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Efeito estufa

Estudo defende harmonia entre floresta e agricultura sustentável no Brasil.

2 de abril de 2014 por Luiz Jacques

A agricultura brasileira cresce acima da média mundial e o país pode se tornar a principal potência do setor até 2020. Esse aumento na produção impulsiona a mudança do uso da terra e coloca o setor como um dos maiores responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa, tanto na produção agrícola – uso de fertilizantes e manejo das áreas agricultáveis – quanto na pecuária – uso de áreas desmatadas e emissão de metano pelo rebanho bovino.

 

http://www.ecodebate.com.br/2014/03/27/estudo-defende-harmonia-entre-floresta-e-agricultura-sustentavel-no-brasil/

 

 

Para reduzir emissões de CO2 da agricultura, é preciso reorganizar 20% da área nacional de plantio. Aumentar quantidade de raízes no solo é uma das soluções, mas custa caro e enfrenta a resistência dos produtores.

Ao mesmo tempo, o país quer cumprir as metas de redução nas emissões, acordadas na conferência do clima de Copenhague, em 2009. A tarefa pode ser cumprida até no bioma Amazônia, afirma um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A pesquisa aponta que é possível equilibrar a equação, mas essa mudança requer grandes esforços.

Só da agricultura, a ambição é eliminar de 133 milhões a 166 milhões de toneladas de carbono equivalente até 2020. A matemática verde tem vários fatores que pedem modelos produtivos mais sustentáveis, como a recuperação de pastagens, a Integração Lavoura Pecuária (ILP) ou a Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), como aponta o relatório. Esses modelos, conforme explica o Hilton Silveira Pinto, coordenador do estudo dentro da Unicamp, exigem majoritariamente uma reordenação do uso dos espaços agrícolas.

Áreas de pastagem, de plantação e de cultivo de madeira precisam ser organizadas dentro da propriedade para funcionar em sinergia. “As faixas onde se planta eucalipto, por exemplo, podem ser usadas simultaneamente como pastagem dentro de dois ou três anos”, exemplifica. Áreas de cultivo de milho, soja ou outros cereais também podem ser criadas entre os campos de pasto, bloqueando o acesso dos animais.

 

Solos precisam ser recuperados para reter maior quantidade de carbono

Solos precisam ser recuperados para reter maior quantidade de carbono

Raízes reduzem emissões

A chave desses sistemas está em aumentar a quantidade de raízes no solo. Elas asseguram uma fixação maior de carbono e, como consequência, reduzem o saldo das emissões. Para testar a eficácia do modelo, a pesquisa colheu amostras nos estados do Acre, Tocantins, Rondônia, Pará e Roraima. O Amazonas ficou de fora por não possuir nenhum projeto conhecido de produção integrada, afirma Silveira Pinto.

No relatório, está claro que entre as 68 amostras colhidas, todas as provenientes de sistemas integrados apresentam uma taxa maior de carbono no solo. Esses números também podem ser interpretados como indicativos da qualidade da terra agricultável: mais carbono significa um solo mais rico.

Segundo a avaliação, a solução mais simples de todas para fixar mais carbono no solo é a recuperação de áreas de pastagem. Pastos de baixa qualidade têm, geralmente, poucas raízes e com isso retém uma menor quantidade de carbono. O agrônomo explica que para cada quilo de massa verde – vegetação – que se acrescenta às pastagens, meio quilo de gás carbônico a menos é lançado na atmosfera.

O custo de ser verde

Embora a solução esteja clara para o pesquisador, ele próprio enxerga as dificuldades para a sua adoção. “As tecnologias não são simples e nem baratas de serem implementadas”, afirma. Embora não tenha números – a análise financeira é o próximo passo da pesquisa –, o cientista estima um aumento de 50% dos custos iniciais de produção na adoção desses modelos mais equilibrados.

O maior desafio seria atingir a dimensão necessária para que esse carbono retido torne a produção mais verde. Pelo menos 11 milhões dos cerca de 50 milhões de hectares usados hoje na produção agrícola teriam que adotar formas de manejo sustentável nos próximos 20 anos. Para o pesquisador, esse não é um processo simples. Por outro lado, a estratégia não só reduziria as emissões, mas também garantiria um aumento da produção.

Desmatamentos evitados

Na conta de José Frutuoso do Vale Júnior, professor do curso de Agronomia da Universidade Federal de Roraima, outro fator precisa ser considerado: técnicas de manejo sustentável ajudam a evitar novos desmatamentos na Amazônia.

Ele conhece os modelos sugeridos pelo estudo e acredita na sua eficácia. Segundo ele, rearranjos assim poderiam recuperar muitas áreas que foram desmatadas para uso na produção agrícola ou pecuária e que, por não apresentarem a produtividade desejada, são abandonadas. Sem terras, os fazendeiros avançam em novas áreas da floresta.

Dados da organização ambiental Greenpeace apontam a pecuária como responsável por 14% do desmatamento anual da Amazônia. A cada 18 segundos, um hectare da floresta estaria sendo convertido em pasto.

