A dor dos corpos roubados.

Enquanto os povos Kaiowá Guarani, através de uma comissão do Conselho da Aty Guasu, estão desencadeando um amplo processo de mobilização e debate entre as comunidades e com órgãos do governo, a sociedade civil pelo mundo afora continua  manifestando seu repudio e solidaredade à comunidade de Guaiviry.

 

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=49775

 

25/11/2011

 

“O sangue derramado por Nisio não será em vão. Já são mais de 200 pessoas no acampamento, estando previsto a chegada de mais algumas dezenas. Ontem os representantes nacionais da secretaria especial de Direitos Humanos visitou a comunidade e garantiu que a guarda nacional continuará dando segurrança aos indios por tempo indeterminado. Aguardam ansiosamente a localização do corpo de Nisio para poderem realizar o sepultamento no tekohá Guaiviry”, escreve Egon Heck do Conselho Indigenista Missionário – Cimi-MS, ao enviar o artigo que publicamos a seguir.

Eis o artigo.

Dia 31 de outubro de 2009. Os Kaiowá Guarani acampados no tekohá Ypoí são atacados. Vários índios são feridos, os barracos destruídos. Os professores Guarani Jenivaldo e Rolindo são levados pelos assassinos. O corpo de jenivaldo foi encontrado no rio Ipo’y, sete dias depois de raptado. O corpo de Rolindo até hoje não foi localizado.

Em dezembro de 2009. O grupo do tekohá  Mabarakaí, município de Iguatemi, retornou , pela segunda vez, a seu Tekohá. Poucos dias depois são atacados por jagunços, resultando vários feridos, dentre os quais Arcelino Texeira, de 22 anos. Sua mãe, em depoimento, afirma que viu o corpo do filho estendido no chão. O corpo nunca foi encontrado.  Com lágrimas a mãe narra os acontecimentos.

Dia 18 de novembro 2011. O cacique Nisio do tekohá Guaiviry é morto com três tiros de espingarda, diante de pessoas de seu grupo. Seu corpo é arrastado e jogado na carroceria de uma camionete. Até o momento não se tem nenhuma notícia do corpo.

Não existe dor maior do que a de não poderem dar sepultamento aos corpos dos entes queridos, para que seu espírito amainado possa estar em paz e restabelecer a tranqüilidade na comunidade. Enquanto isso não acontecer todos os membros do grupo ficam em permanente estado de tensão e aflição.  Por isso os familiares de  Rolindo, Arcelino e de Nizio clamam pela localização e entrega  dos corpos para que possam realizar os rituais necessários para  que as comunidades possam  viver em paz.

O cinismo e a impunidade

No caso do corpo de Nisio, sequestrado e ocultado há cinco dias (no Brasil ou no Paraguai), a Policia Federal afirma que “o suposto corpo ainda não foi encontrado e o caso tratado como desaparecimento pela Polícia Federal, que investiga o ataque. (Midiamax, 23 de novembro)”.

Com relação à morte e ocultamento de corpo de Rolindo Vera e a sugestão da Polícia Federal de arquivamento do processo por falta de provas, assim se expressa o procurador da República em Ponta Porá, Thiago dos Santos Luz – que aproveita para criticar o trabalho da Polícia em relação ao caso: “É intrigante constatar que pelo menos seis indígenas, as únicas testemunhas oculares dos fatos, em depoimentos detalhados, verossímeis e harmônicos, prestados logo após os crimes, tenham expressamente nominado e reconhecido três indivíduos que participaram direta e pessoalmente do violento ataque a Ypo´i e nenhuma delas tenha sido sequer indiciada pela autoridade policial, que concluiu o caso sugerindo o arquivamento. Pergunto-me: quantos testemunhos mais seriam necessários? Depoimentos de índios não valem nada?”, diz.

No dia 14 de outubro, lideranças indígenas, após ritual e denúncia diante da sede do Ministério Público em Ponta Porã, seguiram, juntamente com o procurador Thiago dos Santos Luz, para entregar a denúncia na Justiça Federal e na Polícia Federal. Infelizmente passado mais de um mês, a Justiça Federal não se manifestou a respeito do pedido do indiciamento dos seis acusados e da reabertura do inquérito.

Muitos boatos, acusações e intimidações correm na região. A Polícia Federal se refere aos fatos como havendo apenas um “desaparecimento”, utilização exclusiva de balas de borracha. Há pessoas que chegam ao absurdo de dizer que o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) estaria escondendo Nísio. Outros afirmam que nada sabem e nada aconteceu no município de Aral Moreira, no Guaiviry.

Para ler mais: