Relatório Especial: A campanha da Syngenta para proteger a atrazina, desacreditando as críticas.

Para proteger os lucros ameaçados pela ação judicial sobre o seu controvertido atrazina, a Syngenta Crop Protection iniciou uma campanha agressiva com milhões de dólares que inclui a contratação de agência de detetives para investigar cientistas de uma comissão federal de consultores e especialistas, além de vasculhar a vida pessoal e montar um perfil psicológico do cientista mais crítico da atrazina. A transnacional suíça de agrotóxicos também rotineiramente paga “aliados terceirizados” para parecerem ser apoiadores independentes à atrazina, além de manter uma lista de 130 pessoas que pode convocar como especialistas sem revelarem os vínculos que as une à transnacional.

 

http://www.environmentalhealthnews.org/ehs/news/2013/atrazine

Will Fuller/Flickr

By Clare Howard
100Reporters e Environmental Health News

June 17, 2013

Recentemente, documentos judiciais de livre acesso revelaram a estratégia corporativa para desacreditar seus críticos e a desgastar os reclamantes em quaisquer tipos de ações judiciais sobre a corporação. A empresa direcionou especificamente a um dos críticos mais ferozes e mais francos quanto à atrazina, o cientista Tyrone Hayes, da Universidade da Califórnia em Berkeley, cuja pesquisa sugere que este herbicida feminiza sapos machos. A campanha está plasmada em centenas de páginas de anotações, faturas e outros documentos na Corte de Justiça da cidade de Madison em Illinois. Inicialmente elas foram juntadas como parte de um processo de 2004 arquivado no distrito sanitário de Holiday Shores.(nt.: distrito da cidade de Edwardsville, no condado de Madison, no estado de Illinois/EUA).  Os novos documentos, juntamente com parcela anterior, abrem uma janela sobre a estratégia da empresa para ganhar uma ação judicial que poderia efetivamente ter acabado com as vendas da atrazina nos Estados Unidos.

O pesquisador e cientista Tyrone Hayes é quem tem as pesquisas que sugerem de que a atrazina feminiza os sapos machos. A campanha que a transnacional implantou nos EUA, está demonstrada em centenas de páginas de notas, faturas e outros documentos na justiça de Madison em Illinois.

USG.Um processo procurou determinar que a Syngenta excluísse a atrazina de bacias hidrográficas em seis Estados dos UA.

O processo originalmente decidiu reforçar a necessidade de que a Syngenta deveria cobrir os gastos de remoção da atrazina presente na água potável da cidade de Edwardsville, Illinois, na fronteira com Missouri, a nordeste da capital St. Louis. Atualmente foi expandido para incluir mais de 1.000 sistemas de tratamento de água que cobrem seis estados nos EUA.

Para a transnacional suíça Syngenta que teve rendimentos de $14.2 bilhões de dólares no último ano, a aposta do litígio era muito alta. A atrazina tornou-se popular entre os fazendeiros nos EUA, desde os anos 50 em razão de ser efetiva e econômica na matança, em amplo espectro, de ervas espontâneas. Em torno de 35 mil toneladas são aplicadas a cada ano, nos EUA, de acordo com a agência ambiental norte-americana, U.S. Environmental Protection Agency/EPA. A maioria é aplicada em milho no Meio Oeste. Três quartos de todo o milho dos EUA são tratados com atrazina, mas este agrotóxico também é empregado em campos de golfe, em canteiros de pinheirinhos de Natal e terrenos públicos.

Este herbicida vem provocando controvérsias, há muito tempo, junto à EPA que revalidou seu emprego recentemente, em 2003, mas planeja reiniciar nova avaliação de seu registro durante este ano em curso.

A pesquisa vem mostrando que este herbicida é propenso a lixiviar dos locais espaços de cultivos onde é aplicado e contaminando os mananciais de água. Ele também deriva centenas de quilômetros nas aspersões por via aérea além do sítio de aplicação.

Relativamente poucos estudos têm examinado seus efeitos sobre a saúde, focando no ser humano. Os que têm sido feitos, demonstram de que ele age como um disruptor endócrino, significando assim que ele pode bloquear ou mimetizar hormônios. Alguns estudos humanos têm sugerido ainda que ele pode afetar a fase fetal provocando a redução da qualidade dos espermatozoides quando os fetos machos se transformam em homens adultos. Um estudo da Universidade de Indiana detectou que as mulheres que vivem em áreas com alta presença de atrazina na água, têm tido crianças com altas taxas de certos defeitos genitais congênitos.