O professor de Roraima, que orientou um estudo de qualidade do solo similar ao da Unicamp/Embrapa, observou a qualidade do solo em áreas onde a floresta foi cortada para o uso em pastagem. “A conversão em pasto promove uma queda de até 50% no índice de carbono no solo”, compara. Ele explica que a terra é mais frágil onde a cobertura vegetal é removida.

Remover a floresta reduz em até 50% os níveis de carbono no solo

Remover a floresta reduz em até 50% os níveis de carbono no solo

Mudança de hábitos

Mas o agrônomo acredita na possibilidade de recuperação desses solos empobrecidos e enxerga isso como uma forma de proteger a floresta. Em áreas com alto grau de comprometimento, os custos são de fato elevados. Mas soluções menos dispendiosas para a agricultura familiar também estariam à disposição. Em sua avaliação, o que falta é informação, já que as soluções discutidas por universidades e nos cursos de técnicas agrícolas não chegam aos produtores.

Modelos bem planejados de uso rotativo do solo não são alternativas caras, mas como qualquer mudança, quando chegam a quem trabalha no campo, geram ansiedade e acabam rejeitadas especialmente pelos produtores mais simples. “É preciso vencer essa dificuldade de inovar. E só se chega ao resultado se cada um fizer sua parte”, conclui Vale Junior.

Matéria de Ivana Ebel , da Agência Deutsche Welle, DW.

Arquivado em: Notícias Marcados com as tags: Agricultura, Agronegócio, Devastação ambiental, Efeito estufa, Florestas

A mudança climática segundo os testemunhos do gelo. Entrevista especial com Jefferson Simões.

9 de janeiro de 2014 por Luiz Jacques

Isoladas do mundo moderno, seja pelo clima inóspito, seja pelas longas distâncias, as grandes geleiras têm muito a dizer sobre o nosso planeta. E descobrir a riqueza de informações armazenadas sob camadas e camadas de neve é a tarefa da glaciologia e dos estudos dos testemunhos do gelo. De acordo com o glaciologista Jefferson Simões, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o estudo consiste na “reconstrução da história do clima e da composição química da atmosfera a partir das amostras de neve e gelo que acumularam através de milhares e milhares de anos”.

http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/a-mudanca-climatica-segundo-os-testemunhos-do-gelo-entrevista-especial-com-jefferson-simoes/527084-a-mudanca-climatica-segundo-os-testemunhos-do-gelo-entrevista-especial-com-jefferson-simoes

 

“Por meio da glaciologia foi possível detectar o impacto da poluição global devido à ação humana no período pós-revolução industrial”, garante o glaciologista e coordenador do programa Antártico-Brasileiro.

Foto: BBC

A pesquisa sobre a atmosfera do passado foi capaz de traçar um panorama deste cenário pelos últimos 800 mil anos. Simões relata que graças a esses estudos é possível afirmar que nunca a concentração de gases do efeito estufa foi tão alta quanto no presente. “O efeito estufa é um processo natural”, evidencia ele. “O que vivenciamos é o efeito estufa intensificado, que é um processo antropogênico e que consiste na maior emissão de gases que já existiu na natureza.” Em entrevista concedida por telefone à IHU On-Line, Simões esclarece os principais equívocos nas discussões envolvendo o aquecimento global e o derretimento das “calotas polares”, demonstrando a importância do papel das regiões geladas para o clima do planeta. Chama a atenção também para a polêmica daqueles que refutam o argumento do aquecimento global – incentivada por grupos de pressão para incitar o negacionismo do conhecimento científico. “Alguns lugares aquecem mais e outros inclusive esfriam, mas na média temos um aumento da temperatura na superfície do planeta”, defende. Jefferson Simões foi pioneiro no Brasil nos estudos do gelo e, atualmente, é pesquisador líder do Programa Antártico-Brasileiro. O Proantar, como é chamado, é um programa da Marinha do Brasil para pesquisa no Continente Antártico. Fundado em 1982, mantém uma estação de pesquisa durante todo o ano na Antártica (Estação Antártica Comandante Ferraz). Em 25 de fevereiro de 2012, um incêndio danificou 40% da Estação. No entanto, a pesquisa não foi interrompida, e vários acampamentos sazonais, além de dois navios de investigação e um módulo autônomo, colaboraram para que os estudos prosseguissem. E qual seria a importância para um país tropical também fincar sua bandeira no continente gelado, marcando presença política e cientificamente? Para o glaciologista a resposta é clara e remete à história geológica do mundo. Simões lembra que a Antártica foi parte do supercontinente Gondwana, que há cerca de 200 milhões de anos reunia todos os demais continentes do hemisfério sul. “A Antártica é parte integral do sistema Terra e se quisermos melhorar e ter um processo sustentável para este planeta, ela sempre estará incluída”, pontua ele. Mais do que isso, a Antártica também é o último ambiente totalmente preservado e é preciso criar novas maneiras para explorá-lo de maneira sustentável. “Se falharmos com a Antártica, certamente vamos falhar com o resto do planeta também”, conclui Simões. Jefferson Cardia Simões é professor do Instituto de Geociências da Ufrgs. Possui graduação em Geologia pela mesma universidade, doutorado em Glaciologia pelo Scott Polar Research Institute (SPRI) da Universidade de Cambridge e pós-doutorado pelo Laboratoire de Glaciologie et Géophysique de l’Environnement (LGGE) do Centre National de la Recherche Scientifique – CNRS. Simões é criador do Centro Polar e Climático da Ufrgs e atualmente é coordenador do Programa Antártico Brasileiro e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera.

