O país que decretou feriado para plantio de 100 milhões de árvores contra mudanças climáticas

Quenia

Objetivo do governo do Quênia é que 15 bilhões de árvores sejam plantadas em 10 anos. KEN MUNGAI/BBC

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c90xg1p8yv1o

  • Basillioh Rukanga,BBC News, Nairóbi (Quênia)

14 novembro 2023

[NOTA DO WEBSITE: Uma demonstração de como um povo originário africano também, descolando-se de seus colonizadores, ingleses supremacistas brancos eurocêntricos, buscam formas de recuperar a harmonia planetária, plantando árvores. Também PISAM SUAVIMENTE A TERRA!].

O Quênia decretou um feriado nacional para encorajar o plantio de 100 milhões de árvores para combater as mudanças climáticas.

Com uma população de cerca de 50 milhões de pessoas, cada queniano está sendo incentivado a plantar pelo menos duas mudas para atingir a meta. O objetivo do governo é que 15 bilhões de árvores sejam plantadas em 10 anos.

O feriado permite que “todos os quenianos possam participar da iniciativa”, segundo a ministra do Meio Ambiente, Soipan Tuya. As árvores ajudam a combater o aquecimento global, absorvendo dióxido de carbono (CO2) do ar enquanto liberam oxigênio na atmosfera.

O governo está disponibilizando cerca de 150 milhões de mudas em viveiros públicos. As mudas são fornecidas gratuitamente nos centros de agências florestais para serem plantadas em áreas públicas designadas. Mas o governo também incentivou a população a comprar pelo menos duas mudas e plantá-las em suas próprias casas.

O presidente do Quênia, William Ruto, participou da iniciativa plantando uma muda em Makueni, no leste do país, enquanto ministros de seu gabinete foram enviados a outras regiões ao lado de governadores de províncias e demais autoridades.

Em um local perto da nascente do segundo maior rio do Quênia, Athi, havia dezenas de pessoas, incluindo soldados e moradores, alguns com suas famílias.

“Eu me reuni com meus colegas, estou feliz por estar aqui para mostrar meu amor pelo meio ambiente”, disse o estudante Wycliffe Kamau à BBC.

“Vim plantar árvores aqui, porque o nível da água vem diminuindo. Mesmo aqui na nascente do rio, os níveis estão muito baixos, árvores foram derrubadas”, disse o morador Stephen Chelulei.

“Precisamos reverter as mudanças climáticas para que nossos filhos possam ter um lugar para viver quando não estivermos mais lá”, acrescentou.

No entanto, muitas pessoas, especialmente nas cidades, dificilmente participarão da iniciativa e apenas aproveitarão o feriado extra.

Quenianos podem coletar duas mudas cada para plantar

O plantio de árvores será monitorado por meio de um aplicativo na internet, permitindo que indivíduos e organizações registrem suas atividades, incluindo a espécie da planta, número e data plantada.

O aplicativo Jaza Miti também ajudará as pessoas a plantar as mudas adequadas, combinando o local com as espécies apropriadas, segundo o Ministério do Meio Ambiente.

Tuya disse à emissora local Citizen TV na noite de domingo (13/11) que a resposta foi “incrível” e que já havia dois milhões de registros no aplicativo até domingo. Ela, no entanto, disse que o plantio não acontecerá na região nordeste do país, onde houve enchentes.

O país enfrenta atualmente fortes chuvas devido ao El Niño que mataram dezenas de pessoas, deslocaram milhares e danificaram infraestruturas – sendo a região norte a mais afetada. O El Niño consiste no aquecimento anormal das águas do Pacífico. Esse fenômeno climático altera temporariamente a distribuição de umidade e calor no planeta, principalmente na zona tropical.

Os quenianos saudaram amplamente a iniciativa de plantio de árvores, ao mesmo tempo em que observaram alguns desafios.

A ambientalista Teresa Muthoni disse à BBC que a iniciativa foi uma “ideia muito boa”, mas que não foi organizada de forma a garantir que todos estivessem plantando árvores. Segundo ela, “muitas pessoas têm que continuar trabalhando para colocar comida na mesa… Está chegando em um momento em que nossa economia não vai bem, então muita gente está com dificuldades financeiras”. Ela também observou que “muitas das 150 milhões de árvores disponíveis” em viveiros públicos eram exóticas. “É muito importante plantar as árvores certas no lugar certo”, disse ela.

O governo também foi criticado por defender o plantio de árvores enquanto não controla a extração ilegal de madeira em florestas públicas – recentemente, suspendeu a proibição da extração de madeira.

Mas, no domingo, a ministra defendeu a decisão, dizendo que apenas florestas projetadas para fins comerciais foram afetadas – cerca de 5% do total.

Segundo ela, isso é necessário para alimentar a demanda local por locais e criar empregos. Tuya acrescentou que o governo está tomando medidas contra madeireiros ilegais em outras florestas.

A ministra afirmou ainda que a iniciativa vai continuar mesmo depois do feriado especial e espera que 500 milhões de árvores sejam plantadas até o final da estação chuvosa, em dezembro.

Reportagem adicional de Ken Mungai