O caso de Holiday Shores se transformou em uma ação coletiva, que, finalmente, estabeleceu-se em 2012, após 8 anos de litígio. Apesar de não admitir sua culpa e responsabilidade, a empresa suíça concordou em indenizar com US $105 milhões de dólares, no ano passado, para custear a filtragem das águas nos sistemas de tratamento de mais de mil comunidades em Illinois, Missouri, Kansas, Indiana, Iowa e Ohio.

A descoberta de documentos do processo judicial foram desvelados pela Corte de Justiça do Madison County Circuit em resposta à lei dos EUA que estabelece a liberdade de circulação da informação (nt.: Freedom of Information Act) pela solicitação feita pela ONG 1ooReporters, que agrupa jornalistas investigativos.

Rochester Institute of Technology  – Os documentos mostram o arquivo criado pela Syngenta sobre o pesquisador da Universidade da Califórnia em Berkeley, Tyrone Hayes.

Em uma declaração previamente articulada, a Syngenta defendeu suas ações, descrevendo o processo como uma tentativa de liquidar com as vendas da atrazina nos EUA. A empresa escreveu em um e-mail de que os reclamantes desta demanda para o recebimento do reembolso das despesas de limpeza da atrazina da água tratada, , “poderiam ter efetivamente banido o uso deste produto questionado que vem sendo a espinha dorsal do controle seguro de ervas invasoras por mais de 50 anos”.

Os documentos mostram que a companhia orientou para que se fizesse buscas quanto a vulnerabilidades de um juiz como também na vida pessoal do pesquisador Hayes. Sherry Duvall Ford, antiga chefe de relações públicas da Syngenta, classificou as estratégias que a empresa poderia estar utilizando contra Hayes como sendo de risco, conforme suas anotações em um encontro da firma,, em abril de 2005. Suas anotações foram: “Uma possibilidade: ‘oferecer cortá-lo de fundos ilimitados de pesquisa’. Outra: investigar sua mulher”.

Em seu depoimento, ela leu um memorando que remeteu por email aos seus colegas de que a Syngenta havia contratado uma agência de detectives para investigar os membros de uma Comissão Consultiva da EPA (nt.: EPA Scientific Advisory Panel [SAP]) que estava examinando a atrazina.

“Não acho que seria útil se todos soubéssemos que pesquisávamos os membros da Comissão”, declarou Ford. “A melhor coisa eu deixei para mim mesma . Tim, se chegar uma nota de cobrança de uma agência de detectives, passe adiante. Isso [sic] é a proteção (nt.: protection) da Janis quanto à atrazina”. (Janis E. McFarland é uma funcionária da Syngenta envolvida com a campanha de relações públicas).

A Syngenta não respondeu às questões sobre seu emprego de uma agência de detectives para investigar cientistas de uma comissão consultiva da EPA ou porque estava bisbilhotando a vida privada de um juiz. Em resposta a uma questão sobre o porque ela gerou um perfil psiquiátrico de Hayes, a empresa emitiu uma declaração afirmando:

“Em sua defesa da atrazina, a Syngenta focou sobre ciência e fatos. E os fatos científicos continuam a deixar isso claro de que ninguém nunca esteve ou estará exposto a suficiente quantidades de atrazina na água para afetar sua saúde. Apesar de oito anos de litígio, os reclamantes nunca foram capazes de mostrar que a atrazina já causou quaisquer efeitos adversos à saúde em níveis aos quais as pessoas possam ser expostas no mundo real. A maioria dos sistemas de tratamento d’água envolvidos no litígio, nunca detectaram quantidades significativas de atrazina na água”.

Aliados Ocultos ou ‘Terceirizados’. 

A companhia também paga secretamente um grupo de cientistas aparentemente independentes além de outros “especialistas” para exaltarem os benefícios econômicos da atrazina, além de rebaixarem seus riscos ambientais e sobre a saúde, sem, no entanto, desvelarem seus vínculos financeiros com a Syngenta, conforme memorandos e emails entre a companhia e firmas de relações públicas contratadas. Ao mesmo tempo, a companhia gerava parâmetros rigorosos para que estes especialistas usassem como fundamento para suas declarações.

