Desde milênios, desde que inventou a agricultura – um passo muito sério e talvez fatal na história da evolução orgânica – o homem vem enfrentando os problemas das enfermidades e pragas, ou parasitas, das plantas e animais domésticos. Para citar apenas um caso extremo, basta lembrar a grande fome na Irlanda no séc. XVIII, quando a Phytophtera acabou com as lavouras de batata, causando a morte por inanição de uma quarta parte da população do país e obrigando outra quarta parte a emigrar. A população da Irlanda ficou reduzida à metade. Em menor escala, quem, entre os que apreciam o seu jardim, ainda não se incomodou com a saúva, pulgões e lesmas ou com enfermidades criptogâmicas? (Nota do site: Conferência proferida por José Lutzenberger -1926/2002-, na Sociedade de Agronomia do Rio Grande do Sul, em 1972)
http://www.fgaia.org.br/texts/agroquimica.html
Engº Agron. José Lutzenberger
Desde milênios, desde que inventou a agricultura – um passo muito sério e talvez fatal na história da evolução orgânica – o homem vem enfrentando os problemas das enfermidades e pragas, ou parasitas, das plantas e animais domésticos. Para citar apenas um caso extremo, basta lembrar a grande fome na Irlanda no séc. XVIII, quando a Phytophtera acabou com as lavouras de batata, causando a morte por inanição de uma quarta parte da população do país e obrigando outra quarta parte a emigrar. A população da Irlanda ficou reduzida à metade. Em menor escala, quem, entre os que apreciam o seu jardim, ainda não se incomodou com a saúva, pulgões e lesmas ou com enfermidades criptogâmicas?
Hoje, além de uma maquinaria cada dia mais sofisticada, o agricultor moderno, para resolver seus problemas, tem à sua disposição os adubos químicos e todo um arsenal de venenos químicos os mais diversos, potentes e persistentes, os assim chamados produtos fitossanitários, pesticidas, defensivos ou corretivos: inseticidas, acaricidas, nematicidas, rodenticidas, molusquicidas, repelentes, fumegantes, desinfetantes, fungicidas, antibióticos, herbicidas, defoliantes, algicidas e alguns mais. Cada uma destas substâncias lhe é entregue em formulações sempre mais complexas em que, além dos ingredientes ativos, participa toda uma série de substâncias auxiliares: material inerte, solventes, condicionadores, detergentes, emulsificantes, colorantes, sinergistas e mais alguns.
Entretanto, quem observa a natureza intacta, quem observa um bosque virgem ou qualquer outro sistema natural: tundra, chaparral, savana, cerrado, caatinga, deserto ou banhadal, os ‘lhanos’ da Venezuela ou os campos nativos do Rio Grande do Sul, um recife de corais em mares tropicais, um rio em plena selva, certas microcomunidades bióticas como as comunidades epífitas de nossas velhas figueiras, as pequenas comunidades epífitas dos chapadões e paredões dos cerros e montanhas, ou as associações de organismos de uma rocha de praia de mar, assim como uma infinidade de outros sistemas terrestres ou aquáticos, quem observa tudo isto de olhos abertos, notará logo que em toda a parte estão presentes organismos que costumamos classificar de patogênicos ou de pragas e que, no entanto, são raríssimos os casos de catástrofes como as que podemos tantas vezes observar em nossas lavouras e jardins. Quando realmente sucedem estragos sérios, são sempre localizados e passageiros.
Acontece que a Natureza é incrivelmente complexa, enquanto que nós humanos, em nossos cultivos e criações, achamos que devemos simplifica-la ao máximo, estabelecendo sistemas ultra simples. Numa lavoura de milho consideramos inço ou praga tudo aquilo que não é milho. A natureza costuma fazer o contrário. Nos sistemas naturais é enorme o número de espécies. Quem já observou de perto a selva amazônica, por exemplo, sabe que às vezes pode caminhar centenas de metros para rever uma determinada espécie, tantas são as espécies existentes.
O estudo dos sistemas naturais nos mostra que quanto mais complexo um sistema, quanto maior o número de espécies na comunidade, tanto mais estável; quanto mais simples, tanto mais vulnerável o sistema. A tundra é mais vulnerável que o bosque pluvial tropical, a comunidade marinha da costa da Islândia mais do que o grande recife da Austrália.
Naturalmente, devemos sempre abstrair dos estragos que sabe causar o homem. Contra o fogo e a terraplanagem não há defesa. Assim mesmo, se a Selva Amazônica fosse como as florestas canadenses, talvez já teria desaparecido há muito tempo.
Mas também os sistemas naturais relativamente simples, como a tundra, não apresentam problemas comparáveis aos que encontramos em nossa agricultura. Porque, apesar de relativamente simples, estes sistemas são incrivelmente velhos e todos os organismos ali presentes tiveram um tempo infinito para ajustar-se mutuamente em equilíbrios dinâmicos permanentes. As comunidades naturais são sempre estáveis, enquanto que nossos cultivos são quase sempre sistemas desequilibrados. Uma vez desaparecida a mão do homem, em mais ou menos tempo, desaparecem sem deixar vestígio.
Não somente os sistemas que o homem procura estabelecer são extremamente simples, comparados com a natureza intacta, mas também insistimos em transplantar organismos a condições muito diferentes das em que se originaram. A batata, em seu habitat natural, nos Andes, se adapta a um grande número de condições ambientais diferentes. Existe até uma variedade epífita, mas nenhuma destas formas nativas vive em condições que se comparam de longe com as de uma moderna lavoura de batatas, como as que se podem ver na Holanda, por exemplo.
Os geneticistas, quando selecionam as fabulosas variedades que hoje cultivamos, fazem uma seleção unilateral, simples. Visam o máximo de produção e um aspecto comercialmente atrativo, muitas vezes em detrimento da qualidade alimentícia, e mal tomam em conta os fatores ecológicos. Já na própria estação genética as linhas em seleção recebem doses maciças de adubos químicos e são submetidas a chuvas de pesticidas violentos. Já são selecionadas para condições artificiais.
Além disso muitas das pragas são também organismos introduzidos. Nas condições em que se encontram nas lavouras, faltam quase sempre seus inimigos naturais que os mantinham sob controle no habitat original.
Não é de admirar, portanto, que nossos sistemas extremamente simplificados sejam também muito vulneráveis, que surjam cada dia novas dificuldades, dificuldades que não observamos na Natureza intacta e que aumentam na mesma proporção em que “modernizamos” nossos cultivos.
Enquanto o agricultor ainda estava bastante próximo da Natureza, como era o caso nas agriculturas europeias e asiáticas até poucas décadas atrás, ele mais ou menos se defendia sem ou com pouco adubo químico e praticamente não usava venenos no combate às pragas, mas conseguia, assim mesmo, obter rendimentos constantes, às vezes bastante altos, com plantas e animais relativamente sãos e de elevado valor nutritivo.
