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Recuperação florestal

Sal da terra

11 de abril de 2019 por Luiz Jacques

Documentário imprescindível para qualquer cidadão planetário.

Filme de 2014.

O Sal da Terra é um documentário franco-ítalo-brasileiro de 2014, dirigido pelo alemão Wim Wenders e pelo brasileiro Juliano Salgado.

Retrata não só sua trajetória como fotógrafo social, mas a criação, com o estímulo e a ação de sua mulher, Lélia, do Instituto Terra e a reconstrução da floresta atlântica da fazenda, no nordeste de Minas Gerais, completamente degradada.

Foi indicado ao Oscar de melhor documentário na edição do Oscar 2015.

Arquivado em: Biodiversidade, Ecologia, Soluções / Alternativas, Sustentabilidade, Vídeos Marcados com as tags: Conservação da natureza, Recuperação florestal, Renatureza, Sebastião Salgado

Brasil terá que desenvolver modelo próprio de controle biológico

16 de março de 2016 por Luiz Jacques

Brasil terá que desenvolver modelo próprio de controle biológico. E será como foi, ao adaptar sistemas de produção de cultivos temperados nos trópicos.

http://agencia.fapesp.br/brasil_tera_que_desenvolver

_modelo_proprio_de_controle_biologico/22753/

Estratégias de uso de agentes naturais para combate a pragas agrícolas, apropriadas às características da agricultura, são fundamentais, afirmam especialistas (foto: P.Janning/Ag.FAPESP)

A exemplo do que fez na agricultura, em que se tornou um dos maiores produtores agrícolas mundiais ao desenvolver uma série de tecnologias e adaptar sistemas de produção de cultivos de regiões temperadas para os trópicos, o Brasil também terá que desenvolver um modelo próprio de controle biológico.

A avaliação foi feita por pesquisadores participantes do workshop “Desafios da Pesquisa em Controle Biológico na Agricultura no Estado de São Paulo”, realizado na segunda-feira (29/02), no auditório da FAPESP.

Representantes de universidades, instituições de pesquisa e de empresas que realizam pesquisa e desenvolvimento de agentes naturais para combate a pragas agrícolas apresentaram e discutiram os principais avanços obtidos em São Paulo e em outras regiões do país na exploração, criação e liberação em lavouras de inimigos naturais de organismos que atacam florestas, plantas e diversas culturas.

“Temos que desenvolver um modelo de controle biológico apropriado às características da agricultura brasileira, que é muito dinâmica e em que há o plantio sem interrupção de culturas em grandes extensões, além da produção constante de novas cultivares e o surgimento frequente de pragas”, disse José Roberto Postali Parra, professor do Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e coordenador do workshop, na abertura do evento.

De acordo com Parra, a pesquisa e desenvolvimento em controle biológico avançaram muito no Brasil nos últimos anos e hoje há massa crítica razoável atuando no estudo de macrorganismos – como insetos e ácaros –, além de microrganismos como bactérias, vírus, protozoários e nematoides, que fazem parte da biodiversidade brasileira e que podem ser usados para controlar as pragas de diferentes culturas.

O avanço foi possível em razão especialmente de técnicas de criação que permitem a produção de grandes quantidades de insetos em uma lavoura e uma redução mais rápida da população da praga que se pretende controlar.

Ao contrário de países como a Holanda, onde o controle biológico é feito quase que exclusivamente em casas de vegetação, no Brasil é realizado em áreas abertas. O país, entretanto, possui programas comparáveis aos melhores do mundo, em situação diferente das de outros países, e com menor disponibilidade de inimigos naturais sendo comercializados por empresas.

Uma das razões para isso é a cultura do uso de agroquímicos para controlar pragas agrícolas nas lavouras brasileiras, que têm causado graves desequilíbrios biológicos, tais como aparecimento de pragas secundárias e contaminação do solo e água.

Em 2012, por exemplo, foram gastos R$ 9,7 bilhões com agroquímicos no Brasil. Já em 2014, o gasto saltou para R$ 12 bilhões, dos quais R$ 4,6 bilhões foram voltados para a compra de inseticidas.

Nos últimos 12 anos, a utilização de agroquímicos no Brasil aumentou 172% enquanto que no resto do mundo o crescimento foi de 90%, comparou Parra. “Tem se usado muito inseticida no Brasil, inclusive feitos a partir de moléculas que já foram banidas em outros países”, disse.

“Os agroquímicos podem ser usados desde que sejam aplicados produtos seletivos – que matam a praga mas não os inimigos naturais – e que seja feita uma rotação dos princípios ativos de tal forma que não se crie resistência dos organismos que se pretende controlar”, avaliou.

Segundo o pesquisador, o alto custo de desenvolvimento e os desafios cada vez maiores para a sintetização de moléculas para a produção de inseticidas têm favorecido a expansão do controle biológico no Brasil e no exterior.

Atualmente, de acordo com dados apresentados por Parra, o custo da síntese de uma nova molécula para a produção de inseticidas é de cerca de US$ 250 milhões.

Já o custo de desenvolvimento de uma cultivar transgênica, mais tolerante a uma determinada praga, por exemplo, é de US$ 125 milhões. E o desenvolvimento de um inseto para controle biológico fica entre US$ 2 milhões e US$ 10 milhões.

