos. Em menos de três anos, os EUA teriam estes países só com transgênicos. E, ainda com a vantagem de que as pequenas produções locais de matérias-primas naturais seriam suficientemente caras para não competirem com os EUA, abrindo até um mercado para a elite local consumir produtos naturais norte-americanos.
Dizem que o diabo faz a panela, mas não faz a tampa. As empresas norte-americanas não esperavam que a arrogância dos governos britânicos tropeçasse na síndrome da vaca louca, e o temor fosse pano de fundo contra a nova tecnologia, nem que os súditos de um longínquo e remoto Rio Grande do Sul pudessem questionar com propriedade e autenticidade os transgênicos, fora do prisma europeu ou yankee.
Hoje há uma série de matizes:
A certificação de produtos naturais, um negócio inicialmente europeu, tem uma série de súditos, interessados em serem “terceirizados”, de forma global; Agências de governos federal e estadual, na esteira da propaganda, das sustentabilidades, estão criando este mecanismo (de certificação), sem uma avaliação de seu impacto sobre a agricultura, agricultor e economia. Isto irá encarecer o produto na mesa do trabalhador brasileiro, pois haverá uma corrida para produzir o de melhor qualidade, que tem melhor preço, mas tem os custos de certificação embutido, o que aumentará a necessidade de fiscalização, pois o nível de corrupção neste país é institucional, o que também diminui as margens do Estado, Governo e Agricultor. E assim por diante…
Nesta conjuntura, os europeus, necessitam, mortalmente, serem aliados dos países “em desenvolvimento”, para não ter o estômago sob as ordens de Tio Sam.
Contudo, entre nós, a mediocridade é tanta que vemos os governos e pecuaristas com olhos gordos no mercado e se esquecem, de que, em uma região onde existe porcos selvagens, cervos selvagens e muitos outros animais portadores do vírus da febre aftosa, não se pode declarar “zona livre de febre aftosa sem vacinação”, nem por brincadeira.
Por outro lado, onde as empresas no mercado querem vender vacinas e não há eficiência governamental, para controlá-las é impossível se adotar medidas sanitárias. E, ainda mais, as crises internacionais de preço da carne necessitam de saídas estratégicas. A corda sempre arrebenta no lado mais fraco.
Da mesma forma não se pode declarar “zona livre de transgênicos” sem fronteiras vigiadas, só com a retórica de políticos e ativistas caricatos, de pouca memória sobre a introdução da ferrugem do café, bicudo do algodão e do extermínio dos suínos, com a falsa entrada da peste suína africana.
Mas o contexto é que há, neste momento, uma nova matriz tecnológica, na agricultura, onde o trabalho dos países centrais irá competir internacionalmente e conta com a engenharia genética, como o seu instrumental. Os transgênicos contam com esta estrutura, que parece conjuntura, para situar-se e impor-se.
O capital, concentrado e ultrapassando fronteiras ideológicas é disputado loucamente, dentro de uma globalização de mercados. As transnacionais fusionam-se para suprir a ausência do Estado e garantir ao cidadão o direito de consumir, embora de acordo com o seu poder crematístico. Assim, se elimina o poder supremo e a opressão do Estado Nacional, que passa a ser um representante cultural, como a figura decorativa da Rainha da Inglaterra, contudo exacerba-se a servidão.
Nestas condições, três perguntas preliminares: Para que Reforma Agrária se ela é antiestrutural? Por que Agroecologia, se a sustentabilidade é estrutural? Como manter a Pequena Propriedade Rural se ela é inadequada à escala do mercado e antagônica à OMC e FMI?
Tristemente, estas são as síndromes, que nos afetam.
Com este registro, não queremos que a incompetência e falta de ética sejam consideradas doenças no futuro.
Porém, continuamos construindo as respostas, certos da vitória.
Sebastião Pinheiro, outono austral, 2.001.

SABER E FAZER A ESCASSEZ

Sabemos que a economia é a ciência, cujo postulado máximo diz que os produtos no mercado (mercadorias) valem mais quando escasseiam (e há procura), logo a escassez regula tudo pelos preços, valores e determinados interesses.
Aos governos cabe controlar os limites, abusos e excessos, para melhor fluir seu poder e equilíbrio, pois sabem que os extremos de escassez ou fartura são insustentáveis.
Os alimentos são frutos da natureza e tão inerentes aos seres vivos (e humanos), quanto o ar, a água, o Sol, contudo os alimentos, para humanos são regulados pelo mercado, conforme a escassez/abundância ditada pela economia. Em alguns países, a economia é muito próxima à natureza, em outros, é uma economia quase totalmente industrial e o alimento natural é muito caro.
A indústria de alimentos propiciou a oferta contínua das mercadorias, através de estoques, com preços praticamente constantes ou mais uniformes e isto viabilizou a pequena propriedade rural familiar na Europa, EUA e Japão, o que levou a políticas públicas decisivas nos países industrializados, onde os governos se aliaram às empresas. Nestes países, há a máxima de que, onde os alimentos são escassos ou caros, há rebelião.
A indústria de alimentos, desta forma, é um dos segmentos que mais evoluiu dentro da economia no último século. Seu grande mérito, nos países industrializados, repetimos, foi manter uma oferta constante de alimentos industriais, com preços homogêneos relativamente baixos; aumentar as áreas desses cultivos de forma organizada com valor agregado pela transformação de produtos agrícolas naturais em matéria prima para as indústrias.
Internacionalmente, estas empresas logo cresceram e transformaram-se em conglomerados industriais multinacionais. Nos países em desenvolvimento, a indústria de alimentos internacional chegou para se instalar, muitas vezes atraída, incentivada e subsidiada pelo governo, ávido por empregos, impostos industriais e venda de energia tarifada, serviços e infra-estrutura.
Em muitos países em desenvolvimento, esta foi a única política pública existente, pois o tamanho das empresas inibia ou impedia qualquer política similar às dos países industrializados.
Assim, as indústrias de alimentos, entre nós, passaram a influir diretamente nos preços, na produção, nas transformações agrícolas e agrárias, no consumo de insumos, no crédito, ensino e pesquisa, até na concentração do tamanho das propriedades, o que levou a impor as políticas das empresas como forma de baratear custos.
Com o seu crescimento, a indústria internacional de alimentos transformou-se em transnacional e tornou-se tão ou mais poderosa que os governos. Estes, dentro da ordem imperial, passaram a tributar os alimentos industriais encarecendo-os e tornando-os inacessíveis para uma parcela expressiva da população, oprimida pela fome, não ritual, mas imperial.
A evolução internacional da indústria de alimentos a integrou com outros setores, como o produtor de energia e combustíveis, com o de química, embalagens, marketing e insumos para a agricultura. Hoje, este é o maior e mais estratégico complexo industrial do planeta – o complexo agroindustrial-alimentar-financeiro (CAIAF).
Nos países pobres e em desenvolvimento, o CAIAF defronta-se com a política pública dos governos que usam a ordem histórica de violência ritual, através dos espectros da fome e epidemia acompanhada pela ordem histórica imperial com sua violência, repressão (força), aplicada pelo governo interessado, para disciplinar o mercado e consumo, pois, há, também, uma alta porcentagem de consumo de alimentos naturais, que não chegam ao mercado e isto choca com os interesses das empresas, o que impede o interesse ou artifício da oferta gigantesca de alimentos, pois, há escassez na procura por alimentos industriais, devido ao baixo poder aquisitivo.
Eliminar a concorrência dos alimentos naturais e aumentar o consumo dos industriais passam a ser a política pública.
Concomitante, há ilhas de desenvolvimento da ordem histórica posterior, a mercantil e sua violência, o dinheiro, o que provoca mais desequilíbrios.

Esta mistura de três tipos de ordens históricas e suas violências não é sentida nos países industrializados ou, também, nos atrasados, onde predomina quase hegemônica apenas um tipo de ordem e sua violência.

Contudo, entre nós, a situação é confusa e varia de um momento para outro e de um ambiente a outro.
Na esteira da globalização e mídia do neoliberalismo, deparamo-nos com mais uma realidade: uma nova ordem histórica estabelece-se, a ordem dos códigos.
Para que esta nova ordem estabeleça-se é necessário que tudo aquilo que ainda não tiver valor de mercado, seja agora pautado por um preço, seja um comportamento, uma vontade, a qualidade de um alimento ou vestuário, um patrimônio da natureza, como o ar, a água, ou a paisagem. As transformações serão maiores onde houver a mistura de ordens.
A principal característica desta nova ordem é que sua violência é controlada inconscientemente pelo próprio indivíduo (consumidor), que se sujeita a ela e é simultaneamente seu próprio algoz e vítima conformada.
Em uma sociedade industrial, a presença desta forma de ordem não é tão notada, mas em uma sociedade “em desenvolvimento”, a situação fica mais calamitosa que a anterior, pela mistura de ordens, agora mais complicada.
Repassemos: na primeira ordem histórica (ritual), sacerdotes amedrontavam os fiéis com o respeito ao sagrado; na segunda, mandatários determinavam, através da força e violência de repressão (lei, punição) e controle; na terceira (mercantil), era o dinheiro que organizava, com um pouco de intervenção do Estado, a violência da escassez/abundância e mantinha o controle; na quarta ordem histórica (código), é o cidadão conformado que se autoviolenta por não ter os meios (informação e outros) para o acesso aos mesmos.
É por isso que, nas transições de ordens, muitas vezes, não entendemos o que está se passando e pensamos em nos enquadrarmos em uma ordem, mas já estamos com valores da outra e vice-versa. Isto é usado pelo marketing, mídia e propaganda oficial dos governos de todos os matizes.
Os empresários, políticos e governantes sabem que as bandeiras populares são fruto das insatisfações, e as únicas causas que levam à greves, rebeliões, revoltas, etc. , que tanto prejuízos causam aos negócios de suas empresas privadas ou públicas respectivamente.
Como tal, na ordem dos códigos, não deve haver qualquer tipo de cerceamento à liberdade individual. Todas as causas de insatisfações e possibilidades de litígios devem ser eliminadas na raiz, para se evitar sua repercussão nas relações sociais. Este é o dogma implícito na nova ordem.
É por isso que vemos, agora, um grande reboliço, com muitas bandeiras populares serem seqüestradas (violência) pela ordem dos códigos, em uma transição vertiginosa. Os movimentos sociais, atônitos, não conseguem articular o que está acontecendo e quais as correções de rumo necessárias.
Bandeiras (códigos) como a da “solidariedade” (lembrem-se de Lech Walesa e seu sindicato na Polônia, que derrubou não só os sindicatos do regime títere dos soviéticos, mas a estrutura orgânica do país).
A “poluição” desencadeou o movimento de “defesa ambiental”, que nos trouxe novos valores, desde a conferência de Estocolmo, e logo um segmento bilionário para a economia, pela escassez de meio ambiente.
A conferência do Rio/92 trouxe-nos a “sustentabilidade” como novo nicho “econômico”, biotecnologia e organismos geneticamente modificados, uma nova forma de desenvolvimento econômico (código) tentando estancar a devastação e comprometimento dos suportes vitais, de forma globalizada.
Esta globalização também é atual no campo social, e temos a “integração de todas minorias” e a “liberdade em todos os sentidos”.
A “agricultura alternativa”, rejeitada no passado, ganhou status e se denomina de “ecológica” nos programas oficiais dos países industriais, com crescimento vertiginoso.
Hoje, na ótica dos negócios, tudo é “terceiro setor” e os governos, mesmo periféricos, conduzem as políticas públicas comandadas pela junção de governo e empresários dentro da nova ordem histórica.
Assim, todas estas bandeiras, ontem agitadas pelos movimentos populares e sociedade civil organizada, hoje são programas de governos de qualquer matiz político com polpudos recursos.
É dogmática a não permissão que bandeiras de movimentos populares e sociedade civil organizada sejam levantadas e possam causar questionamentos, rebelião, insatisfação e prejuízos às empresas, suas metas e marcas.
Mas como isto vai afetar a produção de alimentos?
O gigantismo do CAIAF tornará o agricultor seu servidor integrado em um sistema globalizado mundialmente. Os hábitos e dietas alimentares serão o que interessará às empresas e com a qualidade que pode ser acessada pelo consumidor, conforme sua informação e poder aquisitivo.
Hoje vemos os movimentos populares em estertores tentarem levar a bandeira da agricultura ecológica e transgênicos. É dramático, não nos damos conta, mas esta bandeira (agricultura ecológica) não pertence mais aos movimentos ecologistas, ambientalistas, popular ou sociedade civil organizada. Ela já foi furtada, agora é um código que pertence ao mercado.
Aquele agricultor, no terceiro mundo, que lutava contra os insumos da Revolução Verde e procurava usar alternativas para produzir de acordo aos preceitos da natureza, agora está vendo todos os valores da natureza se tornarem valores de mercado. Pior, sua postura ética foi absorvida pela grande procura e pouca oferta, conforme o interesse de transição do CAIAF.
Em países onde estes agricultores teriam a esperança de poder produzir diferenciadamente para enfrentar a ameaça da exclusão, vemos que, agora, eles estão sendo enquadrados nos códigos, para que a sua exclusão se dê como um código e ele se torne um ser conformado, não excluído, mas em servidão econômica para o sistema (CAIAF).
Isto é alcançado através da normatização, certificação e outros mecanismos e serviços ideológicos ou mercadológicos.
A pressão faz com que os pequenos agricultores sejam obrigados a um tipo de organização empresarial, que os torna reféns de um sistema extremamente caro, onde os custos só podem ser suportados por redes de grandes conglomerados, condenando os pequenos a uma vida efêmera.
Não lemos o significado dos códigos, logo o CAIAF terá absorvido o nicho dos produtos ecológicos, pois não é possível que um pequeno agricultor possa pagar sete mil dólares para a certificação de sua pequena produção. A pressão inicial obriga que ele se associe, mais que isso, se conglomere, para enfrentar a nova realidade, mas isto é uma transição.
Por outro lado, mesmo as redes organizadas para o enfrentamento desta situação têm pouca sobrevivência pela falta de competitividade em uma escala de mercado globalizado. Por exemplo, no Brasil, um país exportador, há apenas um certificador internacional. A quem interessa este monopólio (código)? Ao CAIAF unicamente.
Mas quem está percebendo esta manobra, quando há códigos sendo dispersos de que a “agroecologia” (autodenominada “base científica da agricultura ecológica”) tornou-se bandeira popular e política de movimentos exangues, que o que fazem é criar mecanismos para acelerar a implantação dos códigos da nova ordem.
Assim, os alimentos inerentes ao ser humano como o ar, água e Sol tornam-se mais caros; os naturais ou ecológicos só são acessíveis aos mais ricos; restam aos pobres os alimentos industriais e de menor qualidade, com o conformismo (violência) da nova ordem.
Todas as alternativas levam a somente uma situação: O complexo agroindustrial-alimentar-financeiro é um só, e é tudo.
No passado, a indústria de alimentos, através do governo, criava as barreiras zoosanitárias e fitossanitárias para impedir uma competição de produtos naturais (ou matérias primas) de países em desenvolvimento ou com políticas fora de seu sistema.
Vimo-la, também, determinar infra-estruturas fora do alcance dos pequenos para evitar uma concorrência, através de associações e cooperativas. Assim, se destruiu a estrutura de moinhos coloniais; a indústria colonial de vinho e bebidas locais e regionais; frigoríficos e a indústria de embutidos e lacticínios. Agora, com a novíssima ordem, os mecanismos são as certificações, normatizações, serviços, cartórios globalizados ou pedágios nas estradas e onde está a lucidez para enxergar o código.
A cada dia que passa, mais um bem natural torna-se bem econômico; um comportamento social torna-se disponível ao mercado. É assim que economicamente se cria e impõe a escassez, que deve ficar no inconsciente coletivo.
Para que isto flua com segurança, é necessário que, a cada dia, algo se torne escasso, como agora, por exemplo, a água.
Toda uma lógica de valor e escassez é montada para o negócio de mercado da água. As discussões são formatadas psicossocialmente, para que se discuta a escassez e o valor, como forma de se poupar, preservar, privatizar, etc.
Os tecnocratas ou teleguiados logo passam a propalar a necessidade de mudar o enfoque e criam o novo código.
Assim, a água passa a ser um negócio, um novo negócio e pensamos que isto é fruto do neoliberalismo ou da globalização, quando, na verdade, isto é fruto original da implantação da nova ordem dos códigos.
Em Minas Gerais, um grupo de engenheiros agrônomos, antes amantes de agrotóxicos, descobriu o novo filão e resolveram fazer um Seminário de água-negócios… Não usaram a terminologia que lhes é peculiar, fruto da Revolução Verde: “Water Business”, por ser algo inovador e que teria pouca compreensão, contraditando com o já personificado Agribusiness.
É assim que vemos os conglomerados, entre eles Carrefour, Novartis, Monsanto investindo em agricultura ecológica. Devemos perguntar: Que diferença há entre a agricultura ecológica de um Carrefour e a de uma ONG? Para a economia ou para o Estado nenhuma. O incrível é que muitas ONGs não percebem o código e passam a construir a transição como se fosse a mesma coisa.
Mas a resposta à questão, agora, demonstra que para o PIB a agricultura ecológica do Carrefour é superior pela dimensão de seus negócios e poder gerado.
Há uma abissal diferença: a questão ética entre ambas, que se não for levada em conta fará com que se confundam e pensem que ambas posturas são uma só.
Os movimentos políticos têm pautado por apropriar-se do termo “agroecologia”, como a resposta política às pretensões do CAIAF. Não compreendem que ela é de interesse (código) do Departamento de Estado dos EUA; assim como a “agricultura orgânica”, do IFOAM, é interesse da União Européia e os japoneses tentam correr por fora em uma tentativa de conseguir o seu nicho de mercado.
Recentemente, vimos muitos líderes da agricultura alternativa dos anos oitenta, agora se apresentando como empresários “verdes”, felizes, inocentes e satisfeitos…
Isto não nos espanta, pois vemos que a transição para a nova ordem está em curso, por exemplo a erva mate ecológica do MST, que vai para a Europa, é certificada por um Instituto e ninguém estranha está situação. Ele detém o monopólio de certificação no país, embora não seja um organismo de Estado, nacional ou sob controle da Sociedade.
No RS, em recente edital público dirigido e encomendado para “doce de frutas adoçado com açúcar mascavo ecológico”, ficou o escárnio, pois somente existe, no país, uma associação que produz este tipo de mercadoria.
Isto não é sustentável, logo, o CAIAF será o senhor supremo da nova ordem e todos estaremos alinhados em servidão conformados. Os dois exemplos acima demonstram esta realidade, que a cada dia vemos mais e mais dentro de nós mesmos.
Quando lemos uma publicação dos movimentos internacionais sobre agricultura alternativa, agrotóxicos, transgênicos e organismos geneticamente modificados ou questões de gênero e outras, deparamo-nos com uma mensagem monolítica, seja a publicação do continente que for.
A ótica, a concepção, os exemplos, as proposições de campanhas, tudo é unitário e uníssono, como saído de uma mesma massa e de um mesmo forno. É crítica consentida, que formata opiniões, para servir de modelo de discussão e reação. É pasteurizada e nunca fermentará, além de para o que foi preparada.
Na questão dos transgênicos, ao levarmos uma luta independente, logo percebemos que os documentos que chegavam eram todos eles “clones” sem uma diversidade maior, com um alto grau de colonialismo. O fato de uma ativista uruguaia ter chegado ao desplante de dizer: – “afastem-se, pois agora chegaram os profissionais”, leva-nos a questionar se esta homogeneidade ou hegemonia não é, também, fruto de um código da nova ordem, na qual somos induzidos e conduzidos, para evitar surpresas desagradáveis ao sistema e poder.
Reavaliemos as mobilizações e bandeiras, aparentemente sob nosso controle, como as dos agrotóxicos e a dos transgênicos: A quem beneficia a inércia do governo gaúcho neste setor, aliado com palestras de sensibilização e motivação, que não vêm acompanhadas de ações concretas de capacitação e formação dos agricultores?
Parece incrível, mas, na nova ordem, estamos fazendo o jogo do inimigo, como ele quer.
É bem verdade que há escassez de talentos nas periferias do mundo, em função do aculturamento das estruturas de poder, que deveriam ser de “saber”, mas foram transformadas em aparelhos ideológicos de “fazer”.
Mas a subversão e sedição à nova ordem histórica, bem que seria um bom momento para se iniciar o exercício de pensar, criar e refletir, agregando valores locais éticos, rituais, imperiais e mercantis, pois estes são códigos antagônicos aos interesses do CAIAF e dos outros organismos internacionais e governos títeres.
Devemos decifrar a conveniência entre:
O ser ideal do Estado e o estado ideal do Ser.
É uma questão de opção, somente de opção.
Aliás, a economia é uma ciência?