A medida, porém, que a agricultura se moderniza, com a mecanização que conduz à monocultura em vastas áreas, à introdução de variedades altamente produtivas, mas também altamente exigentes e sensíveis, e que os modernos métodos têm possibilitado ao agricultor alienar-se cada vez mais da Natureza, à medida que a indústria entrega ao agricultor sempre novos remédios especiais e fáceis, para cada problema real ou imaginário, que se faz agricultura em terras marginais que nunca deveriam ter sido desbravadas e aradas, que se elimina mão de obra pelo uso de herbicidas, que se eliminam os últimos arbustos e cercas vivas, os últimos refúgios de fauna e flora, à medida que avança toda essa artificialidade e dilapidação dos sistemas naturais equilibrados, os problemas das pragas e enfermidades se tornam necessariamente cada dia mais complicados e mais sérios.
Hoje uma grande lavoura de algodão no Texas ou no Egito, com os métodos atuais seria inimaginável sem fortes doses de adubos químicos e um número cada vez maior de tratamentos com sempre novos pesticidas. Um produtor de maçãs no Tirol ou em Marrocos chega a fazer até trinta e mais tratamentos por temporada.
Chegamos, assim, a uma situação de círculo vicioso: quanto mais química, mais pragas e, portanto, mais química. Situação esta muito do agrado das grandes empresas químicas.
Vejamos um caso concreto entre dezenas de casos parecidos: no Brasil ainda comemos laranja manchada. Nosso público ainda não reclama se na casca da laranja, que afinal não se come, aparecem algumas minúsculas cochonilhas. O homem comum, em geral, é cego para os aspectos biológicos e a grande maioria não vê nada. De fato, neste caso, as cochonilhas não fazem absolutamente mal nenhum. O dano é só no aspecto. Mas, nos países tecnologicamente desenvolvidos, com sistemas de comercialização em grande escala e super competitivos, uma laranja assim não tem chance. No supermercado alemão ou americano as laranjas levam carimbo, são de aspecto impecável, umas como as outras. Um inseto, uma mancha, um arranhão e a laranja vai para o refugo. Na época da colheita, na Espanha ou na Itália, podem ver-se montanhas de laranjas, perfeitamente aptas para o consumo, apodrecendo ao lado da estrada. Trata-se de refugo. Na estante do supermercado a laranja mais parece saída de uma daquelas máquinas de extrusão de objetos de plástico do que proveniente de uma árvore que vive.
Para obter aquele fruto de aspecto impecável o cultivador nas Caraíbas ou na região do Mediterrâneo tem que usar inseticidas cada vez mais violentos, em aplicações sempre mais numerosas. Na África do Norte, contra a cochonilha, usaram inicialmente o Parathion. Este inseticida tem o que os técnicos chamam um”espectro amplo”, quer dizer que não é nada seletivo, mata quase tudo (em Marrocos as autoridades até o têm usado para matar pardais. Fazem aplicações de avião, à tardinha, quando os pardais estão reunidos dentro das árvores, em sua costumeira algazarra, antes de dormir. Muito bom apiário desapareceu assim). Este poderoso inseticida controlava satisfatoriamente a cochonilha, mas, devido justamente a este espectro amplo, matou também um sem número de outros organismos, quase todos desconhecidos do agricultor. Entre eles os inimigos naturais dos pulgões e dos ácaros.
Antes do uso intensivo deste inseticida o ácaro e o pulgão ocorriam esporadicamente na região. Não chegavam a incomodar. Mas, com o desaparecimento de seus inimigos naturais, seguiram o exemplo do homem, tiveram sua explosão demográfica. Agora o agricultor, para combate-los, além dos produtos que já usava contra a cochonilha, usa mais um inseticida sistêmico e um acaricida. Três venenos violentos onde antes não era necessário nenhum.
Os predadores desaparecem e as pragas tornam-se sempre mais resistentes aos inseticidas, obrigando ao emprego de sempre novas substâncias em doses sempre maiores.
Não tivesse o consumidor dos grandes centros sido condicionado pelo comércio a só aceitar frutos de aspecto impecável, a produção seria mais barata, haveria menos desperdícios e o ambiente das fazendas, a água dos rios, lagos e mares, a natureza em geral estariam menos poluídos, nossa saúde estaria mais protegida.
A química levou a agricultura a uma situação semelhante de pessoa drogada. O drogado começa com doses pequenas que lhe proporcionam imenso prazer. Acaba tomando sempre mais, com efeito sempre menos satisfatório, até o desastre final.
Os próprios adubos químicos já desencadeiam um ciclo vicioso deste tipo. As primeiras doses de azoto (nota do site: forma antiquada de nominar o elemento químico nitrogênio) produzem efeito espetacular. Mas o agricultor acaba usando sempre mais para manter o mesmo nível de colheita. A microflora e fauna do solo, assim como sua estrutura, acabam degradando-se e desaparecem. Perde-se a capacidade original de fixação do azoto no ar. Alcançam-se então dosificações tais que a maior parte do adubo se perde por lixiviação. O solo se transforma em simples substrato hidropônico. Os rios e lagos morrem pela eutroficação. Nestas condições é impossível evitar desequilíbrios metabólicos nas plantas cultivadas. Não somente sofre o valor alimentício, mas aumenta também a susceptibilidade às enfermidades e pragas. Aparece então o vendedor de pesticidas e começa novo ciclo, ainda mais antiecológico e mais pernicioso.
Há uns trinta anos havia, talvez, uma dúzia de produtos fitossanitários no mercado e seu uso era relativamente restrito. Predominava a procura de soluções biológicas, ou seja, ecológicas, para os problemas das pragas e enfermidades dos vegetais cultivados. Os agrônomos e sanitaristas procuravam combater as pragas pela introdução ou proteção dos inimigos naturais, ou predadores destas. Nos métodos de cultivo procurava-se levar em conta as condições que dificultavam a sobrevivência da praga e favoreciam o predador. Os geneticistas selecionavam variedades robustas e resistentes. O camponês tradicional baseava-se em sabedoria ancestral que consistia, em geral, em métodos que respeitavam até certo ponto os equilíbrios naturais e que eram, por isso, permanentemente sustentáveis. Mas, com a descoberta do DDT durante a última grande guerra, esta situação começou logo a alterar-se profundamente. Era muito mais fácil aplicar venenos que observar a Natureza e pensar em termos ecológicos. A química tomou conta da agricultura. Hoje o índice de produtos fitossanitários americano contém uns 650 herbicidas, 750 inseticidas, 600 fungicidas e mais uns 550 produtos diversos, num total de cerca de2.500 produtos, sem contar os produtos compostos que contém várias substâncias ativas. O índice geral que contém todas as marcas de produtos simples e compostos registra mais de 10.000 produtos. No índice alemão podem contar-se cerca de 1.100 produtos e o índice francês enumera ao redor de 1.400 produtos ( situação de 1969). Mas estes índices nunca estão completos, cada ano aparecem centenas de produtos novos.
Se para o técnico especializado é difícil manter-se a par desta inundação, imaginemos a situação do agricultor. A própria dona de casa está hoje comprando muitos destes produtos na estante do supermercado, ao lado da manteiga e da goiabada.