“O alto custo do desenvolvimento de moléculas para inseticidas, somado ao aumento da pressão da sociedade pela diminuição do uso de agroquímicos e a constatação de que os transgênicos não conseguem solucionar o problema das pragas agrícolas, têm estimulado o uso de controle biológico no Brasil e no mundo”, disse Parra.

“Mas o controle biológico não pode ser usado isoladamente e não é a única solução para o controle de pragas. Ele deve ser um componente do manejo integrado de pragas e ser usado associado inclusive aos inseticidas, desde que usados de forma racional, além de plantas transgênicas e outros métodos de controle de pragas”, ponderou.

A utilização de controle biológico na agricultura no país e no exterior tem aumentado entre 15% e 20% ao ano e atualmente esse setor já movimenta US$ 17 bilhões.

 

 

Difundir o uso

No Brasil, de acordo com Parra, o controle biológico está sendo mais usado principalmente para combater pragas que atacam a cultura da cana-de-açúcar.

A vespa Cotesia flavipes, por exemplo, produzida por 20 biofábricas no Brasil, é usada em mais de 3 milhões de hectares para combater a lagarta da broca-da-cana (Diatraea saccharalis).

“O momento é adequado para difundir o uso do controle biológico no Brasil, especialmente depois do surgimento no país, em 2013, da lagarta Helicoverpa armigera, que ataca diversas culturas, como soja, milho e algodão, entre outras, e é muito difícil de ser controlada por meio de agroquímicos”, disse.

Segundo Parra, hoje há no país 26 empresas comercializando microrganismos e 21 produzindo macrorganismos para controle biológico. Esse número, porém, é insuficiente para atender a um eventual aumento abrupto da demanda por controle biológico pelos agricultores no país, indicou.

“Se todo mundo resolver usar controle biológico não há disponibilidade para atender. É preciso aumentar o número de empresas produtoras”, afirmou.

Potenciais beneficiários

Participaram da abertura do evento o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, e o presidente da FAPESP, José Goldemberg.

Jardim destacou que 82% da produção agrícola do Estado de São Paulo advém de pequenos produtores, que são potenciais beneficiários de tecnologias de controle biológico como alternativa para redução dos agroquímicos.

“Não demonizamos os agroquímicos por entendermos como necessários para a produtividade. Mas o uso deles pode ser diminuído, melhor disciplinado e preenchido em parte por soluções como o controle biológico”, avaliou o secretário.

O presidente da FAPESP, por sua vez, fez uma analogia da necessidade de apoiar a pesquisa em controle biológico no Brasil para enfrentar desafios futuros no campo com a recente emergência do combate ao vírus Zika no país.

“O apoio concedido pela FAPESP a projetos vinculados à Rede de Diversidade Genética de Vírus (VGDN) entre os anos de 2000 e 2007, por exemplo, permitiu a rápida criação hoje da Rede Zika para enfrentar os desafios apresentados pelo aumento do número de casos de transmissão do vírus no país”, disse Goldemberg.

Arquivado em: Agricultura, Água, Biodiversidade, Destaques, Ecologia, Princípio da Precaução, Saúde, Soluções / Alternativas, Sustentabilidade, Vídeos Marcados com as tags: Agricultura ecológica, Agroecologia, Conservação da natureza, Controle biológico, Recuperação florestal

Regeneração natural não é eficiente para restauração de áreas agrícolas

21 de fevereiro de 2016 por Luiz Jacques

Regeneração natural não é eficiente para restauração de áreas agrícolas. As vezes a agressão das práticas do extrativismo colonial ou com o manejo da agricultura moderna que não há mais biodiversidade nos ecossistemas.

 

 

https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/9618828/regeneracao-natural-nao-e-eficiente-em-areas-de-agricultura

 

 

Gabriel Faria -                                                                                                                                                                                       Foto: Gabriel Faria

As primeiras avaliações de experimentos sobre recomposição de reserva legal nos biomas Cerrado e Amazônia conduzidos pela Embrapa Agrossilvipastoril e parceiros em Mato Grosso mostram que a regeneração natural não é eficiente para restauração de áreas com histórico de agricultura tecnificada. Manejo excessivo do solo e técnicas de cultivo contribuem para a redução do banco de sementes, impedindo o crescimento da vegetação.

As observações foram feitas em quatro ensaios localizados nos municípios de Canarana e Campo Novo do Parecis, no bioma Cerrado, em Sinop, região de transição entre Cerrado e a Amazônia, e Guarantã do Norte, na Amazônia. Em todos os locais, foram instalados experimentos que avaliam diferentes métodos de restauração da vegetação, como a semeadura direta, semeadura a lanço, plantio de mudas e regeneração natural.

De acordo com o pesquisador Ingo Isernhagen, em Sinop, onde a área utilizada tem um longo histórico de agricultura, a regeneração foi inexpressiva. Já nas demais áreas, com histórico de pecuária extensiva, a regeneração vem ocorrendo com a germinação e crescimento de espécies nativas oriundas do banco de sementes do solo.

“Resultados preliminares de três anos sobre Sinop, que é uma área que passou por tecnificação e era essencialmente agrícola, mostram que a regeneração natural não parece ser uma boa técnica. Embora praticamente não tenha custos para o produtor, ela também não tem qualquer resultado do ponto de vista ecológico. Nesses casos, vai ser necessário intervir”, afirma o pesquisador.

