https://www.ewg.org/news-and-analysis/2019/08/decades-polluters-knew-PFAS-chemicals-were-dangerous-hid-risks-public

De Jared Hayes, analista de políticas e Scott Faber, vice-presidente sênior de assuntos governamentais

28 DE AGOSTO DE 2019

Por quase 70 anos, empresas químicas como a 3M e a DuPont sabem que os produtos químicos altamente fluorados chamados PFAS (nt.: estas moléculas fluoretadas são aquelas que hoje a ciência chama de ‘forever chemicals’, ou seja, JAMAIS se degradarão !) se acumulam em nosso sangue. Eles já sabiam, há muito tempo, que os produtos químicos PFAS têm um efeito tóxico em nossos órgãos.

Mas eles não alertaram os reguladores federais ou estaduais até 1998, e muitas empresas continuam não só produzindo como liberando, nos dias de hoje, estes produtos químicos, PFAS, no meio ambiente. E o que é pior, alguns estão usando de falsa ciência (nt.: em inglês – junk science) para combater os esforços para reduzirem as descargas contínuas e limparem sua poluição negligenciada.

Nestes últimos tempos, nosso grupo, EWG, divulgou documentos que detalham décadas de decepções. Estudos secretos e memorandos internos revelam:

  • Já em 1950, estudos conduzidos pela 3M mostraram que os produtos químicos PFAS podem se acumular em nosso sangue;
  • Na década de 1960, estudos em animais conduzidos pela 3M e pela DuPont revelaram que estes produtos químicos representavam riscos à saúde;
  • Em meados da década de 1970, a 3M sabia que estes fluoretados, ‘forever chemicals‘, estava crescendo no sangue dos americanos; e
  • Na década de 1980, tanto a 3M quanto a DuPont vincularam o PFAS ao câncer e encontraram taxas elevadas desta doença entre seus próprios trabalhadores.

Os dois produtos químicos PFAS mais notórios, PFOA e PFOS, foram eliminados nos EUA sob pressão da Agência de Proteção Ambiental (nt.: EPA/Environmental Protection Agency). Mas eles foram substituídos por uma nova geração de centenas de produtos químicos que muitas empresas não só continuam produzindo como lançando do mesmo jeito ainda hoje.

O resultado é uma crise de contaminação em grande escala.

A contaminação por PFAS foi encontrada até agora em mais de 700 comunidades em 49 estados dos EUA (nt.: quanto será que temos nas nossas águas tratadas, como na região gaúcha da cidade de Carlos Barbosa onde tem a fábrica Tramontina que produz panelas com anti-aderentes?). Provavelmente esta é só a ponta de um iceberg tóxico (nt.: já está disponível nos mercados, panelas com anti-aderentes, onde está dito que não tem PFOA. Mas que substância será que a substitui?) Dados federais não divulgados indicam que até 110 milhões de  americanos podem ter PFAS em sua água potável, sendo que esta molécula contaminou grande parte do suprimento de alimentos.

Apesar dos riscos apresentados por esses “forever chemicals”, ainda não há limites legais para sua liberação no ar e na água. Os bombeiros militares e civis podem continuar a usar espumas de combate a incêndio feitas com PFAS, infiltram-se nos abastecimentos de água potável. Como essas espumas são usadas há décadas,  centenas de instalações militares estão contaminadas.

Além do mais, as empresas químicas continuam a descarregar, regularmente, PFAS no ar e na água sem restrições. Cerca de 500 instalações industriais são suspeitas de liberar estes produtos químicos. No entanto, esses fabricantes não estão sujeitos a quaisquer requisitos ambientais ou de relatórios. A lei federal não exige que as concessionárias de água removam o PFAS de nossa água encanada ou mesmo testem sua presença, e apenas alguns estados estão se mobilizando para estabelecer seus próprios padrões de água potável.

Como os PFAS ainda não foram designados como “substâncias perigosas” pela lei federal do Superfund (nt.: programa federal norte americano que financia a limpeza de locais poluídos), os fabricantes de PFAS não são obrigados a limpar a contaminação produzida por esta substância, apesar de terem liberado estes produtos tóxicos, por décadas. Apesar das promessas da administração de Trump de designá-los como substâncias perigosas, não o fez, nem tomou quaisquer outras medidas para reduzir sua poluição contínua.

Em resposta ao fracasso de Trump em agir, o Congresso pode em breve agir para reduzir as liberações de PFAS e limpar a contaminação do legado. As versões da Câmara e do Senado de um projeto de lei de gasto obrigatório com defesa incluem disposições para limitar as descargas de PFAS em fontes de água potável e para acabar rapidamente com seu uso militar em embalagens de espuma e alimentos.

A versão da Câmara também designaria PFAS como “substâncias perigosas”. Isso é importante porque daria início ao processo de limpeza nos locais mais poluídos e garantiria que os poluidores pagassem sua parte justa pelos custos de limpeza. Ambos os projetos ampliariam o seu monitoramento e o projeto do Senado expandiria os relatórios de dispensas do PFAS.