Todos estes venenos, entre eles os venenos mais violentos até agora desenvolvidos pelo homem, estão à disposição de qualquer irresponsável. Qualquer criança pode comprá-los sem receita na loja da esquina. Qualquer caboclo analfabeto se acha com o direito de largar os biocidas mais fulminantes em qualquer ecossistema sem a menor preocupação. Qualquer prefeito de cafundó, para combater mosquitos ou borrachudos, envenena banhados ou arroios, se considera muito progressista quando aplica algicidas ou herbicidas num lago para matar algas ou aguapés. Os plantadores de arroz não hesitam diante do uso de iscas envenenadas com inseticidas persistentes para livrar-se dos marrecões. Em termos ecológicos isto equivale a entregar bombas atômicas ao público para que as utilize em suas disputas pessoais.
Convém mencionar que, ao contrário do que acontece com os fabricantes de outros ramos, os fabricantes de pesticidas, nos rótulos e folhetos explicativos, deixam bem claro que se isentam de qualquer responsabilidade por eventuais consequências desfavoráveis do uso indevido e, o que é mais interessante e significativo, também do uso devido de seus produtos. Entregam toda a responsabilidade ao comprador. Mas o público não costuma ler estas advertências em letra pequena, como não lê as cláusulas escondidas das apólices de seguro.
Na indústria química o ramo dos pesticidas é hoje um dos mais importantes, com taxas de crescimento fabulosas. As grandes casas internacionais fazem enormes investimentos na pesquisa e conquista de mercados. Ali trabalham milhares de técnicos, químicos, biólogos, farmacólogos, agrônomos e um exército ainda maior de comerciantes. As indústrias tem suas próprias estações experimentais com recursos ilimitados e ainda se servem das estações do estado e de particulares, todas ansiosas em participar nesta cornucópia de remédios fáceis.
A medida que aumenta o mercado e, uma vez existentes as grandes capacidades de produção, procuram-se sempre novas possibilidades de aplicação. Em minha atividade dentro da indústria tive a oportunidade de ser confrontado, inclusive, com folhetos técnicos que recomendavam a destruição de minhocas com chlordano, um hidrocarboneto clorado com todos os inconvenientes do DDT. Assisti a discussões em que agrônomos, a serviço da indústria, homens aparentemente inteligentes, propunham como uma nova ideia genial a aplicação no bosque de um herbicida já fracassado na viticultura devido à sua persistência. Este herbicida matava as vinhas anos depois de sua aplicação porque descia lentamente no solo. Para que propunham eles estes herbicidas no bosque? Para acabar com a vegetação rasteira e facilitar assim o trabalho do caçador que veria melhor a lebre!
Vejamos um caso mais nefasto de conquistas de novos mercados. Trata-se do caso dos “defoliantes” no Vietnam. “Desfoliantes”, neste caso é apenas um eufemismo para uma arma abominável. Trata-se de herbicida, como o 2,4-D, o 2,4,5-T e o pichloram, que são usados em dosificações pelo menos dez vezes superiores às agrícolas, tornando-se assim herbicidas totais. Dezenas de milhares de km² de florestas, sem falar das lavouras, foram assim definitivamente destruídas. Grandes extensões de mangue desapareceram para sempre. Os manguezais são o resultado de equilíbrios frágeis. Destruídos, o dano é irreparável. Os vietnamitas eram uma das poucas civilizações culturalmente elevadas que sabiam viver em relativa harmonia com o bosque. A recuperação dos estragos causados levará séculos. A “defoliação”, que teria como fim apenas tornar visíveis os soldados inimigos, acabou não somente com o bosque, mas com toda a fauna dele dependente. Destruiu-se também uma civilização milenar.
Voltando ao agricultor, ele está hoje tão condicionado e o aparelho comercial continua com todos os meios a doutriná-lo, que já não concebe agricultura sem química. Já não mais espera o aparecimento da praga. As aplicações são feitas segundo um calendário fixo. Não somente ele emprega veneno onde seria desnecessário, ele tende sempre a abusar das dosificações.
O raro técnico que se atreve a sugerir que em determinada situação seja talvez melhor não tratar, ou usar menos produtos, é automaticamente considerado mau técnico. Sempre estará presente o técnico da concorrência com uma boa receita de venenos sempre mais potentes e em combinações sempre mais complexas. Algo parecido ao que está acontecendo na medicina. Muita gente sai do consultório decepcionada se o médico não receitou nada, ou pouco. Este médico não pode ser bom.
E isto nos leva a uma situação interessante e bastante imoral que existe nesse negócio. Imaginem quanto remédio estaríamos tomando se o farmacêutico fosse quem escrevesse a receita. Para os produtos fitossanitários a quase totalidade do assessoramento técnico está em mãos das próprias casas fabricantes e do comércio. É claro que fazem todo o possível para aumentar as vendas e para que não vinguem outros métodos.
Outro exemplo concreto: uma grande casa alemã, fabricante de um herbicida que na Europa deu excelentes resultados na cultura da beterraba açucareira, queria introduzir este produto na África do Norte. O técnico da casa, estacionado na região, argumentou que, por razões sociais e técnicas, o produto não interessaria. A substituição da capina manual pela química deixaria sem trabalho milhares de ‘fellahs’ para os quais isto significaria a fome. Este argumento não interessou. Se o argumento social não pesava, seria de supor que o argumento técnico fosse decisivo. Não era.
Nas culturas açucareiras europeias predominam os inços dicotiledôneos, as plantas herbáceas, contra as quais este produto, à base de pyrazon, trabalha muito bem. Na África do Norte são as gramíneas que constituem problema na beterraba. Contra estas a substância não tem efeito. Um graminicida barato como o TCA seria suficiente. A casa passou então a recomendar uma fórmula especial na base da dosificação normal, muito cara, do pyrazon mais a quantidade necessária de TCA para matar as gramíneas. O pyrazon nesta fórmula é enfeite, não dá vantagem nenhuma ao agricultor, mas encarece consideravelmente o tratamento, além de constituir uma poluição totalmente desnecessária. Obsolescência planejada até na agricultura.
Quando falamos no aspecto social tocamos um aspecto muito grave e sempre esquecido da chamada Revolução Verde. Já que se tornou moda falar da “poluição da pobreza” convém mencionar que muitas das técnicas modernas contribuem para esta pobreza. As modernas técnicas de racionalização do trabalho agrícola surgiram todas nos Estados Unidos ou na Europa. Dentro das estruturas econômicas específicas destas regiões estas técnicas contribuem efetivamente ao enriquecimento social, se bem que a curto prazo. Os custos ambientais ainda não estão computados. O dia em que a Natureza apresentar a conta ela será brutal. Na Europa e nos Estados Unidos, entretanto, toda economia de mão de obra é uma vantagem social. Mas será que isto é o caso na Índia ou na América Latina?
