Um crescente interesse nas conexões entre a exposição a químicos e obesidade é em parte o testamento do pioneirismo do trabalho da Dra. Paula Baillie-Hamilton.
http://www.theecologist.org/News/news_analysis/1191047/the_mother_who_exposed_the_links_between_obesity_and_common_chemicals.html
Laurie Tuffrey, 12 de janeiro de, 2012
Paula Baillie-Hamilton primeira publicação de um trabalho conectando químicos tóxicos a obesidade em 2002
Laurie Tuffrey: Pode nos explicar sua teoria sobre a conexão entre químicos ambientais e o ganho de peso?
Paula Baillie-Hamilton: Minha hipótese é que são os químicos a base por trás desta epidemia global em razão do nível a que estamos sendo expostos a eles. Estes químicos estão envenando nossos sistemas de controle de peso, danificando nossa habilidade de perder peso e estão nos tornando gordos.
Ele manejam nosso apetite de tal forma que, na verdade, queremos comer determinadas comidas e ansiamos pelos piores alimentos. As catecolaminas, entre elas a adrenalina e a dopamina que auxiliam a perda de peso, são reduzidas por estes químicos, afetando tanto nosso metabolismo como nosso desejo de ir caminhar lá fora. Assim não se pode perder peso do jeito que se poderia.
LT: Seria isso mais devido a estar como um fator de contribuição à obesidade conectado a outras coisas como uma dieta pobre e a falta de exercícios?
PB-H: Se temos uma dieta pobre, não temos uma das únicas coisas que pode nos livrar, na verdade, destes químicos, mesmo em níveis baixos, em nosso corpo que são as vitaminas, os minerais e outros nutrientes. O problema é que agora o nível de nutrientes nos alimentos tem decrescido, há anos, em razão dos produtores estarem colocando somente alguns minerais de volta ao solo através dos fertilizantes sintéticos e artificiais e haver somente em torno de 100 minerais na crosta terrestre. Assim os solos estão ficando grosseiramente deficientes e os alimentos, por conseguência, mais ainda.
Quando se lê um rótulo quantos minerais estão presentes, muitas vezes, é uma peça de ficção. Os níveis de vitaminas também estão caindo pelo longo tempo de estocagem e armazenamento – algumas vezes no final nem há mais vitamina C em laranjas. Precisamos destas vitaminas e minerais para processarmos os químicos ambientais. Nosso corpo não pode, na verdade, reconhecer e nem mesmo lidar com esta montanha de substâncias químicas. A razão é que os nossos sistemas internos de desintoxicação foram criados muito antes de todos estes químicos sintetizados artificialmente. Estamos sendo expostos a mais e mais químicos, e, ao mesmo tempo, estamos ingerindo menos vitaminas e minerais nos alimentos. Isto já exacerba o problema ainda mais. Se comermos alimentos processados, menos ainda têm para as nossas necessidades se comparados com os níveis que têm os alimentos orgânicos.
LT: Como a senhora focou primeiramente este risco?
PB-H: Fiz meu PhD sobre o como os químicos afetavam o metabolismo. Parte do meu trabalho foi observar o câncer de mama e de como perceber a diferença entre um tecido de cicatrização e novos cânceres. Uma questão que sempre me perturbou foi do por quê as mulheres estão tendo câncer de mama, e do por quê o número cresce a cada ano? Naquele tempo, a relação estava em torno de uma mulher em cada 12, agora constato ser uma em cada 10. E isso é uma tendência generalizada.
Depois que eu tive o meu segundo filho, e tentei perder peso, li um artigo dizendo que os químicos sintéticos que estavam no ambiente, já era em níveis que afetavam a vida selvagem. Nunca tinha ouvido falar deles antes, mas o fato que realmente me interessou foi de que eles atuavam como falsos hormônios femininos. Isso é provavelmente a resposta do porquê do aumento dos cânceres de mama. E embora eu não fosse a primeira pessoa a pensar sobre isso, imaginei que deveriam também estar afetando meu peso.