Don Coursey, professor de política pública da Universidade de Chicago cobrou $500 dólares por hora da Syngenta, para escrever análises econômicas defendendo a necessidade do uso de atrazina, de acordo com o email de 25 de abril de 2006 de Coursey para Ford. A Syngenta abasteceu Coursey com os dados que devia citar, editou seu trabalho e pagou-lhe para falar em emissoras de rádio, televisão e jornais sobre seus relatórios, Novamente sem revelar a natureza de seu acordo com a transnacional, de acordo com o depoimento da antiga funcionária Ford. O trabalho de Coursey, apresentado em 2010 no National Press Club, foi amplamente acolhido por toda a imprensa e os jornais do país como uma análise independente. Coursey também é filiado ao Heartland Institute, uma instituição livre sem fins lucrativos focada em regulamentos ambientais.

Em um documento (nt.: document) datado de 2005, Ford anotou áreas de vulnerabilidades do juiz do Madison County e que poderiam ser aproveitadas pela corporação para o julgamento de seu caso, como: “Não comparecendo ao trabalho. Conduta pessoal. Reclamante Tillery cedendo camarotes ao juiz em espetáculos. Acessos em websites de namoro – fotos das togas”.

Stephen Tillery, cuja firma, Korein Tillery, representando os reclamantes no processo disse que sua firma nunca cedeu camarotes para juízes. “Nunca estive com qualquer juiz em algum camarote”, disse Tillery, acrescentando, “a pessoa não era juiz neste processo. Eles pensaram que ele poderia estar sendo e procuram maneiras numa tentativa de desqualificá-lo”.

Esta alegação sobre o camarote foi a base de uma contestação formal no processo da Syngenta contra Tillery, feita pelo conselho de advogados Illinois Attorney Registration & Disciplinary Commission. A alegação peticionada foi rejeitado como desprovida de mérito.

Pelo menos quatro empresas de relações públicas foram contratadas para trabalharem em cima da campanha da Syngenta, de acordo com os documentos desvelados. A empresa White House Writers Group, sedeada em Washington, D.C., e a Jayne Thompson & Associates, sedeada em Chicago, foram fortemente envolvidas. Faturas mostram que a White House Writers Group recebeu mais do que $1.6 milhão de dólares em 2010 e 2011. A senhora Jane Thompson é ex-primeira dama do estado de Illinois, por ser mulher do ex-governador Jim Thompson.

O reclamante Tillery disse, “eles fizeram de tudo com suas trapaças sujas. A extensão de onde eles chegam é sem precedentes”. Ele acrescenta que somente uma das firma que estava agindo em nome da Syngenta, McDermott, Will & Emery de Chicago, não estava envolvida em “trapaças sujas”.

Tyrone Hayes  – O cientista detectou que a atrazina feminizou a rã-de-unhas-africana em experimentos em seu laboratório.

Hayes na Mira.

Hayes, um contumaz crítico por suas pesquisas com a atrazina, tornou-se o maior alvo da corporação. Sua pesquisa publicada sempre reporta de que a exposição à atrazina castra quimicamente os sapos machos e torna-os fêmeas viáveis, aptos a produzirem ovas que podem ser fertilizadas.

Hayes começou sua pesquisa com atrazina em 1997 com um estudo financiado pela antiga Novartis Agribusiness, uma das duas corporações que mais tarde formam a Syngenta (nt.: a Syngenta é o resultado de uma fusão progressiva no tempo das firma europeias e norte-americanas: ICI-Inglaterra; Ciba, Geigy, Sandoz-Suíça; Zaadinie-Holanda; Astra-Suécia; e Stauffer.Sharp, Dohm e Merk-EUA). Hayes disse que quando obteve os resultados que a Novartis não esperava ou queria, a corporação recusou-se a permitir que ele os publicasse. Ele se assegurou de outra fonte de recursos, replicou seu trabalho e liberou os resultados: a exposição à atrazina gera sapos hermafroditas. E isso fez começar uma contenda épica entre o cientista e a transnacional (nt.: que hoje com a fusão Novartis e AstraZeneca, em 2000, passa todo o passivo para a Novartis).

Os novos documentos mostram que a companhia construiu um perfil psicológico de Hayes. Em suas notas feitas em um encontro de 2005, a ex-chefe de comunicação Ford da Syngenta refere-se (nt.: refers) a Hayes como um “paranoico, esquizofrênico e narcisista”.

A Syngenta começa a controlar as palestras de Hayes, providenciando pessoas que passam a ser críticos treinados para comparecerem a cada evento, sendo que às vezes filmam suas observações e declarações. Está de acordo com a estratégia proposta, em 2006, através de memorandos de Jayne Thompson à Syngenta e mais tarde confirmado por Hayes. A Syngenta pensou na ideia de comprar o nome “Tyrone Hayes” para agir como uma palavra de busca na Internet para que ela direcionasse as buscas dos interessados para seus próprios materiais de marketing. No entanto, parece ter sido finalmente decidido se desistir disso.

