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Poluição hídrica

Festas, Yoga e Outras Vestimentas.

30 de abril de 2017 por Luiz Jacques

Festas, Yoga e Outras Vestimentas. Poliéster, nylon, ‘feece‘, colantes, cangas e tantas alternativas técnico desportivas e seus efeitos sobre a saúde.

 

Resumo da História

  • O algodão não orgânico é um cultivo químico-dependente. Mesmo que constitua só 2,4 % das terras cultivadas, recebe 10 % do total dos químicos agrícolas e 25 % do total dos inseticidas;
  • Vestimentas desportivas, como as roupas para yoga e jaqueta de ‘fleece‘ (nt.: feito com a resina plástica poliéster), liberam quantidades enormes de fibras microscópicas das resinas plásticas de que são feitas, cada vez que são lavadas;
  • Cada ano, chegam aos oceanos em torno de 1,7 milhões de toneladas de microfibras;
  • Para reduzir a contaminação: optemos pelo uso de tecidos orgânicos tingidos com corantes naturais; evitemos os artigos impressos por serigrafia e os tecidos técnicos de marcas registradas; instalemos filtro de microfibras em nossa máquina de lavar roupa; levemos em consideração como lavamos nossa roupa sintética e procuremos a Certificação do Sistema ‘Bluesign‘ (nt.: ver este sistema criado para controlar a poluição têxtil – https://www.bluesign.com/).

 

http://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2017/03/29/microfibers-yoga-pants-athletic-wear.aspx

 

 

By Dr. Mercola

A poluição da água tem várias fontes. A agricultura é muito significante, mas a indústria têxtil é outra que não tem recebido a devida atenção.

A produção de algodão não orgânico contribui para os problemas ambientais já que a maioria é geneticamente modificado (GM) e sobre ele são aspergidas  copiosas quantidades de herbicida da Monsanto, o ‘Roundup‘. Um de seus ingredientes é o princípio ativo glifosato (glyphosate), possível cancerígeno humano conforme a OMS (nt.: importante: a OMS não pode afirmar que é cancerígeno por uma questão ética. Senão pareceria que teria existido pesquisa diretamente sobre pessoas humanas).

De fato, o algodão não-orgânico é uma das culturas mais dependentes da química sintética da agricultura modernizada. Enquanto constitui somente 2,4% da área agrícola global, ela recebe 10% dos insumos agrícolas químicos no total e 25% de todos os inseticidas.1

No entanto, as fibras sintéticas como poliéster e nylon são muito destrutivas. 2 Em 2014, o poliéster — uma resina plástica de material feito de nafta petroquímica — constituía mais de 60% de todo o tecido produzido pela indústria têxtil. 3

Infelizmente, tecidos flexíveis como os colantes e confortáveis de yoga, o aconchegante ‘fleece‘ (nt.: feito de poliéster que imita a lã de ovelha), tornaram-se itens de uma verdadeira maldição por derramarem copiosas quantidades de fibras microscópicas da resina plástica que são feitas, a cada vez que elas são lavadas. Devida a seu diminuto tamanho, estas microfibras (microfibers) 4 fluem direto através das estações de tratamento de esgoto sem serem capturadas.

Microfibras causam a Maioria da Poluição de plásticos

Amostras demonstram que microfibras sintéticas constituem 85% dos detritos nas costas marinhas de todo o mundo,5 e estão particularmente concentradas nos sedimentos das praias próximas de estações de tratamento de esgoto.6

De acordo com estimativa feita pela International Union for Conservation of Nature, acima de 1,7 milhões de toneladas de microfibras entram em cada oceano, a cada ano. 7

Uma vez na coluna d’água, estes micro detritos plásticos bloqueiam a luz solar requerida pelo plâncton e algas para medrarem e as ramificações desta situação reverbera, inteiramente, através da cadeia alimentar. Para se ter uma ideia exata de como este problema tornou-se tão severo, consideremos isto: em algumas águas oceânicas, os detritos plásticos excede o plâncton num fator de 6 para 1!8 

Corantes tóxicos, tratamentos dos tecidos como o uso de retardadores de chamas (flame retardants) = (nt.: ver – http://nossofuturoroubado.com.br/retardadores-de-chama-e-as-criancas/) e substâncias químicas que tornam os tecidos resistentes a manchas, além de detergentes para lavagem dos tecidos mais agregam os crescentes problemas ambientais trazidos por todo o ciclo das roupas e dos tecidos.

Micro plásticos são a Maior questão no Golfo do méxico

A pesquisadora da Universidade da Florida, Maia McGuire, Ph.D., estuda plásticos nas vias hídricas da Florida. No início, ela espera encontrar principalmente micro esferas — pequeninas esferas de plástico encontradas em esfoliantes de rosto e corpo — mas ela rapidamente constatou que as microfibras eram longe a maior preocupação. McGuire contou à ABC News:9

“A grande preocupação é nós conhecermos que a quantidade de plástico está crescendo e cresce de tal forma que se torna exponencial neste momento. E, pela própria natureza do plástico,  sendo um químico sintético, outras moléculas artificiais aderem a ele e finalmente os animais por similitude acabam comendo-o.

Constatamos o grande número de animais grandes que sofrem o impacto dos detritos plásticos maiores, levando-nos a imaginar o efeito destas moléculas sobre os pequenos animais (oriundo dos microplásticos) …

O que podemos fazer quanto a isso é uma questão de bilhões de dólares. O consenso parece ser de que necessitamos aprimoramento tecnológico das máquinas de lavar roupas e de processos eficazes no tratamento das estações de esgoto em combinação , no sentido de tentar filtrar e reter estas fibras. Há tanta coisa que não temos nem noção.”

Entre setembro de 2015 e agosto de 2016, o Projeto de Consciência dos Microplásticos da Florida, da pesquisadora Maia McGuire, coletou e analisou amostras de água de 256 locais na Florida. 89% continham plástico, 82% delas estavam na forma de microfibras. Somente 7% foram de micro esferas (nt.: material empregado em produtos de cuidado pessoal tipo xampus e pasta de dente para agirem como esfoliantes).

A partir de julho deste ano (nt.: em 2016 nos EUA – http://www.pensamentoverde.com.br/atitude/lei-que-proibe-uso-de-microesferas-e-aprovada-nos-estados-unidos/), produtos de cuidado pessoal não são mais permitidos conterem estas microesferas (nt.: no Brasil, pelo que consta, ainda, em 2017, são permitidas).10 No início de julho de 2018, as microesferas também serão banidas de cosméticos e a partir de julho de 2019, devem ser eliminadas também de medicamentos sem receita obrigatória, vendidos nos EUA.11

Enquanto banir as microesferas é um passo na direção adequada, as análises de água revelam que elas não estão sendo as prevalentes no ambiente como são as microfibras. Assim, banir as microesferas enquanto não se faz nada quanto às microfibras não se estará fazendo o impacto necessário, realmente significativo.

Microfibras ameaçam vida selvagem e terminam no suprimento alimentar humano

Uma vez que estas fibras estejam nos lagos, rios e oceanos, é lógico que serão consumidos pela vida selvagem, migrando mais e mais na cadeia alimentar e foi o que os pesquisadores detectaram. As fibras foram encontradas tanto no sal de cozinha como em vários frutos de mar vendidos para consumo humano (nt.: ver http://nossofuturoroubado.com.br/plastico-e-cadeia-alimentar/).13 

Microfibras têm demonstrado aumentar a mortalidade entre as pulgas d’água 14 e reduzindo a ingestão alimentar de caranguejos, vermes e lagostins (também conhecidos como ‘Norway lobster‘),15,16  por isso ameaçando suas taxas de sobrevivência. Análises de peixes tanto de água doce como salgada mostraram que 90% têm resíduos de microfibra em seus corpos.17,18

As fibras não fazem, na verdade, só danos à saúde da vida marinha, mas também em quem os consome, já que elas são bio acumulativas. Atuam também como esponjas, adsorvendo e concentrando tóxicos como os PCBs (nt.: ver – http://nossofuturoroubado.com.br/mulheres-ameacadas-pelos-disruptores-endocrinos/), agrotóxicos e mesmo petróleo, fazendo com que o animal — que pode terminar em nosso prato do almoço — torne-se muito mais tóxico do que poderia ser.

Estas substâncias químicas têm mostrado causar danos ao figado, como tumores, e sinais de serem também disruptores endócrinos (endocrine disruption) em peixes e outros frutos do mar, incluindo baixa na fertilidade e na função imunológica. No último ano, citando um relatório 19 do British Department for Environment, Food and Rural Affairs [DEFRA], o periódico Daily Mail escreveu: 20

“Microplásticos têm sido detectados em ampla variedade de espécies incluindo zoo plâncton, mexilhões, ostras, camarões, vermes marinhos, peixes, focas e baleias. Substâncias químicas aderidas aos microplásticos, ingeridos por um organismo, podem dissociarem-se das partículas plásticas e serem absorvidas pelos tecidos de seu corpo …

[O DEFRA] informa ser evidente das pesquisas com animais, que pequenas partículas plásticas podem atravessar as membranas das células, causando danos e inflamação.

Observando as implicações sobre os seres humanos, [o DEFRA] diz: ‘Muitos estudos mostram que os microplásticos, vindos do Atlântico, estão presentes nos frutos do mar vendidos para consumo humano, incluindo mexilhões em criatórios do Mar do Norte tanto de mexilhões como ostras. ‘A presença de microplásticos marinhos nos frutos do mar podem gerar uma ameaça à segurança alimentar.’”

Também de acordo com este mesmo relatório, comendo seis ostras pode-se introduzir em torno de 50 microplásticos no corpo de quem consome. Um terço dos peixes capturados no Canal de Mancha também contêm microesferas, como 83% dos camarões fritos vendidos no Reino Unido.21

Fatores que pioram a liberação de Microfibras

Testes demonstram que cada vez que se lava uma jaqueta de fleece (nt.: novamente a indústria tenta copiar a natureza e até ‘rouba’ o nome natural para seus produtos como agora quando esta palavra em inglês significa velo de lã, como direto de um pelego de ovelha) sintética mostra que libera de 1,7 a 2,7 gramas de microfibra. 22,23,24  Para efeitos de comparação, um clip de papeis pesa em torno de 1,5 gramas.