Nos países super-industrializados a pouca mão de obra ainda existente no campo é bem paga e suas rendas aumentam com o incremento da técnica. Na Colômbia ou no Irã, quando aparece o trator, a combinada e o herbicida no campo, explode a favela na cidade. Só o agricultor que já era forte, o homem digno de crédito bancário, pode tirar proveito das novas técnicas. O camponês e o peão perdem a corrida, e vão para a cidade engrossar as massas amorfas de marginais. Naqueles países onde ainda existe o camponês tradicional, apegado à terra, com suas práticas milenares, a Revolução Verde está causando o desmoronamento de estruturas sociais estáveis. O preço é o descontentamento e a frustração das massas com conseqüente instabilidade política.
Durante os últimos trinta anos, a quase totalidade da pesquisa dirigida a resolver os problemas das pragas e enfermidades dos cultivos tomou o caminho da química. É natural. A finalidade da maior parte desta pesquisa não era resolver os problemas da agricultura ou da sociedde, era a de resolver os problemas da indústria. Mas os técnicos agrícolas, mesmo quando não ligados à indústria, de tal maneira se deixaram empolgar pelas soluções simples da química que quase se esqueceram de que há outros caminhos.
Acontece que na química é fácil movimentar muito dinheiro, fazer crescer grandes capitais e burocracias. As grandes casas podem dar-se o luxo de gastar até dezenas de milhões de dólares para descobrir e preparar para o mercado um novo produto de grande aceitação. Este produto, uma vez introduzido, permitirá ganhar centenas de milhões. Mas este problema não é exclusivo das chamadas sociedades capitalistas, é tão grave nos países que se dizem socialistas como entre nós. Lá descobrem menos produtos, mas usam os produtos ocidentais com o mesmo abandono e a mesma irresponsabilidade ecológica.
Por outro lado, para elaborar um método de combate biológico, também se torna necessário gastar grandes somas, movimentar exércitos de cientistas e técnicos por vários anos. Mas, quando o método está pronto, em geral, só quem lucra é o agricultor, nossa saúde e a Natureza. São raros os métodos biológicos que permitem a terceiros ganhar grandes somas.
É claro que este tipo de trabalho não atrai grandes capitais. Os métodos biológicos e integrados terão que ser desenvolvidos pelas estações e instituições do Estado, pelas universidades, pelas grandes cooperativas ou grandes empresas agrícolas particulares. Os países chamados socialistas perderam uma grande chance. Em vez de seguir o exemplo ocidental, deveriam ter se dedicado à pesquisa biológica. Teriam hoje algo a oferecer.
Os métodos brutais do combate químico, pela sua simplicidade, pelo enfoque simplório de simples erradicação, tem uma atração toda especial para os burocratas. Estes burocratas não conhecem, não querem, nem tem capacidade de conhecer a complexidade dos fenômenos em jogo. É muito fácil e parece tão científico falar em termos de tantos cm³ por litro de tal ou qual ingrediente ativo, aplicado em tantos litros por hectare, de preferência por avião, para eliminar este ou aquele inimigo. Não há atração nenhuma em falar em termos de dinâmica de populações, de interação entre praga e predador, em falar na necessidade da conservação de certas comunidades naturais, da necessidade de rotação de culturas, de manutenção de uma certa homeostase natural através de ecossistemas artificiais mais complexos. Tampouco é interessante falar da necessidade de proteção da saúde do solo. É muito mais fácil abrir concorrência de preços para mil toneladas de DDT que estabelecer uma rede de laboratórios, de centros de pesquisa ecológica e de assessoramento. A química oferece soluções tão simples. Todoburocrata, quer seja ele capitalista ou comunista, prefere sempre soluções simples.
Outro importante incentivo para a agroquímica é que ela se presta tão bem para a corrupção. Vejamos um exemplo. Em um determinado país Norte-africano, durante dois mil anos não se empregou nenhum inseticida nas oliveiras. Com os equilíbrios naturais ainda existentes, os danos por pragas de insetos eram os mínimos e aceitáveis. Até que um dia um funcionário do Ministério da Agricultura resolveu importar “progresso”. As companhias logo se precipitaram sobre ele com ofertas de gordas comissões em conta bancária Suíça. A firma que ofereceu a melhor comissão recebeu o pedido que, naturalmente, era bastante grande, calculado, simplesmente, em base às estatísticas quanto a número de árvores. Surgiu assim um interesse criado. As árvores são agora tratadas regularmente. Aparecerão novas pragas e aumentará o número de produtos empregados. As colheitas não aumentam com isso, apenas torna-se mais difícil a vida do agricultor pequeno.
Assim continuamos todos a envenenar cada vez mais o nosso belo Planeta e a nós mesmos.
Levamos mais de vinte anos para dar-nos conta do perigo que representa a introdução do DDT na biosfera. Muitos dos danos até agora conhecidos já são irreversíveis e não sabemos o que está por vir. Assim mesmo a irresponsabilidade continua. Apesar da proibição em vários países, ainda não fecharam as fábricas de DDT. A Organização Mundial da Saúde das Nações Unidas, em sua campanha antimalarial, compra DDT de fábricas que já não podem vender em seus próprios países. Mas já há exceções. A Alemanha ampliou recentemente a legislação que proibia o uso do DDT, incluindo a proibição da fabricação e da exportação.
Se, a partir de amanhã, não se usasse mais um quilo de DDT, ainda assim, por muitos anos, o escoamento desta substância dos continentes aos mares continuaria em aumento, antes de começar a diminuir e não sabemos se a quantidade já existente nos oceanos já não desencadeou processos irreversíveis. Segundo um estudo recente, os peixes de todos os oceanos estão com entre 0,5 e 5 ppm de DDT em seus organismos. Até os pinguins da Antártida, lugar onde nunca foi aplicado o DDT, estão afetados. A águia calva (Bald Head Eagle), pássaro do emblema dos Estados Unidos está em vias de extinção. O pelicano do Golfo do México praticamente desapareceu, o da Califórnia está no mesmo caminho. Muitas espécies seguirão. No Rio Grande do Sul as aves de rapina já começaram a tornar-se raras.
O grande oceanógrafo Cap. Jacques Ives Cousteau, num depoimento que prestou num simpósio das Nações Unidas, expressando suas preocupações pelo estado dos oceanos, declarou que durante os últimos vinte anos, a vitalidade dos mares havia diminuído em 30 – 50% em termos de vida animal e vegetal. Em declarações mais recentes, renomados ecólogos americanos calculam que a perda de biomassa nos oceanos é de cerca de 40%. Naturalmente, os pesticidas persistentes não são os únicos biocidas a poluírem os oceanos. O homem transformou os oceanos em grandes lixeiras. Não sabemos até que ponto vai a capacidade de auto depuração.