Vejamos, pedagogicamente, por partes. O conhecimento e saber são organizados e aplicados para fazer avançar esta matriz consolidando seu poder. Assim, a domesticação das plantas estarão atreladas aos produtos que as matrizes capital-aço-petroquímica poderão fornecer.
O saber técnico dessas matrizes serão um segmento privilegiado na execução das metas e programas de estratificação e poder industrial na agricultura, através das estruturas internacionais e nacionais de: crédito agrícola, extensão rural; ensino; pesquisa e experimentação, todos ideologicamente afinados com a matriz energética da agricultura (capital-aço-petroquímica) .
A transformação da agricultura mundial através da modificação do espaço natural em espaço virtual cada vez mais intenso e crítico passará despercebido e inconsciente até a necessidade de alteração de um dos aspectos da trilogia matricial.
No passado, a força de tração era animal e seu subproduto, o esterco, a base para a fertilização dos campos. Ele foi substituído pelo motor do caminhão e trator, e, os fertilizantes passaram, também, a ser a fonte de fertilização. Logo a matriz tecnológica deixou de ser animal (fotossíntese) e passou a ser, em meados do século passado, o petróleo.
Hoje, ele está sendo destituído pela biotecnologia como elemento futuro ou matriz energética para o próximo milênio, embora as mesmas empresas petrolíferas sejam as investidoras nesse segmento, não havendo alteração no tocante à matriz de capital.

O lançamento dos transgênicos no mercado foi feito sem uma avaliação ou maior preocupação quanto a sua segurança ou riscos para o ser humano. Hoje, os cidadãos norte-americanos estão processando seus órgãos públicos, como o FDA, EPA, que não aplicaram as leis, nem exigiram os estudos científicos e desregulamentaram ilegalmente os registros destes tipos de alimentos.
Nenhum estudo sobre os perigos da inserção de genes estranho foi estudado e avaliado de forma profunda. Nenhuma avaliação sobre a biodisponibilidade, compatibilidade e acúmulo de substâncias deletérias foi feito. Nem estudos nutricionais, nos alimentos geneticamente modificados. Isto é um grave potencial de risco para a humanidade que está sendo usada como cobaia, conforme denúncia de eminentes cientistas.
Aqui alguns exemplos antigos:
Cientistas de Niedersachsen, Alemanha e França afirmam que a colza transgênica libera pólen a longa distância e hibridiza-se com espécies selvagens, pondo em risco a biodiversidade. A Grécia, berço de dispersão de crucíferas, proíbe o ingresso no país;
Cientistas em Reckenholz, Suíça, dizem que o milho com Bacillus thuringiensis, da Novartis, mata vespas polinizadoras, inseto importante e benéfico. Esta bactéria produz proteínas tóxicas para os insetos. Elas se agrupam em várias endotoxinas e exotoxinas. A Beta Exotoxina é teratogênica e provoca alterações em mitoses. Quanto tempo deve durar uma avaliação bromatológica da proteína do Bt, no organismo humano, para saber seus impactos moleculares. A França proíbe, a Inglaterra decreta uma moratória de três anos; os australianos querem tomar medidas semelhantes.
Cientistas canadenses demonstram que novos vírus são criados através da engenharia genética de resistência a viroses. A cientista Mae Wan Ho afirma que novas doenças podem surgir com a manipulação de vírus _ ;
Cientistas ingleses deparam que a proteína inserida em batatas transgênicas diminui as defesas imunológicas das cobaias;
– O milho “Maximer”, produzido com técnicas de resistência à ampicilina, não está liberado para a União Européia, pelos riscos, mas a pressão é gigantesca.
“Os antibióticos são utilizados nas manipulações genéticas. Os genes de resistência aos mesmos servem como marcadores. Os mais utilizados são ampicilina e canamicina. Basta uma pequena mutação nestes genes (e elas são muito freqüentes) para conferir resistência a antibióticos a antibióticos muito utilizados em infecções graves, como são as cefalosporinas. Também, basta uma mutação mínima no gene de resistência à canamicina, para que se desenvolva resistência à amicacina, outro antibiótico utilizado em infecções graves (meningites ou pneumonias).
Como o DNA se conserva durante bastante meses no solo, cada planta transgênica portadora de genes de resistência a um antibiótico depositará dezenas de milhares de células com estes transgêneses nos solos, onde poderão transferir-se para a bactérias, tanto mais facilmente quanto que a própria origem destes genes de resistência for de oriundo de bactérias.
Outra possibilidade seria a transferência direta destes genes a microorganismos no trato intestinal de quem consome plantas transgênicas, risco habitualmente subestimado . Recentemente cientistas holandeses trabalhando com intestino artificial controlado por computador, mostraram que o ADN modificado tinha vida média de seis minutos, em tais condições, o que possibilitava a transferência de genes.
Ano passado, a Sociedade Internacional de Quimioterapia perguntou aos seus associados especializados, sobre os riscos do milho da Novartis contendo gene de resistência a ampicilina. Somente 57% considerava o risco inaceitável; 34% pedia uma melhor avaliação e somente 2% o consideravam seguro.” 2