As estimativas sugerem que uma cidade de 100.000 habitantes descarte acima de 120 quilos de microfibras em seus mananciais hídricos a CADA DIA — uma quantidade que equivale a 15.000 sacos plásticos que entram nos cursos d’água diariamente. Uma série de diferentes fatores contribuem para esta quantidade de fragmentos de fibras, incluindo:

  • Idade do produto. Uma jaqueta velha de ‘fleece‘, mais microfibras serão liberadas 25
  • Qualidade do material. Material de marca genérica de baixa qualidade pode perder até 170% mais em sua vida útil do que produtos de boa qualidade
  • Tipo de tecido. Em uma comparação entre o acrílico, o poliéster e a mistura de poliéster com algodão, o acrílico é o pior, por espalhar microfibras mais do que quatro vezes mais rápido do que a mistura poliéster e algodão 26,27
  • Tipo de máquina de lavar. Testes mostram que as máquinas que tem carregamento superior (nt.: a grande maioria dos modelos brasileiros) liberam em torno de 530% mais microfibras do que as que têm o carregamento frontal 28
  • Temperatura da água, comprimento e resistência à agitação do ciclo de lavagem além do tipo de detergente (nt.: outra forma de chamar o sabão em pó) usado. Calor, agitação e agressividade do sabão/detergente, todos promovem a degradação e a liberação das microfibras.

Soluções Potenciais

Um dos remédios mais rápidos e fáceis é adicionar um filtro na máquina de lavar roupa que capture as microfibras. 29 Wexco é atualmente o distribuidor exclusivo (nt.: esta informação é dos EUA) do Filtrol 160 , 30 projetado para capturar fibras que não sejam biodegradáveis das descargas das máquinas de lavar roupa. Aqui está – link to Google – para encontrar as fontes deles.

Infelizmente, esta solução resolve somente parcialmente o problema, já que no final as microfibras irão ainda para um aterro de lixo quando se tiver o filtro cheio.  A partir daí, poderão entrar na cadeia biológica.

Outra nova solução potencial — uma máquina de lavar sem água — que foi desenvolvida pela TERSUS Solutions no Colorado, com o financiamento da empresa Patagonia (nt.: grande empresa que desenvolve roupas para aventuras e que usa praticamente só tecidos artificiais). Ela lava as roupas usando dióxido de carbono pressurizado em vez de água. 31  A empresa Patagonia também está buscando soluções para mitigar esta realidade, incluindo produtos reprojetados para prevenirem a liberação de microfibras.

Talvez o caminho mais simples para contornar todos estes problemas é também biologicamente a mais elegante, é a que evita a compra de roupas com fibras sintéticas. Assim, em primeiro lugar será a que fizer a opção por tecidos de algodão orgânico, cânhamo, seda, lã e mesmo bambu, em vez das sintéticas.

a degradação gerada pelo Poliéster vai além da poluição pelas Microfibras

Muito além da poluição da microfibra, o poliéster e outros tecidos sintéticos feitos pelo homem têm muita outras desvantagens ambientais, incluindo o que segue: 32

•O poliéster não é só feito do petróleo; o processo de fabricação dele e de outros tecidos sintéticos é também energético-intensivo, liberando grandes quantidade de emissões atmosféricas tóxicas, incluindo os compostos orgânicos voláteis, material particulado e gases ácidos (nt.: situação que gera a agressiva chuva ácida).

•Subprodutos da produção de poliéster também incluem poluentes da água como os monômeros (nt.: como o poliéster é um polímero, este é a agregação de milhares de monômeros – mono=um; poli=muitos) voláteis e os solventes.

•Substâncias químicas tóxicas também são usadas durante a produção de muitos tecidos sintéticos como os perfluorados (nt.: em inglês perfluorochemicals/PFCs – ver http://nossofuturoroubado.com.br/busca/?q=pfcs), os ftalatos (nt.: ver – http://nossofuturoroubado.com.br/busca/?q=ftalato), corantes  azóicos (nt.: ver – http://nossofuturoroubado.com.br/onze-grupos-de-substancias-perigosas-que-devem-ser-eliminadas-de-nossas-roupas/), dimetilformamida (DMF), nonilfenol etoxilado (nt.: em inglês – nonylphenols ethoxylates/NPEs), nonilfenóis (nt.: em inglês = nonylphenols/NPs) e triclosan (nt.: ver – http://nossofuturoroubado.com.br/onu-lanca-alerta-sobre-impacto-de-produtos-quimicos-do-dia-a-dia/). Pesquisa sueca estima que 10% de todos os químicos usados na indústria têxtil são potencialmente perigosos para a saúde humana. 33

De acordo com um relatório do Greenpeace, 34 as roupas esportivas tendem a conter os mais altos níveis de substâncias químicas tóxicas, incluindo os disruptores endócrinos que podem ter efeitos tóxicos agudos se formos suscetíveis. Produtos químicos são aplicados à maioria dos tecidos sintéticos para melhor sua performance na drenagem, permitindo a resistência à água e a manchas, além de diminuir os odores corpóreos.

Alguns fabricantes de roupas estão agora começando a tomar estes fatos com maior seriedade. Por exemplo, a Patagonia está trabalhando para desenvolver tratamentos com os tecidos usando matérias primas naturais e, junto com a   Adidas, estão prometendo eliminar os PFCs (nt.: ver – http://nossofuturoroubado.com.br/saude-bane-tres-toxicos-de-embalagens-nos-eua/). Adidas prometeu ter produtos 99% livre de PFCs a partir deste ano. Outros, como Ibex, Alternative Apparel, SilkAthlete e Evolve Fit Wear estão usando algodão orgânico, combinações de seda e lã merina para suas linhas de roupas esportivas. 35

Corantes de vestuários Tóxicos causam estragos ambientais

O tingimento têxtil é outro grande destruidor ambiental. Muitos destas fábricas estão localizadas em países em desenvolvimento onde as normas são frouxas e custos operacionais baixos. Águas residuais, sem tratamento ou minimamente tratadas (untreated or minimally treated wastewater), são normalmente descartadas nos rios próximos, de onde se dirigem para os lagos e oceanos, atravessando todo o globo através da correntes marinhas. Estima-se que 40% das substâncias químicas da indústria têxtil são descartadas pela China. 36 A Indonésia também está lutando com as consequências químicas da indústria do vestuário.

O rio Citarum (nt.: rio da Indonésia, localizada na Ilha de Java, perto da capital Jacarta) é, atualmente, um dos mais fortemente poluídos no mundo, graças a congregação de centenas de fábricas têxteis ao longo de suas margens. As análises feitas pelo Greenpeace revelam que a água do rio contém quantidades alarmantes de chumbo, mercúrio (mercury)  arsênio (arsenic) , nonilfenol (um disruptor endócrino – endocrine disrupting chemical) e muitos outros químicos tóxicos — todos eles são descartados diretamente pelas fábricas no rio, sem mesmo a mais básica filtração química ou tratamentos dos efluentes líquidos.

O produto final dos vestuários pode também conter nonilfenol (nt.: para se ter uma ideia este foi um dos primeiros disruptores endócrinos a ser descoberto como feminizador dos machos. Ver o documentário – http://nossofuturoroubado.com.br/saude-agressao-ao-homem-documentario/). Esta substância pode estar nos detergentes (nt.: ver – http://nossofuturoroubado.com.br/produtos-quimicos-altamente-toxicos-em-roupas-de-grife/) que se usa para muitas fases de lavagens, até fazer parte do processo de desbotamento do tecido. Significa que esta substância está sendo despejada nos nossos próprios mananciais hídricos onde se desbota roupas já confeccionadas. O nonilfenol (nt.: ver – http://nossofuturoroubado.com.br/a-mae-que-expos-as-conexoes-entre-a-obesidade-e-os-quimicos-comuns/) é considerado tão venenoso que muitos membros da União Europeia baniram seu uso na indústria de vestuários (nt.: ver – http://nossofuturoroubado.com.br/disruptores-endocrinos-moleculas-alienigenas-nao-criadas-pela-vida/). Nem sequer é permitido  nos produtos têxteis importados. Surpreendentemente, nos EUA (nt.: e muito menos no Brasil) não existe este tipo de restrições.

Sejamos parte da solução: tiremos tudo isso de noso armário

Enquanto algumas companhias estão ativamente investigando maneiras de produzir roupas ambientalmente seguras, cada um e todos nós podemos contribuir na solução, restringindo nosso consumo e pondo mais atenção no que estamos comprando e como podemos cuidar e lavar aquilo que já temos.

Como venho descrevendo em artigos anteriores quando trato de “fast fashion”, o ciclo de vida de uma peça de roupa deveria, idealmente levar em conta, antes de sua compra, o seu descarte (discarded clothes).  Isso porque, atualmente, a maioria  acaba em aterros de lixo ou são revendidas para países em desenvolvimento onde as indústrias locais de tecidos, por sua vez, sofrem esta concorrência.

A maioria dos norte americanos tem roupas suficiente para vestir comunidades inteiras de alguns outros países. Não haveria dúvidas se alguns deles absorvessem algumas das premissas de vida sugeridas pelo movimento minimalista (minimalism movement). Como afirmou o diretor de estratégia ambiental da empresa Patagonia à rede de tevê CBS em 2015: 37

“As pessoas precisam aprender como comprar menos e as companhias necessitam saber como serem rentáveis vendendo menos … Alguma coisa deve, radicalmente, mudar no mundo do consumo para que se reduza a pressão sobre as matérias primas e daí a pressão sobre o planeta …”

Rejeitar substâncias químicas tóxicas e reduzir a poluição ambiental, associando à lavagem e ao uso de roupas, se levarmos em consideração as seguintes recomendações:

Optar por tecidos de algodão orgânico, cânhamo, seda, lã e bambu. Embora  estes itens, normalmente, custam mais caro do que os não orgânicos e sintéticos, comprando menos permitirá que gastando menos podermos investir nos melhores produtos. Por outro lado, produtos orgânicos com mais alta qualidade tendem a ser mais duradouros, com um cuidado apropriado, valorizando assim, no final, mais o nosso desembolso.
Optar por itens tingidos com corantes naturais não tóxico, quando possível. Entre as empresas que estão investindo em fazendas orgânicas e corantes naturais, inclui a PACT (roupas íntimas e roupões – https://wearpact.com/men), Boll & Branch (linha cama e banho – https://www.bollandbranch.com/), Jungmaven (cânhamo orgânico e algodão para camisetas T-shirts – https://jungmaven.com/), Industry of All Nations (roupas em geral – http://www.industryofallnations.com/) e muitas outras.
Rejeitar todos os produtos impressa em ‘screen printed’, já que normalmente no processo pode conter o disruptor endócrino ftalato (nt.: ver – http://nossofuturoroubado.com.br/os-ftalatos-estao-por-toda-parte-e-os-riscos-sobre-a-saude-preocupantes-quanto-sao-eles-realmente-prejudiciais/).
Procurar pela certificação ‘Bluesign System Certification’ (nt.:  ver – http://www.bluesign.com/),38 que nos fala do item que está sendo fabricado com a mínima quantidade de químicos perigosos ou nenhum.
Evitar tecidos técnicos de marcas registradas, a maioria está recoberto com substâncias químicas que irão no final sair com a lavagem.
Ser consciente de onde e como lavar as roupas sintéticas. Lavar as roupas sintéticas de forma tão inusitada quanto possível. Usar sabão neutro e secar a roupa no varal em vez de colocá-la em uma máquina secadora. Na máquina tanto o calor como a agitação irão liberar as fibras.

Lavar a mão ou usar água fria na máquina também irá minimizar a soltura das fibras, como será com uma máquina que tenha entrada frontal (nt.: tipo de máquina pouco comum no Brasil). Evitar amaciantes de roupas e as esferas secadoras de roupas. Deixam uma película sobre os tecidos que bloqueiam a capacidade de absorção das fibras.

Instalar um filtro para microfibras na máquina de lavar (nt.: algo ainda impensado no Brasil e a pergunta é a já feita: o que fazer com o filtrado? jogar no lixo?).

Fontes e Referências

  • 1,36Ecowatch August 17, 2015
  • 2Algalita.org Greening Laundry Day: Avoid Polyester Fabrics
  • 3,4Story of Stuff, Microfibers
  • 5Environmental Science and Technology 2011; 45 (21): 9175–9179
  • 6,29Outside June 20, 2016
  • 7IUCN, Primary Microplastics in the Ocean
  • 8Science, Why is the world’s biggest landfill in the Pacific Ocean?
  • 9ABC News March 15, 2017
  • 10CNN December 31, 2015
  • 11Royal Society of Chemistry January 6, 2016
  • 12Environmental Science and Technology 2015; 49(22): 13622-13627
  • 13Scientific Reports 2015; 5, article number: 14340
  • 14Environmental Pollution December 2015; 219: 201-209
  • 15Environmental Science and Technology 2015; 49(24): 14597-14604
  • 16,24Washington Post October 30, 2016
  • 17EcoWatch September 30, 2015
  • 18Marine Pollution Bulletin November 15, 2014: 88(1-2): 325-333
  • 19Environmental Impact of Microplastics (PDF)
  • 20Daily Mail August 31, 2016
  • 21Daily Mail August 28, 2016
  • 22Microfiber Pollution and the Apparel Industry, Project Findings
  • 23NPR February 6, 2017
  • 25GulfNews July 13, 2016
  • 26Marine Pollution Bulletin November 15, 2016; 112(1-2): 39-45
  • 27Gizmodo September 28, 2016
  • 28Fusion June 22, 2016
  • 30Wexco, Filtrol 160
  • 31The Guardian June 20, 2016
  • 32Environmental Health Perspectives September 2007; 115(9): A449-A454
  • 33,35Shape.com July 21, 2015
  • 34Greenpeace.org, May 19, 2014
  • 37CBS News November 27, 2015
  • 38Bluesign System Certification

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, abril de 2017.

 

 

 

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Pantanal: Ativistas lutam para preservar as planícies alagadas do Brasil.

23 de novembro de 2014 por Luiz Jacques

Água é vida. E no Pantanal brasileiro, maior área úmida continental do planeta, a vida é estonteante em abundância, variedade e beleza. Dirigimos por 160 quilômetros desde Cuiabá, capital do Mato Grosso, passando pelo Cerrado e descendo, quase sem perceber, até o extremo norte dessa imensa bacia natural que é o Pantanal. Em ambos os lados da estrada de pista simples, a paisagem se estende em um mosaico de pastagens alagadas e retalhos de densa vegetação.

 

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/537455-pantanal-ativistas-lutam-para-preservar-as-planicies-alagadas-do-brasil

 

 

A reportagem é de Mick Brown, publicada pelo jornal The Telegraph, 12-11-2014.

Está anoitecendo – a ‘happy hour’ dos pássaros, como define Glauco Kimura de Freitas – e o céu parece uma revolução de dourados e vermelhos. Um casal de araras sobrevoa nossas cabeças, num flash de vermelho e azul em contraste com as copas verde escuro das árvores. Um bando de cabeças-secas abre caminho sobre as águas, espalhando flores aquáticas por onde passam. “socó-boi, tuiuiú, colhereiros…” indica Freitas, biólogo e coordenador do Programa Água para a Vida, da organização ambientalista WWF-Brasil, listando as espécies conforme passamos pela estrada, olhando para o alto, o céu escurecendo e o ar cheio de vida com o clamor da música mais bela da natureza.

Nosso ritmo ao longo da estrada vazia vai diminuindo até uma série de paradas, quanto mais descemos Pantanal adentro. Uma família de capivaras, maior roedor do planeta, move-se em passo constante por uma pastagem pontilhada de cupinzeiros de até 1,5 metro de altura. Um cervo-do-pantanal amedrontado corre por detrás de uma cortina de árvores. Três jacarés estão tão imóveis que até parecem troncos de árvores nos baixios enlameados ao lado da estrada. “Este”, diz Freitas, “é o lugar mais bonito do planeta”. É difícil discordar.

O Pantanal, que ocupa uma área de 140 mil a 200 mil quilômetros quadrados, está localizado na fronteira entre Brasil, Bolívia e Paraguai, com 80% de seu território localizado nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste brasileiro. A sobrevivência das áreas alagadas depende de um ‘pulso’ anual de água que, na estação chuvosa, de janeiro a março, escoa do Cerrado e alaga as planícies do Pantanal, cobrindo 80% de seu terreno.

É uma das áreas mais ricas em biodiversidade no mundo, com cerca de 3.500 espécies de plantas, 565 espécies de pássaros, 325 espécies de peixes, 159 espécies de mamíferos e 98 espécies de répteis. É onde habitam a onça, a arara azul, a ariranha, a jiboia e a anta. E, no entanto, esse extraordinário recurso natural está ameaçado. Agricultura intensiva, desmatamento, poluição das águas e a demanda de uma população em crescimento por água e energia estão colocando em perigo as águas que formam o Pantanal: nascentes, afluentes e rios que lhe dão vida.

Este problema é alvo, agora, de um grande projeto do WWF-Brasil que busca melhorar o gerenciamento de recursos hídricos e proteger quatro grandes afluentes – os rios Alto-Paraguai, Sepotuba, Jauru e Cabaçal –, que constituem a chamada ‘caixa d’água’ do Pantanal, provendo de 25% a 30% do seu fluxo.

A peça central do plano do WWF-Brasil, apoiado por um investimento de US$ 4.5 milhões do banco HSBC, é a negociação do Pacto das Cabeceiras do Pantanal. O projeto de cinco anos tem como objetivo conseguir a adesão dos prefeitos de 25 municípios do Mato Grosso a um compromisso pela conservação e proteção das cabeceiras em suas regiões, bem como o engajamento e cooperação de atores em todos os níveis, de fazendeiros locais e pescadores de subsistência até o agronegócio e indústria – partes que, tradicionalmente, veem organizações ambientalistas como uma ameaça a seus modos de vida e ao seu lucro. A tarefa é enorme, reconhece Freitas, mas, segundo ele, de importância vital: “Água é tudo para o Pantanal. Nós precisamos do engajamento de todos os setores da sociedade fazendo-os compreender que cuidar do seu recurso hídrico não beneficia apenas suas atividades cotidianas mas também provê uma base para uma indústria saudável no longo prazo”.

A primeira semente do Pacto foi lançada há cinco anos com um projeto na região do município de Reserva do Cabaçal, com o objetivo de recuperar uma nascente que havia secado, uma das centenas que alimentam os rios Cabaçal, Jauru e Sepotuba. Estes, por sua vez, escoam na direção do rio Paraguai, a principal artéria do ‘pulso’ do Pantanal. “Se a água morrer, o Pantanal morre com ela”, diz Freitas.

O Cerrado mato-grossense onde brotam as águas do Pantanal era praticamente uma mata virgem até os anos 1960, quando o governo militar brasileiro iniciou um programa para transformar a região em fazendas e pastagens. Posseiros receberam carta branca para desmatar e cultivar a terra para criação de gado e produção agrícola intensiva, principalmente de soja, hoje o principal produto agrícola do Mato Grosso.

Trinta e cinco por cento da soja do mundo é plantada no Brasil. Desses, um terço é exportado para a China.