Ingo explica que a ineficiência da regeneração nas áreas de agricultura se deve ao uso intenso do solo, revolvimento das camadas superficiais, retirada de raízes, uso de herbicidas, entre outras causas que minaram o banco de sementes presente no solo. Mesmo com a presença de fragmentos de vegetação nativa próximos, como é o caso da área experimental em Sinop, a regeneração tem sido inexpressiva.

A regeneração natural é uma técnica de restauração em que é feito apenas o isolamento da área de modo a deixar que o banco de sementes presente no solo germine, restaurando a vegetação nativa. Por causa do seu baixo custo e da reduzida necessidade de intervenção, a técnica é considerada uma boa alternativa pelos produtores que precisam se adequar à legislação vigente.

 

 

Avaliação ecológica e econômica

Outras técnicas para recomposição de reserva legal são o plantio de mudas e a semeadura direta. A fim de subsidiar o produtor na escolha da melhor alternativa, a pesquisa está avaliando não só os aspectos ecológicos, mas também os financeiros. Dados sobre custos de plantio, despesas com manutenção, condução e as possíveis receitas com o manejo da área estão sendo computadas para uma avaliação geral.

À medida que os anos passem, a expectativa é fornecer aos produtores rurais dados sobre eficiência de cada técnica, orientações agronômicas e florestais, custos totais e possibilidade de renda com o manejo.

Ingo explica que, na fase de implantação, o plantio de mudas é o mais caro. Porém, ele é o que apresenta maior potencial de manejo, uma vez que é possível controlar as espécies utilizadas, plantá-las ordenadamente de modo a facilitar a colheita de frutos e sementes ou o corte da madeira e mecanizar a condução. Dessa forma, a escolha da técnica deverá se pautar pelas intenções do produtor.

Nos experimentos conduzidos pela Embrapa em Mato Grosso, estão sendo utilizadas 41 espécies nativas e algumas exóticas, como eucalipto e mogno-africano, por exemplo. Além de espécies com funções ecológicas, há aqueles que visam a geração de renda na produção de frutos, resinas, essências, sementes e produção de madeira.

Por esse motivo, a pesquisa também avalia diferentes formas de condução das árvores. O objetivo é ver o quanto as podas e desramas contribuem para o melhor desempenho das plantas e se os custos operacionais justificam os ganhos comerciais.

“Tem-se falado cada vez mais na criação de modelos econômicos de restauração. Se a gente quer  modelos econômicos, temos de investir em manejo. Não adianta fazer o que usualmente é feito:  plantar e deixar os indivíduos crescerem. Se a gente quer  retorno econômico, tem que ter  manejos adaptativos. Tem que ir conduzindo o processo de forma a ter produtos madeireiros e não madeireiros de qualidade”, explica Ingo Isernhagen, que ainda destaca a importância da escolha das espécies, definição do espaçamento entre as mudas, controle da mato-competição e de formigas.

“A restauração já é cara por natureza. Com esse tipo de manejo ela ficará ainda mais cara no começo. Mas a gente quer que, em até 20 anos, o produtor tenha um retorno. Além disso, em cinco anos já é possível retirar o eucalipto, coletar sementes e frutos”, ressalta o pesquisador.

Reserva legal

De acordo com o Código Florestal Brasileiro, reserva legal é uma área da propriedade rural coberta por vegetação natural, onde se pode explorar o manejo florestal sustentável de acordo com a lei para o bioma em que está inserida.

O percentual da propriedade que deve ser reservado varia de acordo com o bioma, sendo de 80% em áreas de floresta na Amazônia Legal, 35% em Cerrado na Amazônia Legal e 20% nos demais biomas.

Gabriel Faria (MTb 15.624/MG)
Embrapa Agrossilvipastoril
[email protected]
Telefone: (66) 3211-4227
Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

 

 

 

 

Arquivado em: Agricultura, Biodiversidade, Destaques, Ecologia Marcados com as tags: Ecologia, Recuperação florestal, Regeneração ambiental

Clima, cidade e campo

25 de outubro de 2015 por Luiz Jacques

Clima, cidade e campo. Para o fotógrafo Sebastião Salgado a solução não está na cidade, mas no campo. Defende ele na Alemanha, na campanha Viva a Amazônia.

 

http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/solucao-para-o-clima-nao-esta-na-cidade-mas-no-campo-5746.html

 

Cristine Rochol / PMPA

Sebastião Salgado

Para Sebastião Salgado, o setor rural do planeta precisa agir para minimizar os efeitos do aquecimento global

[Ao final da entrevista, foi agregado o belíssimo e premiado documentário, completo, ‘Sal da terra’ de Wim Wendres sobre a vida do fotógrafo e a impactante recuperação florestal de sua fazenda no nordeste de Minas Gerais]

Fernanda Azzolini

Ele lidera um dos maiores projetos de recuperação ambiental do Brasil e esteve na Alemanha para participar da campanha Viva a Amazônia, organizada pelo WWF.

Depois do sucesso de Genesis, Sebastião Salgado já trabalha em um novo projeto sobre as comunidades indígenas da Amazônia. O fotógrafo esteve em Colônia, na Alemanha, a convite da ONG ambientalista WWF durante as comemorações do Dia da Amazônia, em 5 de setembro.

Um telão foi instalado em frente à Catedral de Colônia, símbolo da cidade na Renânia do Norte-Vestfália, para exibir 150 fotografias de Sebastião Salgado feitas ao longo de oito viagens pela Amazônia.