s hidrocarbonetos clorados, dos quais o DDT é apenas o mais conhecido, são muito persistentes. Calcula-se que a meia vida do DDT em condições médias é de cerca de 10 anos, ou seja, depois de 10 anos ainda circulam na biosfera 50% da quantidade introduzida. Além de sua persistência estas substância se concentram através da cadeia alimentar. O DDT é quase insolúvel na água mas é acumulado pelas bactérias e algas. Quando estas são consumidas pelo seguinte elo da cadeia, pelos protozoários, verifica-se nova concentração. Cada protozoário, durante sua vida, consome centenas, talvez milhares de algas e bactérias, retendo o DDT destas. O protozoário, por sua vez, é devorado pelo alevino, girino, pequeno crustáceo, pelos vermes, moluscos e insetos aquáticos. Mas a história não termina aí. Todos estes animaizinhos acabam no estômago de organismos maiores: no peixe pequeno que é devorado pelo maior, e assim por diante, até chegar ao peixe que consumimos ou nas aves aquáticas e outros carnívoros. Em cada caso verifica-se uma concentração que pode ser de uma ou várias ordens de magnitude. O que começou com concentrações insignificantes, aparentemente sem perigo algum, termina assim numa concentração que pode ser fatal. No caso do pelicano e de outras aves de rapina é suficiente para interferir no metabolismo do cálcio a ponto de impedir a reprodução. As fêmeas põem ovos sem casca, ou com casca muito fina, que esmagam ao chocar. Convém lembrar que nós humanos estamos na cúspide da pirâmide alimentar.
Esta concentração biológica é também a causa do desaparecimento do predador, ao mesmo tempo que a praga consegue tornar-se resistente. Durante os primeiros tratamentos com uma nova substância tóxica, a praga morre naqueles lugares e nas condições em que for atingida por doses letais. Fora de área tratada, porém, nas margens desta e mais além, ela se encontra exposta a doses subletais. São estas doses subletais que permitem a seleção natural de linhas resistentes. Elas constituem, por assim dizer, uma vacina que opera a nível populacional. Para o predador a situação é bastante diferente. O predador morre na zona letal e morre quase sempre na zona sub letal e além. Isto porque, além da dose sub-letal que recebeu diretamente, ele recebe e acumula em seu organismo as doses subletais absorvidas pelas presas. O acúmulo se torna letal para ele. Desaparece antes que possa aparecer resistência.
O que acontece com os hidrocarbonetos clorados pode acontecer com todos os venenos não biodegradáveis e cumulativos. Convém lembrar a catástrofe da Baía de Minamata, no Japão, onde houve mortes e sérias lesões cerebrais, assim como danos teratogênicos pelo consumo de peixes com altas concentrações de mercúrio. Neste caso o mercúrio provinha dos efluentes de certas fábricas de plásticos, mas o mercúrio também é introduzido na biosfera por certos tratamentos agrícolas, pelos fungicidas mercuriais. Em nossas regiões tritícolas foram enormes os danos às aves silvestres pelos fungicidas mercuriais no tratamento da semente. Já tivemos também o escândalo da semente tratada com fungicidas mercuriais que foi misturada com trigo de consumo.
O mercúrio constitui um perigo, se não quantitativamente, pelo menos qualitativamente, muito
mais grave que o DDT. O mercúrio como elemento, é totalmente indestrutível na Natureza e não sabemos quanto tempo continuará circulando nos sistemas vivos. Muitos dos belos lagos suecos estão hoje interditados à pesca devido à contaminação com mercúrio. Nos Estados Unidos foram condenadas e destruídas grandes partidas de atum pescado em alto mar por estar seriamente contaminadas com mercúrio. Os grandes rios europeus estão todos contaminados. Entre nós este problema está pouco estudado, mas levando-se em conta o fato de estarem sendo usados fungicidas mercuriais em quase toda a lavoura tritícola no tratamento da semente, mais a poluição industrial, é possível que a situação já seja bastante grave.
A única razão porque ainda predominam os produtos mercuriais no tratamento da semente é o preço; eles são mais baratos que outros fungicidas. Aliás esta é também a razão por que se continua usando o DDT.
No organismo humano o DDT ingerido pouco a pouco, em frações de miligramas por dia, é retido no tecido adiposo, onde se concentra. Enquanto se encontra ali depositado não causa prejuízos aparentes, mas quando o indivíduo adoece por outra causa, digamos uma gripe forte numa pessoa de idade, consomem-se as graxas que são as reservas do organismo. O DDT entra então maciçamente em circulação. A enfermidade se agrava pela intoxicação. O médico naturalmente não saberá o que realmente matou o paciente. E há ainda a suspeita de efeito carcinogênico do DDT no homem, por mais que os defensores do DDT digam que nunca se provou tal efeito. Acontece que para prová-lo teríamos que fazer experiências com humanos. Essas experiências, obviamente, não se fazem. Em ratos de laboratório houve efeito carcinogênico.
Os venenos não cumulativos, por sua vez, podem causar danos cumulativos. Estragam lentamente o fígado, os rins e outros órgãos, encurtando a vida. Matam indiretamente e a longo prazo.
Por isso a fixação de tolerâncias para resíduos de pesticidas na alimentação tem pouco
sentido. Com isto não se leva em conta o efeito cumulativo e o fato de que, nas condições atuais, nosso organismo se vê obrigado a arcar diariamente com quantidades homeopáticas de centenas de substâncias com efeitos os mais diversos, quase todos desconhecidos. Este enfoque é apenas cortina de fumaça para permitir a continuação de práticas duvidosas, porém rendosas.
Tal enfoque ignora completamente os possíveis e muito prováveis efeitos sinergísticos entre as muitas substância que ingerimos todos os dias. Não há estudos neste sentido. Estes estudos seriam extremamente difíceis, custosos e demorados. Ignora também os efeitos carcinogênicos, mutagênicos e teratogênicos.
Basta dizer que hoje, pela alimentação que consumimos, pela água que tomamos e pelo ar que respiramos, nosso corpo é constantemente confrontado com toda uma série de espectros de substâncias quase todas biocidas: temos os resíduos dos pesticidas aplicados na agricultura que aparecem na alimentação vegetal e animal; na alimentação animal aparecem ainda os resíduos dos produtos veterinários; temos os resíduos dos pesticidas aplicados nos silos e armazéns para a conservação das colheitas; aparecem os venenos usados nas residências, escritórios, cinemas e restaurantes pelas desinsetizadoras; na elaboração dos alimentos a indústria alimentícia usa toda uma gama de aditivos químicos para a conservação, condicionamento e coloração; inclusive sabores e aromas artificiais; abusamos dos medicamentos, sedativos e tranquilizantes; a água que tomamos e usamos na cozinha naturalmente tem sua lista própria de substância alheias; além do que entra pela boca respiramos todas as porcarias que hoje enriquecem o ar das cidades e do campo também; e não são poucos os venenos que absorvemos pela pele. O homem introduz hoje no ambiente cerca de 500.000 substâncias alheias. Esta lista aumenta de alguns milhares por ano.
A grande maioria destas substâncias são desenvolvidas de maneira empírica, com enfoque tecnológico unilateral. Em cada caso persegue-se um fim restrito e a curto prazo, sem considerações pelos efeitos colaterais, especialmente quando estes efeitos só aparecerão mais tarde ou em outros lugares. Cada técnico supõe que os poucos resíduos que ele deixa não terão importância. Mas acontece que na Natureza e em nosso organismo tudo isto se encontra e reage entre si. Ninguém pode prever o que acontecerá.