Nos últimos 40 anos, cerca de 50 por cento do Cerrado foi desmatado para criação de gado e para cultivos. Essa destruição foi feita ostensivamente mesmo com o Código Florestal introduzido em 1965, que estipulava que, propriedades do Cerrado no Mato Grosso, 35 por cento da área deveria ter a floresta preservada, o que hoje é conhecido como ‘Reserva Legal’ (para a Amazônia, essa reserva deve ser de 80%). O Código também estipula, numa série de cálculos complexos, a largura das faixas de vegetação que deve ser preservada às margens de rios e nascentes. Essa mata ciliar age não apenas como uma zona tampão para impedir a erosão do solo e o assoreamento dos rios, mas também provê um habitat importante para pássaros e primatas . Desde seus primeiros dias, no entanto, a fiscalização da aplicação do Código foi aleatória; muitos fazendeiros simplesmente o ignoraram. E, em 2013, após pressão do poderoso lobby do agronegócio, o Código foi revisto para reduzir a quantidade de matas ciliares que, obrigatoriamente, deve ser preservada nas margens dos rios.

Práticas agrícolas ruins constituem um dos fatores que mais ameaçam as nascentes do Pantanal. A erosão do solo causada pelo sobrepastejo em pastagens de solo arenoso cria ravinas que bloqueiam as nascentes e geram os sedimentos carregados correnteza abaixo, assoreando os rios. Há, também, a poluição da água por produtos químicos utilizados nas fazendas e na mineração de ouro, que já foi uma atividade importante no Mato Grosso (cuja capital Cuiabá foi fundada durante o ciclo do ouro do século 18). “As pessoas vieram para cá nos anos 1970 e 1980 com a ideia de ganhar dinheiro”, diz Freitas. “Não se importaram com a terra. Agora estamos pagando o preço”.

Ao sobrevoar o Cerrado, tem-se a clara noção tanto das transformações pelas quais a terra passou, quanto dos fatores que estão diminuindo o suprimento de água para o Pantanal. Tão longe quanto os olhos podem ver, a região revela um vasto mosaico de áreas cultivadas e matas. O gado pastoreia em trechos imensos de fazendas, onde apenas uns poucos esqueletos de árvores restaram, de onde a floresta foi cortada. Em algumas áreas as ravinas causadas pela erosão do solo são claramente visíveis. Faixas de mata ciliar marcam a presença de uma nascente, ou o curso de córregos e afluentes levando à larga e tortuosa faixa do rio Sepotuba. Em dois pontos ao longo do rio, duas grandes barragens podem ser vistas – parte de um extenso programa de gerar energia para a região que, no decorrer dos próximos cinco anos, resultará em 137 represas construídas ao longo das cabeceiras, representando uma ameaça crescente ao ‘pulso’ natural do Pantanal e à migração de peixes, cujos efeitos já podem ser sentidos pelas comunidades que moram rio abaixo.

Voando na direção sul, pode-se ver a terra tornando-se cada vez mais pantanosa, com os pedaços de floresta e fazendas de gado borrifados com largas manchas de água, brilhando como espelhos à luz do sol. A proporção de água cresce gradualmente em relação à de terra, até a paisagem se parecer com uma tinta azul derramada por sobre um papel verde borrado, assinalando o início do Pantanal.

Na pacata cidade de Poconé, a estrada de cascalho dá origem a uma pista larga, não cuidada, a – Estrada Transpantaneira, uma espinha elevada, correndo através das terras alagadas, e o única acesso terrestre ao coração do Pantanal, o Parque Nacional do Pantanal, a cerca de 100 km ao sul. Pontilhando a estrada, dos dois lados, estão entradas para ranchos (estâncias), alguns dos quais se anunciam como eco-resorts.

Dos dois lados da estrada, a terra está tomada por uma lâmina brilhante de água, com ilhas de árvores e vegetação. Gado nelore cinzento, raça resistente da Índia, pastoreia no capim alto, com as patas imersas na água. Dois vaqueiros abrem sua trilha através da pastagem alagada em fortes cavalos Pantaneiros, chutando jatos de água; um bando de patos forma um V perfeito sob um arco de límpido céu azul. É uma cena para fazer acreditar, como escreveu William Blake, que tudo é sagrado.

Fazemos uma curva para fora da estrada, guiando por uma trilha, até um conjunto de prédios: o Araras Eco Lodge. O dono da pousada, André von Thuronyi, era um aventureiro conduzindo expedições na Amazônia quando, há 25 anos, comprou a propriedade, então uma pequena fazenda, com o objetivo de explorar o ecoturismo. Nós nos sentamos na sombra, tomando suco de laranja, enquanto, a 10 metros de distância, do outro lado da cerca, um grupo de jacarés-açu repousava no baixio.

Quando ele se mudou para a fazenda ele encontrou os livros de contabilidade do antigo dono, ele diz, detalhando o dinheiro que ganhava da venda de peles de onça e jacaré e das plumas de aves exóticas para desfiles de Carnaval. “Essa era a economia, naquele tempo”. Thuronyi se fixou tentando promover a conservação por meio do que chama de ‘taxa de visitação’, repassando o dinheiro para que os fazendeiros não matem as onças que se alimentam dos rebanhos. “Eles me perguntavam, o que eu tenho de fazer? Eu respondia, você não precisa fazer nada, apenas não faça fogo e não atire em nada. ‘E você vai me dar dinheiro?’ Logo estavam fofocando que esse cara de cabelo comprido e brinco era meio estranho…”, relembra ele rindo.

Foi a primeira pousada ecológica nessa região do Pantanal. Agora há cerca de 20 donos de terra e fazendeiros com pousadas de tamanhos variados, em suas propriedades. “Eles estão ganhando mais ao manter a natureza viva e bem cuidada. Basicamente, nós temos dois tipos de pessoa. Aqueles que compreendem em seu coração que a natureza deve ser amada, e aqueles que amam a natureza porque ganham dinheiro. Contanto que a natureza seja preservada, não me importa em qual dos lados você está”.

“Eu não conheço nenhum outro lugar onde o eco turismo tenha feito tanta diferença. Quando eu cheguei aqui, levei 11 anos para ver uma onça. Agora vejo onças regularmente. E parda, pintada… O que tem diminuído é a sucuri: já quase não se vê mais, por causa da deterioração da qualidade da água”.

O povo pantaneiro, ele continua, é provinciano e desconfiado de forasteiros. Ele só foi realmente aceito quando começou, ele mesmo, a criar gado e cavalos pantaneiros. Menores e resistentes, esses cavalos se adaptaram a pastorear com os narizes embaixo d’água e a suportar a elevada umidade do ar. Ele fala sobre a ameaça à região representada pelo desenvolvimento agrícola rio acima. Ele havia visto algumas fotografias tiradas por um piloto que sobrevoou uma imensa plantação de soja ao longo do rio Paraguai. “Não respeitaram nada. Simplesmente plantam até a beira da água. Pensam que não tem importância”. Ele suspira.

As novas represas rio acima e o acúmulo de sedimentos modificou a hidrologia da área, diz von Thuronyi. Em alguns locais o canal original do rio se perdeu completamente, áreas que não deveriam alagar agora estão debaixo d’água, outras que deveriam estar úmidas, secaram. “Nós dependemos do pulso da inundação, então todas essas coisas que limitam esse movimento têm consequências. É tudo consequência do desenvolvimento.” Ele gesticula ao seu redor. “Olha isso! Eu sou pela vida. E não tem nenhum outro lugar no mundo onde isso é tão forte, nem mesmo na África. Mas se você me perguntar sobre o futuro do Pantanal, eu não sou otimista.”

O rancho de von Turonyi, Bafo da Onça fica a duas horas de carro do outro lado da rodovia Transpantaneira. Um grupo de vaqueiros conduz o gado pelo pasto, para os currais. Um bezerro arredio se desgarra do rebanho e é levado para um piquete separado, onde um vaqueiro se prepara para laçá-lo, enquanto um garoto de uns 12 anos assiste, sentado na cerca. Resistindo na ponta da corda, o bezerro se assusta e se chocou com o cavalo. O cavalo empina e gira, afundando os dentes no pescoço do bezerro que, estonteado, vai ao chão. De seu assento na cerca, o garoto vibra e aplaude com prazer.

O nome do vaqueiro é Gonzalo. Ele tem 47 anos, baixo e magro, com os braços rígidos como aço. Como seu pai, seu avô e seu bisavô antes dele, ele tem sido um vaqueiro por toda a sua vida. Mas as coisas estão mudando. No tempo de seu pai, todos os pantaneiros viviam no rancho. Gonzalo trabalha no rancho durante a semana e, nos fins de semana ele dirige até sua casa em Poconé, que ele chama de ‘cidade’, com sua população de 20 mil habitantes.

Antigamente, os vaqueiros passavam quatro ou cinco dias conduzindo gado para ser vendido ou abatido. Hoje, os animais são quase sempre transportados pela estrada, em caminhões. Gonzalo tem três filhos, mas duvida que qualquer um deles virá a ser vaqueiro. “Para mim, será melhor se eles estudarem e conseguirem um emprego na cidade. Poucos garotos querem fazer isso; eles querem um emprego que pague mais”, ele dá de ombros. “O antigo modo de vida está morrendo”. O garoto, de pé ao lado, tímido, olhava e escutava. “O que você quer ser quando crescer?”, pergunto. Ele ri. “Pantaneiro!”

Entre os mais diretamente afetados pelas mudanças hidrológicas das nascentes estão os pescadores correnteza abaixo, que vivem do que o rio lhes dá. Ao longo do rio Cuiabá, um pescador chamado João, homem cansado e de aparência surrada, vive com a mulher e um neto numa pequena choupana construída com tijolos de barro e telhado de ferro corrugado. Galinhas ciscam no quintal. Ao lado da casa, um grande tanque de plástico coleta água da chuva. Um balde está cheio de latas de refrigerante retiradas do rio para serem vendidas na cidade. Duas embarcações estão amarradas em um precário píer de madeira, um barco a motor e uma canoa, para pescar. Uma cesta de vime está submersa na água – “freezer de pantaneiro”, diz ele. Ele a levanta para mostrar a pesca do dia: piranhas, se debatendo violentamente à luz do sol.

