Resumo da história
- Um projeto de lei, chamado de Personal Care Products Safety Act (nt.: Lei da Seguridade dos Produtos para o Cuidado Pessoal), poderá requerer que a FDA (nt.: Administração de Medicamentos e Alimentos dos EUA) analise, a cada ano, cinco químicos utilizados nos produtos para o cuidado pessoal, para avaliar se são seguros;
- Na Europa, estão proibidos mais de 11.300 substâncias químicas nos produtos para o cuidado pessoal, em comparação com os somente 11 que estão proibidas nos Estados Unidos;
- Atualmente, os cosméticos podem chegar ao mercado sem qualquer tipo de autorização necessária.
By Dr. Mercola
De acordo com a ONG norte americana EWG (nt.: Grupo de Trabalho Ambiental), a mulher em média utiliza, ao dia, 12 produtos para o cuidado pessoal e/ou cosméticos que contêm 168 substâncias químicas. Mesmo que a maioria dos homens usem menos produtos, ainda sim estão expostos diariamente a, mais ou menos, 85 destas substâncias.
Os adolescentes, cujos corpos estão em crescimento, são especialmente vulneráveis à exposição dos químicos, utilizam em média 17 produtos para o cuidado pessoal diariamente, sendo expostos a muitos outros mais.1
Quando a ONG EWG analisou os adolescentes para detectar que químicos nos produtos para o cuidado pessoal (nt.: chemicals in personal care products) se encontravam em seus corpos, detectou 16 diferentes substâncias químicas alteradoras de hormônios (nt.: os disruptores endócrinos), incluindo parabenos e ftalatos.2
Poderíamos nos surpreender de que haja químicos potencialmente prejudiciais em produtos de uso pessoal como creme corporal, desodorante, xampu e cosméticos.
Mas, na realidade isso é uma situação bem corriqueira entre estes produtos. Cosméticos, por exemplo, podem chegar ao mercado sem nenhum tipo de autorização necessária.
A FDA norte americana (nt.: Administração de Medicamentos e Alimentos) tem poder público para regulamentá-los, mas só depois que um deles for considerado danoso, adulterado ou etiquetado incorretamente.
E isso que ocorre de forma muito esporádica. Atualmente, um grupo suprapartidário do legislativo dos EUA, constituído por congressistas contrariados com a adição de químicos perigosos aos produtos de cuidado da beleza e da pele, estão solicitando uma alteração nesta realidade, muito necessária.
O Congresso Quer Dar à FDA Mais Poderes Para Tornar Seguros os Produtos de Cuidado Pessoal
O Congresso propôs uma lei que dará à FDA autoridade para analisar se os químicos agregados nos produtos para o cuidado pessoal estão sendo utilizados em níveis seguros. Se forem detectados de que os químicos excedem os níveis “seguros”, ela poderia exigir a retirada deles do mercado.
Atualmente, a FDA simplesmente não tem os recursos para analisar “rotineiramente” tais produtos ou mesmo para tomar uma ação regulamentadora, exceto sob circunstâncias extremas. De acordo com a FDA:3
“A FDA decide sobre suas ações reguladoras baseadas em prioridades da agência, congruentes às preocupações com a saúde pública e recursos disponíveis”.
Um projeto de lei, chamado Lei de Seguridade nos Produtos para o Cuidado Pessoal, poderia mudar isso. Segundo o relato da ABC News:4
“As senadoras Dianne Feinstein, democrata do estado da Califórnia, e Susan Collin, republicana do estado de Maine, apresentaram uma emenda à Lei Federal de Alimentos, Medicamentos e Cosméticos que poderia dar à FDA mais poder e supervisão para regulamentar os químicos que saturam os corpos de homens e mulheres diariamente”.
O projeto de lei inclui um sistema que solicita aos fabricantes dos produtos, registrarem os produtos e ingredientes, e poderia requerer que a FDA revise a cada ano, cinco químicos presentes em produtos para o cuidado pessoal para avaliar se são seguros. O primeiro grupo de químicos recomendados para serem avaliados inclui:
- Diazolidinil ureia/germinal II (nt.: conservante usado em vários produtos de uso pessoal);
- Acetato de chumbo (nt.: usado em tinturas de cabelo);
- Metileno glicol/Formaldeído (nt.: conservante);
- Propilparabeno (nt.: conservante);
- Quaternium-15 (nt.: conservante).
