A maratona para destruir os tóxicos “químicos eternos” que poluem o nosso mundo

Pesquisadores coletaram amostras de diversas áreas diferentes e encontraram concentrações de “químicos eternos”, devido à sua incapacidade de se decompor organicamente, no mar da costa da Holanda. Crédito da foto: iStock

https://www.theguardian.com/environment/2024/jan/04/the-race-to-destroy-the-toxic-forever-chemicals-polluting-our-world

Senay Boztas em Amsterdã

04 de janeiro de 2024

[NOTA DO WEBSITE 1: E agora, José? O que fazemos com esse crime corporativo que envolve todo o planeta? E onde estão os seus criadores, fabricantes, CEOs, acionistas, cientistas corporativos e todos os que manufaturam produtos comerciais e dispuseram para o povo? Como fazermos para que todos esses, literalmente, paguem por essa violência?].

[NOTA DO WEBSITE 2: Olha só a ironia? Agora se vai aos estados que o neoliberalismo, dos Reagans, Tatschers, Pinochets, Trumps e Guedes da vida, tanto ataca ferozmente e quer ‘diminuir seu tamanho’, para se resolver esse crime. E os empreendedores, os grandes executivos privados, os meritocratas, por que não se apela a eles e todo o seu dinheiro para se resolver isso? Afinal foi esse ‘dinheiro’, sugado justamente da sociedade que agora se precisa ‘salvar’, que falta para o bem estar da humanindade. E aí? O que se faz?].

À medida que os países trabalham para proibir cada vez mais PFAS, o foco está mudando para como remover os que já existem.

“Químicos eternos/forever chemicals” estão nas nossas fontes de água potávelna espuma e na pulverização do mar, na chuva e nas águas subterrâneas, no gelo marinho e até no sangue humano – por isso agora estão aumentando os esforços para os detectar, remover e destruir.

Com evidências crescentes que ligam substâncias per e polifluoroalquílicas (PFAS) a cânceres, defeitos congênitos e efeitos negativos no sistema imunológico de humanos e animais, está crescendo a pressão para restringir esses produtos químicos impermeabilizantes úteis (nt.: essa é a ideologia do ‘progresso’: a ‘utilidade’, a ‘praticidade’, a ‘eficácia’, etc. dessas moléculas por justamente se contraperem a aspectos naturais e não SE DÃO CONTRA DE QUE OS NOSSOS CORPOS e de outros seres vivos SÃO ‘INFELIZMENTE’ TAMBÉM NATURAIS!! Dá para entender porque afeta tudo e a todos?) que estão em tudo, desde panelas de Teflon e dispositivos médicos até cosméticos. e caixas de papelão pizza (nt.: e todos os ‘deliveries’ ou ‘para viagem’).

De acordo com as indústrias Nijhuis Saur, que construiu mais de 80 tecnologias para tratar os ‘químicos eternos/forever chemicals‘, como os proibidos ou restritos PFOS, PFOA e PFHxS, sendo estes PFAS difíceis e caros de se remover e se destruir (nt.: dá para entender a dimensão cínica dessa afirmativa? E por isso, ficaríamos como estamos? Ou seja, o ‘custo’ de remover ou destruir é mais importante do que o ‘custo’ da saúde de todos os seres vivos, incluindo os humanos?).

Eles são chamados de ‘químicos para sempre/eternos’, porque não podem ser removidos facilmente, não se decompõem com muita facilidade, então persistirão para sempre”, disse Wilbert Menkveld, diretor de tecnologia (nt.: destaque em negrito feito pela tradução), na conferência Aquatech Amsterdam. “E estamos falando de concentrações muito pequenas: um nanograma por litro é como um copo de refrigerante em um milhão de navios-tanque.”(nt.: aqui fica claro como se está, aos poucos, entendendo de que o conceito de Paracelsus, da Idade Média, da toxicológica estar relacionada à dose, no caso de moléculas sintéticas, está, enfim, caindo por terra!)

Mesmo quando são banidos, é difícil eliminar os seus vestígios remanescentes: as limpezas de água devem lidar com diferentes concentrações de poluentes e limites nacionais.

No Reino Unido, existe uma diretriz de 100 nanogramas por litro (nt.: isso quer dizer sete zeros depois da vírgula, ou seja, 0,0000001) para PFAS individuais na água potável, enquanto em países da UE, como a Holanda, o Instituto Nacional de Saúde Pública e Ambiental (nt.: RIVM/Rijksinstituut voor Volksgezondheid en Milieurecomenda um máximo de 4,4 ng/l. Limites semelhantes foram propostos este ano para seis dos produtos químicos pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (nt.: EPA/Environmental Protection Agency) num “índice de toxicidade”.