Por anos vinha pesquisando sobre isso e tentando descobrir exatamente como o corpo perde peso. Neste tempo as pessoas não sabiam de químicos que geravam ganho de peso. Procurava-se por outras substâncias que levavam a este ganho tipo drogas e medicamentos e num monte de substâncias químicas usadas praticamente da mesma forma em agrotóxicos – uma adorável descoberta! Daí pode-se constatar quais os agrotóxicos que possivelmente pudessem causar ganho de peso. Mas novamente, nada estava catalogado como ‘os PCBs e ganho de peso’ ou ‘os PCBs e a obesidade’. Na verdade, eles não podiam listá-los como tal, já que constavam que eles somente geravam perda de peso.
LT: Por que acha que se levou este longo tempo para se chegar à idéia dos químicos ambientais estarem conectados com a fixação das taxas de obesidade?
PB-H: Lembro de ter tido uma entrevista com um professor na Radio 4 quando me veio uma certa perplexidade e pensei ‘ai, ai, ai’! Era muito difícil para ele aceitar – ele não conhecia nada de toxicologia e nem sabia sobre todas estas coisas bem diferentes. Por isso não conseguia aceitar. Tudo isso estava totalmente fora de sua perspectiva de vida, por isso se mostrava bem incomodado. Muitas pessoas, em certas ocasiões, ficam muito agressivas com novas idéias e tentam desqualificá-las. Eu era um alvo fácil porque sou uma mãe e não fiz este trabalho num ambiente acadêmico. [Baillie-Hamilton é agora assistente visitante em Saúde Ambiental e Ocupacional junto à Stirling University na Escócia]. Idéias como estas precisam ser originárias de grandes instituições, mas o problema é que certas pessoas que são movidas pelo lucro, financiadas e apoiadas pelas grandes companhias, não têm uma visão mais ampla.
Tem se visto muita coisa mostrando que os médicos não têm a mínima noção sobre isso. Isso me deixa realmente chateada porque as pessoas estão perdendo o que elas têm de melhor em sua saúde por esta falta de conhecimento. Os médicos não aprendem sobre toxicologia ou do porquê precisamos de certos nutrientes. Os medicamentos que estão disponíveis custam uma fortuna e eles apenas ajustam os sistemas corpóreos, mas na verdade não os tornam melhores. Estou mais interessada em decobrir o que causa os problemas e tratá-los para que o corpo possa realmente resolver por si próprio. Este é o meu foco, como reverter este problema.
LT: A senhora se sente retribuida por haver agora uma pesquisa emergente e mesmo a exposição como esta feita pelo documentário canadense “Programmed to be Fat” (nt.: ‘Programado para ser gordo’) que corroboram e dão sustentação à sua teoria?
PB-H: É maravilhoso que isto esteja vindo à tona: quanto mais cedo melhor porque as pessoas precisam saber sobre este tema e assim puder se alterar as políticas públicas. Acho que quanto mais pesquisa se fizer mais irão auxiliar a todos porque estes químicos não causam somente problemas com o peso, eles estão por trás de uma série de distúrbios. Vai, na verdade, ajudar a todos e acho que se auxiliará para que as pessoas acabem se ajudando a si mesmas. E isto é realmente muito bom para proteger minha família também – não quero que meus filhos sejam envenenados!
LT: A senhora se via como a figura de uma loba solitária?
PB-H: Eu me vejo exatamente como alguém que quer que as pessoas tenham o melhor. Não posso lutar batalhas políticas, não estou interessada nisso. O que está me mobilizando é o que está deixando as pessoas doentes e como resolver isso. Isto é o que está me tocando, ver as pessoas doentes e saber que elas podem melhorar suas saúdes tão facilmente e assim tentando auxiliá-las. É nisto que tenho realmente agora dedicado meu tempo, nas assim chamadas doenças incuráveis e que os médicos pouco se importam com elas.