Paralelo à vida de fotógrafo, em 1998 Sebastião Salgado fundou com a esposa, Lélia Deluiz Wanick Salgado, o Instituto Terra, considerado um dos maiores projetos de recuperação ambiental do Brasil. Em entrevista àDW Brasil, o fotógrafo enfatizou que é preciso incluir a população rural nas discussões mundiais sobre o clima, mas ressaltou que não se pode pressionar apenas os governos, é preciso rever o padrão de consumo da sociedade.

DW:Apesar de a questão ambiental estar cada vez mais em pauta, a Amazônia continua sob constante ameaça. Em sua opinião, ainda há esperança?

Sebastião Salgado: Eu acho que sim, tem esperança. E a esperança está na conscientização. Mas só vamos conseguir a partir do momento em que toda a população do planeta tiver essa consciência. É muito fácil pressionar os governos, quando na verdade nós não impedimos o consumo da destruição da floresta. É preciso haver uma pressão dos consumidores. Todos os projetos de pecuária, de plantação de soja e de outros produtos agrícolas, que hoje estão realmente destruindo a Amazônia, esses produtos têm que ser boicotados, as pessoas têm que ter essa consciência. E países com grande volume financeiro têm que investir na Amazônia dando às populações ribeirinhas uma condição de vida digna. Existe, sim, uma esperança, mas eu acho que é necessário um trabalho político sério que vá nessa direção de conscientização, participação e integração de todos. Estamos indo em direção a um aquecimento global acelerado, e o sequestro de carbono que essas árvores da Amazônia exercem no planeta é essencial.

DW:O senhor já disse em entrevista que a urbanização fez com que abandonássemos o planeta. Pensando no momento atual, na problemática dos refugiados, por exemplo, o senhor acha que abandonamos a humanidade?

SS: Acho que a gente não abandonou a humanidade, abandonamos uma grande parte da gente, a essência da gente. A gente se isolou e isolou a parte principal, que é a rural. Vamos ter uma grande reunião em Paris no final do ano, a número 21 das grandes reuniões que já aconteceram no planeta até hoje. E em nenhuma dessas reuniões nós integramos a parte rural na discussão. As pessoas que participam são todas do mundo urbano. E as soluções que se dão são para necessidades urbanas. As grandes associações de produtores rurais, comunidades agrícolas e indígenas não participam. Por isso, as decisões são tomadas de fora, incompatíveis com a realidade.

A solução para o problema do aquecimento global e da falta de água não está na cidade, está no campo. Temos que plantar árvores, recuperar rios, e para isso tem que ter a participação do setor rural do planeta. Nos nós urbanizamos e só extraímos do planeta, exaurimos o planeta em função de uma necessidade imensa de consumo que as comunidades urbanas têm. O planeta hoje não tem mais capacidade de doar a essas pessoas a qualidade de vida que elas pretendem ter. Em algum momento vai haver uma catástrofe imensa, que já está começando a se desenhar hoje com o aquecimento global, o aumento do nível dos oceanos e as mudanças climáticas.

DW:Após concluir o livro Êxodos, você pensou em abandonar a fotografia. O que aconteceu?

SS: No Êxodos eu trabalhei durante sete anos com movimentos de migração, de deslocamento de população. O que está havendo hoje em direção à Europa está havendo no mundo inteiro já há muitos anos. Eu vivi momentos muito duros, principalmente na África. Momentos em que eu tive vontade de abandonar a fotografia, voltar ao Brasil, voltar à minha terra, onde nasci e cresci, e voltar a trabalhar na terra. E chegando à fazenda dos meus pais, encontramos uma terra totalmente destruída. Foi quando a minha esposa teve a ideia maravilhosa de replantar a floresta que tinha ali.

DW:Foi assim que surgiu o Instituto Terra. O que ele pode ensinar a outros projetos?

SS: Hoje no Brasil existe um problema de falta de água nas grandes cidades. Em São Paulo só se fala na esperança de que a chuva venha em volume para encher as barragens e represas, quando na realidade essas barragens e represas deveriam ser cheias com as águas dos rios e córregos. Se quisermos ter água, vamos ter que plantar as nascentes dos córregos e rios. Caso contrário vamos ter que deslocar massivamente as populações urbanas do Brasil em direção a outras áreas.

Quando as coisas ficam prementes, a gente encontra uma solução. Um projeto como o Instituto Terra pode ser multiplicado. Estamos começando um projeto de recuperação das águas do Rio Doce, por exemplo, um dos grandes rios do centro-sul do Brasil, e que está morrendo a uma velocidade incrível. É um projeto que vai levar 30 anos se começarmos agora, mas temos muita dificuldade de encontrar os recursos federais, estaduais e municipais.

Porém, a culpa não é só dos políticos, é da nossa sociedade também, porque ela é imediatista. Temos que mudar a nossa maneira de se comportar e começar a trabalhar nestas necessidades básicas. Temos que fazer algo se quisermos sobreviver. E imaginar que esses gastos são investimentos sociais e vão dar um retorno, sim, à sociedade.

DW:Você acha que a fotografia pode provocar uma mudança de mentalidade?

SS: Acho que não. Acho que a fotografia ajuda, ela é parte de um movimento. Sozinha seria estéril. Mas junto com o sistema informativo, ela é muito poderosa.