Enchendo um copo com água potável da torneira da cozinha

Embora a UE esteja a trabalhar numa proibição mais ampla dos produtos químicos , muitos já se encontram no ambiente. Não havia limites para águas residuais, disse Menkveld.

David Megson, professor sênior de química e ciência forense ambiental na Universidade Metropolitana de Manchester, disse que alguns poluentes nem sequer estavam sendo testados, que não havia protocolo de teste padrão para muitos compostos e que a legislação estava atrasada.

“Não há consistência na abordagem, especialmente em nível global”, disse ele. “Os EUA comprometeram-se a fazer estudos e testes. Na Europa há muita coisa para acontecer – na Suécia em particular – e há cinco anos, no Reino Unido, estávamos realmente atrás da bola. As pessoas estão fazendo um monitoramento mais rotineiro, mas o número de PFAS com os quais precisamos nos preocupar passou de dois para 17, para 47 e agora poderíamos ter 14.000. Quando um programa de monitoramento de dois anos for executado, ele estará quase obsoleto.”

De acordo com jornalistas e acadêmicos que contribuem para o Forever Pollution Project, existem 20 instalações de produção e mais de 2.100 locais na Europa que “podem ser considerados áreas prioritária de conflitos em relação aos PFAS”.

No ano passado, a Chemours, a DuPont e a Corteva concordaram em pagar 1,185 bilhões de dólares para liquidar reclamações de responsabilidade dos sistemas públicos de água americanos devido à contaminação por PFAS. A empresa química 3M concordou em resolver processos semelhantes na América, enquanto o governo da Flandres/Bélgica e a 3M anunciaram um acordo de remediação de 571 milhões de euros no ano passado, e o governo holandês quer responsabilizar a empresa pela poluição ligada a uma fábrica de Westerschelde. Mas mesmo com o dinheiro, as limpezas são complexas.

O tipo de tratamento atualmente utilizado depende se os poluentes são produtos químicos de cadeia curta ou longa, bem como da sua combinação e se o objetivo é separá-los da água ou também destruí-los.

“Quanto mais longa for a corrente, melhor ela absorve; cadeias curtas são muito difíceis de alcançar, por isso é necessária uma [tecnologia] muito seletiva”, disse Menkveld. “Você pode concentrar o PFAS, mas precisa ter uma tecnologia de destruição no final.”

As tecnologias mais viáveis ​​e desenvolvidas, de acordo com uma revisão citada pela Blue Tech Research em março, incluem a nanofiltração ou osmose reversa, usando uma membrana especial para separar partículas maiores da água potável.

A filtração granular de carvão ativado é outro método – embora seja necessário tratar o carbono antes que ele possa ser reutilizado, colocado em aterro ou destruído – e também existem resinas de troca iônica mais caras para separar e concentrar o poluente.

Os tratamentos convencionais, como a coagulação – adição de outro produto químico para ajudar a purificar a água – removem apenas quantidades limitadas, mas a coagulação avançada utilizando um reator pode fazer mais, deixando o PFAS numa lama.

As opções para destruir estes resíduos concentrados incluem oxidação eletroquímica de baixa energia, oxidação com água supercrítica – que requer alta temperatura, pressão e operadores especializados – e incineração cara e a alta temperatura a mais de 1.400°C.

“Você precisa ter soluções diferentes a cada vez”, disse Menkveld.

Os cientistas estão trabalhando em mais técnicas. Madeleine Bussemaker, professora sênior de engenharia química na Universidade de Surrey, quer iniciar um primeiro piloto comercial para um método de ultrassom, a sonólise, que pode degradar completamente as fortes ligações carbono-flúor do PFAS em dióxido de carbono e flúor relativamente inofensivos.

“Vimos que o ultrassom funciona com outros produtos orgânicos ou com diferentes concentrações celulares: o próximo passo é ir para uma escala maior e empregá-lo na vida real”, disse ela. “Um estudo americano mostrou hidrofluorocarbonetos ao redor do local de incineração: você não quer criar outro fluxo de poluição com o qual terá que lidar mais tarde. A sonólise quebra essas ligações usando ondas sonoras.”

Mas os especialistas apelam por mais trabalho a nível global. No Reino Unido, organismos como a Royal Society of Chemistry apelaram por mais ações, enquanto o Executivo de Saúde e Segurança inglês emitiu novas recomendações em abril. Na Europa, a implementação de uma nova diretiva sobre água potável e uma proposta de proibição de PFAS estão iminentes.

“Financiamento, legislação e conscientização andam de mãos dadas”, disse Bussemaker. “Uma das coisas mais alarmantes para mim é que, para encontrar uma amostra de sangue que não continha PFAS, um estudo teve que coletar sangue armazenado de soldados [americanos de 1948-1951] lá da Guerra da Coreia… já que isso, depois que entra no corpo, não vai embora por contra própria.”

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, janeiro de 2024.