LT: O que se pode fazer para interromper este problema?
PB-H: Os químicos. E o poder que é necessário para despertarmos todas as pessoas de que os piores químicos, numa escala de problemas que temos ai fora, são aqueles que estão presentes em nosso alimento, na água que bebemos e nos produtos que usamos em nossas casas. Além de diferentes químicos presentes nos carpetes e banidos em outros países, mas ainda em uso aqui no Reino Unido.
As obturações com mercúrio são meu problema número um. Se eu pudesse fazer alguma coisa, seria banir este tipo de obturação. Elas já foram banidas noutros países. O governo sueco cobrirá os custos daqueles que se dispuserem a tirar suas obturações com mercúrio. É barato e divertido para os dentistas fazer isso e o governo paga, mas a longo prazo é muito mais barato se eles utilizarem obturações brancas ou de porcelana. O mercúrio lixivia da obturação e acho que gera sintomas como ansiedade e depressão, ME (nt.: encefalomielite miálgica), distúrbios estomacais, distúrbios auto-imunes, asma e alterações do sistema nervoso. Também aqueles químicos que não se biodegradam, como os organoclorados (nt.: aqui estão os agrotóxicos como DDT, Aldrin, BHC e outros, proibidos no Brasil pela movimentação popular no RS, no início dos anos oitenta) e os PCBs. Todos estes são a grande questão, deveriam sempre ser evitados. Ouvi recentemente que se está introduzindo o DDT para prevenção da malária. Isso me deixa realmente doente. Ele pode eliminar alguns mosquitos, mas ele não desaparece, persiste no solo e retorna através dos produtos agrícolas importados de volta para o nosso país.
Outro problema é que os químicos são muito persistentes, particularmente os bromados que estão presentes em vários produtos com o retardador de chamas que temos nos utensílios espalhados por toda nossa casa. Seu organismo não os pressente e não pode processá-los, ficando então armazenados, por décadas, em nossos corpos.
LT: A senhora concorda com a idéia do Dr Bruce Blumberg, cientista acadêmico dos EUA, de que e exposição quando o ser está em desenvolvimento (i.e. fase fetal) aos obesogênicos pode ter efeitos permanentes, enquanto a exposição na adultez não é permanente?
PB-H: Eu apoio a primeira parte desta afirmativa como, na verdade, já havia levantado este conceito na hipótese de meu trabalho acadêmico em 2002 e com mais detalhes no meu livro The Detox Diet, publicado neste mesmo ano.
Ouvi na rádio recentemente que se bloquearmos um olho de nosso filho até um certo estágio de seu desenvolvimento, mesmo que tiremos a banda sobre o olho, ele ficará cego porque este processo da visão é sensível ao tempo. Assim, se danificarmos algo no decorrer do desenvolvimento de um ser vivo então será afetado pelo resto de sua vida, como as anomalias congênitas. Então se forem expostos a químicos em certos momentos de seu desenvolvimento, podem apresentar anomalias no coração ou algo assim. Com a exposição nesta fase de desenvolvimento do feto, seu sistema de desintoxicação não está plenamente maturado, assim pequenas quantidades de químicos afetam muito mais a ele do que a um adulto.