PERIGOS DOS ALIMENTOS TRANSGÊNICOS, (retirado da Cartilha dos Transgênicos)
1. Novos toxicantes podem ser agregados aos alimentos através da engenharia genética. Muitas plantas produzem naturalmente uma variedade de compostos como as neurotoxinas, inibidores de enzimas, que podem ser tóxicos e alterar a qualidade dos alimentos. Geralmente estes compostos estão presentes em níveis não tóxicos. Mas através da engenharia genética, podem ser produzidos em altos níveis.
2. A qualidade nutricional dos alimentos da engenharia genética pode ser diminuída.
3. Pode ser significativamente alterada a quantidade de nutrientes nos alimentos engenheirados. Também sua absorção ou metabolismo no homem podem ser modificados.
4. Novas substâncias podem representar alterações na composição dos alimentos.
5. É possível a introdução de uma proteína que diferencie significativamente na estrutura e função ou modifique um carboidrato, gordura ou óleo. Cada uma destas diferenças altera significativamente a composição normal encontrada no alimento.
6. Novas proteínas que causam reações alérgicas podem entrar nos alimentos. Alergênicos são proteínas que causam reações na população sensível a esta substância. Transferidas de um alimento para outro, as proteínas podem conferir à nova planta propriedades alergênicas do doador.
7. As pessoas sensíveis normalmente acabam por identificar os produtos que as afetam. Entretanto, com a transferência dos alergênicos de um produto para outro, perde-se a identificação e a pessoa só vai descobrir o que lhe faz mal após a ingestão do alimento perigoso.
Os genes antibiótico-resistentes podem diminuir a efetividade de alguns antibióticos em seres humanos e nos animais.
Cientistas usam genes antibióticos-resistentes para selecionar e marcar os organismos engenheirados; que foram sucesso. Genes marcadores que produzem enzimas inativadas clinicamente, usando antibióticos, teoricamente podem reduzir a eficácia da terapêutica de antibióticos. Quando ingerida oralmente no alimento engenheirado, a enzima pode inativar o antibiótico.
Pode-se explicar de outra forma. Uma bactéria produz uma geração a cada minuto. Sua população é de alguns milhões de indivíduos. Se, por exemplo, o cientista visionário quer introduzir um gene de fosforescência em um peixe faz o seguinte…. Ele toma uma bactéria e usa-a como plasmídeo para carregar o gene para dentro da bactéria. Mas como ele vai saber se o seu gene está dentro da célula? Simples, ele transfere caracteres de resistência a um determinado antibiótico. Depois, para checar se houve absorção do gene, ele cultiva está bactéria na presença do tal antibiótico. Aqueles que nasceram seguramente terão o gene da fosforescência. E o que acontece quando esse visionário faz o experimento num peixe, um alimento humano? Surgirão peixes com a fosforescência e o antibiótico…. Que pode ser letal a algumas pessoas…
Os alimentos da engenharia genética podem provocar efeitos inesperados.
As manipulações genéticas trazem riscos aos animais porque podem aumentar os níveis de toxina nas rações e alterar a composição e qualidade dos nutrientes.
A dieta dos animais é restrita a uns poucos produtos agrícolas. Uma pequena alteração numa dieta diversificada é capaz de provocar uma grande intoxicação.
Alguns cientistas mais sensatos alertam que o uso da técnica de resistência a vírus na agricultura pode fazer surgir novas raças de vírus, e daí novas doenças. Os novos vírus resultam da fusão do DNA da proteína da cobertura do vírus anterior com o RNA de um vírus que esteja infectando a célula. O vírus híbrido passa a ter aspectos diferentes do vírus original para o qual a planta tem resistência, podendo provocar novas e complexas doenças.
Vivemos, enfim, em um mundo, onde irracionalismo e niilismo são categorias de pensamento que não se enquadram, pois se pensa cada vez menos e se eleva a tecnologia à condição de divindade.
No número de setembro, da Revista Nature Biotechnology (volume 18 número 9 página 995 – 999) há o trabalho científico, que relata, que plantas transgênicas de colza, contendo o gene (BAR) do Streptomyces hygroscopicus, criadas para resistir ao herbicida Bialophos, cujo promotor, que guia a expressão do gene de resistência é o “35S” do vírus do mosaico da couve-flor (CaMV), apresentaram efeito diverso quando as plantas estão infectadas por vírus patogênicos, perdendo a resistência ao referido herbicida.
Nas listas de publicações TOXLINE e MEDLINE, da Internet, há uma série de trabalhos listados por cientistas espanhóis, dos quais os mais notórios nós pinçamos.
– Em 1998, o Dr. Arpad Pusztai, cientista do Rowett Institute, em Aberdeen, Escócia, levou à imprensa, (inclusive à televisão), antes de sua publicação em revistas científicas, seus estudos com ratos cuja dieta continha batatas modificadas geneticamente com a introdução de genes para a produção de lectina da Galanthus nivalis agglutinin – GNA -.
A opinião televisiva do cientista na TV de que: “ele não comeria estes alimentos modificados geneticamente e parecia injusto que o povo fosse utilizado como cobaias” O Dr. Pusztai foi afastado de suas funções e posteriormente teve a oportunidade de repetir suas acusações na Câmara de Ciência e Tecnologia do Parlamento Britânico.
No primeiro trabalho publicado sobre a soja transgênica resistente ao Glyphosate, os estudos feitos com alimentação de ratos (4 semanas), frangos (6 semanas), siluros (10 semanas) e vacas leiteiras (4 semanas) a comparação entre a soja geneticamente modificada e sua isogênica (soja que difere somente por não possuir o transgene) mostrou alterações, mas estas não foram aprofundadas do ponto de vista nutricional e toxicológico das variações encontradas.
Fares e Sayed (1998) trabalhando com a mesma soja, encontraram ligeiras alterações na estrutura do íleo de ratos.
Tutelian e colaboradores (1999) com concentrado da mesma soja, em ratos durante 5 meses encontraram modificações na membrana dos hepatocitos, devido à atividade enzimática.
Ewen e Pusztai (1999) trabalhando com batatas transgênicas, usando ratos como cobaia por 10 dias, encontraram proliferação da mucosa gástrica.
Fenton e colaboradores (1999) usando GNA encontrou enlace de lectina com proteínas de leucócitos humanos.
Fares e Sayed examinaram ratos com dieta de batatas transgênicas com o gene Cry1, da bactéria Bacillus thuringiensis var. kurstaki, cepa HD-14 e encontram ligeira configuração do íleo, comparada com o outro grupo de ratos alimentados com batatas onde foi aplicada a endotoxina Delta, a mesma toxina produzida pelo Bacillus thuringiensis var. kurstaki. Este experimento foi considerado um achado como resultado da expressão gênica e recomendaram que se continuasse com cuidadosos exames antes de liberação para o consumo.
Estes cientistas mostraram que os ratos, alimentados com dietas que continham batatas modificadas geneticamente (lectina GNA), apresentavam diversos efeitos em diferentes partes do trato intestinal. Alguns destes efeitos tais como a proliferação de mucosa gástrica foram atribuídos principalmente ao transgene GNA, o que provocou uma onda de críticas de outros pesquisadores.
– Schubert e outros (1997) publicaram na NAS-USA, 94:961-6 um estudo experimental em ratos, em que se demonstrou que a ingestão de DNA estranho pode alcançar os leucocitos periféricos, o baço e fígado através da mucosa da parede intestinal. Entre os mais graves problemas potenciais, a respeito, está o resultado de um gene transferido ser incorporado em um lugar imprevisto do genoma, com todas as conseqüências que disto possa derivar-se.
Devemos ressaltar que tanto na Toxline e Medline se destaca a ausência de referências correspondentes aos estudos com avaliações nutricionais, toxicológicas e imunológicas dos alimentos geneticamente modificados. Por outro lado, um exaustivo informe da Real Sociedade Britânica destaca a importância de se examinar de forma individual cada alimento geneticamente modificado, sem que possam derivar-se possíveis extrapolações ou que os efeitos nocivos possam ser categoricamente descartados.
Testes feito com a soja transgênica Roundup Ready demonstram que ela não serve para a reposição hormonal, em pessoas de meia idade, pois os seus fitoesteróis estão alterados.
Na página 84 do processo de desregulamentação da Soja RR, quanto à análise das isoflavonas: genistein, daidzein e coumesterol que possuem atividades estrogênicas e hipocolesterolemicas, as análises feitas deixam dúvidas quanto a sua equivalência substancial, no tocante ao uso, como repositor hormonal ou controle de colesterol, pois os índices obtidos foram dispersos e ficaram abaixo do índice de sensibilidade do método. Isto significa que não foi feito um teste decente.
Infelizmente a propaganda das empresas produtoras de OGM e sua ação junto aos governos é tão intensa que impede, inibe ou mascara estas informações.
Contudo, a reação popular e de parte de cientistas resultou já em informes, como o do Departamento de Saúde da Grã Bretanha, onde foi estabelecida uma série de pontos chaves a desenvolver no processo de avaliação da segurança alimentar dos alimentos geneticamente modificados, citando especificamente a necessidade de estudos nutricionais, toxicológicos e microbiológicos.
No campo da bromatologia, os nutricionistas conhecem a fisiologia dos alimentos e sabem das compatibilidades e incompatibilidades entre vitaminas; cofatores; sais minerais; enzimas; fatores anti-nutricionais contra fatores nutricionais; da biodisponibilidade de alimentos. De tal forma de que nada adianta introduzir um gene para produzir mais ferro no arroz ou mais vitamina em uma fruta, pois a dieta é um direito cultural de uma sociedade e não um negócio para um grupo de empresas. Isto sem considerar os riscos acima listados.
Felizmente, ainda há tempo. Poucas espécies tem caracteres introduzidos, através da engenharia genética e temos condições de cultivar e criar de forma ecológica todos os alimentos e matérias primas para a produção de alimentos que necessitamos, principalmente com um preço acessível, sem os riscos dos organismos geneticamente modificados.
Entretanto, no futuro próximo isto ficará impossível de ser alcançado, pois não existirá mais espaço natural na variedade biotecnológica ou este será extremamente restrito, impedindo o grau de liberdade de seu cultivo fora do espaço virtual do Sistema de Produção para o qual foi criado e programado.
A matriz química fica obsoleta e passa a ser substituída pela matriz biotecnológica. Nesta o instrumental é da engenharia genética, com seus giga-investimentos.

 

ENFERMIDADE CREUTZFELD-JAKOB (CJD)

Quando a BSE é transmitida ao homem, adquire as características da CJD. A maioria das pessoas com CJD tem entre 50 e 70 anos de idade. A doença é rara em pessoas com menos de 35 anos, a menos que provocada por procedimentos médicos como infecção por hormônio de crescimento contaminado, transplante ou equipamento cirúrgico. Não há tratamento, e a doença é sempre fatal.
A CJD caracteriza-se por infecção generalizada do cérebro decorrente da multiplicação da infecção em outras partes do organismo. Não se sabe como desenvolve-se a infecção. O agente causador da CJD não é uma bactéria ou um vírus comum.
Há evidências de que o agente infeccioso seja uma proteína anormal, chamada prion, que interage com material genético do hospedeiro (DNA), produzindo mais proteína, cujo acúmulo anormal provoca a doença.
Alguns casos de CJD podem dever-se a procedimentos médicos que introduzem material infectado. Nestes casos, a doença pode ocorrer na adolescência ou na juventude, tendo um período de incubação mais curto (o tempo entre a infeção e o aparecimento dos sintomas) de aproximadamente 4 a 10 anos. Quando procedimentos médicos não são os responsáveis, a doença ocorre principalmente na meia-idade, sugerindo um período de incubação mais longo. A origem da infecção CJD nestes casos é desconhecida. Há pouca evidência de que a CJD seja provocada por “scrapie” de ovelhas e não se conhecem casos de TSE natural em porcos ou frangos. As vacas são normalmente abatidas e consumidas com mais idade do que outros animais de criação, e são ingeridas em maior quantidade em hambúrgueres, salsichas, sopas, etc. Possivelmente a BSE está presente no gado a um nível subclínico e é responsável pelo desenvolvimento da CJD.

“DOENÇA DA VACA LOUCA” (BSE)

O primeiro caso confirmado de BSE surgiu em novembro de 1986, embora haja evidência de casos anteriores em 1985. O período de incubação da BSE é longo e deve ter havido um acúmulo substancial de infecção em vacas antes de 1986.
No final de 1987, 420 casos de BSE foram confirmados em fazendas por toda a Inglaterra. As provas começavam a sugerir que o concentrado alimentar era responsável pela transmissão da TSE ao gado. A política adotada pelo governo foi afirmar que a alimentação era o único problema e que era a “scrapie” das ovelhas que estava sendo transmitida ao gado bovino.
Este argumento permitia ao governo afirmar que ao mudar-se a forma de alimentação a doença seria erradicada e como tratava-se de “scrapie” de ovinos, não havia riscos para a saúde humana.
Em julho de 1988, um decreto oficial sobre alimentação de ruminantes foi expedido proibindo que o gado (e também ovelhas e cervos) fosse alimentado com proteína derivada de animais.
Anteriormente a este decreto de proibição, em maio de 1988, foi formado um comitê governamental (presidido por Sir Richard Southward) para examinar as implicações da BSE para a saúde animal e humana. Seguindo suas recomendações, o gado evidentemente afetado com BSE foi abatido e suas carcaças enterradas ou incineradas. Os fazendeiros receberam 50% do valor de mercado como ressarcimento.
O Relatório Southwood completo não foi publicado senão em fevereiro de 1989. Segundo este relatório, o número total de casos de BSE era da ordem de 17.000 a 20,000, com um máximo de 350-400 casos mensais; a doença extinguia-se no gado e este seria um hospedeiro final da doença.
Durante 1989, a quantidade de gado afetado por BSE continuou a aumentar. O número total de casos confirmados em 1989 foi superior a 7.136. O Comitê Tyrell de especialistas foi formado a pedido do Comitê Southwood. Em junho, ele recomendou que os dados de pessoas afetadas pela CJD fossem monitorados pelos próximos 20 anos.
Em novembro de 1989, o governo proibiu o uso de certos órgãos bovinos de entrar na cadeia alimentar, quais sejam, cérebro, cordão espinhal, timo, baço, amígdalas e intestinos. Foram selecionados com base na afirmação não comprovada de que o agente infeccioso não estaria presente em outros órgãos ou tecidos. Tratavam-se também de partes de baixo valor comercial.
O decreto excluiu animais com menos de seis meses de idade sob a alegação de que não teriam sido alimentados com ração infectada.
Entretanto, há falhas neste decreto. Primeiro, é difícil remover os órgãos especificados sem que haja qualquer contaminação dos demais órgãos. O uso de serras mecânicas para cortar as carcaças pode provocar infecção do cérebro e do cordão espinhal que se espalha amplamente. Segundo, o alcance das vísceras não é abrangente. Experimentos em outros TSEs mostraram que a infecciosidade está presente em uma ampla gama de tecidos e órgãos. Por exemplo, o “scrapie” em ovinos está presente nos tecidos do fígado, dos rins e dos ossos. É bem provável que a infecciosidade da BSE esteja presente nos músculos, no sangue e nos nervos periféricos.
Em 1990, o número de casos de BSE continuou a crescer. O total do ano foi superior a 14.000. A previsão do Comitê Southwood de um número total de 17.000-20.000 foi claramente imprecisa. O BSE tornou-se uma doença perceptível e o ressarcimento passou a ser feito em cem por cento do valor para casos confirmados.
Em março de 1991, o governo notificou a incidência do primeiro caso de suspeita de transmissão vertical, em um animal nascido quatro meses depois do decreto de proibição. A transmissão vertical da mãe para o bezerro sugere que a infecciosidade esteja no sangue. Se for assim, a infecciosidade não pode ser confinada a certas vísceras específicas e provavelmente se espalhará por todo o animal infectado. Além disso, esta transmissão indicou que uma vaca infectada não é uma hospedeira final.
O rápido crescimento do número de casos de BSE foi atribuído à reciclagem de órgãos infectados de gado na ração. Entretanto, não havia dados para sustentar esta afirmação, que parte do princípio de que 7 casos de BSE, em 1986, foram de algum modo responsáveis por 20.000 casos em 1991.
Em 1992, os números continuaram a crescer. Significativamente, a proporção afetada de gado com 3 anos de idade também aumentou. Isto sugere transmissão entre animais ao invés de pela ração e que a doença é endêmica e mantida por transmissão vertical e horizontal.
1992 também viu uma mudança na notificação de casos suspeitos, os procedimentos tendo se tornado mais estrênuos. Isto efetivamente produziu uma queda nos incidentes notificados de gado nascido depois do decreto de proibição.
A BSE foi transmitida a várias outras espécies. Por volta de 1992, estas incluíam gatos domésticos, pumas, guepardos, avestruzes e antílopes. Estes animais contraíram a infecção originalmente da alimentação. 14 antílopes no Zoológico de Londres foram confirmados com a doença. Em apenas um destes considerou-se ser a alimentação a responsável. Nos outros 13, considerou-se ter havido transmissão vertical ou horizontal.
O número de cabeças de gado com BSE nascidas após o decreto continuou a aumentar. Isto foi atribuído às reservas de alimento contaminado dos fazendeiros e seu uso contínuo por pelo menos seis meses após o decreto de proibição ser proclamado. Em março de 1994, o governo admitiu que mais de 8.000 reses nascidas depois do decreto de proibição estavam infectadas.
Em 1993, dois fazendeiros de fazendas de lacticínios com rebanhos afetados pela BSE morreram de CJD. Uma garota adolescente sem história familiar da doença e nenhuma fonte médica de infecção possível desenvolveu CJD, confirmada por biópsia.
Novas provas de transmissão vertical foram encontradas no próprio rebanho experimental do governo. Em 1988/89, 316 bezerros de vacas com BSE foram cuidadosamente criados em condições protegidas contra possível exposição à alimentação infectada. Em março de 1994, foi notificado que 19 destes bezerros contraíram BSE.
Há grande quantidade de provas em suporte da transmissão vertical. Mais de 12.000 cabeças de gado com BSE nasceram após o decreto de proibição, mais de 600 destes foram animais criados em regime de confinamento protegidos contra a BSE. A idade mais freqüente de morte de um animal por BSE é de 4 anos. Isto sugere transferência vertical e não por uma fonte alimentar. Histórias de casos individuais suportam a transmissão vertical. A implicação mais importante da transferência vertical é que para ela ocorrer os agentes infecciosos precisam estar contidos no sangue.
Novas pesquisas mostraram que o agente infeccioso de “scrapie” em ovelhas não provocava BSE em vacas. Sintomas de doença desenvolviam-se, mas não os da BSE. Isto sugere fortemente que a BSE não se originou da “scrapie”. Se BSE não é “scrapie”, então o argumento do governo de que a “scrapie” nunca infectou seres humanos e, portanto, a BSE também não irá infectar não é válido.