Recém agora estamos descobrindo os efeitos perniciosos do 2,4,5-T, já quase tão velho quanto o DDT. Estamos descobrindo que as substância do grupo PCB (bifenil policlorado) constituem problema talvez mais sério e mais fatal que o DDT e seus parentes, mas já estão todos os oceanos contaminados com PCB. Estamos agindo como o aprendiz de feiticeiro.
O lógico seria que não usássemos substâncias das quais não conhecemos os efeitos remotos e a longo prazo, que as observássemos em experimentos controlados o tempo necessário para descobrir todos os seus efeitos adversos. Acontece que a indústria quer ver render rapidamente seus vultosos investimentos e não se sujeita a isso quando não é obrigada a tanto por uma legislação severa. Esta legislação apenas começa a ser elaborada em alguns países. O desastre da Talidomida deixou bem clara esta situação.
Na prática, faltando legislação, se parte do princípio de que, onde não se conhecem os perigos, se supõem simplesmente que não os há. Continua-se fazendo tudo aquilo que não está proibido, e algo mais. Quando aparecem as primeiras calamidades, estas são menosprezadas e se luta contra todo esboço de legislação reguladora. Fala-se do alto sentimento de responsabilidade das casas, que só tem em mente o bem-estar da humanidade e a luta contra a fome. Mas quando os estragos estão à vista, a situação é clara e a proibição se torna total, retira-se o produto do mercado, mas continua-se a vender naqueles países onde os legisladores ainda estão dormindo.
Felizmente esboça-se agora uma reação. Pelo menos nos países tecnologicamente mais desenvolvidos, que são também os que mais sentem os estragos causados pela tecnologia descontrolada. Em 1962 apareceu o livro da grande, já então famosa bióloga americana Rachel Carson, “Silent Spring” (Primavera Silenciosa). Este livro pode dizer-se que ascendeu a primeira faísca da atual preocupação pelo ambiente. Apesar de alguns pontos fracos, logo ferozmente atacados pela indústria, a Senhora Carson, em uma linguagem apaixonada e apaixonante, conseguiu alertar e ser ouvida pelo grande público. Sem este livro provavelmente ainda não teríamos, pelo menos em alguns países, os primeiros passos de uma legislação ambiental. Não haveria ainda retomada de métodos biológicos e integrados na agricultura.
Na Europa e nos Estados Unidos verifica-se uma crescente preocupação pelos resíduos dos pesticidas na alimentação. Muita gente já está disposta a pagar mais por alimentos mais puros, isentos de venenos. Isto levou a um auge na agricultura sem química, até recentemente praticada somente por pequenos grupos de fanáticos, os “biodinâmicos” ou agricultores “agrobiológicos” na Europa e os “organic farmers” nos Estados Unidos. Só na França existem hoje 400.000 ha cultivados pelos métodos agrobiológicos. A demanda de seus produtos ultrapassa de longe a produção.
Ao contrário da agro-química que procura, com os adubos sintéticos e com biocidas violentos, corrigir as consequências dos desequilíbrios causados pelos métodos antiecológicos da agricultura chamada moderna, a agricultura biodinâmica parte de um enfoque preventivo. Em vez de lutar contra a Natureza, ela procura sempre trabalhar com ela. O agricultor biodinâmico vê na Natureza seu maior aliado, não seu inimigo. Os agricultores biodinâmicos são ecólogos práticos. Eles procuram, em seus cultivos, criar ecossistemas artificiais que se aproximem o mais que possível de ecossistemas naturais, que tenham um máximo de homeostase, ou seja, de autorregulação natural.
A razão da grande estabilidade dos sistemas naturais está na rede de arcos de retroação entre a multitude de organismos diferentes presentes. Estas retroações constituem controles naturais, ou controles sistêmicos, isto é, inerentes ao sistema. Todo ecossistema natural é um sistema homeostático, isto é, um sistema dinâmico, porém estável e autorregulado. O que costumamos chamar de “pragas” não é senão a polícia da Natureza que procura sempre restabelecer situações estáveis.
A agro-química, em vez de evitar desde logo os desequilíbrios, ataca os sintomas, substitui controles externos, assistêmicos, aos controles naturais, sistêmicos, controles estes à cuja perda, inicialmente, ela mesma contribuiu em parte. Estes controles artificiais, que são tecnologias unilaterais, cegas, consistem, em parte, na introdução indiscriminada de biocidas no ambiente natural. Com isto se inicia uma cadeia de desequilíbrios sucessivos e crescentes. Torna-se assim necessária a introdução de sempre mais controles assistêmicos. A homeostase natural, gratuita, que não polui e que aprimora o ambiente, fica substituída por uma tecnologia que agride sempre mais a Natureza e que acaba poluindo todos nossos alimentos. O agricultor biodinâmico recusa-se a participar desta corrida suicida.
Um dos fatores mais importantes para a obtenção de colheitas sãs e de alto valor nutritivo é a saúde biológica do solo. A agricultura mecanizada, de monocultura, acaba degradando o solo a ponto de transformá-lo em simples substrato mineral, sem vida e vulnerável a erosão. É sabido que a planta em solo biologicamente são é menos suscetível às enfermidades e muitas pragas. Grande parte dos problemas fitosanitários ficam automaticamente resolvidos em um solo rico em matéria orgânica e com microfauna e microflora protegidas. Se cuidássemos da saúde orgânica do solo, usaríamos uma fração apenas dos pesticidas que usamos e o solo teria maior capacidade de degradação destes pesticidas. A poluição dos cursos d’água seria muito menor.
O caso das infestações com nematóides é um exemplo. Estes vermes microscópicos que atacam as raízes das plantas são muito difíceis de controlar quimicamente. Às vezes, o combate químico custa mais que o valor da terra, mas logo aparece reinfestação. Entretanto, em solos que estão organicamente em ordem, os nematóides tem uma série de inimigos naturais e não chegam a constituir praga.
Teremos que restabelecer também equilíbrios estáveis entre as partes cultivadas e não cultivadas de uma paisagem. Não podemos acabar com o último bosque virgem, o último banhado, a última cerca viva. Não podemos acabar com o último pássaro, a última borboleta. Será necessário conservar partes viáveis de cada ecossistema para que todas as espécies tenham possibilidade de sobreviver, para que haja o máximo de homeostase natural.
Infelizmente, a agricultura está hoje tão drogada na química que não mais podemos eliminar abruptamente os pesticidas químicos, como não se pode negar repentinamente a droga ao viciado. Mas, onde for necessário continuar com meios de combate químico, devemos desistir imediatamente de todas as substâncias que, como o DDT, os mercuriais e outros, são muito persistentes e sujeitas à concentração biológica, ou de substâncias cujos efeitos a longo prazo não conhecemos. Uma nova substância ativa só deveris ser liberada ao público depois de estudos exaustivos sobre todos os efeitos a curto e a longo prazo.
