10 problemas de saúde relacionados a alterações climáticas

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Dr. Bruce Y. Lee

24 de abril de 2019

Você já viu esse paciente? Esse indivíduo é esférico e mais velho; tem aproximadamente 4,5 bilhões de anos de idade; e vem passando por algumas mudanças perturbadoras, como aquecimento, principalmente nas últimas décadas.

Não é todo dia que o planeta Terra aparece no seu consultório, pronto-socorro, hospital ou centro cirúrgico, mas você tem prestado atenção ao que está acontecendo com ele? Uma enorme quantidade de dados científicos mostra que o clima da Terra está mudando:

•   A temperatura média da superfície da Terra subiu aproximadamente 0,9 °C desde o final do século XIX, e a maior parte deste aumento ocorreu nos últimos 35 anos.

•   Os cinco anos mais quentes já registrados ocorreram depois de 2010.

•   A cada ano, de 1993 a 2016, a Groenlândia vem perdendo uma média de 281 bilhões de toneladas de massa de gelo, e a Antártica uma média de 119 bilhões de toneladas, e a taxa de perda na Antártica triplicou na última década.

•   O nível do mar subiu 20 cm no século passado, e o aumento nas últimas duas décadas foi quase o dobro do século passado.

•   A quantidade de eventos intensos de precipitação está aumentando.

•   A acidez da água na superfície do oceano aumentou em 30% desde o início da Revolução Industrial.

A alteração climática é real e, como afirma outra página da NASA, “97% ou mais dos cientistas que publicam ativamente sobre temas relacionados com o tema concordam que as tendências de aquecimento do clima no século passado são extremamente atribuíveis às atividades humanas”.

Naturalmente, a Terra não está na sua lista de pacientes. No entanto, como a alteração climática também é um problema para a saúde humana, também pode ser considerada no seu atendimento. Aqui estão 10 maneiras como os pacientes podem ser atingidos pela alteração climática, e o que você pode fazer a respeito.

1. Aumento do risco de problemas respiratórios, como alergias, asma , doenças pulmonares crônicas e câncer de pulmão. Mudanças nas concentrações de dióxido de carbono, temperatura atmosférica e precipitação podem elevar a quantidade de ozônio, pólen, esporos de mofo, partículas finas e substâncias químicas no ar que respiramos, e podem irritar e danificar os pulmões e as vias aéreas.

O que dizer aos pacientes: Preste atenção às medições e alertas da qualidade do ar e permaneça em ambiente fechado nos dias com má qualidade do ar. Fale com o seu médico sobre quaisquer novos sintomas respiratórios ou alérgicos e quando e onde eles ocorrem, porque o seu médico pode querer fazer exames, como testes de alergia. Considere se mudar para outro local, se a má qualidade do ar e os sintomas persistirem.

2. Aumento do risco de câncer de pele e catarata. A diminuição do ozônio na estratosfera permite que mais radiação ultravioleta chegue à superfície da Terra, o que pode resultar em câncer de pele e em cataratas.

O que dizer aos pacientes: Use um protetor solar adequado e proteja os olhos corretamente, não fique muito tempo sob o sol e se cubra quando puder. Faça um check-up da pele com um dermatologista periodicamente.

3. Aumento do risco de doença cardiovascular e acidente vascular cerebral .Mais temperaturas extremas somadas à pior qualidade do ar e ao estresse causado por eventos climáticos extremos podem sobrecarregar o sistema cardiovascular. Além disso, as alterações climáticas podem contribuir para a disseminação de alguns insetos vetores de doenças que podem afetar o coração, como a doença de Lyme e a doença de Chagas.

O que dizer aos pacientes: Não deixe de conferir a previsão do tempo. Proteja-se de temperaturas extremas permanecendo em ambientes fechados ou pelo menos ficando na sombra ou propriamente abrigado. Faça check-upscom regularidade para avaliar a saúde cardiovascular, e não ignore sintomas como dor no peito ou no braço, ou dificuldade de locomoção, fala ou de pensamento. Tente controlar o estresse. Proteja-se contra insetos.

4. Exaustão por calor ou insolação. O aumento das temperaturas significa mais calor.

O que dizer aos pacientes: Não deixe de conferir a previsão do tempo. Fique no ar condicionado quando apropriado e reduza o tempo ao ar livre quando estiver muito quente. Use roupas leves e com proteção solar.

5. Problemas nutricionais, como desnutrição ou obesidade. As alterações climáticas podem afetar negativamente a produção de alimentos, atingindo plantas e animais, levando a diminuição da disponibilidade de alimentos naturais e saudáveis, como frutas e verduras.

A alteração climática também pode aumentar a população de insetos, levando ao uso de mais pesticidas e produtos químicos que poderiam permanecer na comida. Eventos climáticos extremos podem levar à contaminação do suprimento de alimentos com toxinas, como chumbo, mercúrio e arsênico. Além disso, podem ocorrer florações de algas tóxicas, que podem atingir a população de peixes e, em última instância, você.

Tudo isso pode causar o aumento da dependência de alimentos altamente processados e pouco saudáveis.

O que dizer aos pacientes: Fique atento ao conteúdo nutricional da própria comida. Tente escolher alimentos menos processados e que não tenham muito açúcar, sal ou ingredientes artificiais. Converse sobre a sua dieta com o seu médico ou nutricionista, e não com defensores das dietas da moda sem evidências científicas. Para obter nutrientes, é melhor confiar em comida de verdade, não em suplementos.