Os norte americanos (nt.: e a população tanto de seres humanos como de todos os outros seres planetários) não deveriam se preocupar com a segurança da água que bebem ou dos alimentos que comem. Devemos começar a reduzir as descargas desta substância e limparmos sua contaminação, especialmente perto de bases militares. Mas seria errado forçar os contribuintes a pagarem para a limpeza desta poluição lançada – e escondida – por gigantes corporativos como as 3M e DuPont.


Nota do website: este texto que se segue, mostra onde e como estas moléculas estão presentes em nossa alimentação em todo o planeta.


Estudo da 3M encontrou PFAS em alimentos há quase 20 anos

https://www.ewg.org/release/3m-study-found-pfas-food-nearly-20-years-ago

Há quanto tempo o FDA sabe sobre os compostos fluorados na alimentação?

Contato: Alex Formuzis – [email protected]

12 DE JUNHO DE 2019

WASHINGTON – Testes de laboratório conduzidos há quase 20 anos, que não foram divulgados, encontraram altos níveis do químico fluorado tóxico conhecido como PFAS em vários alimentos populares de supermercado.

Os testes foram encomendados pela 3M, a gigante empresa química que primeiro fabricou os dois membros mais notórios da família PFAS: PFOS e PFOA. No ano passado, a 3M pagou US $ 850 milhões para resolver um processo movido pelo estado de Minnesota que mostrou que a empresa sabia há décadas sobre os perigos do PFAS para a saúde, mas escondeu essa informação do público.

De acordo com documentos publicados em junho de 2001, um estudo encomendado pela 3M encontrou PFOA e PFOS em amostras de carne bovina, suína, frango, leite, feijão verde, ovos, pão e outros alimentos adquiridos em seis cidades no Alabama, Flórida, Geórgia e Tennessee. O EWG citou pela primeira vez o estudo da 3M em uma petição de dezembro de 2002  aos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, ou CDCs/Centers for Desease Control and Prevention, solicitando a inclusão do PFOA e do PFOS no Relatório Nacional da Agência sobre Exposição Humana a Produtos Químicos Ambientais. 

Os produtos químicos, que têm sido associados ao câncer, à fragilização do sistema imunológico infantil e a outras doenças, foram detectados em seis dos 11 tipos de alimentos testados. O PFOA foi encontrado em quatro das 18 amostras de leite e o PFOS ou PFOA em três das 18 amostras de carne moída. O PFOA também foi encontrado em amostras de feijão verde, maçã e pão. Os níveis detectados variaram de 500 a 14.700 partes por trilhão, ou ppt. 

Ainda na metade deste ano de 2019, o EWG e o Fundo de Defesa Ambiental divulgaram resultados de testes recentes da Food and Drug Administration que encontraram PFAS em alimentos, incluindo carnes, frutos do mar e laticínios; batatas doces; abacaxis; folhas verdes; e bolo de chocolate com cobertura. Esses testes encontraram PFOS em quase metade das amostras de carnes e frutos do mar, com níveis entre 134 e 865 ppt, mas o FDA não divulgou publicamente os resultados.

Há poucos dias, Rob Bilott, advogado que representou dezenas de milhares de vítimas de contaminação por PFAS e que liderou a batalha legal que expôs décadas de fraude por parte da 3M e outras empresas químicas, enviou uma carta junto com o estudo da 3M para um funcionário da FDA. Bilott perguntou se o FDA estava ciente do estudo de 2001.  

“Confirme também até que ponto a FDA (ou qualquer outra agência) avaliou o impacto do público norte americano ter sido exposto a tais níveis de PFAS em alimentos por um período de tempo tão extenso, sem seu conhecimento”, escreveu Bilott a Timothy Begley, do Centro de Segurança Alimentar e Nutrição Aplicada do FDA.

O cientista sênior do EWG David Andrews, Ph.D., disse que o estudo de 2001 é mais uma confirmação de que os norte americanos há muito são expostos ao PFAS em alimentos. Os Centros de Prevenção de Controle de Doenças afirmam que virtualmente todos no país têm PFAS em seus corpos.

“Os produtos químicos PFAS contaminaram a água potável de pelo menos 19 milhões de norte americanos, mas sabemos que a comida é uma das principais vias de exposição”, disse Andrews. “O FDA precisa esclarecer e informar a extensão total da contaminação por PFAS no suprimento de alimentos norte americano e há quanto tempo. Mais importante, a agência deve tomar medidas imediatas para proteger a saúde pública desses compostos perigosos”.

Sharon Lerner do Intercept , que narrou a saga da contaminação PFAS e o papel que a 3M, a DuPont e outros desempenharam em encobri-la, relatou no estudo de 2001 hoje.

 Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, agosto de 2020.