A lista das substâncias no mercado deveria ser reduzida de modo que o agricultor e os técnicos possam realmente aprender a conhecer seus produtos. Seria um grande progresso se conseguíssemos acabar com os nomes comerciais, com as marcas. Só o DDT aparece no mercado sob mais de 50 denominações diferentes.
É a mesma situação da farmacologia, onde a penicilina tem dúzias de nomes diferentes. Os produtos deveriam aparecer no mercado com seus nomes técnicos.
O assessoramento sobre o uso destas substâncias não deve continuar nas mãos dos próprios fabricantes e comerciantes. Este assessoramento deveria ser feito por entidades especializadas independentes, estatais ou particulares. Em alguns casos, e para determinados produtos, a aplicação deveria ser feita exclusivamente por equipes técnicas, nunca pelo próprio agricultor. Vejamos o caso das mortes e intoxicações que houve no tratamento contra o pulgão do trigo na temporada de 1971 no Rio Grande do Sul, assim como a mortandade de gado em Palmeira das Missões e em Guaíba, sem falar no massacre da fauna já tão dizimada.
Estes são problemas que necessitam de soluções políticas além de técnicas e comerciais.
Entre as substâncias disponíveis devem preferir-se sempre as substâncias biodegradáveis. A moderna biologia molecular abre vastas avenidas de investigação, inclusive em campos que poderão tornar-se rendosos para a indústria: hormônios, enzimas, feromônios (substância odoríferas usadas na comunicação entre insetos), atrativos e repelentes, alcaloides, inseticidas botânicos e outros. Teremos então armas bem mais específicas e mais precisas que os atuais inseticidas e herbicidas de largo espectro, com a vantagem de que estas substâncias não continuariam circulando indefinidamente na biosfera. No caso dos hormônios, dos atrativos e das feromônios é pouco provável o aparecimento de resistência, tão comum no caso dos inseticidas correntes.
Os inseticidas de largo espectro são armas brutais e indiscriminadas que na verdade não
honram nenhum técnico – trabalho de elefante em casa de vidro. O agricultor ou o sanitarista só enxergam a espécie que pretendem eliminar, mas aplicam um veneno que mata direta ou indiretamente centenas de espécies, inclusive as que eles mesmos deveriam proteger. Devemos, portanto, procurar trabalhar, sempre que possível, com substâncias que tenham efeito, ou modo de ação, o mais específico possível. Assim, em muitos casos, um inseticida sistêmico, é ecologicamente menos pernicioso que um inseticida de contato, sobretudo se este último é persistente. O sistêmico mataria só os insetos chupadores, o pulgão, p.ex., o de contato mataria também os inimigos naturais da praga que devem ser protegidos.
Existem muitos métodos biológicos, ecológicos e integrados de luta, muitos já conhecidos, outros por descobrir.
As estações genéticas, em vez de concentrar seu trabalho de seleção de novas variedades no máximo de produtividade e no aspecto vistoso, teriam que dar maior importância à verdadeira qualidade alimentícia e à resistência genética contra enfermidades e pragas. Aqui no Rio Grande do Sul já tivemos um grande trabalho desta índole. Basta lembrar o saudoso geneticista Ivar Beckmann, criador do trigo Frontana. Sem estas linhas resistentes à ferrugem não teria sido possível o auge da triticultura gaúcha.
Aqui convém chamar a atenção para outro perigo da revolução verde. Progresso numa direção sempre significa perda em outra direção. Trata-se do perigo genético, ou seja, do perigo do empobrecimento do capital genético de nossos cultivos. As novas variedades altamente produtivas impressionam de tal maneira o agricultor que ele abandona por completo as variedades tradicionais que, se bem que menos produtivas, são em geral de maior valor nutritivo, e representam ótimas adaptações locais. Na Ásia, p.ex., havia milhares de variedades de arroz que estão agora desaparecendo de maneira irrecuperável.
Este grande número de variedades representava um grande e valioso capital genético. As próprias estações, criadoras das novas variedades, se servem deste capital em suas cruzas e seleções. Este capital agora está se perdendo irremediavelmente.
Em futuro próximo não somente será mais difícil, ou impossível, selecionar novas linhas que tenham as novas resistências então necessárias, mas também, e isto é mais grave, a uniformidade genética do material cultivado através de vastas regiões significa vulnerabilidade exponenciada diante das novas adaptações das enfermidades criptogâmicas e das pragas, adaptações estas que surgirão inevitavelmente. Facilmente nos veremos confrontados com calamidades generalizadas para as quais não haverá mais remédio, como no caso da calamidade que assolou a Irlanda no século XVIII mencionada anteriormente.
Também neste ponto estamos pecando contra um dos princípios mais fundamentais da ecologia, o princípio de necessidade da variedade. A homeostase é função da variedade, isto é, do grande número de espécies e variedades. Um sistema é tanto mais estável, tanto mais autorregulado, quanto maior o número de espécies que contém.
Entre os métodos de luta biológica, o método popularmente mais conhecido, que é também uma das armas mais antigas no arsenal de luta contra as pragas, é o dos predadores ou inimigos naturais. Já em 1888, nos pomares da Califórnia, foi possível controlar o pulgão lanígero com outro inseto, a joaninha. Voltando às laranjas, anteriormente mencionadas, em Marrocos, hoje, em uma área destes cultivos, um pequeno grupo de biólogos abnegados conseguiu elaborar um controle biológico que consiste em criar em laboratório e largar na plantação um micro-himenóptero, cujas larvas consomem a cochonilha. Nas plantações onde já funciona este método, automaticamente desaparece o problema do pulgão e do ácaro. Para não prejudicar a vespinha introduzida, o produtor não usa mais inseticidas. Com isto, voltam os predadores destas pragas e restabelece-se o velho equilíbrio.
Muito antes dos herbicidas químicos, os australianos conseguiram controlar a opuntia introduzida da América e que lá se tinha transformado em terrível praga das pastagens. Para isto, vieram aqui estudar os inimigos naturais deste cactus e os levaram para a Austrália. Nos estados sulinos dos Estados Unidos era comum controlar os inços nas lavouras de algodão com gansos. O processo se chama “cotton goosing”, ou seja, “gansear” o algodão. O ganso não toca no algodão, do qual não gosta, mas acaba com todas as ervas e gramíneas. Gosta imensamente do Sorghum halepense (Johnson Grass), uma gramínea muito comum naqueles algodoais e difícil de combater quimicamente. Na Guiana Britânica o “manatee”, nosso peixe-boi, já quase exterminado na Amazônia, mantém os canais de irrigação livres de aguapés e ao mesmo tempo fornece boa carne. No entanto, o Sudão prefere gastar enormes somas com a importação de herbicidas sistêmicos para controle da Eichhornia, nosso aguapé, que lá entope barragens e turbinas. Assim, se polui desnecessariamente o Nilo com substâncias que estão sob suspeita de serem carcinogênicas.
