Decisão do governo do Canadá flexibiliza as regras do PFAS com base em estudo da indústria.

https://www.nationalobserver.com/2024/09/11/news/feds-decision-ease-PFAS-rules-based-industry-study

Marc Fawcett-Atkinson

12 de setembro de 2024

[NOTA DO WEBSITE: Quando se propaga que são os países ‘pobres’ ou ‘subdesenvolvidos’ os que ficam de quatro para as corporações, que são venais e corruptos, quem sabe conhecermos um pouco, que seja, como agem outros países tidos como ‘desenvolvidos’, ‘cultos’, ricos e do ‘primeiro mundo desenvolvido’, como o Canadá? Pois é isso que este material nos traz. O Canadá de quatro para as corporações que ganharam e ganham milhões, para não dizer bilhões, de dólares com seus ‘mimos’. Surpreende? Vejam o cinismo dos dois lados: das corporações meritocratas e das estruturas de governo que deveriam resguardar as populações que lhes sustentam. Abaixo inclusive é citado que os PFAS podem se tornar como microplásticos. Ou seja, irão para todos os espaços vivos, incluindo as células dos organismos vivos, como dos humanos].

O governo federal do Canadá está contando com um estudo de pesquisadores com ligações autodeclaradas com os produtores de “químicos eternos” para excluir o Teflon e outros fluoropolímeros — uma das maiores produções e aplicações de produtos químicos — de regras ambientais e de saúde mais rigorosas.

Autoridades federais estão contando com estudos de pesquisadores da indústria química para excluir Teflon e outros fluoropolímeros, um tipo de “químico eterno/forever chemicals” tóxico, das regras propostas para proteger a saúde humana e o meio ambiente. A exclusão se alinha com as demandas da indústria que visam enfraquecer as medidas planejadas. 

A decisão de usar o estudo de 2022 — que afirma que os autores trabalham para a indústria de fluoropolímeros — como justificativa principal para excluir os compostos  levanta questões sobre a alegação do governo de que a medida não prejudicará as pessoas e o meio ambiente, dizem observadores.

O principal autor do estudo, Stephen H. Korzeniowski, afirma em seu site que tem mais de uma década de experiência em lobby no Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Canadá (ECCC/Environment and Climate Change Canada), na Health Canada, na Agência de Proteção Ambiental dos EUA/EPA e em outros reguladores nacionais em nome do antigo empregador, a gigante química DuPont, e de outros grupos da indústria. 

“O governo não deve confiar em documentos elaborados pela indústria, especialmente um que é escrito tão puramente pela indústria que lucra com a exclusão de fluoropolímeros da classe PFAS”, disse Elaine MacDonald, diretora do programa de comunidades de saúde da Ecojustice

Substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas (PFAS) são uma classe de cerca de 15.000 produtos químicos tóxicos resistentes à água e à gordura, usados ​​em tudo, desde espuma de combate a incêndios até embalagens de alimentos. Agora encontrados no sangue de quase todas as pessoas na Terra, os produtos químicos podem prejudicar os sistemas reprodutivo e endócrino, aumentar o risco de certos tipos de câncer e levar a atrasos no desenvolvimento de crianças (nt.: reafirmamos – ver o documentário ‘Amanhã, seremos todos cretinos?). 

Como seu apelido – “forever chemicals” – sugere, os PFAS se acumulam em animais, incluindo humanos, não se decompõem na natureza, podem se mover facilmente ao redor do mundo na água, no ar e em organismos e podem persistir por décadas no meio ambiente (nt.: será que não se nota uma imensa semelhança com as resinas sintéticas conhecidas genericamente como ‘plástico’, em seus micro e nanoplásticos?). O crescente alarme sobre os produtos químicos motivou esforços globais para regulá-los, incluindo no Canadá, onde o governo propôs no ano passado listar toda a classe de produtos químicos como tóxicos. 

Mas em julho, o ECCC/Environment and Climate Change Canada voltou atrás na proposta. Em um rascunho atualizado, o ministério anunciou que excluiria fluoropolímeros – um tipo de plástico que inclui Teflon, e uma das maiores produções e aplicações de PFAS – da lista tóxica. Ele justificou a exclusão dizendo que fluoropolímeros “podem” expor as pessoas a menos produtos químicos arriscados do que outros tipos de PFAS. 