Em 12 de Fevereiro de 2001 houve o anúncio da conclusão Projeto Genoma Humano. Esperávamos encontrar o gene ou os genes responsáveis pelas disgenopatias dos soldados seringueiros; as cacogênias do escritor e revolucionários, também as disgenias do inventor e político. Grande decepção, as diferenças entre as raças não estão nos genes. Contudo, o presidente norte-americano, as empresas transnacionais e os cientistas assalariados sabem que neles há um grande mercado. Agora os adeptos do eugenismo dizem que não deve haver “determinismo” ou “reducionismo”. Mas o que invocamos é o essencialismo.
Há pouco mais de dois meses, tive a oportunidade de ler um documento assinado por geneticistas, biólogos moleculares e biotecnologistas, protestando com palavras grotescas e desrespeitosas, contra a criação de um “Núcleo de Espiritualidade”, dentro de uma Pró-Reitoria de Extensão, em uma Universidade. 5
Não vamos ser ingênuos e pensar que os signatários estão preocupados com uma nova idade medieval de trevas e intervenção religiosa na estrutura e poder do conhecimento e saber. Isto é subterfúgio, pois o medo manifesto está no avanço da ciência com consciência, o que obriga a um novo e real pacto de consciência e cidadania. A espiritualidade oriental nunca se afastou deste binômio. 6
A biologia molecular já está transformando o mundo e o transformará muito mais. Contudo, se não houver um controle, que não adianta mais ser ético, pela realidade deste inicio de milênio. É necessário um estímulo à espiritualidade na formação dos estudantes, professores seus formadores e todas as relações presentes. As Nações Unidas estão preocupadas com isto e tentando, acima de religiões, criar o UNRI para elevar estas discussões para o campo de uma espiritualidade universal. 7
A Física quântica tem dado passos e exemplos fantásticos neste sentido. Quem teria medo disto. Ou melhor que mal causaria isto?
Não foi assim, quando da primeira forma de criação de vida pelos biólogos moleculares em Stanford, que se reuniram para avaliar a criação e propuseram em 1975 a moratória de Asilomar? Ela durou dois anos e sete meses. 8
Por que a reação, agora, dos signatários contra o Núcleo?
Medo dos impactos que um avanço de espiritualidade possa provocar dentro da ciência de criação de vida e imitação de Deus?
Richard Jefferson, biólogo molecular do CAMBIA, da Austrália, crítico do Projeto Genoma Humano, diz: “A ciência tende a ignorar o desenvolvimento de métodos e torná-lo secundário ao ato elitista de coletar conhecimento. A maioria dos cientistas demonstra uma tendência a definir problemas em termos do que se pode resolver e não do que precisa ser resolvido”. Os recursos e esforços aplicados ao seqüenciamento genético vão ser aproveitados porque há muitos fazendo isso e muito dinheiro sendo investido, sistematicamente, e a bola de neve tende a crescer.” 9
O cientista australiano foi altamente espiritualista em sua asseveração e, não menos, político.
No “genoma do milho”, uma das plantas mais estudadas, já há muito publicado, assim como seu ancestral o teosinto, que é uma erva que mais parece um pasto e “daninha”, de aspecto muito diferente. Contudo é dotado dos mesmos genes do milho, com apenas alguns poucos genes diferentes e a diferença entre o milho e o teosinto está associada a um único gene.
John Doebley, geneticista da Universidade de Winsconsin, seqüenciou aquele gene e descobriu que a seqüência de proteína do gene do teosinto é exatamente igual a do gene do milho. A diferença está na forma como cada gene é expresso. Mas nunca se encontra aquela informação no seqüenciamento de um gene.
A cientista Mae Wan Ho10 esclarece que: “a aplicação industrial” pode equivaler a uma especulação na semelhança de seqüências de genes à base de dados existentes.
Um caso conhecido é a patente CCR5 sobre um gene, outorgada a Human Genomic Sciences em fevereiro de 2000, nos EUA. A companhia isolou um gene utilizando computadores para seqüenciá-lo e um programa de computador que determinou que pertence a uma classe de receptores de membrana celular que registram sinais químicos do organismo. Poucos meses depois, pesquisadores do Centro de Pesquisas sobre AIDS “Aaron Diamond“, em Nova Iorque, descobriram que o vírus da AIDS requer um receptor entre as células . Uma droga que possa bloquear o receptor seria então uma nova arma contra a AIDS.
Outra aplicação industrial para a qual se outorgou numerosas patentes é a associação com condição X0, onde X é qualquer coisa, desde câncer até criminalidade. Já estão à venda 740 provas de genes patenteadas, entre elas o BRCA1 e BRCA2, genes vinculados ao câncer de mama em mulher. Já se passaram anos do lançamento das provas, mas os pesquisadores ainda não sabem até que ponto estes genes contribuem para o risco de câncer de mama, mas é precisamente esta ignorância que alimenta a febre de ouro em torno ao genoma humano na bioinformática.”
Vale a pena conhecer um pouco da história. Decifrar um código é algo extremamente difícil. Os alemães perderam a guerra, quando sua máquina codificadora foi apreendida pelos poloneses. O governo dos EUA encarregou a um grupo de geneticistas a decodificação do código naval japonês. Eles, depois de árduo trabalho, conseguiram sucesso e este foi o fator mais importante para a vitória.
Hoje há 31.000 genes compostos de três bilhões de bases, constituídos de quatro letras. A elaboração de um programa de informática para “ler” e “compreender” estas seqüências acelerará o decifrar ou decodificar um trabalho que duraria milênios para algumas dezenas de anos.
Craig Venter, diretor da Celera, empresa que “se antecipou” e transformou o “projeto público” do genoma em um projeto privado, quando do anúncio da conclusão do HUGO disse: “Este é um dia histórico nos cem mil anos da história da humanidade.” Celera tem poderosos interesses na área de bioinformática. Pois com os dados do genoma e bons software pode vender serviços com alta exclusividade.
As grandes empresas Syngenta, Aventis, Monsanto, Bayer, Eli Lilly, Pfizer e outras estão adquirindo estes programas informatizados e subscrevendo o acesso às informações da Celera e similares. O mesmo vêm fazendo os institutos, universidades e acadêmicos, por módicas anuidades, que variam de trinta milhões a dois mil dólares, respectivamente. Isto permitirá acessar e trabalhar diversos tipos de dados genéticos.
A bioinformática permite “predizer” a semelhança e homologia entre uma seqüência nova de bases, a partir de uma base de dados e então patentear a seqüência “previamente”. Contudo, a homologia de seqüências não garante a homologia de funções, mas as empresas têm, no seu nascedouro, no século dezenove, as plantas que eram levadas para a extração e síntese do princípio ativo. Agora, não há muita diferença, pois a síntese dar-se-á sobre um molde da seqüência de bases e não sobre os extratos naturais, e o produto terá um desvio similar do que ocorreu há duzentos anos atrás.
Dentro de dez a trinta anos, então, já teremos condições na bioinformática de acelerar o grande Projeto do Proteoma, embora o mesmo tenha iniciado há muito. A vantagem do proteoma é que identifica onde e quando os genes estão ativos e as propriedades das proteínas codificadas nos genes. Decifrar as complexas relações entre genes e proteínas e entre diferentes proteínas é o grande atrativo de investimentos, após o “fracasso” do HUGO, para as grandes empresas de “Life Sciences“.
Agora, terminado o seqüenciamento do genoma humano e instalação da bioinformática, os resultados e principalmente os interesses constituídos e instituídos apontam para um novo norte: o proteoma humano.
Conhecendo a estrutura protéica, é possível realizar investigações de inibidores e ativadores específicos antes de realizar custosos experimentos bioquímicos em laboratórios. Até o presente, determinou-se, através de cristalografia de difração de raios X, menos de 1% das proteínas preditas.
O estudo do proteoma permitirá saber quantas proteínas um gene produz, mas ainda não permite saber como isto acontece antes mesmo da transcrição, o que obrigaria a cálculos de arranjos, análise combinatória e fatoriais de critérios e parâmetros integrados, com um custo assustador.
O campo pós-proteoma será o campo onde a ecologia do gene, com sua auto e sinecologia genética permitirá saber que estamos, novamente, indo em sentido contrário ao da ciência – eliminar as causas -, mas no sentido certo dos investimentos – corrigir os efeitos -. Nada muda!
A preocupação das transnacionais e governos não é eliminar as causas das doenças do homem, para livrá-lo de males, mas, principalmente, para vender produtos e serviços que o torne diferenciado.
As empresas farmacêuticas querem apenas criar e comercializar melhores corretivos para os efeitos.
Entre nós, as opiniões externadas por geneticistas após a publicação do “fracasso” do HUGO passaram a enaltecer sua importância para o futuro da medicina e .
Logo, a proposta agora é determinar o “Proteoma Humano”, ou seja, todas as proteínas produzidas pelos genes sob as mais diversas condições, situações e combinações.
O Projeto Genoma Humano visou seqüenciar todos os “genes” ao longo da fita de DNA, para encontrar todas as respostas. Isto não levou a obter bons resultados, pois as respostas não são encontradas nos genes.
Para o Projeto Proteoma Humano, não haverá uma propaganda pública, com todos os estímulos e imagens, ao contrário, os estudos serão cercados de sigilos, segredos, pois cada proteína expressa pelos seu(s) gene(s) sob as condições do corpo/ambiente dará ao seu descobridor o poder supremo do controle.
Uma proteína que ative um tumor ou a produção de um hormônio, desencadeará um processo industrial de imenso valor econômico, político, social, militar, religioso, etc.
Para se entender o “fracasso” do Projeto Genoma e o “futuro brilhante” do Projeto Proteoma podemos trazer a figura da sinfonia.
Uma sinfonia é única, seja ela de Bethoven, Carlos Gomes ou Villa-Lobos. Cada nota musical é um gene, logo a partitura é o genoma; os instrumentos musicais são os RNAs ; o músico é o ambiente; o som produzido é a proteína, e a execução da obra completa é o proteoma. Cada regente produz um proteoma diferente na execução de uma mesma sinfonia, conforme seus músicos e instrumentos.
Uma partitura pode ser executada com um, dois, dezenas ou centenas de instrumentos, na qual alguma combinação de notas musicais pode não existir ou ser executada e até alguns instrumentos podem não ser acionados, mas nem por isso as notas ou os músicos são retirados da orquestra (organismo vivo). Inclusive pequenos erros de execução ou afinamento podem sequer ser notados.
O maestro desta orquestra genética é o metabolismo que orienta, dirige a todos os músicos, que lêem a partitura e executam as notas solicitadas através de gestos e acordes.
No Seminário sobre Transgênicos organizado pelo governo da Paraíba, em novembro de 2000, recebemos a pergunta do representante da Monsanto: – Uma senhora, mãe de três filhos com mongolismo, em início de nova gestação, foi aconselhada a abortar. Não o fez e assim a humanidade pode conhecer Bethoven. O representante da empresa da soja transgênica resistente ao herbicida homônimo usava um argumento estranho para aquele momento, mas recebeu sua resposta. Aqui, somos levados ao artigo de Mae Wan Ho1010, que vale a pena transcrever:
“Mas quão confiáveis são as provas genéticas para predizer o que ocorrerá com o indivíduo? Dois médicos-geneticistas, Neil Holtzman e Thereza Marteau, advertiram desde o New England Journal of Medicine, que o ‘Manto genético’ que atualmente se coloca sobre todas as doenças ‘poderia terminar por ser como a nova roupa do rei'”.
Como vários cientistas assinalaram, a maioria das doenças são complexas, e portanto as correlações entre genes e doenças são débeis. As associações entre uma doença e um “marcador genético” (ou função desconhecida) pode produzir-se por casualidade. É bem verdade que foi identificada a localização de vários genes vinculados a doenças em determinadas regiões de cromossomas específicos, mas não se encontrou marcadores claros para a asma, hipertensão, esquizofrenia, desordens bipolares e outras alterações apesar de intensos esforços.
Maior êxito tiveram as pesquisas de genes de suscetibilidade ao câncer de mama e de cólon, diabetes e mal de Alzheimer, mas, em cada caso, representam menos de três por cento dos casos. Isto acontece porque o risco da doença depende não só de outros genes mas também de fatores ambientais. A identificação de genes de suscetibilidade é dificultada quando, em uma doença, entra em jogo diferentes combinações de genes, o que significa que será muito difícil encontrar a quantidade suficiente de pacientes que sirvam como sujeitos de pesquisa em um estudo.
Holtzman e Marteau concluíram: “Em nossa pressa por adaptar a medicina à genética, perdemos de vista outras possibilidades de melhorar a saúde pública. As diferenças de estrutura social, estilos de vida e ambiente são responsáveis por uma proporção muito maior de doenças. Aqueles que devem elaborar as políticas médicas para a próxima década deveriam olhar bem, além de toda esta bagunça.”

Vejamos aquilo que se nos oferece.