Mais de cem pessoas vivem nesse trecho do rio, ele diz, mas a pesca está ficando mais difícil a cada dia. Há dez anos, ele pescava peixes suficientes para levar a Poconé, para vender. “Agora demora mais de um mês para pescar a mesma quantidade” .

O excesso de captura pela pesca esportiva tornou os bagres mais raros; a qualidade da água está piorando – quando a chuva vem dá pra ver o lixo flutuando, vindo de Cuiabá, e as águas estão ficando mais rasas, por causa do assoreamento. Há trechos do rio que tinham sete metros de profundidade, mas que durante a estação seca ficam rasos o suficiente para se caminhar de margem a margem.

João diz que hoje está mais pobre do que nunca. “Eu tenho 57 anos – eu me considero velho. Mas eu estou preocupado com os jovens que não vão ter como sobreviver nessa região e vão ter de ir embora. Rio acima, as pessoas não se importam com o rio, e aqui a gente paga o preço”.

Cáceres está localizada às margens do rio Paraguai, no ponto onde o Cerrado faz fronteira com o Pantanal. A cidade é famosa pelo Festival Internacional da Pesca, que dizem ser a maior competição de pesca em água doce do mundo. O prefeito Francis Maris Cruz é um homem de barba, de expressão séria, que aceitou fazer parte do Pacto das Nascentes. Segundo ele, a pesca esportiva é uma parte importante da economia local e está sofrendo com as mudanças hidrológicas. Os peixes estão se tornando menores e menos numerosos. O dourado, particularmente popular entre os pescadores esportivos, está à beira da extinção na região, e sua captura está proibida.

“Para nós, no entanto, a maior questão do pacto é o saneamento”, afirma o prefeito. Cáceres trata apenas 10% do seu esgoto (a média nacional é 40%). O restante é lançado ao rio Paraguai. Seus antecessores não consideraram isso importante, diz Maris Cruz; iria custar muito para resolver o problema, “e o rio Paraguai é tão largo, com um volume tão grande de água que ele ajuda e levar o esgoto embora”.

Sob o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o Governo Brasileiro destinou 41 bilhões de reais, em quatro anos (2011-2014) para melhorar as condições sanitárias em todo o País. Mas apenas 12% dos fundos alocados foram efetivamente utilizados, afirma Freitas.

“Os municípios não têm capacidade de redigir as propostas e apresentar para o governo para ter os recursos liberados. Para ser honesto, para preservar a biodiversidade no Brasil você precisa reconstruir a governança. E nós temos uma crise de governança no Brasil”, completa o ambientalista. Julio Florindo, prefeito de Barra do Bugres, localizada rio acima em relação a Cáceres, solicitou os recursos do Governo Federal para ampliar o sistema de tratamento de esgoto em sua cidade. “Nós ainda não recebemos uma resposta”, diz ele. “Por causa da Copa do Mundo os recursos para saneamento foram priorizados para as cidades-sede, e isso prejudicou cidades como essa”.

Florindo concebeu um esquema engenhoso para lidar com outro problema, que ele considera um dos mais importantes da cidade. Trata-se das comunidades ribeirinhas rio acima simplesmente jogando seu lixo no rio, para ser levado embora, para longe dos olhos e longe do pensamento. Ele quer comprar o lixo deles. “Seria mais barato do que gastar um monte de dinheiro limpando o rio. É uma situação em que todos ganham, o rio e a comunidade. É triste, mas dinheiro é sempre a maneira mais rápida de chamar a atenção das pessoas”, conclui ele, dando de ombros.

Em Cáceres, caminhei ao longo da margem do rio, até a praça central. Estava anoitecendo e os bares e restaurantes estavam recebendo as famílias locais. Alguns barcos de recreio de dois andares estavam ancorados no rio, para aluguel por grupos de pescadores esportivos que vêm de todo o país – uma benção duvidosa. “Eles não gastam nada na cidade”, me diz o líder da associação local de fazendeiros. “Eles trazem sua própria comida e bebida; eles jogam seu lixo no rio. A única coisa com que eles gastam dinheiro é a prostituição. E então vão embora”. Perto da praça um tubo de concreto despeja o esgoto no rio. A cem metros dali, crianças nadam, perto de um banco de areia.

Isidoro Salomão vive a 10 quilômetros rio abaixo, em uma estância construída em um terreno arborizado, à margem do rio. Ele é um sujeito magro, de face esculpida e um ar sisudo, grave. Nós caminhamos até um barco ancorado perto da casa – uma versão menor dos modelos de recreação que eu havia visto em Cáceres. Caminhamos por uma prancha e subimos os degraus até o deck superior para conversarmos, enquanto lanchas e botes levando pescadores esportivos deslizavam rio acima e abaixo.

Durante 20 anos Salomão foi padre e, em suas palavras, um “mobilizador social”. Mas há seis anos um novo bispo assumiu a diocese. “Ele tinha um ponto de vista conservador; ele disse que eu deveria ensinar apenas religião e evitar o trabalho social. Eu não podia aceitar isso, então eu deixei a igreja”. Com uma herança de seu pai, Salomão comprou a estância e estabeleceu o Comitê Popular de Defesa do Rio Paraguai. A organização agora possui 108 membros em 16 cidades ao longo do rio: associações de fazendeiros e pescadores, escolas, a universidade local e organizações não-governamentais. Salomão transformou as casas da estância em salas de reunião e um dormitório, que ele aluga para conferências. O barco é utilizado para levar grupos de alunos das escolas rio acima e abaixo, para educação ambiental. Isso, diz ele, é uma batalha em diversas frentes: luta contra propostas de transformar o rio numa hidrovia para grandes embarcações; luta contra mais represas rio acima; luta pela melhoria do saneamento.

Quando eu expressei meu choque pelo fato de apenas 10% do esgoto de Cáceres ser tratado, Salomão balançou a cabeça. “Eu diria 3%. Na estação de chuvas a correnteza é mais veloz e dilui o esgoto, mas na estação seca não se pode entrar no rio – está muito contaminado”.

Ser um ativista ambiental não é uma ocupação sem riscos. A alguns quilômetros rio abaixo, Salomão diz, há um processador de couros que joga produtos químicos não tratados na água. A empresa foi multada em R$ 450 mil pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (a multa, diz Salomão, ainda não foi paga). Depois de Salomão ter apresentado evidências para o promotor de Justiça, ele afirma ter sido ameaçado: “Um estranho entrou no meu carro com uma arma e disse que eu precisava me calar. Eu não sei dizer exatamente quem o mandou. Nós temos muitos inimigos”.

Mesmo entre brasileiros, há uma dolorosa falta de conhecimento sobre a importância do Pantanal. Oitenta por cento da população do país vive em cidades, e uma pesquisa recente conduzida pelo WWF-Brasil revelou que, enquanto 93% dos entrevistados tinham ouvido falar do Pantanal, 92% nunca foram lá e duas entre cada três pessoas não sabem sequer identificar sua localização no mapa. Apenas 18% sabem que são águas do Cerrado que alimentam as áreas alagadas. “Para a maior parte das pessoas no Brasil ‘meio ambiente’ significa Amazônia”, diz Freitas. “Acham que não tem nada a ver com eles”.

Aumentar o conhecimento do público por meio da mídia e de escolas é outra parte do projeto. A maior parte das pessoas, talvez, vê o WWF-Brasil como uma organização preocupada apenas com a preservação de espécies, mas o Pacto em Defesa das Cabeceiras do Pantanal envolve o engajamento de uma grande gama de interesses divergentes, de fazendeiros a banqueiros, nem todos satisfeitos com o envolvimento do WWF-Brasil.

“Nós encontramos algum ceticismo”, admite Freitas. “As pessoas nos vêm como uma organização internacional que não representa os interesses nacionais. Até me disseram que nós estamos representando os interesses de produtores de soja dos Estados Unidos!”.

Em nove meses, 72 grupos e instituições, incluindo grupos de pescadores, produtores locais, proprietários de abatedouros e a organização de Salomão assinaram cartas de intenção de apoio ao Pacto. Mas construir uma aliança onde há interesses conflitantes é uma tarefa difícil e dolorosa.

Dariu Carniel é o diretor executivo do Consórcio das Nascentes do Pantanal, responsável pela promoção da ideia do pacto em 14 das 25 municipalidades. “Dos 14 prefeitos com quem eu trabalho eu diria que apenas três têm a conservação ambiental em mente”, ele diz. “A maior parte deles vê o investimento ambiental como algo que não traz vantagens para eles, portanto é prioridade zero”.

“Por exemplo, na questão das pequenas represas hidrelétricas. As agências hidrelétricas vão procurar os prefeitos tentando convencê-los dos benefícios da represa, mas escondendo os problemas sociais e ambientais que as elas apresentam. Então o nosso trabalho é balancear os prós e os contras do desenvolvimento, colocando a transparência na mesa. Nós também precisamos chegar à população discutindo questões ambientais, porque se a população pensa que é importante, o prefeito também vai pensar que é”, explica Carniel.

Em cidades menores o prefeito pode ser um fazendeiro com interesses pessoais em favorecer o desenvolvimento, em vez da conservação. As possibilidades de corrupção são várias. Em dois dos 25 municípios alvo do projeto, os prefeitos foram recentemente afastados do cargo. E o setor agroindustrial mantém um lobby poderoso junto aos governos estaduais e locais. “Eles têm se organizado muito bem”, diz Freitas. “Nós temos de aprender com eles. O desafio é persuadir os produtores que a conservação é benéfica para eles, e não uma ameaça aos seus lucros. Nós precisamos mudar toda uma cultura para poder fazer o nosso trabalho”.

