A força da bancada da bula

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Além de financiar campanhas, indústria farmacêutica agora tem suplente no Congresso.

OUTRASAÚDE

NEWSLETTER DO DIApor Raquel Torres

Publicado 20/02/2019 às 08:44 – Atualizado 20/02/2019 às 08:45

Ogari de Castro Pacheco (DEM-TO) tem 80 anos, R$ 407 milhões no bolso e é sócio-fundador de uma das maiores farmacêuticas brasileiras, a Cristália. Agora, estreando na política, é também suplente do senador Eduardo Gomes (MDB-TO), que teve 87% de suas doações de campanha vindas de executivos do laboratório. E Pacheco já vai começar a atuar com força, mesmo enquanto suplente. “No acordo que eu tenho com o Eduardo (Gomes), ele é que vai tomar posse, mas eu vou começar a trabalhar já, não vou esperar assumir o mandato para trabalhar. Eu vou ter dentro do gabinete do Eduardo um “subgabinete”. As matérias de saúde vão ficar sob minha responsabilidade, e uma série de projetos que já estão em elaboração. Ele é que vai apresentar, porque ele tem a voz e o voto, mas vou apoiá-lo e subsidiar as informações necessárias para que ele tente aprovar esses projetos”, contou à Repórter Brasil.

Ter um assento no Congresso é uma grande vantagem para a indústria – como disse Pacheco, “a gente sempre critica que tem que se valer de um intermediário. Mas nada melhor do que alguém da área”. Mas o lobby é antigo e a influência do setor é gigantesca.

Um grande levantamento feito pela reportagem apurou que no ano passado, mesmo que a doação de pessoas jurídicas para campanhas estivesse proibida, o volume de investimentos da indústria nas eleições foi de R$ 13,7 milhões, distribuídos entre 356 candidatos. Elas foram feitas legalmente por pessoas físicas: executivos ligados a 462 laboratórios de medicamentos, distribuidoras e farmácias. Em 2010 e 2014, empresas podiam financiar, o setor farmacêutico doou R$ 26 milhões e R$ 57 milhões, respectivamente, para 1.404 candidatos ao todo. Isso, é claro, considerando as doações declaradas. 

O sucesso da indústria farmacêutica depende muito do setor público, como lembra a matéria. Afinal, o SUS responde por quase R$ 20 bilhões das compras de remédios no Brasil, e as isenções fiscais que recebe contam mais R$ 9,5 bi. O maior cliente da Crisália, por exemplo, é o SUS.