Hayes disse que desconhecia de que a Syngenta havia discutido sobre a compra de seu nome como uma palavra de busca na Internet. “Em função das coisas que eles tem feito, isso não me surpreende”, disse ele. “Isso mostra claramente que eles vão muito além da ciência e da academia. Tudo passa pelos RPs e pelas trapaças”.

Hayes prontamente admita que “cruzou a linha” de um acadêmico desapaixonado para um guerreiro anti-atrazina. Ele ‘baixa a lenha’ na atrazina e tem um website, “atrazinelovers.com”, com informações sobre os perigos deste agrotóxico (nt.: vale ver o link – https://nossofuturoroubado.com.br/agricultura/agua-de-15-capitais-tem-sinal-de-contaminacao-diz-estudo – em que se vê sua presença nas águas ‘potáveis’ brasileiras).

Brazmidia/flickr – Um funcionário da Syngenta demonstrando seus produtos para os plantadores de milho.

Perguntado porque ele havia se tornado tão veemente em suas convicções, Hayes diz, “quando vim para Harvard foi através de bolsa de estudos. Ou seja, eu tenho um débito com todos! Não iria para a faculdade deixando-me ser pago por alguém e depois dizer alguma coisa que não fosse a verdade”.

Apimentados e às vezes zombateiros, nos seus emails para a Syngenta, Hayes provoca e mesmo emprega palavras de baixo calão, chegando até a fazer brincadeiras de cunho sexual.

A corporação apresentou uma queixa de ética junto à Universidade da Califórnia, em Berkeley, e tornou público ao liberar os emails em 2010. A queixa foi julgada e arquivada como desprovida de mérito.

Hayes acusou a Syngenta de pressioná-lo através de funcionários da Universidade. Ele disse que agora paga mais do que vinte vezes o valor pelas operações de seu laboratório quando comparado com outros pesquisadores. Acrescentou que suas subvenções federais têm alcançado os mais altos escores nas avaliações, mas estão sendo rejeitadas. Suspeita de que a corporação está por de trás destas suas barreiras súbitas que passou a enfrentar.

Hayes diz que os empregados da Syngenta têm o ameaçado verbalmente e diz que estão indo atrás de sua família, mas esta é a primeira vez que sabe de que estes planos estão por escrito.

“Eles estão impactando minha vida profissional e pessoal”, diz ele. “É surpreendente encontrarem argumentos para estes ataques verbais que eles fizeram”.

A empresa contesta de que estes estudos com batráquios feitos por Hayes são falhos e que seus próprios estudos não conseguiram replicar suas descobertas. Outros cientistas, no entanto, estão demonstrando que a atrazina desregula o desenvolvimento sexual também de outros anfíbios.

Em um documento interno, a corporação nega ter pressionado a Universidade de Duke para que não contratasse Hayes, mas em seu depoimento em 09 de junho de 2011, Ford, a antiga porta-voz da Syngenta, disse que Gary Dickson, um empregado da corporação havia contactado o reitor da Universidade de Duke para informá-lo da relação conflituosa entre Hayes e a Syngenta.

USGS

Outro documento (nt.: document), originário da firma Jayne Thompson & Associates, está sugerido do porquê: “A Unvirsidade de Duke, localizada em Durham, está próxima da sede central da Syngenta Crop Protection em Greensboro e de nossas instalações de pesquisa em RTP [Research Triangle Park]. Queremos assim proteger nossa reputação em nossa comunidade e entre os nossos empregados”.
Ford também disse que a Syngenta deu apoio financeiro ao Hudson Institute, tendo solicitado a Alex Avery, do Center for Global Food Issues, um setor do Instituto Hudson para que escrevesse relatórios críticos a Hayes. Ela ainda, mais tarde, afirmou que, ao contrário de Hayes, Avery não publicou esta pesquisa em qualquer periódicos que ela sabia, e que ele não divulgou os pagamentos recebidos da Syngenta.

O Hudson Institute é uma organização sem fins lucrativos conservadora que tem como foco interpretar políticas públicas sobre fatos que vão de relações internacionais a tecnologias e planos de saúde.

Em um outro documento, Ford anotou que uma pessoa responsável do White House Writers Group gravou uma ligação telefônica com Hayes e  “enquadrou-o”.  Hayes foi sendo envolvido através de emails do exército de aliados da Syngenta. Os emails dos cientistas foram postados no website da Syngenta como parte da campanha para desacreditá-lo.