Entretanto, certamente não apoio a idéia de que a exposição na adultez não seja permanente como um vasto corpo de evidências em publicações acadêmicas têm sugerido de que a exposição na adultez a químicos sintéticos tóxicos também podem resultar em danos permanentes ao organismo. Isto é porque muitos agrotóxicos sintéticos tóxicos envenenam nervos e cérebro. De fato, a maioria dos agrotóxicos é desenvolvida para se dirigir ao sistema nervoso já que este controla o funcionamento do inseto para o qual o agrotóxico foi concebido para matar. Quanto melhor envenenar os nervos mais efetivo será o agrotóxico. Agora em humanos adultos, o conhecimento que se tem é que uma vez que a maioria das células nervosas morram, a tendência é não mais se regenerarem. Assim, se estas células nervosas são mortas por agrotóxicos, então estarão perdidas para sempre. Diferentemente, no feto em desenvolvimento, o organismo é menos apto para repô-las com outras células nervosas. E como o sistema nervoso controla os ‘hormônios de emagrecimento’, dopamina e adrenalina, danos às células nervosas que produzem estes hormônios de emagrecimento podem ser, portanto, permanentes. Esta observação pode ser vista noutros trabalhos de pesquisa acadâmica sobre estudos feitos tanto com seres humanos como com animais.
LT: O que se poderia comer para minimizar esta exposição aos químicos ambientais?
PB-H: O mais óbvio são os alimentos orgânicos, mas eles estão ainda muito caros. No meu livro, pesquisei todos os químicos empregados nos alimentos, quais alimentos estão mais poluídos em relação a outros e quais os alimentos que afetam o sistema de controle de peso mais do que outros. Basicamente, os alimentos menos processados são os melhores, mas os que se pode descascar e preparar são também bem melhores ou mais seguros.
Alimentos como abacate têm níveis muito baixo de químicos porque são rústicos e resistentes, mas alimentos frágeis como a alface, acabam tendo níveis de agrotóxicos realmente assustadores que podem ser facilmente detectados e quantificados. Eles não se desativam quando entram em nosso organismo e é difícil lavá-los porque eles se grudam nas folhas (nt.: isso mostra o que se coloca junto com o veneno como os ‘adjuvantes’ tipo nonilfenol, ver sobre esta molécula no site). Algumas vezes pode-se lavar com o produto que se lava louças, mas não adianta porque alguns são e outros não, na verdade, sistêmicos, ou seja, passam a estar incorporados na estrutura do tecido da planta.
O melhor é se tivermos frutas e vegetais que possamos descascá-los, embora isso seja uma lástima porque podemos perder alguns dos nutrientes que estão na casca. No entanto, produtos que são mais delicados e que provavelmente foram pulverizadas como alface e morangos, o melhor é comprarmos orgânicos ou nós mesmos cultivá-los. Se pudermos evitar coisas com uma montanha de aditivos como os e-numbers (nt.: códigos de aditivos colocados nos alimentos dentro da União Européia, 0 “e” é de Europa) e adoçantes artificiais e mesmo ainda terem poucos corantes e outros aditivos. Isso é também uma situação bem positiva.
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, janeiro de 2012.
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Gostaria de dar meu testemunho sobre os adoçantes artificiais.
Eu fiz uso de um deles por vários anos, pensando em me prevenir de algumas doenças. Neste período passei a ter crises compulsivas por doces, resultado engordei 20kg. Um dia li uma matéria que falava da possibilidade dos adoçantes causarem ansiedade. Resolvi fazer um teste, deixei do adoçante e passei a fazer uso do açúcar mascavo em pequenas quantidades. Resultado: nunca mais tive crises compulsivas por doces nem qualquer outro alimento.
Parei de engordar, agora estou na batalha para eliminar os kg que “ganhei”.
O meu testemunho é parecido como da Madelaine. Na adolescência para reduzir as espinhas por 2 anos eu parei de consumir açúcar, o substitui por adoçante, na época nada encontrei contrariando o uso de adoçantes. Na época ano de 1995, 1996 informações chegavam só por revistas em muito menor volume que agora. Após esse período fiquei compulsiva por doces, toda disciplina que desenvolvi para não consumir açúcar foi por água abaixo e só hoje, há pouco tempo, cerca de 2 anos me sinto recuperada. A alimentação natural tem um universo de possibilidades maravilhosas vale a pena investigar e experimentar e sempre evitar “alimentos” muito industrializados e sintéticos!