Essa decisão é baseada principalmente no estudo de 2022, que concluiu que os fluoropolímeros têm menos probabilidade de se espalhar amplamente pelo ambiente do que outros PFAS. A declaração de conflito de interesses do estudo afirma que “os autores são empregados por empresas que fabricam comercialmente fluoropolímeros”. Algumas das empresas que fabricam esses produtos químicos, incluindo a 3M (nt.: e a DuPont, hoje Chemours), foram acusadas de esconder deliberadamente os efeitos de seus produtos na saúde e no meio ambiente ao longo de décadas. 

Diferentemente de outros PFAS, os fluoropolímeros são integrados em produtos plásticos e têm menos probabilidade do que seus primos químicos de lixiviar para o meio ambiente. Essa relativa imobilidade é a base para o argumento da indústria química de que os fluoropolímeros são menos prejudiciais do que outros PFAS e devem ser excluídos de regulamentações mais rigorosas. 

Autoridades federais estão contando com pesquisas realizadas por pesquisadores da indústria química para excluir o Teflon e outros fluoropolímeros, um tipo de produto químico tóxico “eterno”, das regras propostas para proteger a saúde humana e o meio ambiente.

Mas os pesquisadores dizem que focar apenas nos impactos ambientais e nos danos potenciais à saúde dos produtos acabados esconde seu impacto ambiental real. A fabricação de Teflon e outros fluoropolímeros usa outros produtos químicos PFAS mais perigosos. Esses compostos são conhecidos por contaminar o ambiente ao redor das instalações de fabricação, disse Rainer Lohmann, professor de oceanografia na Universidade de Rhode Island. 

“Basicamente, em qualquer lugar onde haja um grande produtor de fluoropolímero, eles parecem ter conseguido contaminar toda a região com seu processo de produção”, disse ele. 

MacDonald, da Ecojustice, acrescentou que os fluoropolímeros também podem se decompor em microplásticos, que foram encontrados em todos os lugares da Terra e em corpos humanos. Há evidências crescentes de que essas partículas minúsculas prejudicam a saúde humana e liberam produtos químicos nocivos – incluindo PFAS – no meio ambiente e em organismos vivos.  

Grupos da indústria têm pressionado autoridades federais a excluir fluoropolímeros dos planos do governo para regulamentar mais estritamente os PFAS. Esse esforço para exclusão é evidente em uma submissão de 2023 da Chemistry Industry Association of Canada para consultas governamentais sobre a listagem de produtos químicos PFAS como tóxicos. 

De acordo com o registro federal de lobby do Canadá, seis empresas químicas ou de energia – incluindo a Shell Canada – também fizeram lobby junto ao governo em questões relacionadas aos PFAS no ano passado. 

O ECCC teve um dia para responder a perguntas do National Observer do Canadá sobre por que usou o estudo de 2022 como fonte para justificar a exclusão de fluoropolímeros das regras PFAS propostas e por que não destacou a afiliação industrial dos autores. Não respondeu dentro do prazo.

No entanto, na sexta-feira, o ministério forneceu uma declaração afirmando que sua “abordagem sobre PFAS é baseada na ciência. Examinamos informações de uma ampla gama de fontes (por exemplo, artigos de periódicos científicos, relatórios)… e atualmente nossas conclusões mostram que os fluoropolímeros podem não ser biodisponíveis nem móveis… O Relatório Atualizado sobre o Estado dos PFAS não fez uma conclusão para os fluoropolímeros; em vez disso, eles serão considerados em uma avaliação separada.”

A ação do ministério para remover fluoropolímeros de suas regras propostas sugere que esses esforços de lobby da indústria funcionaram, disse MacDonald. Usar um estudo com laços autodeclarados com a indústria química para respaldar a decisão do ministério de excluir fluoropolímeros “apenas mostra um pouco do que está acontecendo nos bastidores em termos de onde o governo está levando a palavra da indústria”, disse ela. 

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, setembro de 2024