 “Se o TH [Tyrone Hayes] envolveu-se (nt.: involved) em algum escândalo, as respostas irão derrubá-lo”, escreveu Ford. “Podem prevenir citando os dados de TH, revelando de que ele não merece crédito”, disse ela.
Pagamentos Secretos para Aliados “Independentes”

Os documentos da Corte incluem um “Banco de Dados de Terceiros Apoiadores Interessados (Supportive Third Party Stakeholders Database)” de 130 pessoas e organizações que a corporação pode contar para um apoio público à atrazina, muitas vezes por um preço. Os documentos (nt.: Documents) mostram pessoas de uma lista que foram treinadas e que suas declarações em apoio à atrazina foram editadas pela companhia e os pagamentos a elas não foram publicamente desvelados. Em alguns casos, a Syngenta ou o grupo de seus relações públicas escreveu as peças que compõem o “Op-Ed” (nt.: opposite editorial – área das publicações onde consta declarações relacionadas aos artigos principais publicados) e então escaneado o seu banco de dados para que o aliado assinasse.

Em 17 de outubro de 2009, num memorando dirigido à ex-funcionária Ford, Jayne Thompson advertiu que algumas das linguagens de 4 ‘Op-Eds’ redigidos pelo White House Writers Group eram muito explícitas em relação a suas fontes e que “deveriam ser evitadas a todo custo”.
fruitnet/flickr – Syngenta obteve $14.2 bilhões de dólares no total de vendas no último ano.

Os documentos também incluem um email datado de 28 de outubro de 2009, de funcionário da Syngenta perguntando à sua chefe como pagar estes terceiros aliados que escreveram seu apoio à atrazina. Existem muitos indícios que confirmam que estes estes apoiadores aparecem como independentes sem nenhum vínculo à corporação.

Num caso, a Syngenta pagou (nt.: paid) $100 mil dólares a uma organização sem fins lucrativos, American Council on Science and Health como suporte que incluía uma peça do tipo ‘Op-Ed’ criticando o trabalho do jornalista Charles Duhigg do New York Times, que escreveu uma história sobre a atrazina como parte de sua série Toxic Waters em 2009. Sem desvelar o apoio financeiro da Syngenta, a presidente e fundadora, Elizabeth Whelan, ridicularizou o artigo do New York Times sobre a atrazina como se: “todas as notícias que são feitas para gerar medo”. O CACS é uma organização sem fins lucrativos que advoga contra o que considera excesso de regulamentação do governo nas questões relacionadas com ciência e saúde.

“Caros amigos da Syngenta”, começava um email (nt.: email) de 2009 de Gilbert Ross,um médico da ACSH, agradecendo à Syngenta por seus pagamentos e suporte financeiro por anos. “Tal apoio operacional geral é a seiva de uma pequena organização sem fins lucrativos como a nossa, somos profundamente agradecidos por isto ser tão necessário”, escreveu Ross.

Em resposta a questões enviadas por email para o presente artigo, Ross defendeu a decisão de não desvelar publicamente os pagamento além de rejeitar Hayes como um “fora da realidade”.

“Para ‘revelar’ os fundos sobre cada tópico que nós cobrimos – e são muitos – daria a falsa impressão de que as doações vieram antes e de forma a nos encorajar ou nos persuadir a cobrirmos um tópico, de tal modo que, fazendo isso, estaríamos de alguma maneira beneficiando o nosso doador”, escreveu Ross.

A atrazina, disse ele, “é bem conhecida e amplamente provado ser altamente  benéfica para a , para a produção de grãos e para a economia dos agricultores. Aqueles que promovem histerias e ataques infundados (normalmente dirigidos para litígios) sobre ela, não estão sendo baseados em ciência verdadeira, mas sim de um ponto de vista pessoal e nós não temos que pedir desculpas e nem explicações são necessárias por aceitarmos o apoio de empresas que desenvolvem e vendem químicos feitos para a proteção das colheita que são manifestamente benéficos e que não colocam perigo para a saúde nem meramente um hipotético ‘risco’ à ela”.

Steven Milloy, administrador do website junkscience.com e presidente da organização Citizens for the Integrity of Science, também é um aliado terceirizado da Syngenta.

Em 03 de dezembro de 2004, em email para a Syngenta, Milloy solicita um subsídio de $15 mil dólares para a organização sem fins lucrativos, Free Enterprise Education Institute, para um projeto de administração numa análise de custo benefício da atrazina.

