Quantidades inéditas e dramáticas de metano—um gás de efeito estufa 20 vezes mais potente que o dióxido de carbono—foram vistas borbulhando até a superfície do Oceano Ártico por cientistas que realizavam uma vistoria extensiva da região.
http://www.ecodebate.com.br/2011/12/30/choque-recuo-do-gelo-do-oceano-artico-libera-gases-de-efeito-estufa-mortais/
Publicado em dezembro 30, 2011
Publicado no Jornal The Independent , de Londres, em 13 dezembro de 2011
A equipe de pesquisadores russos ficou estupefata depois de encontrar fontes de metano, em quantidade cem vezes maior que o já visto, borbulhando até a superfície.
A escala e o volume da liberação de metano deixou estupefato o chefe da equipe russa de pesquisa que há vinte anos vistoria o solo oceânico da Plataforma continental Ártica da Sibéria, na costa norte do Leste da Rússia.
Em entrevista exclusiva a The Independent, Igor Semiletov, membro da Academia Russa de Ciências, disse que nunca havia testemunhado a escala e a força do metano liberado de debaixo do solo oceânico ártico.
“Anteriormente havíamos encontrado estruturas em forma de tocha como esta, borbulhando metano, mas elas possuíam apenas dezenas de metros de diâmetro. Esta é a primeira vez que encontramos estruturas de escoamento contínuas, impressionantes e poderosas, de mais de 1.000 metros de diâmetro. É impressionante”, disse o Dr. Semiletov. “Eu fiquei mais estupefato pela tremenda escala e alta densidade das plumas. Em uma área relativamente pequena encontramos mais de 100, mas numa área mais ampla deve haver milhares de plumas”.
Os cientistas estimam que há centenas de milhões de toneladas de gás metano presas por baixo do Permafrost, o subsolo congelado, que se estende do continente e mar adentro, localizado na relativamente rasa plataforma continental do mar Ártico no Leste da Sibéria.
Um dos maiores medos é que, com o desaparecimento do gelo marinho do Ártico no verão1 e a elevação rápida das temperaturas em toda a região, que já está derretendo o subsolo congelado da Sibéria continental, os bolsões de gás metano presos poderiam ser liberado de repente na atmosfera, levando a um rápido e severo aquecimento global .
A equipe do Dr. Semiletov publicou, em 2010, um estudo avaliando que as emissões de metano dessa região eram de aproximadamente de oito milhões de toneladas por ano, mas a expedição mais recente sugere que esse número subestima significativamente o fenômeno.
No final do verão setentrional de 2011 -inverno no hemisfério sul-, o navio de pesquisa russo “Acadêmico Lavrentiev” conduziu uma extensa vistoria de no mar na costa do leste da Sibéria. Os cientistas utilizaram quatro instrumentos altamente sensíveis, tanto sísmicos como acústicos, para monitorar as “fontes” ou plumas de bolhas de metano que sobem até a superfície do mar vindas de debaixo do solo oceânico.
“Numa área bem pequena, de menos de 25.900 km² (equivalente a uma área de 259 km x 100 km), contamos mais de 100 fontes, ou estruturas em forma de tocha, borbulhando pelas colunas de água e sendo injetadas diretamente na atmosfera a partir do subsolo oceânico”, disse o Dr. Semiletov. “Em 115 pontos estáticos, nós checamos e descobrimos campos de metano numa escala impressionante—creio que numa escala jamais vista antes. Algumas plumas eram de um quilômetro ou mais de largura e as emissões iam diretamente para a atmosfera. A concentração era cem vezes maior que a normal.”
O Dr. Semiletov divulgou suas descobertas pela primeira vez em Dezembro de 2011na semana passada, no encontro da União Americana de Geofísica, em San Francisco, E.U.A.
Tradução de Celso Copstein Waldemar para o EcoDebate.
Anexo:
Texto integral da Carta do Grupo de Emergência do Metano Ártico dirigida aos Líderes Mundiais:
Em apoio as propostas do Grupo de Emergência do Metano Ártico
A intervenção emergencial para estabilizar no Oceano Ártico a liberação do gás metano e o gelo marítimo é hoje uma questão essencial para nossa sobrevivência
Nos, entidades da sociedade civil e demais cidadãos escrevemos este manifesto em apoio a proposta básica do Grupo de Emergência do Metano Ártico, que inclui entre os seus membros fundadores Peter Wadhams, professor de Física Oceânica, da Universidade de Cambridge Inglaterra; Stephen Salter, professor emérito de Engenharia de Design, de Edimburgo, Escócia e Brian Orr, ex diretor do departamento ambiental, Grã-Bretanha . O Grupo tem recebido apoio e conselhos de muitos colegas e de eminentes pesquisadores científicos do clima em todo o mundo .
O objetivo desta carta é respeitosamente chamar a sua atenção para a recente evidência do rápido aprofundamento da crise climática que está acontecendo no Ártico.
Apelamos para você apoiar o nosso chamado para pôr o rápido aumento das emissões atmosféricas do gás metano oriundo do Mar Ártico e a perda eminente do gelo do mar Ártico no verão como prioridade da agenda política nacional brasileira e internacional sobre mudanças climáticas bem como apoiar medidas de emergência para resfriar o Ártico.