Notem que não gostamos de usar o termo “erradicar”, preferimos sempre “controlar” ou “combater”, nunca “exterminar”. Na natureza todas as espécies são importantes e não devemos nunca procurar exterminar nenhuma delas, por mais que ela nos possa parecer detestável no momento. O próprio mosquito é importante, sua larva serve de alimento aos alevinos dos peixes que desovam nos banhados. Os adultos alimentam andorinhas e morcegos. Tampouco sabemos quais os usos que nós humanos acabaremos inventando para espécies aparentemente sem importância. Que seria da biologia molecular, da moderna genética molecular, se tivéssemos exterminado a Drosophila melanogaster uns 50 anos atrás. Muito mais afastados estaríamos de uma possível cura do câncer.
Outro método de luta biológica é o dos agentes patogênicos. Já existem alguns produtos no mercado, o Bacillus thuringiensis, p. ex. Há possibilidades de trabalho com vírus e protozoários. Nesta avenida de investigação poderão ser encontradas armas bem específicas. Os laboratórios bélicos das grandes potências, que gastam bilhões na investigação de armas biológicas para matar gente e colheitas, bem que poderiam dedicar-se a controlar biologicamente as pragas dos cultivos.
Outro caminho que promete muito e que já deu grandes resultados com algumas espécies é o método dos machos esterilizados. Cria-se em laboratório a espécie que se quer combater e produz-se enormes quantidades de machos esterilizados, porém, não impotentes. Isto se obtém com determinadas dosificações de raios X com certas substâncias químicas. Os machos estéreis são largados nas regiões infestadas. Cada fêmea que se acasala com um macho estéril produzirá ovos estéreis. Com aplicações subsequentes chega-se rapidamente a níveis aceitáveis na população da praga. Este processo foi usado com êxito em Curaçao, nas Antilhas Holandesas, e atualmente está sendo usado na Flórida contra a mosca da bicheira do gado. A elegância deste método e dos demais métodos biológicos está em que são perfeitamente específicos. Só são atingidas as espécies que se quer atingir, sem os danos imprevisíveis e generalizados dos produtos químicos.
Existem também possibilidades nas associações de plantas, isto é, no cultivo associado de plantas que atraem ou afugentam pragas. A Tagetes, p. ex., exsuda em sua raízes uma substância que afugenta nematóides. Alternada com tomates em solos infestados protege o tomate. O custo é muito inferior ao dos nematicidas. Em Cuba, obtiveram-se ótimos resultados no controle de uma lagarta do milho, pela intercalação, cada oito metros, de uma linha de girassol. O girassol atrai a lagarta e é consumido, evitando o ataque ao milho. No sul da França é comum o milho entremeado com o algodão, como isca para as pragas deste. A agricultura tradicional conhecia muitas práticas deste tipo. Infelizmente estas práticas estão se perdendo por causa da química. Convém reavivá-las e modernizá-las. Os agricultores biodinâmicos são repositório de grande cabedal de conhecimentos deste tipo.
O caminho que deveria de ser seguido imediatamente, como transição para uma agricultura mais natural, é a luta integrada. A luta integrada consiste no uso judicioso dos pesticidas químicos. Usa-se um mínimo de substâncias biocidas nos momentos e nas condições ecologicamente mais indicadas para um efeito o mais específico possível, preferindo-se sempre as substâncias biodegradáveis e de efeito restrito. Um exemplo de luta integrada é o combate da mosca do mediterrâneo (Ceratitis), com atrativos orgânicos e inseticidas sistêmicos. Em vez de tratar todo o pomar com um inseticida total que, além de matar a Ceratitis, causaria grandes estragos nos demais insetos, entre os quais muitos predadores importantes, trata-se somente uma em cada três ou quatro linhas de árvores com uma mistura de atrativo (isca) e inseticida sistêmico. Só a Ceratitis é atraída pelo atrativo, neste caso um hidrolisato de proteína, e é destruída. Nas linhas não tratadas sobrevivem os demais insetos. Assim a interferência no equilíbrio natural é mínima.
São numerosos também os problemas especiais, alguns de índole não agrícola, suscetíveis de soluções não biológicas ou ecológicas. A Austrália está atualmente introduzindo umas 40 espécies de escaravelhos estercoreiros africanos. Na Austrália, antes da colonização, não havia herbívoros grandes. Faltavam, portanto, os estercoreiros capazes de desmanchar o esterco de vaca. No Rio Grande do Sul, pela mesma razão, temos o mesmo problema. O esterco seca no campo, transformando-se em algo que seria mais útil como combustível do que para reciclar a matéria orgânica. Os estercoreiros africanos que evoluíram conjuntamente
com os grandes herbívoros resolvem perfeitamente este problema.
Se apenas uma fração do dinheiro já gasto na pesquisa química tivesse sido gasta para a pesquisa biológica, talvez já teríamos resolvido a maioria dos problemas, evitando um dos aspectos mais graves da poluição ambiental e da degradação ecológica.
Uma coisa é certa. Até o fim do século teremos que encontrar uma maneira de alimentar mais uns três e meio bilhões de humanos. As áreas de terras aráveis não aumentarão. Atualmente, só pela erosão, estamos perdendo 5.000.000 de ha anualmente, uma superfície que corresponde aproximadamente à quinta parte do Rio Grande do Sul. Só pelo aumento da produtividade por unidade de área poderemos resolver o problema. Mas, se o fizermos com os métodos atualmente em voga, isto é, com sempre mais química indiscriminada, a poluição de continentes e mares será exponenciada de tal forma que a Ecosfera não mais aguentará o abuso.
Temos que procurar novos caminhos, e temos que procura-los já.
A problemática dos efeitos adversos do uso indiscriminado da química na agricultura é outro aspecto dos graves problemas ambientais que hoje confrontamos, consequência de nossos enfoques setorizados, de onde resulta uma tecnologia unilateral e míope. O homem do campo, hoje um dos mais alienados diante da Natureza, terá que voltar a abrir os olhos para ela.
O perigo não reside na ciência e na tecnologia em si, está na maneira como nos servimos delas. O que está errado não é a ciência, é nossa filosofia que precisa ser radicalmente reformulada. Se desrespeitamos a Natureza a ponto de preparar nossa própria extinção, é porque temos uma filosofia antropocêntrica, que quer que o homem seja o dono do Universo. A Natureza para nós é apenas uma massa amorfa, moldável a nosso bel prazer. Na magnífica baleia enxergamos apenas tantas toneladas de matéria prima para fabricar sabão ou margarina. Esquecemos que somos apenas um entre uma infinidade de atores, dentro deste fabuloso processo que é o caudal da vida neste astro. Se não conseguirmos aprender que não estamos por fora, por cima e contra a Natureza, mas que somos parte integrante dela, não teremos futuro.
Aqui vai um apelo ao Ministério da Agricultura, às Secretarias de Agricultura, às Universidades e às empresas agrícolas para que se empenhem na pesquisa de métodos de controle biológico e integrado.
Não estão agora em causa “valores” político-econômicos como capitalismo contra feudalismo, socialismo contra capitalismo ou democracia contra tirania, mas a vida de todas as espécies animais, nas quais estão compreendidos o homem e os vegetais. Numa palavra, toda a vida orgânica do planeta.
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