A seqüência do genoma humano, nos diz que permitirá aos geneticistas: * curar o câncer; * compreender mais sobre as doenças, e, portanto, elaborar medicamentos melhores; * projetar curas personalizadas baseadas em nossa conformação genética individual; * prescrever um estilo de vida individual baseado na conformação genética.
Mais questionáveis são os anúncios do que se poderá: * diagnosticar os genes “maus” que provocam doenças; * identificar os genes “bons” responsáveis por qualidades desejáveis, como longevidade, inteligência, beleza, habilidade nos desportes; * substituir os genes “maus” através de terapia genética; * criar o “melhoramento genético” introduzindo genes “bons”; * criar “bebês projetados” e seres humanos superiores.
Na realidade, a única oferta concreta do mapeamento do genoma humano são as centenas de provas genéticas patenteadas. O elevado custo das provas impede que elas sejam utilizadas em casos em que poderiam beneficiar os pacientes, oferecendo um diagnóstico. Ao mesmo tempo, as pessoas sãs que tiveram um resultado positivo nas provas poderiam sofrer uma discriminação genética e até correr o risco de perder o emprego e a possibilidade de contar com um seguro de vida. O valor do diagnóstico para condições nas que não há cura é muito questionável. A identificação de genes “bons” e “maus” também alenta o retorno da eugenia, presente na história de grande parte do século XX. Isto é exacerbado pelo pensamento predominante de determinismo genético, que faz surgir como imprescindível até a aplicação mais perniciosa da tecnologia genética.
Há um grupo de cientistas que promovem ativamente a engenharia genética humana não só em “terapia gênica” para doenças desta ordem, mas também para melhorar a constituição genética de crianças cujos pais podem pagar por este privilégio e não têm restrições contra a clonagem humana. De muitas maneiras, esta é a forma mais sutil do marketing para que prospere o negócio. Não é por casualidade, pois, que a Fundação Novartis convidou o eugenista Arthur Jensen para falar em uma reunião científica sobre a inteligência. Jensen é conhecido por suas teorias que insistem em que os negros são geneticamente inferiores em inteligência aos brancos, portanto, todos os esforços para melhorar a educação de crianças negras incapacitadas estão fadadas ao insucesso.
Passados dez anos do anúncio de que já tinham as ferramentas para criar um ser humano, é óbvio que os geneticistas não encontraram a chave para fazer sequer a mais pequena bactéria ou minhoca simples. Tampouco ninguém foi curado de uma doença com base na informação genética.
É por tudo isto que, atualmente, paira um ar de realismo na comunidade científica do setor público. “Durante muito tempo acreditou-se erroneamente, que, quando se fizesse a seqüência do DNA, teríamos toda a informação sobre quem somos, por que adoecemos e por que envelhecemos. Bem, ainda faltam muitos anos para chegarmos a este conhecimento”. Este comentário é de Richard K. Wilson, da Universidade de Washington, sócio do consórcio público. Deveria ter dito que este erro de concepção foi perpetrado pelos próprios proponentes do HUGO. E ele ainda segue prometendo um conhecimento total para dentro de alguns anos. Mas o HUGO chegará a algo?
Em lugar de deter-me nas promessas mais questionáveis do projeto, desejo concentrar-me no que oferece e que em grande medida é considerado benéfico e que não oferece questionamento. (…)
(…) A associação entre a condição e os genes específicos ou marcadores genéticos reduz-se a uma tênue “predisposição” ou “suscetibilidade”.
A “predisposição” ao câncer, por exemplo, oculta o fato de que se deixaram de lado importantes fatores ambientais, como as centenas de reconhecidos cancerígenos industriais que contaminam o ambiente. É bem sabido que a incidência de câncer aumenta com a industrialização e com o uso de agrotóxicos. As mulheres dos países asiáticos não industrializados têm uma incidência menor de câncer de mama que as mulheres que vivem nos países industrializados do Ocidente. Mas, quando as mulheres asiáticas migram para a Europa e Estados Unidos, sua incidência eleva-se ao mesmo nível que o das mulheres européias dentro de uma mesma geração. De igual forma, quando, em Israel, proibiu-se o DDT e outros agrotóxicos, a mortalidade por câncer de mama de mulheres pré-menopáusica caiu em 30 por cento.
A maioria das causas de doenças são ambientais e sociais. Esta é a conclusão dos resultados de uma série de pesquisas.
O enfoque determinista do HUGO é nocivo, porque distrai a atenção e os recursos das soluções das verdadeiras causas das doenças e, ao mesmo tempo, estigmatiza as vítimas e alenta as tendências eugenistas da sociedade. A saúde dos países estaria infinitamente melhor atendida ao se destinarem recursos para impedir a contaminação ambiental e erradicar-se os agrotóxicos, em lugar de identificar os genes que “predispõem” as pessoas às doenças. A Sociedade Real do Reino Unido produziu um relatório em julho, que reclama uma coordenação nacional e internacional para resolver os perigos e ameaças aos seres humanos e a vida selvagem pelos produtos químicos que alteram o sistema endócrino, substâncias que se acredita bloqueiam os hormônios naturais em quantidades muito pequenas como para desencadear uma resposta tóxica convencional. (…)
(…) Tentar compreender a doença em termos de interações de genes e proteínas é pior que tentar compreender como funciona uma máquina em termos de roscas e parafusos, simplesmente porque as partes do organismo, diferentemente das de uma máquina, estão indissoluvelmente vinculadas entre si. É muito pouco provável que uma compreensão mecanicista das partes atuantes leve ao descobrimento de melhores medicamentos. Para isso necessitamos conhecer o projeto do organismo humano. E não há informações sobre as interações de genes e proteínas que alcance para descobrir o complexo conjunto que é o organismo. (…)
(…) Se você ainda segue pensando que a informação para fazer um ser humano está escrita em nosso genoma, só saiba que até 95 por cento do genoma humano pode ser de DNA lixo, assim chamado por que ninguém sabe qual é a sua função. O mesmo se dá em todos os genomas dos organismos superiores.
É difícil ver alguma estratégia definitiva dentro da bioinformação e proteoma que compense, tanto em termos de compreensão básica do organismo humano como um todo ou em termos de curas milagrosas e drogas maravilhosas. Não há nada mais que a proliferação de informação cada vez mais detalhada de genes e proteínas que enchem algumas páginas de revistas científicas na última década. O milhão de proteínas codificadas pelos 100.000 genes interatuam entre si, com os próprios genes e com pequenos “cofatores” e “mensageiros” moleculares. Estas interações variam em diferentes células e tecidos e em diferentes momentos, submetidos às respostas do ambiente, que podem alterar os próprios genes, e daí em cascata a todas as interações envolvidas. Tudo isso é a realidade do genoma fluído e adaptável, que ainda escapa aos sacerdotes da genômica e bioinformática. A possibilidade de compreender o ser humano por uma detalhada descrição de suas partes moleculares é basicamente nula.
Necessitamos é de uma salto quântico para um novo paradigma para compreender o organismo como um conjunto coerente. Sem isto, a pesquisa do genoma humano seguirá sendo um buraco negro científico e financeiro que consome todos recursos públicos e privados sem dar nada em troca, nem aos investidores nem à saúde das nações.”
Por outro lado, recebemos a informação dos geneticistas que não repousa nos genes exclusivamente a importância e complexidade da evolução humana, como era enfatizado pelas empresas, institutos e apregoadores do bilionário estudo do genoma.
A influência do meio (celular, corporal e ambiental) é o principal responsável pela complexidade evolutiva de pai e mãe para filho ou filha.
Semente, seja vegetal, animal ou humana é transcendência, é ressurreição, é o princípio e o fim, a unidade de perpetuação da espécie e elemento de resistência e avanço evolutivo. É também a máxima concentração potencial de energia de um organismo vivo. Ela contém genes. Genes são vectores temporais que convertem energia em matéria, ordem a partir da ordem, para continuidade da vida.
Evolução é a energia convertida em matéria para garantir a biodiversidade, ou seja, a desordem que gera a ordem. 11 Este sistema não pode ser binário, pois há a necessidade de suficiente matéria para as duas conversões energéticas anteriores.
Será que é obscurantismo afirmar isto?
A leitura da informação abaixo permite um outro nível de discernimento.
Imagens muito bem trabalhadas, como a matéria abaixo, da seção Ciência e Vida de “O Globo”, página 30, de 23 de fevereiro de 2001, sob a manchete:
Ganhadores de Nobel defendem estudo polêmico”.
(Washington) Oitenta ganhadores de prêmios Nobel assinaram um documento destinado ao presidente dos EUA George W. Bush, pedindo que o governo americano dê apoio e financie pesquisas com células-tronco embrionárias.
Segundo o jornal “Washington Post”, a carta foi encaminhada à Casa Branca. Nela, cientistas premiados como James Watson, ganhador do Nobel de Medicina de 1962 por ter descoberto junto com Francis Crick a estrutura da dupla hélice do DNA em 1953, alegam que as pesquisas com células-tronco são capazes de levar à cura de males como câncer, diabetes e paralisia.
A carta foi enviada três semanas antes do fim do prazo dado pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) americanos para cientistas solicitarem permissão para a realização deste tipo de pesquisas, já aprovada na Grã-Bretanha.
Por enquanto, nos EUA, a manipulação de células-tronco só podem ser feita por empresas privadas e sem nenhuma verba pública.
Imoral seria proibir pesquisas, dizem cientistas.
Segundo os pesquisadores, “imoral é proibir pesquisas como as que usam células- tronco, com grandes possibilidades terapêuticas”. O texto se refere à polêmica que envolve o estudo, já que as células-tronco mais capazes de sofrerem diferenciação em laboratório, originando outras células e tecidos do corpo, são justamente as de embriões, que precisam ser extraídas e clonadas durante as pesquisas.
O último parágrafo da informação “esclarece” que o abaixo-assinado foi elaborado,.. [apresentado, pois o lobby nos EUA é legal…] e distribuído pela interessada, mas não permite que seja observado o principal da matéria: a empresa Advanced Cell Technology não está interessada nem fazendo “lobby” por pesquisas, mas está interessada em verbas públicas, o que é muito diferente.
Confirmando: a imagem continuará sendo tudo, embora cada vez mais se veja, menos se enxerga. Os premiados foram apenas objetos.
Cabe a pergunta óbvia: Estão os signatários contra ao “Núcleo da Espiritualidade”, da Pró-Reitoria de Extensão plenos de objetividade ou antecipam-se?
Saibam que nunca, ao longo de toda a humanidade, uma guerra sequer foi feita em nome do diabo. Todas foram feitas em nome de Deus. Por outro lado, a sabedoria popular diz: “o martelo vê tudo como prego”.
No X Encontro para a Nova Consciência, em Campina Grande, Paraíba, durante o carnaval de 2001, o físico francês Patrick Drouot, em sua conferência sobre espaço-tempo, colocou que os aborígenes da Polinésia entendem o tempo de forma muito particular, pois crêem que o futuro fica atrás, e o passado à nossa frente. Sem qualquer desrespeito, podemos entender os signatários do referido documento, dentro dessa lógica.
Nós a comprovamos na forma muito peculiar, como encontramos a Ìyalòrìsa (sacerdotisa) Ìya Sandra Medeiros Epega, a quem, imediatamente, perguntamos sobre o uso ritual do “niebe” nos cultos afro-religiosos da costa Oeste da África. Ela rapidamente explicou que o “feijão sopinha” é usado no preparado de comidas sagradas como o “funfun” . É usado nas bodas para trazer sorte e fertilidade. Quando os bebês nascem é usado para se fazer patuás para proteger a saúde e o espírito.
Agregou ainda a babalaorixá, que, nas casas onde nasce o “niebe”, não há fome, miséria ou tristeza, pois ele traz boas energias.
O dramático é que no tráfico de escravos junto com os mesmos era entregue uma quantidade de semente de “niebe”, para que o escravo tivesse o alimento nutricional (será que os traficantes sabiam, também, da mística?).
Segundo Eduardo Galeano, em seu livro “Memoria del Fuego – Las Caras y las máscaras” há um poema que estampamos, autorizadamente, na última página de nossa Cartilha dos Transgênicos11:
Elas levam a vida no cabelo
“Por muito negro que crucifiquem ou pendurem de um gancho de ferro atravessado nas costelas, são incessantes as fugas desde as quatrocentas plantações da costa do Suriname. No interior da floresta, um leão negro ondeia na bandeira amarela dos chimarões.
Não havendo balas, as armas disparam pedrinhas ou botões de osso; porém, a espessura impenetrável é a melhor aliada contra os colonos holandeses.
Antes de fugir, as escravas roubam grãos de arroz e de milho, pepitas de trigo, feijão e sementes de abóboras. Suas enormes cabeleiras transformam-se em celeiros. Quando chegam aos refúgios abertos no matagal, as mulheres sacodem suas cabeças e fecundam, assim a terra livre”
As escravas, quando fugiam, carregavam, no meio da cabeleira, sementes de “feijão sopinha”. Podemos dizer que não só para alimento do corpo, mas para fecundar a nova terra do quilombo e ter felicidade.
Sem pretensões acadêmicas, verdadeiras ou falsas, podemos dizer que seguramente é assim que o “niebe” chega a Tavares e Mostardas.
Seu resgate pelo Sr. Luís Agnello Martins, atual vice-prefeito de Tavares, neste momento de grande renascimento, deve ir além de uma recuperação utilitária de biodiversidade ou mercado. É a saga da história da humanidade.
A pergunta: Como os colonos açorianos, que chegaram muito depois dos africanos, assumiram este alimento e os rituais similares, conforme nos repassou o Técnico em Agricultura Tadeu Perciúncula, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mostardas?
Há a necessidade de um resgate e renascimento do essencialismo, e, fim à heteronomia.
Cobraram-nos que o “feijão sopinha” não está divulgando a universidade, quando deveria ser o contrário. É isto que cremos estarmos fazendo, com repercussão, além de impedir a estruturação do poder deste saber, pois o homem é o sujeito e a estrutura é o objeto – satyagraha.
Quando a Ìya Sandra, durante sua conferência no X Encontro para a Nova Consciência, disse que devemos derrubar as altas muralhas da Universidade e levar a ela a sabedoria, lembramos do cientista autodidata “Gordo” Agnello, e do jardineiro Hoehne, do Museu Nacional, do Rio de Janeiro, que recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Göttingen, na Alemanha, por sua fecundidade científica ou Margaleff, o contínuo da Universidade de Barcelona, que da mesma forma, transformou-se em ícone da ecologia mundial.
São necessárias muito mais satyagrahas, pois as muralhas referidas, embora virtuais, são bem mais resistentes que as de Jericó.
Requeremos as autorizações éticas do “Gordo Agnello” e dos nossos interlocutores sindicalistas de Mostardas, para dispor de suas informações, sabedorias e merecer as dádivas religiosas da Ìya Sandra Epega, pois sem isto, não seguiremos Gandhi: “Seja a mudança que você deseja na sociedade”.
É o que recomenda Schopenhauer: – “O futuro de suas vidas repousa na ética de suas crenças”.
Satyagraha.
(O texto abaixo, que não está corrigido ou verificado historicamente, é um exemplo).

