Após cheia recorde, estiagem afeta comunidades ribeirinhas do AM.

Mais uma seca severa afeta as comunidades ribeirinhas do rio Solimões. Embora distante da perspectiva de bater o recorde da seca de 2010, a registrada em 2012 chega a seu ápice e compromete o dia a dia das comunidades.

 

http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2012/10/16/88076-apos-cheia-recorde-estiagem-afeta-comunidades-ribeirinhas-do-am.html

Na zona rural de Manacapuru (a 69 quilômetros de Manaus), moradores são obrigados a caminhar quase meia hora (apenas de ida) até a margem do rio para abastecer garrafas de água. Algumas plantações também já começam a ser afetadas devido ao baixo volume de chuvas. Diariamente, estudantes enfrentam durante quase uma hora (ida e volta) um “tapete” de areia e terra lamacenta até a pequena embarcação que os leva à escola.

Na comunidade Nossa Senhora das Graças, os moradores afirmam que o maior problema é a falta de água potável. Uma cacimba do qual os moradores retiravam a água por meio de um gerador abastecido com óleo diesel está desativada desde que a rede elétrica do programa federal Luz para Todos foi instalada há seis meses na comunidade.

Segundo os moradores, o Luz Para Todos chegou como um benefício há muito tempo esperado, mas os executores do programa não observaram a necessidade de se manter ativado o poço, cuja estrutura pertence à Amazonas Energia.

Nas escolas, devido o calor e a dificuldade de alcançar a margem do rio, os alunos (crianças e adolescentes) são orientados a levar sua própria garrafa de água. Localizada a apenas sete minutos de lancha simples da sede de Manacapuru, Nossa Senhora das Graças, localizada em uma área conhecida como Costa do Pesqueiro, não tem sistema de água encanada ou um ramal para poderia facilitar o deslocamento dos moradores.

Água encanada – “A comunidade fica tão perto. A gente já poderia ter alguns benefícios. Mas a prefeitura e o governo não olham para a gente do interior. A gente já está acostumada com a vazante, mas não era mais para a gente estar sofrendo com a falta de água neste período. O governo poderia melhorar um pouco mais para a gente”, disse Antônio Ailton Castro da Silva, 45, morador de Nossa Senhora das Graças, que também criticou a desativação do poço após a chegada do Luz para Todos. “Ele atendia toda a comunidade. Agora, temos que pegar água no rio”, disse.

Na avaliação dos moradores, o ciclo hidrológico que se repete todos os anos neste período não era para ser tão problemático ou dramático. “A gente não consegue mais pegar água do rio. Tem que andar quase meia hora. Na cheia, tem muita água. Na seca, é esta situação”, afirmou a professora Gisele Barbosa, professora do ensino fundamental da comunidade.

Na última quarta-feira (10), a equipe de reportagem de A CRÍTICA esteve no local e fez o mesmo trajeto que os moradores realizam todos os dias. O percurso inclui uma extensa área de areia, poças enlameadas e crateras com água parada. É comum encontrar peixe morto. Embarcações maiores não alcançam a margem devido à sua profundidade rasa.

Anos atrás, segundo Antônio Ailton, era possível encontrar fragmentos de potes e urnas, possivelmente objetos de sítios arqueológicos. Indagado sobre esses fragmentos, ele disse que algumas pessoas já foram ao local e levaram. Ele não soube dizer quem seriam essas pessoas.

Sem ajuda – Habituados ao ciclo hidrológico, os ribeirinhos só não conseguem ficar resignados com a falta de atenção do poder público para sua situação. Antônio Ailton Castro da Silva conta que a prometida ajuda estadual e federal aos afetados pela cheia recorde deste ano não chegou à maioria das famílias.

Silva afirma que, de 100 famílias que vivem na região, “apenas umas 30 receberam a tal Bolsa Enchente”. “A gente recebeu depois de muito tempo. Mas o meu filho e o meu irmão não. A gente perdeu tudo na cheia. Agora, está na mesma situação na seca e até agora não recebemos ajuda nem da cheia nem da seca”, disse.

Outra ajuda que ficou apenas na promessa e no marketing do poder público foi uma linha de crédito para ajudar os agricultores na recuperação de suas plantações. Segundo Silva, as sementes adquiridas por sua família foi possível graças a um empréstimo feito por seu filho, pois seu nome está com restrição no crédito comercial devido aos prejuízos sofridos durante a cheia.

“O que me parece é que os governos mandam as coisas mas elas ficam em algum lugar. Não chega nada para nós. Aqui a gente não tem água encanada, não tem ramal, não tem nem posto de saúde”, disse Silva.

Paisagem diferente – Até dez anos atrás, a vazante do rio Solimões nas comunidades ribeirinhas de Manacapuru, na região da Costa do Pesqueiro, não virava praia. Antônio Ailton, sua esposa, Maria Madalena Lima, 43, que nasceram no local, dizem que “antigamente” o rio apenas ficava mais baixo.

“Essa praia é mais ou menos nova. O rio não ficava assim todo seco. Ele só descia. Agora também surgiu essa outra praia no meio”, conta Antônio Ailton Silva, apontando uma faixa de terra e areia em frente de sua comunidade.

O ex-juticultor Sebastião de Lima Mendonça, 56, que lamenta que a falta de apoio técnico aos moradores tenha reduzido as opções econômicas das comunidades, também destaca a mudança na paisagem. “Antes apareciam alguns lagos, mesmo na seca. Mas agora o leito do rio foi embora. Não por que mudou”, comenta

Níveis normais – O atual nível do rio Solimões é considerado “normal” para o período, segundo o gerente de hidrologia do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Daniel de Oliveira.

O nível do Solimões, contudo, continua em declínio. Em Tabatinga, a estação apontou queda do nível devido ao fenômeno do repiquete. . No rio Negro, em Manaus, os níveis também estão normais para o período, segundo a CPRM.

Até o último dia 10, o nível d´água em Manaus estava 3,78 metros acima da vazante máxima registrada em 2010.

Pelo histórico, a bacia dos rios Solimões e Negro começam a subir em outubro ou novembro. (Fonte: A Crítica/AM).