DW:Seu novo projeto é sobre as comunidades indígenas da Amazônia. O que o público pode esperar dele?

SS: O Brasil tem uma característica muito importante que os brasileiros costumam negar. Quando os portugueses chegaram ao Brasil em 1500, só vieram homens. As primeiras mulheres portuguesas vieram quase 50 anos depois, e foram apenas cinco mulheres. Então, aquelas centenas de milhares de homens portugueses cruzaram com as mulheres indígenas. Houve uma mistura gigantesca, ao ponto em que a língua portuguesa só começou a ser falada no Brasil a partir do século 18. A verdadeira base do que a gente poderia chamar de ‘raça brasileira’ é a mescla dos portugueses com os indígenas. O Brasil tem uma grande dívida com as mulheres indígenas. Gostaria que a gente desse mais valor para essa parte da nossa cultura. Ter consciência e respeitar um pouco mais – e respeitando essas comunidades indígenas, automaticamente a gente estaria respeitando a Amazônia e o nosso território.

O SAL DA TERRA – SEBASTIÃO SALGADO

O Sal da Terra
Filme de 2014
O Sal da Terra é um documentário franco-ítalo-brasileiro de 2014, dirigido pelo alemão Wim Wenders e pelo brasileiro Juliano Salgado. Foi indicado ao Oscar de melhor documentário na edição do Oscar 2015. Wikipédia
Data de lançamento: 15 de outubro de 2014 (França)
Direção: Wim Wenders, Juliano Ribeiro Salgado
Duração: 1h 50m
Música composta por: Laurent Petitgand
Prêmio: César de Melhor Documentário
Elenco
Sebastião Salgado

Sebastião Salgado

Wim Wenders

Wim Wenders

Juliano Ribeiro Salgado

Juliano Ribeiro Salgado

O Sal da Terra
Filme de 2014
O Sal da Terra é um documentário franco-ítalo-brasileiro de 2014, dirigido pelo alemão Wim Wenders e pelo brasileiro Juliano Salgado. Foi indicado ao Oscar de melhor documentário na edição do Oscar 2015. Wikipédia
Data de lançamento: 15 de outubro de 2014 (França)
Direção: Wim Wenders, Juliano Ribeiro Salgado
Duração: 1h 50m
Música composta por: Laurent Petitgand
Prêmio: César de Melhor Documentário
Elenco
Sebastião Salgado

Sebastião Salgado

Wim Wenders

Wim Wenders

Juliano Ribeiro Salgado

Juliano Ribeiro Salgado

https://vimeo.com/128242266

Por Marília Bacci
Sebastião Salgado.
Precisa falar mais alguma coisa? Bom, acho que vou falar então.
Para aqueles que não conhecem o Sebastião, ou Tião, como ficamos com vontade de chamá-lo depois de assistir ao documentário de Wim Wenders e Juliano Salgado, é fotógrafo há mais ou menos quarenta anos, e é bastante conhecido por nós pelas suas fotos dos mineiros em Serra Pelada.
E o documentário começa falando sobre isso mesmo, fotos que foram selecionadas e estão sendo contadas suas histórias pelo próprio Salgado. Depois disso vamos para as montanhas de Minas Gerais onde o fotógrafo cresceu, mas não ficamos lá, somos levados para outras montanhas, da Papua Nova Guiné, onde ele e seu filho estão caminhando com o povo papua e é possível ter o primeiro contato com a rotina de fotógrafo de Salgado.
A partir daí somos apresentados a toda a história de Salgado, desde sua infância até os dias de hoje, passando por seus primeiros trabalhos, a volta ao Brasil e sua viagem pelo interior do nordeste e os garimpos de Serra Pelada, suas passagens pelo mundo fotografando para Êxodos, até chegar as viagens para o livro Gênesis.
Todo a parte de perguntas do documentário foi feita por Wim Wenders, grande amigo do fotógrafo, e percebemos como Salgado se sente bem partilhando as histórias de suas fotos, sejam elas boas ou não, com um amigo.
Sentimos toda a empatia que o fotógrafo tem para as pessoas que ele fotografa, a facilidade em estabelecer uma relação com essas pessoas e como ele foi tocado por elas. Em certo momento Salgado diz: “Somos um animal feroz. Os humanos são um animal terrível”, e sabemos que a relação com seus retratados era grande o suficiente para lhe deixar extremamente triste vê-los naquela posição.
A trilha sonora do documentário é simples, apenas com sons que representam as fotografias que estão sendo mostradas. E não entenda simples como ruim, barata, a trilha é extremamente tocante e certa para os momentos, sem firulas.
Quando o documentário chega ao fim nem vimos que se passaram duas horas desde que ele havia começado e ficamos esperando mais histórias contadas pelo ótimo Tião.

cinemascope.com.br/criticas/o-sal-da-terra/

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O desafio de refazer a biodiversidade da Mata Atlântica.

17 de julho de 2015 por Luiz Jacques

Após recobrir com o verde da Mata Atlântica uma antiga fazenda de gado, localizada no interior do estado brasileiro de Minas Gerais, que estava completamente degradada após anos de exploração predatória, o Instituto Terra agora inicia uma nova etapa de sua estratégia de restauração florestal da Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN Fazenda Bulcão, que visa aumentar a biodiversidade da floresta que foi replantada no local.