BOVÉ ESPIATÓRIO

Quem lembra da Guerra do Vietnã (62-72), quando os sacerdotes budistas – bonzos -, com suas túnicas alaranjadas, protestavam contra a invasão norte-americana, imolando-se com gasolina e fogo. As cenas repetidas na TV mundial eram, no início, exóticas, depois, bizarras e, finalmente, trágicas. Aquelas imagens mudaram o rumo da guerra e abalaram profundamente o império racista e fascista dos Estados Unidos. Imagem é tudo.
A mídia é instantânea, hoje, grupos de pessoas arrancam plantas e destroem experimentos na Irlanda, Suíça, Índia, França, Espanha, México e Brasil. As imagens são exóticas. A imprensa os qualifica de fanáticos, intransigentes, neoluddistas, baderneiros, etc., mas não fala das imolações (suicídios em Karnataka – Índia). Da mesma forma, ela anuncia o novo sucesso da engenharia genética, o macaquinho com genes de medusa (água-viva) que brilha fosforescente no escuro, mas não o mostra, pois, obviamente, imagem continua sendo tudo.
Brecht lapidou: “É fácil culpar a violência e fúria das águas, mas, por que não questionar também as margens que as comprimem?”
O bode expiatório é Bové, mas, com ou sem ele, a Estação Experimental da Monsanto em Não-Me-Toque/RS seria invadida e as plantas destruídas, pois foi organizada por movimentos políticos.
Os movimentos políticos organizam-se para a conquista do poder e assim agem. Tudo vale: ignorar e desrespeitar as leis, constranger direitos e deveres, causar comoção psicossocial e prejuízos econômicos e até provocar imolações humanas ou renegar a ciência. As ações são pautadas pela capacidade de reação e repressão do estado de direito estabelecido.
O Estado Nacional de direito foi construído sobre a memória cívica e império das leis, mas, como tal, está superado politicamente – pela ascensão dos blocos econômicos e financeiramente pela globalização de mercados. Ambos papéis, agora encenados pelas transnacionais no campo das políticas públicas de sociedades. O mundo, hoje, é um condomínio disputando novas regras. Cidadãos e organizações lutam contra suas perdas, que serão maiores quanto maiores forem a exclusão e a miséria. Estas são as imagens de Seattle, Praga, Davos ou Porto Alegre. Há polaridade e polarização.
Bové será condenado na França, mas ele já sabia disto no momento em que pensou seus atos de desobediência civil e globalização de sua cidadania comunitária. Entretanto, no Estado Nacional caricato e periférico, como o nosso, as elites e oligarquias não querem ver a trava no olho e usam a memória cívica em proveito próprio de forma utilitária.
Entre nós, ele sequer foi detido, e todos sabem disso, pois ele é um cidadão sujeito, presidente de uma confederação de agricultores e não um brasileiro objeto. Sua punição foi, na verdade, uma imagem para empanar internacionalmente o ato organizado pelo MST e governo do RS.
Reconheçamos, foi uma estratégia inteligente da oligarquia local usar o Bové, objeto, para consolidar os transgênicos, sujeito, na imagem da mídia internacional e simultaneamente condenar o movimento e “governo popular”, quando a globalização anda em sentido contrário, e os transgênicos estão em todo os países e blocos econômicos acima das leis nacionais e comunitárias desregulamentadas.
Devemos voltar no tempo e memória, pois, quando o socialista Mitterand convidou o cacique tchucaramãe Raoni para visitar Paris, a mesma elite viu ali o interesse gaulês na biodiversidade amazônica. Podia existir, mas não se interessou em ver outras coisas, como a extinção étnica ou o genocídio cultural, por exemplo.
Não esqueçamos que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, no final da década de 30, exigiu o retorno da prostituta francesa Gigi, que servia a elite do Congresso Nacional e políticos togados ou fardados. Elas não tiveram pejo e pediram a intervenção da Gestapo de Hitler, para trazer de volta tão belo tesouro levado pela Zwei Migdal, empresa internacional de prostituição.
Em 1999, quatro plantios de milho transgênicos foram destruídos no RS, em Teutônia, Cruzeiro do Sul, Panambi e Palmeira das Missões, muito antes do “vandalismo” do Monsieur Bové, em seu país. Embora registrado na polícia, não houve atitudes.
A lei nacional de biossegurança, a constituição estadual e a lei estadual 9453/91 determinam a imediata comunicação, pelos responsáveis, do ato de vandalismo. A Monsanto, dona de um destes experimentos, não tomou qualquer atitude, a não ser 360 dias depois dele ocorrer solicitar o seu descredenciamento para trabalhar com biossegurança, solicitando o cancelamento do seu Certificado de Qualidade em Bio-Segurança – CQB.
O governo do Estado do Rio Grande do Sul tampouco tomou qualquer atitude, embora tenha, pouco tempo antes, notificado uma Estação Oficial de Pesquisas, em Passo Fundo/RS, por experimentar transgênicos ao mesmo tempo que não tomou qualquer atitude contra um funcionário da Secretaria da Agricultura, que foi à Argentina e trouxe sementes contrabandeadas, que plantou dentro da Estação Experimental de Júlio de Castilhos/RS.
Na Estação Experimental da Monsanto, em Não-Me-Toque/RS, foram plantadas, em outubro de 1998, 400 hectares clandestinas e ilegais de soja transgênica Roundup Ready. Quais as atitudes tomadas? – Apenas a apreensão do produto (fiel depositário).
Vamos vociferar Mitterand, lembrar Gigi, desancar a Zwei Migdal e louvar a Gestapo de Hitler?
Memória cívica constrói uma nação e povo. Nos idos de 1978, anos de chumbo, anunciou-se a chegada da temível Peste Suína Africana.
O Canadá enviou imediatamente uma equipe de cientistas para o Rio de Janeiro centro e foco do problema. Eles haviam ajudado os cubanos, quando da epidemia de PSA no início da década. No Rio de Janeiro, os cientistas canadenses ficaram apenas 48 horas e retornaram ao seu país, sem dizer uma palavra sequer, em público.
Os reprodutores suínos nacionais foram sacrificados a tiros de metralhadora em todo o RS, SC, PR. O Deputado Jauri de Oliveira, MDB/RS enviou amostras de sangue caprino para o Centro Internacional de Epizootias, no Rio de Janeiro e obteve a resposta positivo para PSA. Os canadenses retiraram-se por vergonha e honestidade.
Acautelem-se os “pró & contra Bové” ou os “pró & contra a vaca louca”, seus riscos e dificuldade de diagnósticos em países de terceiro mundo.
No Fórum Social Mundial, recebemos duas matérias da Folha de São Paulo com a denúncia de importação de farinha de carne da Grã-Bretanha e de animais vivos na última década. Os europeus, canadenses e norte-americanos estão às voltas com a doença da vaca louca, até mesmo em cervos, alces e não sabem como se dá a infecção e passagem da proteína infecciosa. Os alemães afirmam que a farinha de carne contaminada usada como adubo na terra tem capacidade de contaminar porcos.
O Brasil, consciente, importou grandes quantidades de farinha de carne da Grã-Bretanha, até recentemente. É o que consta na internet. Da mesma forma que, quando recebeu de volta as cargas de farinha de polpa de laranja contaminada por dioxinas, o destino foi o gado leiteiro do centro do país.
A respeito da vaca louca, vimos dois ministros de estado alemães serem demitidos por deixarem um relatório com os últimos acontecimentos sobre a sua pasta durante um fim de semana, sem providências.
Aqui, fazem-se passeatas, manifestações, reuniões de políticos oportunistas e arrota-se bravata, quando o problema da vaca louca deveria ter um comitê de crise permanente dentro do Ministério das Relações Exteriores, pois o crescimento das exportações de carne canadense é maior que o brasileiro. Por outro lado, o pessoal do Ministério da Agricultura não teve competência e seriedade sequer para ler um fax canadense, dando margem à ação dos mesmos.
O mais exótico é que as elites e oligarquia brasileira estão com toda a razão: pois a Nova Ordem Internacional, do Banco Mundial, OMC e FMI impedem que normas de saúde, como as alegadas pelo Canadá, e meio ambiente impeçam o livre comércio internacional. Hoje, toda e qualquer portaria ministerial brasileira, que interfira no comércio internacional, precisa, previamente, ser avalizada pela Organização Mundial do Comércio.
Mas, assim como na fábula, não importa para onde corre o regato, quando o lobo quer comer o cordeirinho. Sobre a BSE, Kreutzfeld-Jakob, talvez, em 2025, tenhamos respostas.
Até lá quem saberá quem foram Gigi, Zwei Migdal, Raoni ou Bové?
A imagem continuará sendo tudo. Por outro lado: Em 12 de Fevereiro de 2001, anunciou-se a conclusão do mapeamento do genoma humano, com uma grande surpresa.
Esperava-se encontrar mais de cem mil genes, contudo a realidade é inferior a trinta e um mil genes.
Dizem os “neolombrosianos” que há uma grande quantidade de “DNA lixo”, sem função. Será? O que dirão, dentro de cinco anos, os “avatares da satyagraha”?

Passados 24 anos de Asilomar, as empresas de agrotóxicos deixam a matriz da química bélica e concentram-se para transformar-se em empresas de “Ciências da Vida”, para isto fusionam-se, e Ciba Geigy, + Sandoz + Norkin transformam-se em Novartis; Hoechst + Boehrigner + Ingelheimer + Schering mimetizam-se em AGREVO, Zeneca é o novo nome da ICI; AVENTIS é o resultado da fusão de Rhone Poulenc com Hoechst. Há uma nova matriz tecnológica a matriz dos Neo-Epimeteus: a biotecnologia.
Vinte e quatro anos depois de Asilomar, em Porto Alegre, vimos a Monsanto realizar o Coquetel de lançamento de sua soja transgênica “Roundup Ready” em 19 de fevereiro de 1998, no Hotel Everest, um rito da “Nova Ordem Internacional” à participação da Sociedade Civil Organizada no “debut” de seu produto comercial, em situação muito diferente da conferência de Asilomar, na Califórnia, nos apresentou a fantasia, para a nossa fascinação ou estupefação.
Ela não fez um requerimento de avaliação ou registro perante o órgão público do Estado Nacional de saúde, agricultura e meio ambiente. Também nos EUA, Canadá e Argentina isto ocorreu. Por quê?
Aqui nos deparamos com uma segunda situação insólita: os produtos dos “Neo-Epimeteus” são apresentados como fruto da “engenharia genética”, para demonstrar e garantir: segurança, qualidade, controle e precisão – elementos de credibilidade e aceitação.
É Jeremy Rifkin, em o “Século da Biotecnologia”, quem dá os exemplos, tomamos apenas dois. 1º O vírus HIV da SIDA foi introduzido em ratos, para facilitar a realização de pesquisas. Foi criado um supervírus da AIDS, com capacidade de causar contaminação através de outras formas, com altíssimo risco.
O 2º exemplo, a bactéria Pseudomonas syringae está relacionada aos danos que as plantas sofrem pela geada, porque sua presença facilita a formação de gelo. Cientistas encontraram o gene responsável pela formação de gelo e o retiraram da bactéria e pretendiam esparramar caldo de bactérias modificadas geneticamente, para evitar danos à agricultura.
Cientistas ecologistas, como Eugene Odum, vieram a público para alertar que a Pseudomonas syringae é uma bactéria de vital importância para a nucleação de nuvens na formação das chuvas e determinação dos climas.
No Seminário Internacional sobre Direito da Biodiversidade e Transgênicos, em Brasília, o ponto alto foi “os direitos das gerações futuras”.
O Neo-Epimeteu não tem a precisão, segurança, credibilidade, controle, nem sequer segue as leis de Newton. Logo, a denominação de engenharia é inadequada.
Os próprios “construtores de organismos geneticamente modificados” sabem que não podem sequer predizer o que obterão. Então é uma aleivosia o uso da denominação “engenharia genética”, para os produtos de técnicas de ADN recombinante, mas o que as empresas querem é garantir a aceitação e o consumo de seus produtos.
O catedrático em genética Prof. Dr. Garcia Olmedo, de Valência, Espanha, reprova a denominação “engenharia genética” e compara as técnicas de ADN recombinante, de recortar e colar, com a figura típica do “sapateiro remendão”, muito popular na Espanha. Já Jeremy Rifkin chama de “gene costurado”
Reiteramos, por definição de “engenharia genética”, no livro “Argumentos Recombinantes”, sobre cultivos e alimentos transgênicos, publicado pelas Centrais Operárias da Espanha, vemos no prólogo do catedrático em genética Prof. Dr. Andrés Moya: “A biotecnologia, em sua forma mais dura, visa introduzir material genético de uma espécie em outra por meio de técnicas de ADN recombinante, criando organismos modificados artificialmente.
Esta disciplina científica atinge os seus objetivos quando:
é estável, ou seja, transmite a seus descendentes as características introduzidas;
produz o efeito pretendido.
Somente sobre estes dois aspectos é que os cientistas e tecnologistas de biologia molecular devem responder por sua criação. De forma que não cabe a eles responder pelos produtos comerciais, quando dos questionamentos da sociedade sobre riscos e benefícios.
Na questão dos riscos/benefícios, devemos procurar interlocutores responsáveis que deveria ser o Estado Nacional, mas desde Asilomar que a desregulamentação vem sendo organizada e orquestrada, para impedir qualquer reação impeditiva dos interesses comerciais das empresas.
Na sociedade civil, os interlocutores habilitados seriam os sindicatos, associações profissionais, ambientalistas, agrônomos, ecólogos, bioquímicos, sanitaristas, sociólogos, políticos, advogados, juízes, promotores, sacerdotes economistas e cidadãos. Pois têm habilitação, compromisso e podem estar investidos de autoridade e delegação, para questionar os direitos em risco e disciplinar benefícios auxiliando o Estado Nacional não-desregulamentado. Contudo, o que impera são os fascismos sociais.
Quando o Dr. Arpad Puzstai questiona a batatinha com genes de lectinas, como um bioquímico preocupado com a qualidade dos alimentos ou Mae Wan Ho e Joseph Cummins alertam para o perigo que são os genes marcadores-resistentes a antibióticos, junto a muitos outros alertam para o perigo que são as super-ervas daninhas já presentes entre nós.
Na Nova Ordem, vemos que não são as autoridades da Escócia, Reino Unido, Canadá, respectivamente, que se apavoram com os dados do Dr. Pusztai, Dra. Mae ou Prof. Cummins ou os de Jeremy Rifkin, é a cidadania internacional que fica perplexa.
Quando um Estado periférico, como o RS, toma medidas contra os abusos e ilegalidades, são os biotecnologistas de plantão que vêm a público clamar contra as “fogueiras medievais”, “obscurantismo na agricultura”, “queima de livros”, “ressuscitar Trofim Lishenko”.
Mas são eles que propõem a volta à barbárie, pelo desrespeito à Lei, à Ordem e ao Estado de Direito, pois um “Clube dos Amigos da Terra” ou uma “Cooperativa de Plantio Direto”, organizado como terceiro setor da empresa Monsanto, está por trás de toda esta celeuma e lucra com isto impede a fiscalização da soja ilegal, conforme o poder judiciário nacional.
Ninguém sabe sequer questionar que a tal soja transgênica teve um aumento dos índices de resíduos de agrotóxicos aumentado em 100 vezes e que na merenda escolar há leite de soja. Que este agrotóxico nunca foi avaliado anteriormente em um alimento e que agora está desregulamentado de fato. Isto é absurdo, mas os cientistas Hardell e Erikssen da Univ. de Lund, na Suécia, dizem que Glyphosate causa leucemia em seres humanos.
O que é pior os danos reais causados pela leucemia ou os cânceres potenciais provocados pelas alterações do vírus do mosaico da couve-flor?
No contrato feito pela gestão anterior do Governo do Estado do Rio Grande do Sul com a Agrevo, assinado, somente pelo presidente do IRGA, no dia 18 de dezembro de 1998, nove dias úteis antes da entrega do poder para experimentação com “arroz transgênico”, que depois foi destruído, por não respeitar normas de biossegurança consta que para o atual Governo do RS levar a Agrevo à Justiça, deve ser aprovada uma lei na Assembléia Legislativa. Isto não causa estranheza, o que é um escárnio.
Os contrários a este “status quo” são massacrados, pelas empresas, governos e estruturas de poder, por estarem prejudicando os negócios das empresas, que não querem que o Estado Nacional determine os regulamentos para os produtos transgênicos.
Foi assim nos EUA, onde muitas empresas aprenderam em Asilomar e passaram a exigir a desregulamentação dos produtos transgênicos. Não vamos ser ingênuos e pensar que, desde a Conferência de Asilomar, as transnacionais, os governos centrais e sua sociedade não equacionaram os problemas minuciosamente para o futuro segmento econômico.
Quando vemos que a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança libera os derivados de OGMs de avaliação e registro, não estranhamos, pois a ela, só lhe interessa (a) que seja estável e (b) que produza o efeito transplantado. Logo, é um cartório de interesses e atua ao arrepio da Lei. Isto foi dito com clareza e clarividência no recinto do Superior Tribunal de Justiça em Brasília, na presença de, pelo menos, uma dúzia de Ministros da Egrégia Casa.
Mas a situação da CTNBio fica mais difícil, quando o exemplar funcionário público, eng. agr. Pacelli Zahler, esclarece ao público em Santa Maria, no Seminário Regional sobre Produtos Transgênicos, que a CTNBio liberou mais de 600 áreas de testes de campo, mas o MAARA não tem recursos financeiros, infra-estrutura, nem sequer infra-estrutura humana para fiscalizar, controlar, garantir, inspecionar ou mesmo saber onde as mesmas estão. Imediatamente ele é chamado às falas, denunciado e demitido. No interesse de quem? Ninguém questionou.
No mesmo Seminário, vimos uma geneticista dizer que o homem e o chimpanzé possuem 98,6% de genes idênticos, deixando transparecer que a diferença mínima de 1,4% de genes não seria entrave para a transgênese. Esta atitude não é um fato isolado. Então são necessárias dóceis ovelhas para comer as grinaldas e ondas do mar para levar suas virtudes e conhecimentos.
Os cientistas, tecnologistas e professores universitários nacionais em sua grande maioria têm uma postura muito diversa daquela prevalente em Asilomar, vêm a público defender produtos comerciais, como se estivessem defendendo a ciência agredida ou a honra nacional aviltada. Fazem de conta que não sabem que não se pode ser contra ou a favor de tecnologia. Que tecnologia causa impactos e que é função do Estado através de seus quadros prevenir e atenuar os impactos negativos, através de medidas de políticas públicas.
O economista Jeremy Rifkin refere-se à ambição do Alquimista de se produzir um ouro mais puro que o ouro da natureza. A presunção da Alquimia é a mesma da Algenia, entretanto ainda não conhecemos mais que 4% das funções do funcionamento do ADN. E já queremos fazer um novo Gênesis?
Nos países periféricos, onde a “ciência” e tecnologia são anacrônicas, onde não se sabe a diferença entre multinacional e transnacional, a preocupação das Giga-empresas é determinar a desregulamentação de seus produtos através da opinião, serviços e posição dos cientistas, tecnologistas e burocratas, para isso ela preparou-se durante 24 anos desde Asilomar.
É Andres Moya quem diz: “Ninguém pode ignorar que os fundos para as pesquisas tanto público quanto privados estiveram e estão muito mais próximo aos biotecnologistas que as disciplinas científicas que podem controlar os riscos e os benefícios dos produtos.”
É fino e delicado o nobre cientista espanhol, pois deveria usar linguagem mais ligeira e até mesmo grosseira para explicar o que está acontecendo, pois a soja transgênica ilegal foi plantada com dinheiro público do governo federal. Quem está correndo o risco é o povo brasileiro e é quem sempre paga.
Logo, para o estudo ou avaliação de riscos toda a argumentação é válida ou “ética”. O exemplo do uso de refúgios, com milho natural, nos plantios de milho Bt, para retardar formação de insetos resistentes.
Ou a presença de proteínas do gene Bt. na forragem, com a “exotoxina” que vai para o leite pode interessar os pesquisadores, mas não haverá recursos ou apoio político.
Esta estratégia dos países ricos, suas indústrias e sociedade são muito bem protegidas pelos escudeiros, nos governos locais, através de grinaldas.
A publicação da direção de meio ambiente do Governo da Noruega, “Muito cedo pode ser muito tarde”, com dezoito páginas de referências científicas, sobre os riscos dos produtos transgênicos, quando apresentada aos professores universitários, tecnologistas e cientistas gaúchos, normalmente desconsideram e continuam “palrando” não há evidências contra os riscos dos transgênicos.

