As grandes organizações ambientalistas têm uma responsabilidade tão grande quanto os climato-céticos na atual regressão da política ambiental. Esta é a tese defendida pela jornalista altermundialista Naomi Klein. Segundo ela, a escolha de colaborar com as grandes empresas e a ideologia neoliberal só pode levar ao fracasso. Sua posição provoca um importante debate nos Estados Unidos.
http://www.ecodebate.com.br/2013/09/24/o-desabafo-de-naomi-klein-contra-a-alianca-dos-ambientalistas-com-os-capitalistas/
Por Hélène Crié-Wiesner e Hervé Kempf, em Reporterre. Traduzido do francês por Stéphan Bry
A famosa jornalista canadense, militante altermundialista conhecida por seus livros “No logo” e “A estratégia do choque”, acabou de desencadear uma polêmica dentro do movimento ambientalista norte americano.
Há dois anos, Naomi tinha escrito no jornal The Nation que o militantismo climático e o capitalismo são incompatíveis. Ela observava que os climato-céticos o eram por razões ideológicas: eles entendem muito bem que se a mudança climática ocorre, a única maneira de escapar de suas consequências é questionar o sistema econômico atual, o capitalismo. Segundo ela, a única resposta adaptada à ameaça climática é a “pulverização da ideologia do mercado livre que está dominando a economia há mais de três décadas”.
Ela segue nesta ideia acusando os principais grupos ambientalistas de não ter entendido esta verdade elementar, o que os levou a fazer alianças culpadas com as grandes corporações.
Os “Big Greens”, péssimos líderes
Eis uma tradução parcial das opiniões de Naomi, numa longa entrevista no Earth Island Journal:
”O movimento ambientalista tem mostrado uma profunda negação quando se trata dos “Big Greens”, as principais organizações ambientais. Creio que fizeram mais danos que os negacionistas climáticos de direita. Se perdemos tanto tempo, é culpa delas que nos levaram numa direção que ofereceu resultados deploráveis.
Examinando o que aconteceu depois do protocolo de Kyoto na última década – os mecanismos da ONU e aqueles implantados pela União Europeia – dá para perceber o quanto foi desastroso. (…)
A direita tinha combatido as trocas de permissão de emissão alegando que isso nos levaria à falência, que era a distribuição de esmolas para as grandes empresas, além do fato de que não iria funcionar. A direita tinha razão! Não em relação à falência da economia, mas pelo fato que se tratava de presentes enormes para as grandes sociedades. Ela tinha também razão na sua previsão do que estes mecanismos não nos aproximavam do que desejavam os cientistas, a diminuição das emissões. Então, por que os grupos verdes insistiram nesta direção?”
Naomi Klein observa que “o nível de redução das emissões de que precisamos nos países desenvolvidos é incompatível com o crescimento econômico”.
Ela lembra que, nos anos 1970, o movimento ambiental era muito poderoso e tinha conseguido impor medidas legislativas para reduzir a poluição. Mas, com a eleição de Ronald Reagan à presidência dos Estados Unidos, uma política oposta ao meio ambiente foi implementada. E, em vez de resistir, os movimentos ambientais escolheram colaborar com as grandes empresas. Ela cita Fred Krupp, o presidente de Environmental Defense Fund, uma importante ONG estadunidense, que afirmou claramente esta política. Acontece – o que ela não diz – que Fred Krupp é um participante regular do grupo Bildelberg, que reúne a cada ano grandes patrões e responsáveis políticos para definir a política neoliberal a ser aplicada no mundo.
Assim, explica Naomi, “para os ambientalistas, tratava-se de estabelecer alianças com as empresas. Eles não pensavam “ataquemos estes bastardos!” mas “trabalhemos juntos, os bastardos e nós!” Isso significa designar as corporações como atores voluntários da solução.
“Nós globalizamos um modelo econômico insustentável de hiperconsumismo. Ele está se espalhando com sucesso no mundo e ele nos mata. (…) Os grupos ambientalistas não foram espectadores deste fenômeno; eles foram parceiros. Eles queriam fazer parte disso”.
As grandes ONG’s ambientais aceitaram e apoiaram o tratado de livre-comércio entre Canadá, Estados Unidos e México, Alena, apesar das diminuição das proteções do meio ambiente que ele implicava.