 

http://www.institutoterra.org/pt_br/

 

Prezado Luiz Jacques,

Encaminho sugestão de pauta sobre novas ações do Instituto Terra. Fico à disposição caso queira mais informações ou fotos. Cordialmente, Maria Helena.

O desafio de refazer a biodiversidade da Mata Atlântica Instituto Terra recebe apoio da Crédit Agricole Suisse Foundation para ampliar diversidade de espécies florestais em unidade de conservação em Minas Gerais

Julho de 2015 – Após recobrir com o verde da Mata Atlântica uma antiga fazenda de gado, localizada no interior do estado brasileiro de Minas Gerais, que estava completamente degradada após anos de exploração predatória, o Instituto Terra agora inicia uma nova etapa de sua estratégia de restauração florestal da Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN Fazenda Bulcão, que visa aumentar a biodiversidade da floresta que foi replantada no local. Dentro desta nova etapa de enriquecimento florestal da RPPN, o Instituto Terra acaba de receber o apoio da Crédit Agricole Suisse Foundation, com a destinação de 70 mil Euros.

A parceria vai permitir somar o plantio de mais 16,8 mil mudas de 30 novas espécies nativas à área que está sendo reflorestada desde 2009. Os recursos vão garantir ainda a manutenção dessas novas árvores até dezembro de 2016. Com esse total de mudas espera-se cobrir uma área de 17,5 hectares da RPPN que hoje conta com um total de 601,56 hectares, que equivale a uma área do tamanho de 842 campos de futebol. Bioma de importância mundial, a Mata Atlântica reúne cerca de 20 mil espécies vegetais e para refazer as complexas interações existentes neste ambiente florestal é preciso reunir grande conhecimento técnico para tentar refazer também parte dessa biodiversidade. “A reconstrução de uma floresta vai além do plantio de mudas nativas de forma sistemática.

Florestas não são apenas árvores. As interações árvores x fauna x outros diversos tipos de vegetação são fundamentais e se apresentam em uma grande rede de relações. São essas interações, que ao serem destruídas pelo homem, mesmo apresentando alguns fragmentos, necessitam da intervenção para se restabelecer”, explica o analista Ambiental do Instituto Terra, Jaeder Lopes Vieira.

Segundo Vieira, utilizar uma única técnica acreditando no seu pleno restabelecimento pode se tornar frustrante. Para o Instituto Terra, essas relações apenas serão atingidas com paciência e respeitando o ritmo da natureza, o que implica em entender que o restabelecimento de uma floresta se dá em etapas, pois o ambiente que sofreu degradação intensa e constante não vai suportar as relações existentes antes da degradação.  “É preciso ter paciência, perseverança e insistência. Plantar, plantar e cuidar. A natureza agradece e responde positivamente. Uma jovem floresta é ‘como um bebê’, precisa de atenção, cuidado e companhia.

Esse é o início. Mas também já é uma floresta”, exemplifica Jaeder, que é engenheiro agrônomo e biólogo. As ações iniciais de reflorestamento da Reserva do Instituto Terra realizadas nos últimos 16 anos garantiram o plantio de cerca de 2 milhões de mudas nativas de Mata Atlântica, utilizando um número elevado de espécies – mais de cem por área, com destaque para aquelas que apresentavam um crescimento rápido, cobriam bem o solo e incorporavam matéria orgânica e nutrientes, protegendo o solo do impacto direto das chuvas e melhorando as suas caraterísticas físicas e químicas. “Nessa primeira etapa o objetivo maior era a proteção do solo, a melhoria das condições edáficas e a disponibilidade de alimento à fauna, que também contribui para a regeneração da floresta, aumentando a polinização e dispersando sementes”, destaca o analista Ambiental do Instituto Terra.

A parceria com a Crédit Agricole Suisse Foundation vai fortalecer a etapa de enriquecimento da área plantada, vai ajudar a restaurar os aspectos e características originais da floresta. Para isso, vão ser introduzidas as espécies denominadas de clímax. Ou seja, as novas etapas de plantio vão priorizar as árvores que dominam as copas da floresta, que vivem mais tempo e geralmente são as maiores, tais como braúna, óleo de copaíba, pau brasil, pitomba amarela, peloteira e palmito doce, entre outras espécies.

Dessa forma espera-se um incremento da biodiversidade da floresta replantada, que agora tem capacidade de absorver com maior sucesso as espécies mais sensíveis deste complexo bioma que é a Mata Atlântica. As atividades de produção das mudas já foram iniciadas pela equipe do viveiro do Instituto Terra e as etapas seguintes envolvem o preparo do solo, plantio das mudas e manutenção das mesmas.

 

Sobre o Instituto Terra

Fundado em 1998 por Lélia Deluiz Wanick e Sebastião Salgado, o Instituto Terra é uma associação civil, sem fins lucrativos, que promove a recuperação da Mata Atlântica no Vale do Rio Doce há 16 anos. Atua por meio da restauração ecossistêmica, produção de mudas nativas, extensão ambiental, pesquisa científica aplicada e educação ambiental, em municípios de Minas Gerais e Espírito Santo. Sua sede se localiza na Fazenda Bulcão, em Aimorés (MG), área reconhecida como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).  O título conserva seu ineditismo por se tratar da primeira RPPN criada em uma área degradada, com o compromisso de vir a ser recuperada. Ao todo, desde sua fundação, o Instituto Terra já  contabiliza 7,5 mil hectares de Mata Atlântica em processo de recuperação no Vale do Rio Doce e a produção de mais de 4 milhões de mudas nativas, além da proteção de mais de 1,2 mil nascentes. Mais informações no site www.institutoterra.org.