Um dos maiores incentivos para as boas práticas é financeiro. O WWF-Brasil fechou uma importante parceria com o Banco do Brasil, maior financiador do agronegócio no país, para que empréstimos a juros baixos para fazendeiros estejam contingenciados pela manutenção dos requisitos legais de reserva legal e preservação de matas ciliares.

Supermercados estão sendo encorajados a adquirir apenas carne proveniente de boas práticas. E os municípios estão sendo cobrados a aplicar multas por más práticas ambientais impostas a empresas para financiar projetos de conservação.

Em Tangará da Serra, importante cidade industrial e comercial no coração da região produtora de soja, o WWF-Brasil tem ajudado a implementar um projeto piloto com o governo municipal para convencer empresas locais a financiar projetos de serviços ambientais, fazendo pequenas doações a fazendeiros para ajudá-los a seguir boas práticas: cercar nascentes evitar o gado e restaurar áreas degradadas em suas terras.

“Tangará da Serra tem um índice pluviométrico de 1.800 mm; não deveria ter qualquer tipo de problema”, diz Freitas. “Mas, mesmo assim, o município enfrenta problemas de suprimento de água durante a estação seca, devido à poluição da água e o desmatamento. É impressionante”.

Ao viajar pelas cidades e terras alagadas do Cerrado e do Pantanal, fica-se impressionado pela magnitude do desafio do Pacto das Cabeceiras. Mudar atitudes, incentivar boas práticas, forjar um consenso entre governos locais, setor privado e sociedade civil sobre a necessidade de se preservar as cabeceiras dos rios e a melhor maneira de se conseguir isso leva tempo. Mas existe uma pequena parte do projeto que já se apresenta como um sucesso palpável e altamente visível.

A pequena vila da Reserva do Cabaçal fica a três horas de carro, pelo Cerrado, partindo de Cáceres. Foi aqui, nas fazendas acima da cidade que o projeto que deu origem ao pacto teve início, em 2010. No local de uma nascente natural, o gado se alimentando da pastagem ao redor e se aproximando para beber água havia erodido o solo arenoso, permeável, originando uma série de ravinas profundas que bloquearam a nascente com sedimentos e transformaram o que antes era um regato que fluía rapidamente em um leito enlameado. Ao longo de quatro anos uma força de trabalho local, financiada pelas multas pagas por más práticas, restaurou as margens do riacho construindo uma série de terraços de bambu e plantando espécies nativas de plantas e árvores para segurar o solo.

O projeto, o primeiro de 30 restaurações semelhantes na região, gerou 20 empregos, levou ao estabelecimento de um viveiro de mudas e levou à redução de aproximadamente 1.5 metros cúbicos de sedimentos que poluiriam os afluentes próximos.

Caminhando pela terra miserável, pontilhada com todos de árvores caídas, é fácil identificar o local do projeto de restauração, marcado por uma grande tela, densa de vegetação. Os terraços de bambu acabaram desparecendo completamente sob o crescimento da mata virgem. O que antes tinha sido o leito ressecado é agora um fluxo rápido de água limpa e fria. Entrando mais fundo dentre as copas das árvores recém-crescidas, chegamos a uma piscina borbulhante. “A fonte do Pantanal”, diz Freitas, com uma nota de admiração em sua voz. No esquema mais amplo das coisas, o projeto é uma gota no oceano – ou melhor, no rio. Mas é um começo. Freitas coloca as mãos juntas em formato de concha sob a nascente, retendo, a água que flui, brilhando, entre os dedos, e ri: “Vida!”

 

Pantanal: um dos últimos refúgios da natureza segue ameaçado em silêncio

 

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/537469-pantanal-um-dos-ultimos-refugios-da-natureza-segue-ameacado-em-silencio

Na semana do Rio Paraguai e do Pantanal o Projeto Bichos do Pantanal faz um alerta sobre  as ameaças  contra a preservação desse ecossistema.

O rio Paraguai é a sustentação de todo um ecossistema, o Pantanal.  As chuvas que regem o seu pulso de cheias e o fazem transbordar também são responsáveis pela transformação drástica e única da paisagem pantaneira, inundada por águas durante quatro meses e depois reaberta pela vazão dos rios na forma de campos, tomados por animais e pássaros – um equilíbrio tão antigo quanto a formação da Cordilheira dos Andes. Alterar essa paisagem, moldada por milhões de anos, pode ser literalmente o fim do rio Paraguai e de todo o Pantanal.

A reportagem foi publicada por Projeto Bichos do Pantanal, 13-11-2014.

Como o Cerrado, o Pantanal vive um silencioso aumento de suas ameaças. Durante esta semana serão comemorados o dia do Pantanal (12/11) e o dia do rio Paraguai (14/11), e os pesquisadores do Projeto Bichos do Pantanal fazem um alerta sobre os impactos que podem por em risco o equilíbrio que sustenta o rio Paraguai e o Pantanal.  “Existem muitas atividades econômicas possíveis no Pantanal, e a própria população local espera por mais crescimento, a grande questão é que devemos sempre relembrar que em uma região tão frágil, essas ações necessitam de estudos prévios e muito debate com a sociedade”, afirma Jussara Utsch, coordenadora do Projeto Bichos do Pantanal, realizado pelo Instituto Sustentar, com patrocínio da Petrobras pelo programa Petrobras Socioambiental.

A construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), o aumento do desmatamento, do assoreamento e da poluição dos mananciais são algumas das ações que podem acelerar o desaparecimento de uma das mais belas paisagens do planeta.   Vivem hoje no Pantanal cerca de 500 espécies de aves, 269 de peixes, 212 mamíferos e 4.700 espécies de plantas diferentes. A beleza e singularidade desse ecossistema fizeram com que  geólogos como Aziz Nacib Ab’ Saber o batizassem como: paisagem de exceção. O cenário pantaneiro formado por lagoas, antigas morrarias, e grandes planícies é considerado um dos locais mais belos do mundo e a região é Patrimônio Nacional e Patrimônio Natural da Humanidade, reconhecido pela Unesco.

Apesar de toda essa beleza, nem essa porção isolada no coração do país está livre de ameaças. O lixo já é um problema visível em muitos pontos do rio Paraguai. No dia 9 de novembro, a equipe do Projeto Bichos do Pantanal participou do 26º  Mutirão de limpeza do rio Paraguai, organizado pela sociedade civil de Cáceres, no Mato Grosso. Foram retiradas aproximadamente 10 toneladas de lixo do rio, um dos principais formadores do Pantanal. “Os plásticos, filtros de cigarro e restos de linhas de pescaria podem parecer inofensivos, porém para a fauna do Pantanal isso pode ser confundido com alimento e mata-los. Também não sabemos ao certo quais serão os efeitos do crescente uso de agrotóxico nas regiões das cabeceiras dos rios do Pantanal”, afirma Douglas Trent, pesquisador-chefe do Projeto Bichos do Pantanal.

Além da poluição, outra ameaça a esse importante bioma é o desmatamento. A perda da vegetação nativa nas margens do rios do Pantanal induz o aumento do assoreamento, um processo que ocorre quando os detritos são levados de forma mais intensa para o leito dos rios deixando as águas mais rasas. O problema se agrava quando o desmatamento é somado as queimadas e produz o que os pantaneiros chamam de “Dequada”.

Para o pescador profissional, Jorge Pedroso de Almeida, conhecido como “Poconé” o processo da Dequada é uma das piores ameaças a vida nos rios da região. “Nós que vivemos parte do ano isolados nos acampamentos do rio Paraguai, temos muito medo de onça-pintada e de jacaré. Mas, na verdade o que acaba com os peixes é a tal da Dequada. Quando o solo queimado e desmatado é levado para dentro do rio pela enxurrada”, afirma o pescador. “Eu queria trazer gente aqui para filmar, morrem tantos peixes que o rio e as baías ficam alastrados de animais mortos e apodrecidos”, alerta o pescador.

O fenômeno é conhecido por cientistas como um processo natural do Pantanal. Dependendo da rapidez e intensidade das cheias, a Dequada pode baixar drasticamente o nível de oxigênio do rio Paraguai, porém, muitos peixes podem se adaptar e sobreviverem a esse ambiente inóspito.

O grande problema é quando esse fenômeno é associado as queimadas provocadas pelo homem para abrir novas pastagens e desmatar florestas nas margens dos rios. “O que percebemos é que as queimadas intensificam esse processo de perda de oxigênio na água e também traz para a água inúmeras substâncias tóxicas que aumentam a mortandade dos peixes”, explica Claumir Muniz, pesquisador de ictiologia do Projeto Bichos do Pantanal e da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat). “Nas baías que se formam durante as cheias, e que servem de berçário para a maioria das espécies de peixes do Pantanal, o processo é mais grave, pois os pequenos alevinos são mais sensíveis a perda de oxigênio e ao envenenamento d’águas. Não é incorreto afirmar que as queimadas ilegais e descontroladas são hoje uma das principais ameaças ao equilíbrio do Pantanal”, conclui.

O uso de agrotóxico para limpar as pastagens e a construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHS) nos afluentes do rio Paraguai se somam ao problema da intensificação das queimadas, criando uma verdadeira bomba contra o futuro do Pantanal.

A proximidade da região com a fronteira do Paraguai e da Bolívia facilita o contrabando de agrotóxicos (muitos proibidos) no país, que são vendidos de forma ilegal e desregulada.  Os principais são os herbicidas.“Além de envenenar os rios e os peixes, a pessoa acaba comprando esse tipo de produto sem qualquer orientação de uso, o que traz um risco também de envenenamento das pessoas”, afirma Isidoro Salomão, ou padre Salomão como também é conhecido o coordenador da sociedade civil de Cáceres e do comitê popular do rio Paraguai.