“Eu não digo que tudos os grupos foram cúmplices: nem Greenpeace, nem os Amigos da terra, nem o Sierra Club. Também não o 350.org, que não existia ainda. Mas isso data das raízes do movimento. (…)
Estas elites históricas tinham decidido salvar a natureza, e elas eram respeitadas por isso. Então, se o movimento ambientalista tivesse decidido combater as empresas, suas elites teriam corrido o risco de perder sua aura, e ninguém estava pronto para assumir isso. Penso que esta situação está na origem do atual nível das emissões de gás do efeito estufa. (…)
A estratégia do chamado win-win é um fracasso, lamentavelmente. Era a ideia geral das trocas das permissões de emissão. Os grupos verdes não são tão experts como eles acreditam. Eles jogaram numa escala grande demais. Muitos de seus parceiros tinham um pé no Climate Action Partnership e o outro nas Câmaras de Comércio.”
Naomi Klein observa que na Europa, as coisas estão mudando num outro sentido. Mais de cem organizações tomaram posição para acabar com o mercado do carbono. “É o tipo de coisas que nos devemos fazer agora. Nós não temos mais o tempo para perder”.
A primeiras respostas indignadas – e argumentadas – começam a aparecer. O site ClimateProgress escreve:
“Não só ela está errada como ela está profundamente errada. Sua visão revisionista é errada, e é contradita por suas próprias prescrições políticas.”
O site destaca que na Europa, as emissões de gás carbônico diminuiram, o que ele atribui ao mercado das emissões dito ETS (European trading system):
Evolução das emissões de CO2 e do PIB na União Europeia. Fonte: Climate Progress
A resposta de Naomi Klein, publicada no seu site, é que esperem a saída de seu próximo livro, previsto para 2014.
A crítica das grandes ONG’s ambientais já foi feita na França. Em Quem matou a ecologia (Qui a tué l’écologie, ed. Les liens qui libèrent, 2011), o jornalista Fabrice Nicolino atacou o WWF, FNE e Greenpeace por causa de suas políticas de colaboração com as grandes empresas e o governo. Também em Como a globalização matou a ecologia (Comment la mondialisation a tué l’écologie, ed. Les Mille et une nuits, 2012), Aurélien Bernier mostra que a ideologia neoliberal influenciou fortemente o movimento ecologista a partir dos anos 1980.
Matéria socializada pelo blogue Racismo Ambiental, de Tania Pacheco.
WWF “negocia” com o governo a construção de
hidrelétricas na bacia do Tapajós
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/523854-wwf-qnegociaq-com-o-governo-a-construcao-de-hidreletricas-na-bacia-do-tapajos-
Foto: http://bit.ly/14jAZTt |
No auge da resistência dos povos amazônicos contra as hidrelétricas, uma grande e respeitada organização internacional, utilizando todo o seu poder econômico, de mídia e de histórica aproximação com o governo brasileiro, resolveu que poderia dar um empurrão em projetos que põem em risco a Amazônia.
O comentário é de Telma Monteiro, publicado em seu blog, 18-09-2013.
O que menos precisamos neste momento é da metodologia desenvolvida pela WWF, para definir áreas ambientais prioritárias, que está sendo usada para “negociar” com o governo onde pode e onde não pode construir hidrelétricas na Amazônia. A ferramenta se chama Sistema de Apoio à Decisão (SAD). O objetivo seria estabelecer uma estratégia para a Amazônia. Mas, estabelecer essa estratégia é prerrogativa dos povos amazônicos, antes de qualquer organização pública ou privada.
Na introdução, o respeitado jornalista Mario Osava, a quem já concedi entrevista, descreve a bacia do Tapajós como uma cornucópia de benesses naturais. Menciona o ouro, garimpo e a hidrovia planejada pelo governo como a solução para o escoamento do agronegócio de Mato Grosso. Ao considerar a bacia do Tapajós “o centro de batalha decisiva entre o aproveitamento hidrelétrico e a preservação da Amazônia”, Osava acaba criando uma falsa sensação de segurança ambiental. A exploração do potencial hidrelétrico em troca da falácia de preservar o que chama de “parte vital do bioma amazônico”.
Extraí um trecho da entrevista de Pedro Bara Neto, líder de Estratégia de Infraestrutura no programa Amazônia Viva da WWF, concedida ao jornalista Mario Osava, na IPS/Envolverde.
“IPS: Que outras usinas são rejeitadas pelos critérios do modelo do WWF?
PB: A usina de Escondido também, inclusive porque alagará muito, cerca de mil quilômetros quadrados, para gerar 1.248 MW. É o dobro da área a ser inundada por Belo Monte que terá capacidade quase dez vezes maior. De todos os projetos, Escondido é o pior em termos de relação entre lago e geração. Mas se há uma que não podemos aceitar de jeito nenhum é Chacorão. E entre as duas estão Salto Augusto (1.461 MW) e São Simão (3.509 MW), também problemáticas, por localizarem-se no Parque Nacional de Juruena. Todas as quatro ficam dentro do grande bloco central a conservar.