Na Europa, está proibido o uso de mais de 1.300 químicos em loções, sabonetes, pasta de dentes, cosméticos e outros produtos de uso pessoal. Diferente dos Estados Unidos (nt.: desconhecemos como este tema é tratado no Brasil), somente estão proibidos 11 químicos.5
Adicionando insulto à injúria, a FDA encarrega as empresas que fabricam e comercializam cosméticos e outros produtos de cuidados pessoais, garantirem por sua segurança.
A situação como está não só produz um conflito de interesses óbvio, como também de que “nem a lei nem as regulamentações da FDA exigem atualmente provas específicas que demostrem a seguridade de seus ingredientes ou de produtos individuais”.6
O novo projeto de lei, que se espera que seja aprovada, mudará esta situação e, pouco a pouco, muitos dos piores infratores poderiam retirar do mercado seus produtos para o cuidado pessoal. A senadora por Califórnia, Dianne Feinstein, explicou a CBS News:7
“Devido à adição de alguns químicos – químicos que agem como conservantes, químicos para aumentar o brilho… nossas leis devem determinar provas adequadas que avaliem os químicos antes de integrarem os produtos que se utilizam amplamente”.
Químicos em Enxagues Bucais Vinculados à Pressão Arterial Alta e ao Câncer
Se quisermos perguntar quão rapidamente exposições a substâncias químicas em nossos produtos de cuidado pessoal se somam entre si, consideremos, por exemplo, a longa lista de químicos detectados num enxágue bucal convencional.
Ao se usar duas vezes ao dia o enxágue bucal que contém o químico antisséptico clorexidina, pode-se ter elevação da pressão arterial que ele está associado a esta situação.8
Isso se deve porque o químico elimina a microbiota oral que reduz o nitrato (bactéria benéfica que ajuda a relaxar os vasos sanguíneos), que por sua vez desempenha um papel na determinação de nossa pressão arterial (nt.: blood pressure levels/nivel de presión arterial). A autora principal do estudo, a Profa. Amrita Ahluwalia explicou ao periódico Daily Mail que:9
“É um desastre acabar com todos esta microvida diariamente, quando os pequenos aumentos na pressão arterial têm grande impacto na morbidez e mortalidade causada por enfermidades cardíacas e derrames cerebrais… Não estamos dizendo às pessoas que deixem de usar enxágues bucais antissépticos se tiverem uma infecção nas gengivas ou dentes — mas perguntarmos porque alguém quereria fazer isso”.
O álcool que também se agrega comumente ao enxágue bucal, é outro químico perigoso. Se ele está vinculado a um aumento de risco ao câncer oral, vê-se que os pesquisadores concluem de que: 10
“… Cremos que agora existem evidências suficientes para aceitarmos a proposta de que o álcool que os enxágues bucais contêm, contribui para um aumento do risco no desenvolvimento de câncer oral e ademais sentimos que é inadmissível para o cuidado profissional na saúde oral recomendarmos o uso, por longo prazo, dos enxágues bucais que contenham álcool”.
O enxágue bucal que usamos poderia também conter o conservante metilparabeno. Os parabenos (nt.: parabenos) são químicos que se encontram nos desodorantes e outros produtos de uso pessoal, que mostraram a capacidade de imitar a ação do hormônio feminino: estrógeno, que pode levar ao desenvolvimento de tumores nos seios humanos (nt.: esta ação torna as substâncias disruptores endócrinos).
Um estudo publicado em 2012, sugeriu que os parabenos nos antitranspirantes e outros produtos, parece aumentar o risco de câncer de mama.11
Sem mencionar, que ao contrário da crença popular, os enxágues bucais com agentes antimicrobianos e álcool, projetados para “acabar com as bactérias prejudiciais”, na realidade, trazem mais prejuízo do que benefício, ao acabar com nosso microbioma oral. Uma alternativa mais natural pode ser a receita do website Living Traditionally.12
Receita de Enxágue Bucal Remineralizante Natural
Ingredientes:
- 2 colherinhas de bicarbonato de cálcio
- 1 colherinha de cristais de xilitol
- 10 gotas de líquido com traços de minerais (oligoelementos)
- 10 gotas de óleo essencial de menta
- 5 gotas de óleo essencial de limão
- 2 gotas de óleo essencial de laranja silvestre
- 2 xícaras de água purificada
Preparação:
- Em uma jarra grande, mesclar o bicarbonato de cálcio e os cristais de xilitol.
- Agregue o líquido com os minerais e as gotas de óleos essenciais.
- Agregue a água purificada e mexer.
- Vedar a tampa do jarro e agitar os ingredientes por um minuto ou até que se dissolvam os cristais de xilitol.