O crescimento das hidrelétricas é outro ponto de atenção quando o tema são as ameaças que pairam sobre o Pantanal. No rio Jauru, um dos principais afluentes do rio Paraguai já existem cinco PCHs. A grande questão é que a maioria foi construída sem estudo de impacto ambiental, ou com análises que não consideram toda a bacia hidrográfica. “Estamos para publicar um documentário sobre o dia em que o rio secou, em setembro de 2008, quando começaram a construir essas PCHs e quase todos os peixes do Jauru morreram. Até hoje o rio não se recuperou”, afirma Salomão.

As ameaças ao Pantanal marcam inclusive a data de comemoração desse ecossistema. O dia 12 de novembro foi decretado, por Marina Silva, ministra do meio ambiente na época, como o Dia do Pantanal. A data foi uma homenagem a morte de Francisco Anselmo de Barros (Francelmo), que se matou em 2005 em um protesto contra a liberação das usinas de álcool no Pantanal e outras ameaças a esse ecossistema.

No dia 14 de novembro, o Pantanal volta a ganhar uma data de comemoração, dessa vez o Dia do rio Paraguai, que tem como foco uma vitória da sociedade civil contra a construção da hidrovia Paraná-Paraguai. O projeto foi intensamente debatido na década de 1990 e previa a retificação das curva originais do rio Paraguai para transformar a região em um enorme canal de transporte fluvial, tal qual o rio Mississipi nos EUA. Pesquisadores, ambientalistas, acadêmicos e a população do Pantanal se uniram contra o projeto, conseguindo evitar que o governo construísse a hidrovia. O marco da luta contra o projeto foi uma audiência pública no dia 14 de novembro de 2001, quando  a sociedade civil organizada do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul conseguiram pressionar que o governo desistisse do projeto que previa intensas modificações do rio Paraguai na região do Pantanal de Cáceres.

As ameaças contra o Pantanal podem afetar muitas outras regiões, inclusive o Sudeste que sofre hoje uma crise de abastecimento de água. “A planície alagável de até 250 mil quilômetros quadrados tem um papel fundamental na reprodução dos peixes e no abastecimento dos recursos hídricos das regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Qualquer impacto sobre o Pantanal, afeta de forma negativa, as outras regiões.”, afirma Claumir Muniz.

Para Douglas Trent, além do equilíbrio ambiental o Pantanal é o último refúgio da vida selvagem e uma importante morada para espécies como a onça-pintada. “No futuro, se vamos desejar que esse tipo de animal exista e fique livre dos riscos de extinção que já pairam sobre as onças na Mata Atlântica, vamos precisar preservar grandes áreas naturais intocadas como o Pantanal”, diz Trent. “A região é um dos últimos refúgios para a vida selvagem do mundo, cabe aos homens decidirem por preservá-lo”.

O Projeto Bichos do Pantanal atua no Alto Pantanal desde 2013, com sede em Cáceres, no Mato Grosso. Sua proposta é trabalhar em três frentes de ações em prol do desenvolvimento e da preservação do Pantanal: pesquisa e conservação, desenvolvimento econômico regional e turismo de natureza e com a educação ambiental.

Saiba mais: www.bichosdopantanal.org

Para ler mais:

  • 27/09/2010 – Pantanal ameaçado pelas mudanças climáticas. Entrevista especial com Paulo Teixeira de Sousa Júnior
  • 06/09/2012 – Hidrelétricas comprometem conservação do Pantanal. Entrevista especial com Débora Calheiros
  • 18/09/2012 – Pantanal: um bioma ameaçado pelo desmatamento. Entrevista especial com Viviane Fonseca Moreira
  • 09/10/2013 – Manifestantes invadem Arena Pantanal durante visita de secretário da Fifa
  • 25/10/2013 – Brasileiro se preocupa com o Pantanal mas conhece pouco sobre o bioma
  • 05/06/2014 – ‘Querem mesmo acabar com o Pantanal!’
  • 31/10/2014 – Ação pretende proteger aves migratórias do Pantanal
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  • 25/08/2014 – Dia da Sobrecarga da Terra (Earth Overshoot Day) chega cada ano mais cedo, diz WWF
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Contaminantes emergentes na água: “A cada ano temos mais de mil novas substâncias sendo introduzidas no nosso dia a dia”. Entrevista especial com Wilson Jardim

26 de fevereiro de 2014 por Luiz Jacques

Análise recente da água de 20 capitais brasileiras demonstra que há altos índices de contaminantes emergentes, substâncias “não legisladas”, presentes na água utilizada para consumo. Entre os contaminantes, foram encontrados fármacos, produtos de higiene pessoal, hormônios naturais e sintéticos, agentes antichamas, protetores solares, nanomateriais e pesticidas. O coordenador da pesquisa, Wilson Jardim, professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, explica que existem mais de mil substâncias que se encaixam nessa categoria e que, “nas últimas décadas, por uma série de fatores, como padrão de consumo, falta de saneamento e adensamento populacional, entre outros, aumentaram sua concentração no ambiente e podem fazer com que a exposição humana a elas seja preocupante”.

 

http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/contaminantes-emergentes-na-agua-a-cada-ano-temos-mais-de-mil-novas-substancias-sendo-introduzidas-no-nosso-dia-a-dia-entrevista-especial-com-wilson-jardim/528663-contaminantes-emergentes-na-agua-a-cada-ano-temos-mais-de-mil-novas-substancias-sendo-introduzidas-no-nosso-dia-a-dia-entrevista-especial-com-wilson-jardim

 

“Verificamos que as capitais costeiras apresentaram uma água de abastecimento de melhor qualidade quando confrontadas com águas de capitais localizadas no interior do país. Uma das explicações para este fato seria que as capitais costeiras lançam seu esgoto no mar, impactando bem menos os mananciais”, diz o pesquisador.

Foto: Nós e a Química (Blogger)

Jardim assinala que ainda não é possível identificar como os contaminantes emergentes afetam o equilíbrio do sistema hormonal dos seres vivos e essa falta de informação é “preocupante”, porque já foram identificados casos de mudanças hormonais em algumas espécies. “Há inúmeras evidências relatando a feminização de peixes e répteis em rios que recebem cargas elevadas de esgoto sanitário.

 

Por outro lado, em seres humanos, há um número crescente de casos de câncer em testículo, na tireoide, na mama em mulheres jovens, diminuição do número de esperma em homens férteis, má formação genital, e isso tem chamado a atenção da Organização Mundial de Saúde – OMS. O fato é que este crescimento não pode ser explicado apenas pela genética e, portanto, deve haver outro fator”, aponta, na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por e-mail.

 

Na avaliação do pesquisador, os dados da pesquisa revelam que grande parte dos mananciais brasileiros está “criticamente impactada com o lançamento de esgoto sanitário”.

 

E acrescenta: “O Brasil tem um saneamento deplorável, totalmente incompatível com uma economia que se situa entre as dez maiores do planeta. Isso exige muito das estações de tratamento de água, que ainda usam um processo secular e que não estão preparadas para tratar uma água de péssima qualidade, muito embora o preço das tarifas seja elevado”.

 

Wilson Jardim é graduado em Química pela Universidade Federal de São Carlos e doutor em Ciências Ambientais pela University of Liverpool, Inglaterra. Atualmente é professor titular do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas, onde desenvolve pesquisas na área de química ambiental, processos oxidativos avançados, remediação de áreas contaminadas, contaminantes emergentes em águas, fotocatálise, desinfecção de atmosferas internas e externas e ciclo do mercúrio na Amazônia.

 

Confira a entrevista.

 

Foto: Unicamp

 

IHU On-Line – O que são os contaminantes emergentes encontrados na água de 20 capitais brasileiras? Pode nos contar como ocorreu o processo de identificação dos contaminantes na água? Quais foram os contaminantes encontrados nas águas brasileiras?

 

Wilson Jardim – Contaminantes Emergentes – CE são substâncias não legisladas e que nas últimas décadas, por uma série de fatores, como padrão de consumo, falta de saneamento e adensamento populacional, entre outros, aumentaram sua concentração no ambiente e podem fazer com que a exposição humana a elas seja preocupante. Dentre os CE podemos citar os fármacos, produtos de higiene pessoal, hormônios naturais e sintéticos, agentes antichamas, protetores solares, nanomateriais, pesticidas e inúmeros outros. Dentre as mais de mil substâncias que se encaixam na definição de CE, nós trabalhamos com os hormônios naturais e sintéticos (como o da pílula anticoncepcional), alguns fenóis, ftalatos, atrazina, bisfenol-A, triclosan e cafeína. Nosso banco de dados mostrou que a cafeína é um excelente indicador da atividade estrogênica nas águas naturais e de abastecimento. Assim, muito embora a cafeína não seja um problema nas concentrações em que ocorre tanto na água de abastecimento como em mananciais, ela é um indicador da qualidade dessas águas. Desse modo, focamos o trabalho em quantificar a cafeína, muito embora tenhamos encontrado atrazina, bisfenol-A e triclosan.

 

“Apenas no início dos anos 1990, quando o Ministério Público começou a exigir que as concessionárias fizessem seu dever em tratar esgoto, é que o cenário mudou”

IHU On-Line – Porto Alegre é a capital em que o índice de contaminantes é mais elevado. Em contraposição, Fortaleza é a que possui o percentual mais baixo. É possível identificar as razões e diferenças desses resultados?

Wilson Jardim – Verificamos que as capitais costeiras apresentaram uma água de abastecimento de melhor qualidade quando confrontadas com águas de capitais localizadas no interior do país. Uma das explicações para este fato seria que as capitais costeiras lançam seu esgoto no mar, impactando bem menos os mananciais.

 

IHU On-Line – Como e em que medida o equilíbrio do sistema hormonal dos seres vivos tem sido alterado pelos contaminantes presentes na água?

 

Wilson Jardim – Não sabemos, e isso é preocupante. Há inúmeras evidências relatando a feminização de peixes e répteis em rios que recebem cargas elevadas de esgoto sanitário. Por outro lado, em seres humanos, há um número crescente de casos de câncer em testículo, na tireoide, na mama em mulheres jovens, diminuição do número de esperma em homens férteis, má formação genital, e isso tem chamado a atenção da Organização Mundial de Saúde – OMS. O fato é que este crescimento não pode ser explicado apenas pela genética e, portanto, deve haver outro fator.