 

Mais informações para a imprensa: Instituto Terra – Comunicação Maria Helena Fabriz27 98134-9077

 

Instituto Terra de 1999 a 2010

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Restauração da Mata Atlântica é possível, mas precisa ser monitorada, conclui tese.

30 de junho de 2012 por Luiz Jacques

Estudo de doutorado do Instituto de Biologia (IB) mostrou que a restauração da Mata Atlântica, de algumas áreas no entorno de Campinas, é possível, mas esse processo pode ser lento e necessita de uma manutenção e monitoramento de longo prazo, adverte Letícia Couto Garcia, autora da tese. “Essas áreas devem ser constantemente reavaliadas a fim de constatar o que precisa ser melhorado para intervir no caminhar dessa recuperação”, afirma ela. Os resultados mais significativos da pesquisa se relacionaram às funções que as espécies desempenham nessas áreas e ao número de espécies.

 

http://www.ecodebate.com.br/2012/06/28/restauracao-da-mata-atlantica-e-possivel-mas-precisa-ser-monitorada-conclui-tese/

 

Estudo revela que áreas da região de Campinas têm de ser constantemente reavaliadas.

 


Segundo a pesquisadora, a diversidade de espécies arbóreas conseguiu ser recuperada após cinco décadas, atingindo número similar de espécies de uma mata nativa, bem como a cobertura das suas copas. Foi recuperada a quantidade de flores e de frutos por hectare nas áreas avaliadas, as quais consequentemente ofereceram frutos e flores para os animais consumirem. Além do mais, a quantidade de madeira (área basal) foi recuperada em aproximadamente 12 anos.

A bióloga tomou como referência a mata de Ribeirão Cachoeira (no distrito de Sousas), área tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc). Trata-se de uma propriedade particular com cerca de 60% de sua extensão averbada como Reserva Legal do condomínio de chácaras Colinas do Atibaia.

Essa mata nativa foi comparada com as matas em restauração dos municípios de Santa Bárbara D’Oeste (que tem 12 anos), de Iracemápolis (23 anos) e de Cosmópolis (55 anos). Porém, os melhores parâmetros foram obtidos da amostra de Cosmópolis porque, conforme Letícia, quanto mais antiga a mata, mais colonização por outras espécies ocorreu ao longo do tempo.

Sua pesquisa, orientada pelo professor da Esalq da USP Ricardo Ribeiro Rodrigues e coorientada pelo docente do IB da Unicamp Flávio Antonio Maës dos Santos, buscou avaliar se essas matas que estão em restauração são autossustentáveis, ou seja, se ainda necessitam da interferência humana no auxílio desse processo que, na falta da restauração ativa, seria ainda mais lento do que naturalmente ocorreria.


A doutoranda conta que foram estudadas áreas de diferentes idades de restauração com vistas a compará-las à mata nativa. A intenção era observar quão longe elas estavam de atingir os parâmetros dessa mata-referência: o quanto as árvores cresciam, se tinham restabelecido a cobertura da copa e a diversidade funcional – se o conjunto formado era de diferentes espécies, mas com as mesmas funções de uma mata nativa, enumera.

Pensando assim, ela sondou a diversidade de espécies, quanto faltava para atingir os valores de uma área nativa e os recursos que ofereciam. “Será que forneceriam flores e frutos para alimentar os animais que frequentam essas áreas, e que auxiliam a polinização das flores e a dispersão de sementes?”, indaga.

A autora da tese escolheu esse tema almejando a recuperação do ambiente degradado. O objetivo era refletir se de fato isso seria efetivo quanto às espécies e às interações por meio do replantio.

Alguns aspectos, averiguou ela, foram exitosos, mas ponderou que, como a Ecologia da Restauração é uma disciplina nova dentro da Biologia Aplicada, existe uma ausência de áreas recuperadas com idade avançada para a comparação.

Foi então que selecionou a mata mais antiga do estudo, que engloba a Usina Ester, em Cosmópolis, área de 30 hectares, exemplo raro onde a recuperação iniciou nos anos de 1950.

Peculiaridades


Letícia, que chegou a Cosmópolis por meio de um projeto visionário de restauração, relata que alguém percebeu que não havia mais peixes no rio, que estava ficando cada vez mais devastado. Resolveu recuperá-lo por iniciativa própria. Isso foi em 1955. Com um plantio, a área se tornou a mata atual, muito procurada para lazer.

A diversidade de espécies arbóreas, comenta a bióloga, conseguiu ser recuperada em cinco décadas, atingindo um mesmo número de espécies de uma mata nativa. Já as outras formas de vida – como trepadeiras, ervas, epífitas (que vivem sobre outras plantas) e arbustos – não atingiram nem a metade dos valores de uma mata nativa.

A explicação da doutoranda é que, no Estado de São Paulo, essas áreas estão muito isoladas, em razão de sua fragmentação. Assim, sementes de outras espécies não conseguem chegar em alguns trechos, dificultando a sua recuperação. “Elas não têm todas as funções que essas espécies teriam numa mata nativa. Por outro lado, recuperou-se a quantidade de flores e de frutos por hectare em todas as áreas restauradas”, esclarece.