E a agricultura saudável como fica com os transgênicos?
A agricultura ecológica corrige as causa e não os efeitos, por isso não conhece pragas, doenças ou ervas daninhas.
Antevendo a mudança de matriz e incorporação dos valores globais, a União Européia e o governo dos EUA e outros países centrais criaram seus programas de agricultura ecológica, que crescem acima de 20% ao ano.
Hoje, nos EUA somente 300 mil agricultores são financeiramente independentes e rentáveis. São os agricultores ecológicos.
Entre nós, os biotecnologistas se transformam em políticos sociais e falam da fome, esquecendo-se de que o Economista Amartya Sinn recebeu o Prêmio Nobel por seu trabalho sobre a fome no Terceiro Mundo, suas origens e que sua solução não é tecnológica, mas política.
Esquecem-se os cientistas e tecnologistas de sua habilitação e dos “proteomas“, análise das proteínas expressadas por um gene, no meio ambiente. Este tipo de análise corrobora a agricultura ecológica, pois um gene pode estar em uma planta e a forma de cultivo inadequada pode bloquear sua expressão.
Então, os mesmos cientistas e tecnologistas que passaram a vida estreitando a variabilidade genética dos cultivos, agora vêm a público dizer que a recombinação de ADN irá aumentar a variabilidade, quando na verdade a planta depois da transgenia é totalmente clonada e a variabilidade passa a ser nula.
E a zona livre de transgênicos prejudica a quem? Quando um produto natural ou convencional tem maior procura no mercado e o transgênico, crescente rejeição.
O Deutsche Bank está recomendando aos seus investidores e clientes que retirem seu dinheiro das empresas de biotecnologia. Os agricultores norte-americanos, depois das 17 mil hectares de algodão destruídos e da reação do mercado, estão pedindo aos governos proteção e garantias de comercialização. Faltaram sementes de soja não transgênicas nos EUA.
As empresas de biotecnologias investem fortunas para monopolizar o mercado mundial; o governo “yankee” é parceiro, deseja manter sua hegemonia na produção e comércio de alimentos, sejam eles agroecológicos, convencionais ou transgênicos, com preços diferenciados em função de tecnologia, serviços, qualidades e classe de consumidores.
Como não desejam concorrentes, impõem aos Grupos de Cairns e Miami (australianos, canadenses, argentinos, neozelandeses, sul-africanos e brasileiros) que produzam sem políticas públicas nacionais competidoras.
A questão é política e não técnica, mas os cientistas periféricos não aceitam que outros se intrometam em seu universo de saber, embora saibam que seu saber é dependente das grandes corporações. Então o “analfabeto político” de Brecht se transforma no “fascista social” de Boaventura de Souza Santos e uma quimera periférica, caricata e obseqüente surge.
Elas fazem suas carreiras nos governos periféricos, sob o patrocínio das empresas de biotecnologia, que usam dinheiro público para fazerem cartilhas para os transeuntes, organizam eventos para enganar a população. Não sabem que existe uma biotecnologia de “saber” e uma biotecnologia de “fazer”. Na verdade, podemos dizer que são os biopiratas, com respaldo dos governos caricatos, periféricos e obseqüentes.
As transnacionais aproveitam e estimulam isto através do marketing da imagem dos cientistas das descobertas e aproveitam para patentear estas descobertas da natureza como se fossem “inventos”. Assim, se apropriam das descobertas dos incas, aztecas, maias e de outros povos e as patenteiam.
Entretanto o biólogo e médico François Jacob, geneticista Prêmio Nobel diz em sua obra: O rato, a mosca e o homem – “Algumas palavras dão medo. Por exemplo, a palavra ‘eugenia’, porque ela designa um comportamento inaceitável que conduz à esterilização de indivíduos considerados ‘inferiores’, antes de encobrir horrores nos campos nazistas. Outras, como a palavra raça, foram desviadas de seus sentidos e servem como álibi biológico para excessos culturais. Mesmo a palavra ‘genética’ acaba dando medo a muitos tanto é usada a torto e a direito para influenciar a política social. Quando se afirma que a inteligência é essencialmente herdada, ou seja, governada a princípio pelos genes, é para dizer que as políticas sociais que visam educar as populações desfavorecidas são inúteis. Quando se proclama que os meninos têm um gene ‘para’ a matemática, é com o objetivo de dizer que as meninas não o têm. Com a Bósnia e Ruanda, aprendemos que o genocídio, que parecia impossível após a queda do nazismo, podia perfeitamente reaparecer. Sabemos também que argumentos que demonstram a existência de diferenças irredutíveis de aptidões entre grupos, são seguidamente utilizados para manter as discriminações e impedir as políticas que visam remediar as injustiças. A presença de um componente genético em um traço do comportamento humano não significa de jeito nenhum que esse traço é unicamente determinado pelos genes. Sabemos hoje que o desenvolvimento do embrião humano põe em jogo uma interação permanente entre os genes e o meio.”
Bendita denúncia sobre os riscos de recombinações de vírus letais e perigosos com o ativador-promotor do vírus do mosaico da couve-flor (CaMV) criando novos e mais perigosos vírus. Note-se que a soja Roundup Ready tem dois e o milho Guardian tem quatro promotores.
Cabe a pergunta: Um sueco com renda per capita de 38.000 dólares vai se sujeitar a comer soja com 100 vezes mais resíduos de herbicida Roundup, quando a Universidade sueca de Lund afirma que este produto causa leucemia em células humanas?
No RS, não há preocupação com nitrosaminas de Roundup, na água potável, embora seja o veneno mais usado no Estado. Nós não somos suíços.
É por isso que a empresa pública de pesquisa analisa e avaliza a soja transgênica resistente a herbicidas, embora não tenha qualquer herbicida patenteado. Isto aqui não é Suécia.
Os dados contrários aos interesses do agricultor consumidor de tecnologia, do consumidor de alimentos, da comunidade ou do Estado não podem ser publicados, para não contrariar a Monsanto.
No caso do Arroz Transgênico, a Agrevo fez um contrato com o IRGA, requereu da CTNBio autorização, para a experimentação. Não cumpriu as normas e realizou um teste diferente, de alto risco. Em virtude de denúncia feita, a CTNBio foi obrigada a destruir o experimento. Entretanto, o governo não tomou qualquer atitude contra a Agrevo ou IRGA. Tampouco o governo do Estado do RS defendeu e protegeu o seu patrimônio aviltado. Por que e no interesse de quem?
Muitas Universidades Nacionais esforçam-se por ter seus alunos bem formados, mas as empresas patrocinam departamentos, cursos e determinam o que eles vão aprender. Isto é fruto do entendimento de que cidadania é riqueza ou riqueza cria a cidadania.
A transgenia de alimentos não dispõe de dados de segurança bromatológica, é de se supor que ela irá aumentar a poluição.
A poluição genética é muito mais perigosa que a poluição biológica, química ou radiativa, mas ninguém esta interessado nisto, então a OMC determina que não haverá rotulagem ou etiquetagem, nem respeito ao consumidor.
A transgenia de alimentos, com o poder do complexo agro-industrial-alimentar-financeiro vai aumentar o preço da comida. Os americanos dizem que não há comida grátis. Mas eles sabem que onde a comida é cara, há rebelião.

A transgenia agrícola, como está desenhada, irá desestruturar a agricultura dos países pobres, expulsar os pequenos agricultores e seus familiares, impedir a Reforma Agrária, provocando miséria, violência e convulsão social, mas os governos títeres querem que o mercado regule estas questões, talvez acreditando que o que acontece no Iraque, Kosovo, Chechênia e Timor Leste seja “o nosso futuro comum.”
A agricultura ecológica deixa de ser postura cívica e passa a ser uma qualidade de mercado, na alça de mira das transnacionais, que querem produzir o alimento natural sob sua marca, para os de maior poder aquisitivo, e os mais pobres terão a contaminação dos alimentos com antibióticos, agrotóxicos, radiatividade, transgênicos, etc.
Isto é a emergência dos “fascismos sociais” como afirma o filósofo Boaventura de Souza Santos. Ele está entre nós nos governos e aparelhos de Estado, é amo e senhor, principalmente, no meio dos caricatos e periféricos.
O marketing hoje é o principal agente de qualidade de alimento. O que nos faz lembrar que nos portões dos campos de concentrações nazistas estava escrito: “O trabalho liberta”. Lá dentro havia um forno crematório. Este é o poder do complexo agro-industrial-alimentar-financeiro e sua globalização.
Um organismo vivo, usado como alimento, é fruto de uma carga genética e do meio ambiente.

No Século XX, as empresas iniciaram a eugenia vegetal, com finalidades e objetivos de seus negócios. O melhoramento genético de sementes passou, então, a visar uma maior absorção de fertilizantes, maior uso de agrotóxicos, em detrimento do armazenamento, segurança e qualidade de colheita.
As empresas por não poderem ainda dominar os fatores do meio ambiente estão introduzindo genes nos alimentos, para ter um produto patenteado, por exemplo um arroz patenteado, com mais ferro ou mais vitaminas, resistente a herbicidas ou ao ataque de pragas.
Entretanto, qualquer agricultor ecológico sabe que um sistema de cultivo, equilibrado com a natureza, produz um arroz com alto conteúdo de ferro ou mais vitaminas. Logo, o co-responsável pela qualidade dos alimentos é o fenótipo ou meio ambiente e não a carga genética somente.
Mas o complexo agro-industrial-alimentar-financeiro, que usa o velho e desgastado slogan da Fome no Mundo, que quer ganhar dinheiro e não fazer benemerência, vem dizer que é a salvação. Os biólogos moleculares e geneticistas sentem-se deuses, embora estejam criando uma eugenia utilitária e confessional.