O Professor Peter Wadhams, em nome do Grupo de Emergência do Metano Ártico, falou sobre esta questão crítica na conferência da União Geofísica Americana (AGU) em Dezembro de 2011 em São Francisco, EUA. Os Elementos-chave de sua apresentação foram divulgados posteriormente em um artigo no jornal The Independent de Londres . A base para nossas preocupações e para os relatos da mídia é descrito em nosso sítio e num documento de 16 páginas intitulado “Alerta do Metano Ártico” . Também é recomendável acessar o resumo da apresentação feita na mesma conferencia (AGU) por John Nissen, membro deste grupo.
Eis o resumo:
• A perda de gelo do mar Ártico no verão e aumento do aquecimento dos mares do Ártico ameaça a instabilidade dos hidratos de metano e pode provocar uma liberação maciça e catastrófica de metano na atmosfera, como observado no Quarto Relatório do IPCC AR4, 2007:
• Trabalhos científicos publicado por N. Shakhova e colaboradores mostram que o metano já está sendo liberado para a atmosfera a partir de hidratos de metano do fundo do Oceano Ártico sobre a Plataforma Continental Siberiana Oriental, a maior plataforma continental do mundo. Se for permitido, o crescimento destas emanações gasosas provavelmente levará a um abrupto e catastrófico aquecimento global.
• A expedição científica mais recente deste grupo de pesquisa para a região (setembro / outubro 2011), segundo o professor I. Semiletov, testemunhou o borbulhamento de metano na superfície marinha em uma “escala fantástica”, “algumas áreas com até um quilômetro de diâmetro “, “muito maior” do que observações anteriores, que foram oficialmente publicadas em 2010 4 Naquele ano as emissões de metano nesta região marinha eram equivalentes a emissão de metano de todos os outros oceanos juntos8.
• A perda de gelo do mar Ártico no verão e aquecimento da superfície posterior aumento do Ártico vai inevitavelmente aumentar a taxa de emissões de metano já está sendo liberado de áreas úmidas do Ártico e descongelamento do permafrost.
• Os últimos dados disponíveis indicam que há uma possibilidade de 5-10% do Ártico estar livre de gelo até setembro de 2013, mais provavelmente em 2015, e com um intervalo de confiança de 95% até 2018. Isto, de acordo com as reconhecidas autoridades mundiais em gelo do mar Ártico, Prof. Peter Wadhams (Universidade de Oxford e Prof Dr. Wieslaw Maslowski (Escola de Pós-graduação da marinha Americana, San Diego, E.U.A , é “o ponto de não retorno” para o gelo do mar no verão. Uma vez que formos além deste ponto, pode ser impossível reverter o degelo a partir de qualquer tipo de intervenção humana. Os dados indicam que o Ártico poderia ficar sem gelo durante seis meses do ano em 2020 (PIOMAS 2011) .
Figura 2. Fonte:http://www.thearcticinstitute.org/p/arctic-sea-ice-extent-and-volume.html
É com base nas informações recentes e mais qualificadas que nós estamos pedindo medidas urgentes e imediatas para deter o declínio crescente de gelo do mar Ártico.
Ação é exigida pelo Princípio Da Precaução e nos termos da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que afirma:
“As Partes devem tomar medidas cautelares para antecipar, prevenir ou minimizar as causas das alterações climáticas e mitigar seus efeitos negativos Onde houver ameaças de danos sérios ou irreversíveis, a falta de plena certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar essas medidas. ”
As condições que há tempo têm sido reconhecidas como potencialmente causadoras da emissão de grandes quantidades de metano no Ártico estão claramente em desenvolvimento .
Os impactos calamitosos da omissão e da inação humana são bem conhecidos…é a- mudança climática descontrolada.
Como o Secretário de Energia dos EUA e ganhador do Prêmio Nobel de Física em 1997, Steven Chu, disse, ao abordar as consequências de um derretimento do gelo ártico, “É uma situação fora de controle…. Não podemos chegar lá.” A única maneira de evitar esta situação crítica de que redundará em uma catástrofe global é através do reconhecimento internacional da questão, intensificação imediata urgente e colaborativa da investigação científica e do desenvolvimento de ações em escala de emergência, como Geoengenharia ( e queima do metano) para resfriar o Ártico.
Estamos contando com seu apoio.
“Remobilização e lançamento para a atmosfera de apenas uma pequena fração do metano existente nos sedimentos da Plataforma Continental da Sibéria Oriental poderia provocar o aquecimento abrupto do clima. Nossa preocupação é que o permafrost submarino já vem mostrando sinais de instabilidade. Se ela ainda continuar a desestabilizar, as emissões de metano não serão em milhões de toneladas, serão significativamente maiores. A liberação para a atmosfera de apenas um por cento dos hidratos de metano armazenado em depósitos de pouca profundidade neste oceano raso pode alterar o teor atual de metano na atmosfera em até 3 a 4 vezes. ”
Natália Shakhova, Cientista Russa.
In: Shakhova et al. 2010, Extensive Methane Venting to the Atmosphere from Sediments of the East Siberian Arctic Shelf, SCIENCE vol.237: 1246-1250 . http://www.sciencemag.org/content/327/5970/1246.full.html