Não obstante isso, elas não se mostraram autossustentáveis, pois ainda necessitam de um manejo adaptativo, que representaria ter que voltar lá e enriquecê-las com epífitas e trepadeiras, uma vez que a recuperação é lenta, principalmente para que o processo de colonização ocorra nessas áreas.

Recuperação

A avaliação de Letícia abrangeu o período de 1955 a 1998 e teve como marco histórico o aumento de propriedades e de projetos de restauração no Brasil para estar em conformidade com a legislação ambiental.

Os mecanismos de recuperação sempre iniciam com um planejamento. Nessa etapa, é preciso ver se há áreas próximas para auxiliar no fornecimento de sementes, escolha de espécies, época de plantio, espaçamento entre uma muda e outra, decisões quanto ao plantio de mudas, uso de sementes ou simplesmente isolamento da área.

Como no Estado de São Paulo não há áreas restauradas muito antigas, é preciso pesquisar o que se tem à disposição para investigar. Em alguns anos, será possível afirmar com maior propriedade esses aspectos porque a disciplina de Ecologia da Restauração terá progredido mais.

Essa disciplina, revela ela, tenta recuperar ambientes que estavam degradados, retornando todos os serviços ecossistêmicos o mais próximo de uma área natural, como por exemplo a recuperação da água. Com isso, o ambiente voltará a abrigar animais e os processos tornarão a acontecer, ressaltando o uso de espécies nativas.

 

Código Florestal ignora a ciência, afirma bióloga

Para a bióloga, foi angustiante atuar na direção da melhoria e da recuperação das matas frente à proposta de lei do Código Florestal, que, a seu ver, está diluindo o modo como a restauração deve ser implantada.

Por esse motivo, dedicou um capítulo a essa análise, mencionando os entraves à recuperação das áreas degradadas apresentados no novo Código Florestal do país. Segundo Letícia, eles vão na contramão dos esforços para a conservação e a restauração, impedindo que tais metas sejam praticadas adequadamente.

Ela abordou alguns aspectos problemáticos e como eles poderiam interferir na dinâmica ambiental. “Calcula-se que vamos deixar de restaurar seis milhões de hectares no Brasil, que seria a somatória da área do Estado do Rio de Janeiro e do Estado de Sergipe”, lastima.

A proposta de lei do Código Florestal foi avaliada pela presidente Dilma Rousseff e divulgada no último dia 25. Ela vetou 12 artigos do projeto de lei do Código Florestal, aprovado em abril pela Câmara dos Deputados. Também realizou 32 modificações no texto, sendo que 14 recuperaram o texto aprovado no ano passado pelo Senado Federal, cinco são dispositivos novos e 13 são ajustes ou adequações de conteúdo do projeto.

Mesmo após o veto, o conteúdo, em sua íntegra, prejudica, e muito, a proteção do meio ambiente e das florestas, garante a doutoranda. Inclusive promove anistia a quem desmatou ilegalmente, beneficiando quem descumpriu a lei e que incentiva novos desmatamentos, e a redução dos parâmetros de proteção de áreas de preservação permanente (APPs).
O ideal, defende Letícia, seria sua reestruturação integral, não somente pelas inconsistências mas por dar algumas brechas na nova lei. “Seria lamentável para a nação”.

Nesse capítulo, a autora da tese procurou sedimentar suas argumentações acerca do novo Código Florestal. Elaborou uma tabela, um breviário dos problemas verificados na proposta e que, no momento, foram sancionados pela presidente.

A doutoranda foi convidada então a participar do grupo de trabalho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC), contribuindo ainda para a elaboração de uma carta aberta entregue ao deputado federal Paulo Piau, relator da matéria.

O grupo conversou com o parlamentar para discutir as fragilidades do texto. Um dos pontos desfavoráveis, aponta ela, está na mudança do cômputo onde seria iniciada a restauração das margens dos rios. No Código Florestal atual, a recuperação era contada a partir do leito sazonal, que inunda na época cheia. “Agora, eles serão contados a partir do leito regular, ou seja, aquele leito que está sempre com água.”

O que isso significa? Que, para que aconteça a restauração, se houver plantação desde a borda da calha do leito regular, quando vier a cheia todo aquele plantio irá água abaixo. Será uma perda de dinheiro e de tempo e não faz sentido tecnicamente, critica Letícia.

“Nota-se que esse Código ficou longe da ciência, porque ela não foi ouvida. Nas oito páginas do documento, não consideraram quase a totalidade dos pontos que a SBPC e a ABC afirmaram ser contrários”, conclui Letícia, que trabalha no Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria), em Campinas.

 

■ Publicação

Tese: “Avaliação da sustentabilidade ecológica de matas ciliares em processo de restauração”
Autora: Letícia Couto Garcia
Orientador: Ricardo Ribeiro Rodrigues (Esalq)
Coorientador: Flávio Antonio Maës dos Santos (Unicamp)
Unidade: Instituto de Biologia (IB)

  • Texto:
    ISABEL GARDENAL
  • Fotos:
    Divulgação
  • Edição de Imagens:
    Tulio Chagas

Matéria do Jornal da UNICAMP Nº 531.

Arquivado em: Notícias Marcados com as tags: Mata Atlantica, Recuperação ambiental, Recuperação florestal

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