- Agitar bem antes de usar.
- Guarde no refrigerador por, no máximo, de duas semanas.
Mesmo os Produtos Para a Higiene Feminina Poderão Ser Tóxicos
Como a maioria dos produtos para o cuidado pessoal, os produtos para a higiene feminina não requerem que se tornem públicos seus ingredientes, significando que as mulheres não têm formas de saber o que é que estão colocando em seus corpos.
O grupo consumidor Women’s Voices for the Earth (WVE) provaram que os absorventes Always, feitos pela Procter & Gamble, emitem o monômero cancerígeno estireno, cloroetano (nt.: substância muito próxima do venenoso PVC) e clorofórmio. Ainda que a emissão eram em níveis relativamente baixos, o grupo observou que “a presença deles justifica preocupações com a saúde das mulheres”.
Desde 1997, a congressista republicana de Nova York, Carolyn Maloney, apresentou projetos de lei por nove vezes, solicitando que mais fabricantes de produtos para a higiene feminina, revelem completamente os ingredientes de suas mercadorias. Também, exortou aos Institutos Nacional de Saúde dos EUA que examinassem os efeitos de tais produtos sobre a saúde, já que se existiam pouquíssima pesquisa sobre eles. Infelizmente, o projeto de lei falha mais uma vez.13
A maioria dos tampões são feitos de algodão, rayon ou outro tipo de fibra, mas estes materiais podem conter subprodutos de desinfecção tóxica como consequência do processo de branqueamento com cloro, gerando dioxinas e furanos, assim como a presença de agrotóxicos no algodão não ecológico.
Os estudos mostraram que a dioxina se acumula no tecido gorduroso, e de acordo com um rascunho da EPA (nt.: Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos), a dioxina é uma séria ameaça à saúde pública já que não existe nenhum nível de exposição “seguro”. A FDA (nt.: Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA) sustenta que as quantidades “traço” de dioxina não gerariam preocupações para a saúde humana. No entanto, não leva em consideração o somatório de exposições de uma mulher durante sua vida. O microbiologista da Escola de Medicina da Universidade de Nova York, Philip Tierno, disse ao periódico Review Journal que: 14
“É evidente que um tampão terá traços destas toxinas… mas consideremos a vida menstrual de uma mulher. Elas usam aproximadamente 12.000 tampões em toda sua vida. Isso significa que têm 12.000 exposições à dioxina… cinco, seis ou sete vezes ao dia. Resulta que muita dioxina acaba sendo absorbida diretamente através da vagina. E indo diretamente para o sangue”.
Alexandra Scraton, diretora de Ciência e Investigação d grupo Women’s Voices for the Earth, continuou com esta expressão:15
“O tecido vaginal é diferente de qualquer outro tipo de pele. Está coberto por membranas mucosas e é muito permeável. É uma via direta aos órgãos reprodutivos. Devemos ter muito cuidado com estes produtos”.
Que Mais Se Oculta Em Nossos Produtos para o Cuidado Pessoal?
Nossos produtos para o cuidado pessoal podem ou não ter a listagem completa de seus ingredientes. Se estivem explícitos, poderemos ver alguns que o melhor é evitá-los:
- O Lauril sulfato de sódio (SLS ou SLES, por suas siglas em inglês), é um surfactante (nt.: substância que reduz a tensão superficial de um líquido), detergente (nt.: são surfactantes com um lado polar e outro apolar como o sabão natural) e emulsificante (nt.: têm a função de aumentar a aeração da massa produzindo, por exemplo, espuma) que se usa em milhares de produtos cosméticos, assim como em limpadores industriais. Encontra-se em todos os xampus, tratamentos para o couro cabeludo, tinturas para o cabelo e agentes branqueadores, pasta dental, ‘body washes‘ e produtos para a beleza facial, base de maquilagem, sabão líquido para mãos, detergentes para roupa, sais de banho/óleos para banho. O problema real com o SLES/SLS, é que no processo de fabricação (etoxilação) o SLES/SLS resulta se contaminar com 1,4 dioxano, um subproduto carcinogênico.
- Os ftalatos são plastificantes que se relacionam com defeitos de nascimento no sistema reprodutivo dos meninos e uma baixa mobilidade dos espermatozoides em homens adultos dentre outros problemas. Termos em conta que os ftalatos normalmente são ocultados nos rótulos de xampu e outros produtos de cuidado pessoal, por estar disfarçado pelo termo genérico de “fragrância” ou “parfum“.