Antes, os produtos agrícolas eram comprados por seu peso, hoje, sabemos que um legume ou fruta tem de 28 a 38% menos de água, quando cultivado em equilíbrio ecológico.
Isto nos permite comparar um rendimento de 72 toneladas por hectares com o equivalente a 100 toneladas por hectare, mas ninguém está interessado em colher as 72, mesmo quando ela tem um poder de durabilidade três vezes maior, uma capacidade de gerar micotoxinas muito menor e uma riqueza de vitaminas e sais minerais maior.
O dramático é que a denúncia, sobre os riscos de partes de vírus inseridos, como promotor nos transgênicos, não tem resposta. Os doutos e os políticos são chamados para dizer que isto não pode acontecer e que não se pode fiscalizar as lavouras ilegais, clandestinas apoiadas e protegidas por eles.
A Monsanto nem sequer vem a público, tem quem tire suas castanhas do fogo.
Qualidade é um conceito que acompanha par e passo o nível de cidadania & conhecimento, que não tem nada a ver com renda e riqueza, mas que os governos títeres e a OMC querem transformar em norma internacional, pois os ricos continuarão fazendo suas exigências e pagando por elas, os pobres terão o que podem pagar.
Ela nos obriga a voltar, finalmente, a Nietzsche1: “Havia me afastado demasiado, voado para o futuro e se apoderou de mim um calafrio de terror. Quando olhei em torno, comprovei que só estava acompanhado pelo tempo. Amo a liberdade e gosto do ar livre que ventila a terra fresca; prefiro dormir sobre uma pele de boi, que sobre as honras e dignidade dos doutos.”
Ou dito de forma mais compreensível: Onde deveria haver saber há somente uma estrutura de poder que manipula o “saber que é permitido, principalmente na forma de fazer” ao mesmo tempo que impede que a sabedoria seja a base da evolução do saber acadêmico.
Depois de três anos de discussões e pressões para não se aplicar o Código de Defesa do Consumidor, o governo brasileiro vê-se obrigado regulamentar através de portaria a rotulagem dos alimentos geneticamente modificados. Isto é uma vitória.
Criou uma CTNBio, cartório de alto nível, que por pressão foi transformado em um cartório vulnerável aos olhos do povo. Agora com a nova portaria, de novo há um novo cartório.
A luta entre o poder da mídia e o da mobilização de cidadania e consciência fica para o mais competente.
O quadro abaixo mostra uma projeção, para o futuro próximo.

QUADRO III

PROJEÇÕES PARA AS QUESTÕES COM ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS

Fortalecimento da repulsa dos consumidores e opinião pública aos transgênicos;
Incremento da crise das transnacionais;
Recrudescimento dos enfrentamentos com OMC, FMI, Codex Alimentarius, etc.;
Maior desconfiança dos agricultores e governos;
Crescimento das análises sobre os impactos sociais nos países emergentes;
Mercado para os produtos agrícolas não-transgênicos;
Nosso saber requer explicações, sobre a digestão ou fisiologia dos alimentos geneticamente modificados?
A vida dos organismos depende de uma continua transformação de matéria que vai acompanhada de uma permanente degradação de energia. É necessário portanto substituir de modo contínuo as substâncias originais presentes para que os processos vitais não se detenham. Isto se realiza pelo intercâmbio entre o organismo e o ambiente que o rodeia e as matérias de substituição que se tomam do meio são os alimentos; capazes de construir novos tecidos, de ceder nas suas transformações de energia utilizável e regular os processos que ocorrem nos mesmos.
A nutrição ou metabolismo nutritivo é um estudo dos intercâmbios de substâncias e energia entre os seres vivos e o meio ambiente. Em um sentido amplo estuda a soma dos processos pelos quais um organismo absorve e utiliza alimentos, as condições qualitativas e quantitativas que estes devem ter e os transtornos que se produzem quando não são adequados.
Assim, uma parte dos alimentos é transformada em partes mais simples, porém funcionais, para posteriormente constituir uma parte do corpo que o metabolizou.
Um alimento alterado geneticamente passa a produzir a substância ou substâncias “naturais”, que o gene alterado determinar. Se é uma nova inserção teremos um ou mais produtos derivados desta inclusão. Seria como em uma fábrica pré-estabelecida agregar uma “nova” máquina, para produzir um “novo” produto.
A pergunta, este novo produto pode ser diferente ou alterar, com risco, este alimento. A resposta é sim. Um alimento é constituído por sua carga genética, integrada ao meio ambiente com o qual co-evolui. Isto vem ocorrendo ao longo de alguns bilhões de anos. Os processos recentes de intervenção humana demonstram os impactos negativos, pois hoje temos desnutrição com uma alimentação abundante com os produtos agrícolas industriais e animais da tecnologia predominante.
Uma série de perguntas ficam como preocupações:
1. A glucose tem um poder rotatório específico de + 52º,5 até chegar a um ponto estável. O tempo de se chegar a esta estabilização entre duas moléculas de glucose uma natural e outra obtida por inserção de engenharia genética podem ser diferentes? Qual a influência que isto tem sobre o processo de metabolização e catabolismo dos alimentos ?
2. A galactose quando se oxida com ácido nítrico produz ácido múcico. A velocidade de oxidação pode ser alterada entre o natural e o OGM?
3. O desdobramento da lactose no intestino ou através da emulsina das sementes de ameixas pode ser diferente entre uma vaca alimentada com, por exemplo soja transgênica RR?
4. Um amido produzido por uma planta OGM pode apresentar resultados idênticos nas análises químicas, físicas, mas possuir diferentes valores em uma avaliação biológica? Por exemplo alterando a digestão do indivíduo?
5. As perguntas acima podem servir de modelo, para semelhantes sobre lipídeos (azeites, gorduras, cêras e esteróides). Temos o exemplo da soja RR com os fitoesteróis ou isoflavonas (daidzen, genistein, coumesterol), contudo nos testes realizados, não foi aplicado à mesma o herbicida que seria fundamental.
6. Uma pergunta mais sofisticada: O ergosterol ao ser irradiado por luz Ultravioleta se transforma em vitamina D2 – Calciferol – Pode um gene como o de resistência a herbicida, da soja RR, por uma conjuntura climática, alterar o ergosterol, em sua atividade biológica?
7. As vacas alimentadas com farelo da soja RR apresentaram alterações em seu leite? Qual o mecanismo fisiológico que provocou esta alteração?
8. A citrulina presente no suco do melão é um aminoácido de grande importância. É possível que sua atividade como biocolóide venha ser alterada conforme a tecnologia de cultivo do melão?
9. Quanto às proteínas. A hidrólise das proteínas modificadas pode alterar a ação de enzimas das secreções digestivas? No caso da soja RR, temos que a proteína EPSPS está em uma quantidade de 83% a mais que na sua homologa natural. Este aumento de substrato nos leva à necessidade de maior quantidade de enzima para a digestão, alterando o equilíbrio da reação? Isto é importante?
10. Algumas plantas, como as leguminosas, segregam substâncias de proteção, para evitar o ataque dos animais. Por esta razão não é recomendável a ingestão de grãos de leguminosas crus, ou mal cozidas. Entre estes fatores temos as antitripsinas, como fatores antinutricionais. Pode haver alteração destas nos OGMs? Isto pode causar alergias?
11. A absorção de proteínas nativas é possível e normalmente provoca alergia. No caso da proteína EPSPS, cuja concentração é 83% maior na soja RR este risco de absorção da proteína nativa existe?
Diante destas projeções vemos o campo ir clareando.
O Ibama calcula o valor do patrimônio nacional em Biodiversidade: 4 trilhões de dólares. Contudo, quem é objeto, e não sujeito, pode se arvorar em dono desta riqueza? Os contratos da BioAmazônia e Novartis e similares dos institutos e universidades nacionais ai estão para comprovar tal.
Jorge Riechmann diz: Nem tecnofanatismo, nem tecnocatastrofismo, pois sabe que uma tecnologia não é boa ou má. Ela causa impactos positivos (para os sujeitos) e negativos (para os objetos).
Concluindo a crematística provocou tanto a escassez que chegamos ao cúmulo de ter um alimento sem valor biológico, mas com preço.
Para entender isto, não podemos perder a noção e perspectiva ética: – O saber está lá fora, no povo – “Assim falava Zaratustra”1, Friedrich Nietzsche.

 

QUADRO III

PROJEÇÕES PARA AS QUESTÕES COM ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS

Fortalecimento da repulsa dos consumidores e opinião pública aos transgênicos;
Incremento da crise das transnacionais;
Recrudescimento dos enfrentamentos com OMC, FMI, Codex Alimentarius, etc.;
Maior desconfiança dos agricultores e governos;
Crescimento das análises sobre os impactos sociais nos países emergentes;
Mercado para os produtos agrícolas não-transgênicos;
Nosso saber requer explicações, sobre a digestão ou fisiologia dos alimentos geneticamente modificados?
A vida dos organismos depende de uma continua transformação de matéria que vai acompanhada de uma permanente degradação de energia. É necessário portanto substituir de modo contínuo as substâncias originais presentes para que os processos vitais não se detenham. Isto se realiza pelo intercâmbio entre o organismo e o ambiente que o rodeia e as matérias de substituição que se tomam do meio são os alimentos; capazes de construir novos tecidos, de ceder nas suas transformações de energia utilizável e regular os processos que ocorrem nos mesmos.
A nutrição ou metabolismo nutritivo é um estudo dos intercâmbios de substâncias e energia entre os seres vivos e o meio ambiente. Em um sentido amplo estuda a soma dos processos pelos quais um organismo absorve e utiliza alimentos, as condições qualitativas e quantitativas que estes devem ter e os transtornos que se produzem quando não são adequados.
Assim, uma parte dos alimentos é transformada em partes mais simples, porém funcionais, para posteriormente constituir uma parte do corpo que o metabolizou.
Um alimento alterado geneticamente passa a produzir a substância ou substâncias “naturais”, que o gene alterado determinar. Se é uma nova inserção teremos um ou mais produtos derivados desta inclusão. Seria como em uma fábrica pré-estabelecida agregar uma “nova” máquina, para produzir um “novo” produto.
A pergunta, este novo produto pode ser diferente ou alterar, com risco, este alimento. A resposta é sim. Um alimento é constituído por sua carga genética, integrada ao meio ambiente com o qual co-evolui. Isto vem ocorrendo ao longo de alguns bilhões de anos. Os processos recentes de intervenção humana demonstram os impactos negativos, pois hoje temos desnutrição com uma alimentação abundante com os produtos agrícolas industriais e animais da tecnologia predominante.
Uma série de perguntas ficam como preocupações:
1. A glucose tem um poder rotatório específico de + 52º,5 até chegar a um ponto estável. O tempo de se chegar a esta estabilização entre duas moléculas de glucose uma natural e outra obtida por inserção de engenharia genética podem ser diferentes? Qual a influência que isto tem sobre o processo de metabolização e catabolismo dos alimentos ?
2. A galactose quando se oxida com ácido nítrico produz ácido múcico. A velocidade de oxidação pode ser alterada entre o natural e o OGM?
3. O desdobramento da lactose no intestino ou através da emulsina das sementes de ameixas pode ser diferente entre uma vaca alimentada com, por exemplo soja transgênica RR?
4. Um amido produzido por uma planta OGM pode apresentar resultados idênticos nas análises químicas, físicas, mas possuir diferentes valores em uma avaliação biológica? Por exemplo alterando a digestão do indivíduo?
5. As perguntas acima podem servir de modelo, para semelhantes sobre lipídeos (azeites, gorduras, cêras e esteróides). Temos o exemplo da soja RR com os fitoesteróis ou isoflavonas (daidzen, genistein, coumesterol), contudo nos testes realizados, não foi aplicado à mesma o herbicida que seria fundamental.
6. Uma pergunta mais sofisticada: O ergosterol ao ser irradiado por luz Ultravioleta se transforma em vitamina D2 – Calciferol – Pode um gene como o de resistência a herbicida, da soja RR, por uma conjuntura climática, alterar o ergosterol, em sua atividade biológica?
7. As vacas alimentadas com farelo da soja RR apresentaram alterações em seu leite? Qual o mecanismo fisiológico que provocou esta alteração?
8. A citrulina presente no suco do melão é um aminoácido de grande importância. É possível que sua atividade como biocolóide venha ser alterada conforme a tecnologia de cultivo do melão?
9. Quanto às proteínas. A hidrólise das proteínas modificadas pode alterar a ação de enzimas das secreções digestivas? No caso da soja RR, temos que a proteína EPSPS está em uma quantidade de 83% a mais que na sua homologa natural. Este aumento de substrato nos leva à necessidade de maior quantidade de enzima para a digestão, alterando o equilíbrio da reação? Isto é importante?
10. Algumas plantas, como as leguminosas, segregam substâncias de proteção, para evitar o ataque dos animais. Por esta razão não é recomendável a ingestão de grãos de leguminosas crus, ou mal cozidas. Entre estes fatores temos as antitripsinas, como fatores antinutricionais. Pode haver alteração destas nos OGMs? Isto pode causar alergias?
11. A absorção de proteínas nativas é possível e normalmente provoca alergia. No caso da proteína EPSPS, cuja concentração é 83% maior na soja RR este risco de absorção da proteína nativa existe?
Diante destas projeções vemos o campo ir clareando.

O Ibama calcula o valor do patrimônio nacional em Biodiversidade: 4 trilhões de dólares. Contudo, quem é objeto, e não sujeito, pode se arvorar em dono desta riqueza? Os contratos da BioAmazônia e Novartis e similares dos institutos e universidades nacionais ai estão para comprovar tal.
Jorge Riechmann diz: Nem tecnofanatismo, nem tecnocatastrofismo, pois sabe que uma tecnologia não é boa ou má. Ela causa impactos positivos (para os sujeitos) e negativos (para os objetos).

Concluindo a crematística provocou tanto a escassez que chegamos ao cúmulo de ter um alimento sem valor biológico, mas com preço.
Para entender isto, não podemos perder a noção e perspectiva ética: – O saber está lá fora, no povo – “Assim falava Zaratustra”1, Friedrich Nietzsche.

2 Comentários

  1. Bom dia!

    Um dos artigos mais completos e esclarecedores que li nos últimos tempos…Não respondeu totalmente, apenas, um dos meus questionamentos:
    O efeito no embrião humano, causador da MICROCEFALIA, mas ainda assim mostrou uma centena de problemas causados pelos Princípios Ativos dos AGROTÓXICOS….

    1. Bom dia. Ficamos felizes que o material da dra. Ângela tenha lhe trazido informações sobre como se posicionar frente a este descalabro de como temos sido tratados no mundo atual. Quanto à microcefalia ainda é um tema muito recente para se ter uma relação definida de causa e efeito quanto às suas origens. Provavelmente seja a união de tantos princípios ativos misturados que nos chegam com os alimentos que será ainda prematuro definir com clareza quais as causas efetivas. Grato pela mensagem e bons caminhares no sentido de se apropriar de conhecimentos que lhe deem mais liberdade de agir como cidadã. Felicidades, Luiz.