6. Doenças transmitidas por alimentos. Mudanças em temperatura, precipitação e níveis do mar, bem como eventos climáticos extremos, podem criar condições ótimas para a propagação de micróbios causadores de doenças (por exemplo, Vibrião), que podem contaminar os alimentos.

O que dizer aos pacientes: Acompanhe os alertas governamentais sobre doenças transmitidas por alimentos e pesquise sobre as notificações de ocorrências de diferentes empresas de produção e venda de alimentos. Verifique as regras de segurança alimentar em vigor e se elas estão sendo cumpridas. Os regulamentos existem para proteger o consumidor.

Use boas práticas de preparo de alimentos, como lavar as mãos frequentemente e com cuidado, limpar utensílios e outros objetos que tenham tocado em alimentos crus ou potencialmente contaminados, e cozinhe adequadamente os alimentos.

Se você acha que pode estar sofrendo de uma doença de origem alimentar, entre em contato com seu médico assim que possível. Alguns casos podem ser perigosos e fatais. Além disso, o seu médico pode notificar as autoridades no caso de suspeita de surto.

7. Saúde mental e problemas relacionados com o estresse. Eventos climáticos extremos, como inundações, incêndios florestais e tornados não são divertidos, a menos que você seja a Tempestade dos X-Men ou o Tornado Vermelho (derrotado pela Supergirl na primeira temporada). Muito menos a poluição, a menos que você esteja lucrando com isso. Mesmo pequenas mudanças na temperatura, na precipitação e no nível do mar podem afetar a maneira como você se sente.

O que dizer aos pacientes: Fique atento à própria saúde mental. Não deveria existir vergonha ou estigma em admitir que você não se sente bem ou está enfrentando problemas de saúde mental. Converse sobre a sua saúde mental com seu médico e com outros profissionais de saúde regularmente. Seu médico pode querer fazer um checkup de saúde mental regular para saber como você está. Não tenha medo de falar com seu médico ou com o profissional de saúde mental sobre qualquer coisa.

8. Doenças transmitidas por insetos. Mudanças na temperatura, precipitação, umidade e outros padrões climáticos podem facilitar a disseminação, persistência e comportamento de mosquitos, barbeiros, carrapatos e outros insetos que podem transmitir doenças como maláriadenguezika, doença de Chagas, febre do Nilo Ocidental e doença de Lyme.

O que dizer aos pacientes: Conheça onde esses insetos vivem normalmente e como isso pode estar mudando. Use roupas de proteção e repelente de insetos se houver exposição. Fique em ambiente fechado durante os horários em que os mosquitos atacam. Livre-se de tudo que possa permitir a criação de insetos, como água parada em baldes, banheiras ou pneus.

Informe o seu médico sobre viagens para algum lugar novo, que possa ter risco de transmissão de doenças por insetos. Seu médico pode querer fazer exames para algumas doenças caso você tenha risco de contraí-las, então compartilhe os seus hábitos ao ar livre com o seu médico.

9. Eventos e desastres relacionados ao clima extremo causando os quatro D (em inglês, damage, distress, disease, and death): dano, angústia, doença e morte. Mesmo mudanças relativamente pequenas em temperatura, umidade e outras aspectos ambientais podem desencadear eventos extremos, como incêndios florestais, deslizamentos de terra, furacões ou inundações. Por exemplo, você pode recolher quantas folhas secas quiser, mas a seca ainda criará condições ótimas para um incêndio florestal.

O que dizer aos pacientes: Esteja preparado para esses eventos extremos. Certifique-se de que sua casa esteja abastecida com suprimentos de emergência e saiba como agir em diferentes tipos de eventos. Fique atento aos avisos e alertas de desastres. Procure atendimento médico se você se machucar durante um evento extremo. Você pode estar mais machucado do que você pensa.

10. Outros problemas metabólicos, endócrinos, do microbioma e de fertilidade. Só conhecemos a ponta do iceberg (que, a propósito, pode estar derretendo) do que a alteração climática pode estar causando ao corpo das pessoas. Por exemplo, pesquisas da University of California, Los Angeles(UCLA) mostraram que as alterações climáticas podem estar afetando a fertilidade.

O que dizer aos pacientes: As alterações climáticas são um problema para a saúde humana. Mais pesquisas devem ser realizadas, com menos negação da ciência. Faça o que puder para reduzir a poluição e as emissões de carbono. Incentive políticas e legislação para redução da poluição.

Portanto, mesmo que tecnicamente a Terra não esteja na sua lista de pacientes, ela acompanha cada um deles. Por isso, faz sentido conversar abertamente com os seus pacientes sobre as alterações climáticas, como elas podem afetá-los e o que eles podem fazer a respeito. A saúde deles e a do ambiente não estão separadas, estão integradas em um sistema complexo.

Leia sobre a alteração climática e seus efeitos. Não pense que não é um problema médico ou de saúde. Seus pacientes precisam sentir que podem conversar sobre qualquer coisa que possa afetar a saúde deles.

Se seus pacientes não acreditam em alteração climática, forneça-lhes os fatos científicos e fontes de confiança, como sites governamentais. Deixe claro que você não tem outros interesses além do desejo de proteger a saúde das pessoas. Afinal de contas, os ursos polares e as tartarugas marinhas não têm um lobby tão forte assim.

O Dr. Bruce Y. Lee é médico especialista em saúde digital, escritor, diretor executivo do Global Obesity Prevention Center (GOPC) , professor associado de saúde internacional na Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health e professor associado do Johns Hopkins Carey Business School. Ele escreve regularmente para a Forbes e escreveu artigos para vários veículos, como Time, The Guardian, STAT e MIT Technology Review, além de três livros.