IPS: Mas o governo aceitaria negociar São Luiz do Tapajós (6.133 MW), que é estratégica?
PB: Não, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério de Minas e Energia, já deixou claro que, embora considere ótima nossa ferramenta, não negocia São Luiz nem Jatobá (2.338 MW), mesmo se as nossas análises as rejeitassem. Com estas, mais algumas de menor impacto, pode-se alcançar metade do potencial da bacia sem comprometer a diversidade biológica e cultural do bloco central. Há espaço para negociar.
O diretor fala de critérios da WWF desenvolvidos para rejeitar algumas hidrelétricas em troca de outras. O mapa gerado pela aplicação metodológica “doada” ao governo considera todos os projetos hidrelétricos no rio Teles Pires como sendo de baixo impacto. Um deles, a UHE Teles Pires, acaba de ter suas obras paralisadas por decisão judicial do desembargador Souza Prudente que entendeu que os estudos ambientais deixaram de considerar os impactos aos indígenas e que a sua construção já destruiu patrimônio cultural e religioso dos índios da região. Isso jamais poderia ser considerado “baixo impacto”. Certo, Pedro Bara?
Outras duas hidrelétricas que no entender científico da WWF são consideradas de baixo impacto são UHE São Manoel e UHE Foz do Apiacás, ambas projetadas a menos de 500 metros da Terra Indígena Kayabi. Pareceres etnoecológicos entregues à Funai e ao Ibama demonstraram que a construção dessas hidrelétricas trariam sérios impactos à biodiversidade com ameaças à sobrevivência de espécies de peixes e de outros animais.
Em outra entrevista a IPS, o diretor da WWF diz que “na guerra pelas grandes usinas hidrelétricas perdem todos, inclusive os vencedores, que conseguem construí-las, mas com atrasos, custos estéreis e a imagem abalada.” Quem está preocupado com os prejuízos e imagem abalada dos “vencedores” que fizeram opção errada de construir hidrelétricas desrespeitando meio ambiente, populações tradicionais, ministério público, ativistas, pesquisadores, cientistas? Nossa preocupação está com os únicos perdedores, ou seja, a sociedade brasileira, os indígenas, os ribeirinhos, os rios, florestas e com o futuro que realmente queremos.
Pedro Bara ainda diz que “algumas usinas são inaceitáveis, como Chacorão (no alto Tapajós, capacidade de 3.336 MW). Fica dentro da terra Munduruku.” Primeiro, há legislação que impede a construção de hidrelétrica em TI, não é preciso uma organização dizer que é inaceitável, pois é ilegal. Segundo, dessa fala se depreende que as demais hidrelétricas planejadas, mesmo que estejam a poucos metros de alguma terra indígena e que provocariam impactos irreversíveis, seriam aceitáveis.
Quem teria concedido à WWF o poder de negociar com o governo com relação às hidrelétricas na Amazônia? Afinal, a organização é conhecida pelo ativismo ambiental e isso poderia criar uma interpretação equivocada na opinião pública. As decisões do governo sobre o planejamento hidrelétrico teriam, então, uma chancela dos ambientalistas.
Aí, indignada, eu pergunto se não seria muito construtivo e revelaria respeito aos povos e rios amazônicos e à biodiversidade, se todo recurso empreendido na pesquisa, conhecimento gerado e força de persuasão fossem utilizados de outra forma? Poderiam, por exemplo, mostrar que o projeto de exploração do potencial hidrelétrico na Amazônia corre riscos, como demonstra a anunciada diminuição da vazão dos rios que, em alguns casos, poderá chegar aos 30%. Não seria mais didático influenciar o governo a criar “ferramentas e metodologias” de incentivos às fontes genuinamente limpas de energia elétrica e de programas de eficiência energética?
Embora o entrevistado mencione os povos indígenas, a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o consentimento prévio e informado, o foco da metodologia remete apenas à preservação do bioma. O componente humano – indígenas, populações tradicionais – parece entrar no contexto como parte da estratégia de sensibilização da opinião pública.
Causa espanto a legenda da foto abaixo: “Pedro Bara explica a indígenas e ativistas a ferramenta desenvolvida pelo WWF para orientar negociações diante do avanço de hidrelétricas e outros grandes projetos na Amazônia”. A construção das hidrelétricas que afetarão os indígenas será um fato consumado?
Foto: Cortesia Denise Oliveira/WWF Iniciativa Amazônia Viva |
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ANTUNES
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Grato pela mensagem, felicidades, Luiz.