Noutra correspondência datada de 06 de agosto de 2008, Milloy solicita um subsídio de $25 mil dólares para uma organização não lucrativa, Free Enterprise Project of the National Center for Public Policy Research. No email nesta data, ele escreveu, “enviar o cheque para mim como usualmente que cuidarei de seu encaminhamento”.

Embora os ‘Op-Eds’ se dirigem a formatar a opinião pública, análises econômicas e de custo/benefício, foram tão importantes face  as regulamentações da EPA sobre o uso de agrotóxicos que são baseadas nos efeitos sobre a saúde, o ambiente e a economia.

Em um email para a direção de comunicação da Syngenta, Thompson elogia um ensaio que saiu no Belleville News Democrat, um jornal de Illinois que circula numa área próxima uns 40 kms de Edwardsville, a comunidade onde foi iniciado o processo jurídico em tela.

O ensaio de 2006 foi assinado por Jay Lehr do Heartland Institute. O ensaio reivindica que o processo de Holiday Shores poderia, se tiver sucesso, encolher a capacidade de fornecimento de alimentos no país.

“São importante para nós porque alguns destes materiais são mensagens de alguém (Lehr) que soa como sendo de um perito imparcial. Outro aspecto relevante é que as mensagens não soam como se tivessem vinda da Syngenta,” escreveu Thompson.

O Heartland Institute lutou, de todas as maneiras, contra a intimação da Suprema Corte de Illinois, em 2012, que o forçava a divulgar quaisquer relações financeiras com a Syngenta bem como a fonte de seus artigos apoiando atrazina.  O Instituto argumentou que esta divulgação violaria seus direitos de acordo com a legislação norte-americana. O caso foi resolvido antes que uma decisão fosse exarada, assim este relacionamento continua desconhecido.

Em resposta a uma questão posta em um email, o Heartland Institute não negou receber fundos da Syngenta. Qualquer recurso que ele recebe, o Instituto manteve, e é considerado uma doação para uma organização sem fins lucrativos e desta forma o Heartland não foi obrigado a desvelar a informação da doação. Seu presidente, Joseph Bast, disse que ele iria para a cadeia por desacato à Corte “em vez de compartilhar uma nota que seja do que ele tenha alguma vez feito durante um encontro com um doador”.

Em acréscimo ao trabalho com os aliados terceirizados, outro esforço da Syngenta para lutar com o processo foi ir diretamente aos reclamantes, tanto atuais como potenciais.

No seu depoimento, a ex-funcionária Ford confirmou que a empresa reuniu grupos de foco e contactou com os gerentes dos sistemas de tratamento da água da comunidade para discutirem o processo judicial, explicar as implicações financeiras e políticas de sua participação no processo, ajudando-os a avaliar se devem permanecer na ação ou se optariam por sair.

Da mesma forma, ela confirmou a discussão com os advogados da Syngenta sobre como pressionar os proprietários de imóveis e imobiliárias na localidade de Holiday Shores para cair fora do processo, dizendo-lhes que este fato prejudicaria os valores de propriedade.

Bill Meier/Flickr Atrazine is used to kill weeds on most U.S. corn crops. It is banned in Europe.

Ela insistiu de que esta estratégia não se concretizou, mas em seguida foi convidada a ler de uma agenda de reuniões, que afirmava: “designar quem irá identificar os grupos e montar listas de corretores de imóveis/os residentes de Holiday Shores/produtores” e “determinar materiais indispensáveis que se precisa para informar-se a essas pessoas. Determinar quem, na verdade, se encarregará de persuadir estes indivíduos.”

Disse que de acordo com a sua lembrança, estes contatos (nt.: contacts) não se realizaram.

MonsterMedia/Flickr  –  Um estande da Syngenta, mostrando como a atrazina mata as ervas na plantação.

A Syngenta lançou um comunicado sobre o acordo acertado, dizendo: “este acordo acaba com a incerteza do negócio e as despesas do contencioso prolongado em torno deste produto que vem sendo a espinha dorsal do controle de ervas daninhas por mais de 50 anos. Ele permite que os agricultores continuem a ter os benefícios de atrazina para agricultura, a economia e o meio ambiente.”

Após o acordo, Tillery mudou sua estratégia. Ele não planeja apresentar outra ação coletiva sobre a atrazina na água potável. Em vez disso, afirmou que planeja começar a arquivar processos individuais em nome de crianças com defeitos congênitos.

 

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2013.