- A metilisotiazolinona (MIT, por sua sigla em inglês), é um químico que se utiliza em xampu e outros cosméticos para prevenir o desenvolvimento de bactérias, podendo ter efeitos nocivos para o sistema nervoso.
- O tolueno, feito de petróleo ou do alcatrão de hulha, é encontrado na maioria das fragrâncias sintéticas e abrilhantadores de unhas. A exposição crônica está relacionada com a anemia, baixo nível na contagem de células do sangue, dano ao fígado ou rins e pode afetar o desenvolvimento fetal.
- Almíscar sintético: está relacionado a um trastorno hormonal e se crê que persista e se acumula no leite materno, nas gorduras corporais, no sangue do cordão umbilical e no próprio ambiente. De acordo com o grupo dos EUA EWG (nt.: Grupo de Trabalho Ambiental):16
“Uma análise do conteúdo químico dos produtos revela que a “fragrância”, que parece inofensiva, normalmente contém químicos que se relacionam com efeitos negativos à saúde. Os ftalatos, utilizados para fazerem com que as fragrâncias durem mais, se associam [com] o dano aos sistemas reprodutivos masculinos e o almíscar artificial se acumula em nossos corpos e pode ser detectado no leite materno. Inclusive alguns almíscares artificiais estão relacionados com o câncer.
E caso alguém tenha asma, cuidado!, as fórmulas de fragrâncias estão sendo consideradas entre os cinco alergênicos mais importantes, podendo desencadear ataques de asma. Amiúde, são usados estes mesmos tipos de químicos para fragrâncias em produtos de limpeza, velas aromáticas e aromatizantes para ambiente. Para evitar os efeitos adversos desagradáveis, escolher um produto livre de fragrância, mas ter cuidado com os rótulos que dizem “sem essência”. Pode significar que o fabricante agregou outra fragrância para mascarar o odor original”.
Se Houver Dúvidas, Não Usar No Corpo
É importante lembrar que a pele é o maior e mais permeável órgão de nosso corpo. Praticamente qualquer coisa que se colocar na pele, terminará em nossa corrente sanguínea e será distribuído por todo o corpo.
Uma vez que os químicos encontrem a forma de chegar ao nosso corpo, conforme passe o tempo, tenderão a se acumular porque naturalmente carecemos das enzimas necessárias para descompô-los. Esta é a razão porque sou afeito a dizer que “não coloquemos nada em nosso corpo que não comeríamos se tivéssemos que fazê-lo”. E se não soubermos que químicos estão no rótulo, não nos aventuremos a utilizá-los sobre nós mesmos.
O grupo norte americano EWG (nt.: Grupo de Trabalho Ambiental) tem um excelente banco de dados que nos ajudará a encontrar que produtos para o cuidado pessoal são livres de químicos potencialmente perigosos.17 Os produtos que têm o selo de 100% Orgânicos do USDA (nt.: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, equivalente ao Ministério da Agricultura no Brasil), estão entre as apostas mais seguras, se queremos evitar ingredientes potencialmente tóxicos (nt.: no Brasil estes produtos têm um selo e uma certificação aprovados pelo Ministério da Agricultura).
Ter cuidado com os produtos que exibem rótulos dizendo: “todo natural”. É possível que ainda contenham químicos prejudiciais. Devemos então nos assegurar, verificando a lista completa de seus ingredientes. Melhor ainda, simplifiquemos nossa rotina e façamos nós mesmos todos os produtos que pudermos. Por exemplo, muitas loções, poções e tratamentos para os cabelos, podem ser eliminados com um simples uso de gordura de coco, que ainda nos permite, se quisermos, agregar-lhe, um óleo essencial de alta qualidade para aromatizá-lo.
Fontes e Referências
- 1, 2, 4 ABC News April 27, 2015
- 3 FDA Authority Over Cosmetics
- 5 Idaho Mountain Express July 29, 2015
- 6 US FDA, FDA Authority Over Cosmetics
- 7 CBS News November 18, 2015
- 8 Free Radic Biol Med. 2013 Feb; 55: 93–100.
- 9 Daily Mail January 25, 2014
- 10 Australian Dental Journal December 2008, Volume 53, Issue 4, pages 302-305
- 11 Journal of Applied Toxicology January 12, 2012: 32(3); 219-232
- 12 Living Traditionally November 16, 2015
- 13, 14, 15 Review Journal November 13, 2015
- 16 Environmental Working Group December 6, 2007
- 17 EWG.org Skin Deep Database
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, janeiro de 2016