 

IHU On-Line – Internacionalmente, como a questão da contaminação da água por contaminantes tem sido discutida?

 

Wilson Jardim – Há uma preocupação mundial, a qual foi oficialmente reconhecida pela OMS e pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente – UNEP. A Comunidade Europeia, os Estados Unidos, o Canadá e o Japão têm buscado aprimorar as legislações, mas ainda não há padrões para estas substâncias. Mesmo porque são tantas que seria impossível legislá-las individualmente.

 

“Há várias tecnologias disponíveis, as quais chamamos de tecnologias de polimento. Não são usadas porque as concessionárias não querem”

 

IHU On-Line – O que essa pesquisa revela sobre o tratamento da água no Brasil?

 

Wilson Jardim – Revela que grande parte dos nossos mananciais está criticamente impactada com o lançamento de esgoto sanitário. O Brasil tem um saneamento deplorável, totalmente incompatível com uma economia que se situa entre as dez maiores do planeta. Isso exige muito das estações de tratamento de água, que ainda usam um processo secular e que não estão preparadas para tratar uma água de péssima qualidade, muito embora o preço das tarifas seja elevado.

 

IHU On-Line – Os contaminantes emergentes deveriam ser controlados por alguma legislação?

 

Wilson Jardim – Certamente serão, num futuro breve. Talvez não em termos individuais, mas, por exemplo, pode-se estipular que uma determinada amostra de água não possa apresentar atividade estrogênica acima de um valor estabelecido. Este ensaio não mede compostos individuais, mas sim a somatória de todos eles atuando no sistema endócrino. Acho que caminhamos para este tipo de abordagem, a qual é bem mais realista e adequada para atacar o problema.

 

IHU On-Line – A que o senhor atribui o deterioramento da qualidade da água nos mananciais brasileiros?

 

Wilson Jardim – Às concessionárias (ou produtoras) de água que nunca se preocuparam com a coleta e o tratamento de esgoto. Apenas no início dos anos 1990, quando o Ministério Público começou a exigir que as concessionárias fizessem seu dever em tratar esgoto, é que o cenário mudou. E ainda hoje elas são relutantes em investir nesta área, muito embora esteja provado que é mais barato tratar esgoto do que tratar água de má qualidade. E parte desta culpa é nossa, que não sabemos escolher nossos governantes, que seriam os grandes disseminadores e executores destas mudanças.

 

IHU On-Line – Quais são as tecnologias existentes para tratar a água? Por que elas não são adotadas no Brasil?

 

Wilson Jardim – Há várias tecnologias disponíveis, as quais chamamos de tecnologias de polimento. Não são usadas porque as concessionárias não querem, ou não se sentem pressionadas a fazer isso.

 

IHU On-Line – Recentemente o senhor declarou que a Portaria 2.914, do Ministério da Saúde, que normatiza a qualidade da água potável, é muito estática. A portaria precisa de uma revisão? Em que sentido?

 

Wilson Jardim – O mundo anda mais rápido do que a burocracia. A cada ano temos mais de mil novas substâncias sendo introduzidas no nosso dia a dia. Recentemente a portaria foi revisada, mas este processo precisa ser mais dinâmico.

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Dispositivo transforma oxigênio em purificador de água, ar e alimentos.

20 de abril de 2013 por Luiz Jacques

Um engenheiro de São Paulo criou um dispositivo capaz de filtrar as impurezas do ar, da água, dos alimentos e até eliminar a contaminação do solo. O equipamento possui um mecanismo que transforma oxigênio em ozônio, propriedade sustentável que serve como alternativa para vários produtos de limpeza.

 

http://envolverde.com.br/noticias/dispositivo-transforma-oxigenio-em-purificador-de-agua-ar-e-alimentos/

 

por Redação CicloVivo

n34 300x225 Dispositivo transforma oxigênio em purificador de água, ar e alimentos

O equipamento foi desenvolvido em 2005 por Samy Menasce, da empresa Brasil Ozônio. De lá para cá, foram realizados estudos e investimentos para aperfeiçoar o gerador de ozônio, que já foi instalado em 2,5 mil estabelecimentos e residências, no Brasil, na Argentina e no Peru.

Para o inventor, o dispositivo é uma revolução para a limpeza sustentável. “A nossa matéria-prima é o ar, o nosso resíduo é o oxigênio e o nosso consumo de energia é equivalente a algumas lâmpadas. Dessa forma, a gente consegue resolver problemas antes quase sem solução”, contou Menasce ao G1.

O gerador desenvolvido pelo paulistano também vem sendo usado para amenizar problemas ambientais, principalmente na zona rural. Isso porque o ozônio é eficaz no combate à contaminação do solo e elimina odores de fertilizantes. Além disso, o gás é eficiente no tratamento de piscinas. “O ozônio é cem vezes mais potente que o cloro e age 3,2 mil vezes mais rápido, ou seja, além de ser mais potente, ele age muito mais rapidamente”, diz o engenheiro. Ao contrário do cloro, o ozônio ainda tem a vantagem de não causar irritações nas vias respiratórias dos usuários das piscinas.

O Aquário de São Paulo é um dos estabelecimentos mais famosos em que o dispositivo foi instalado. Lá, o gerador traz benefícios tanto para os animais, como para os funcionários e visitantes do local. “Ele melhora em todos os aspectos – seja visual, clínico, ou o funcionamento do sistema biológico do aquário. O que a gente monta dentro do aquário é como se fosse um microecossistema, em que o ozônio vem como uma ferramenta para esse microecossistema funcionar bem”, afirma Ricardo Cardoso, diretor técnico do Aquário de São Paulo.

Na sede da microempresa, no Butantã, todos os geradores são testados. Em um reservatório, a ação do gás pode ser comprovada rapidamente: ao longo do teste, um pacote de suco artificial foi despejado na água, e, em poucos segundos, o ozônio entra em contato com o pó e desintegra os componentes químicos, deixando a água totalmente limpa. Com informações do G1.

* Publicado originalmente no site CicloVivo.

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Novo vazamento de água radioativa é registrado na usina de Fukushima.

20 de abril de 2013 por Luiz Jacques

A Tepco, empresa que administra a usina nuclear de Fukushima, que sofreu um vazamento em 2011, informou nesta terça-feira (9) que voltou a registrar um vazamento de água radioativa radioativa no local.

 

http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2013/04/10/93219-novo-vazamento-de-agua-radioativa-e-registrado-na-usina-de-fukushima.html

 

O vazamento perto do depósito número 1 foi o terceiro a ser foi registrado na usina nos últimos dias. O depósito fica posicionado debaixo do solo. Vazamentos similares já tinham ocorrido nos depósitos 2 e 3.

O porta-voz da empresa, Masayuki Ono, afirmou ser incapaz de explicar a origem do vazamento e disse que existem várias causas potenciais. “Uma análise está em curso”, disse.

Os problemas se multiplicaram nas últimas semanas na usina de Fukushima Daiichi, que sofreu as consequências do terremoto e tsunami de 11 de março de 2011.

(Fonte: G1)

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Brasileiros alertam para aumento de emissão de nitrogênio na atmosfera.

20 de abril de 2013 por Luiz Jacques

Um grupo internacional de pesquisadores, que inclui brasileiros, alertou esta semana sobre o perigo do aumento de nitrogênio na atmosfera, oriundo do desmatamento, mau uso da terra e da urbanização da América Latina. Em artigo publicado no periódico científico Science nesta quinta-feira (11), eles pedem que medidas políticas sejam tomadas rapidamente, senão sérios problemas podem ocorrer no clima, saúde e na qualidade da água na região.

 

http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2013/04/12/93299-brasileiros-alertam-para-aumento-de-emissao-de-nitrogenio-na-atmosfera.html

 

“O nitrogênio é como um remédio que dependendo da dose pode se tornar um problema, por isto é preciso mantê-lo no solo e não na atmosfera”, disse ao iG Luiz Martinelli, biogeoquímico do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo em Piracicaba, e um dos autores do artigo.

A liberação no nitrogênio na atmosfera por causa do desmatamento forma o óxido nitroso (N 2 O) que é um dos gases causadores do efeito estufa e também da temida chuva ácida.

No texto, os pesquisadores listam as causas do aumento da liberação de nitrogênio. Além do desmatamento, outra causa para o aumento do nitrogênio no ar está no baixo tratamento de esgoto das cidades latino-americanas, causado pelo seu crescimento desordenado. De acordo com os pesquisadores apenas 14% das cidades da América Latina tem tratamento de esgoto; no Brasil, o índice é de 20%. Sem o tratamento necessário, o nitrogênio é lançado na água resultando num processo chamado eutrofização, que provoca a proliferação de algas, com consequente diminuição de oxigênio da água e a morte da fauna aquática.

O terceiro fator para o crescimento do nitrogênio na região está relacionado com o crescimento do uso de fertilizantes. “Na agricultura, o Brasil ainda não usa muito adubo nitrogenado, mas a prática está crescendo”, disse Martinelli.

Mercedes Bustamante, bióloga do departamento de Ecologia da Universidade de Brasília e outra autora do artigo da Science, afirma que dependendo da região do Brasil, ocorre uma grande variação na entrada de nitrogênio na atmosfera. Na região sudeste, ela está mais relacionada com a aplicação de fertilizantes. Na Amazônia, ela continua relativamente baixa. O problema é na região central, no Cerrado, onde Mercedes afirma que a atividade do homem contribuiu para uma grande aumento deste nutriente na atmosfera.

“É preciso desmatamento zero, tratar o esgoto de forma decente e faz um bom manejo da terra. Estou levantando o problema, pois a solução depende de medidas políticas de longo prazo”, disse Martinelli.

(Fonte: Portal iG)

 

 

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