Foto: ABC

Confira a entrevista. IHU On-Line – Fenômenos como o efeito estufa, o aquecimento global e o derretimento das calotas polares são frequentemente vistos como fatores relacionados. De que forma realmente se estabelece a relação entre eles? Jefferson Simões – Esses termos se tornaram jargões que escondem as definições adequadas. O efeito estufa é um processo natural, que permite que a temperatura média do planeta esteja ao redor de 14,6º. O que vivenciamos é o efeito estufa intensificado, que é um processo antropogênico e que consiste na maior emissão de gases que já existiu na natureza – como o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH) – que acumulam com maior concentração na atmosfera. Essa intensificação, que ocorreu principalmente após o início da Revolução Industrial, levou, por exemplo, a um aumento de 40% na concentração do CO2 nos últimos 200 anos. Tudo isso intensifica o efeito estufa, o que, entre várias de suas consequências, pode levar a um aquecimento da atmosfera. Então os cientistas falam geralmente em mudanças do clima induzidas por mudanças da composição química da atmosfera, das quais uma das consequências seria o aquecimento atmosférico. O jargão “aquecimento global” é considerado não adequado, mesmo porque o que temos é mudança na temperatura da atmosfera. Alguns lugares aquecem mais e outros inclusive esfriam, mas na média temos um aumento da temperatura na superfície do planeta. Já no caso das calotas polares, este também é um termo arcaico que não deve ser usado, porque não é uma informação geográfica fidedigna. Ele não informa sobre os processos que realmente estão ocorrendo nas regiões polares. Não identifica as diferentes formas de gelo que existem nas regiões polares e que respondem de maneiras diferentes às mudanças do clima, que como eu enfatizo não é só um aquecimento da atmosfera. “Calotas polares” misturam principalmente três tipos de gelo diferentes no planeta: os mantos de gelo “calotas de gelo”, que no caso da Antártica chega a quase 14 milhões de quilômetros quadrados, com espessura média de dois quilômetros – esse é um dos tipos de gelo, e as geleiras também estariam aí, que chamamos de gelo glacial; também existe o “mar congelado” ou “gelo marinho”; e finalmente temos o Permafrost, um solo permanentemente congelado que também responde às mudanças do clima. Então é muito difícil e errado simplificar que o aquecimento da atmosfera derrete as calotas polares. Essa afirmação está errada do ponto de vista geográfico, do ponto de vista glaciológico; é claro, isso não quer dizer que esse gelo do planeta como um todo não esteja respondendo às mudanças do clima, quer naturais ou induzidas pelo homem. IHU On-Line – Quais os fatores envolvidos no aquecimento global? Jefferson Simões – Temos que falar em mudanças no clima na escala global, que envolvem sim o aumento da temperatura média da atmosfera – para o qual o jargão seria aquecimento global -, mas também mudanças nos padrões de precipitações, de ventos, aumento da frequência de eventos extremos, como enxurradas, cheias, secas… Ou seja, o processo de mudanças do clima é muito mais complexo do que somente o termo aquecimento global. IHU On-Line – Críticos das perspectivas apocalípticas do aquecimento global citam fenômenos cósmicos, mais do que qualquer ação humana, como os grandes responsáveis pelo aumento das temperaturas. Como você encara estas afirmações, tendo em vista fenômenos como o Mínimo de Maunder ou o Mínimo de Dalton, quando a ausência de manchas solares coincidiu com uma “pequena idade do gelo” na Europa? Jefferson Simões – Isso se trata de informações totalmente infundadas. Cabe dizer que 98% dos pesquisadores, em artigos publicados internacionalmente, indicam que as mudanças do clima que estão ocorrendo, inclusive o aumento da temperatura da atmosfera ao longo dos últimos 50 anos, têm sim já uma influência do homem. Ou seja, nós mudamos a química da atmosfera e estamos mudando o balanço de energia do planeta. Mais importante a saber nessa história e nessas críticas é que essas pessoas mostram desconhecimento total da ciência chamada paleoclimatologia, a ciência que estuda há 200 anos a evolução do clima, e que considera evidentemente a variabilidade de manchas solares, de processos cósmicos – principalmente nas variações dos parâmetros orbitais, que chamamos de ciclos de Milankovitch, em diferentes escalas de tempo. Essas críticas demonstram a falta de conhecimento ou, pior ainda, como já foi constatado, envolve grupos de pressão geralmente ligados à extrema direita norte-americana, que iniciaram há 20 anos uma campanha de falsificações das informações para entregar um processo de negação – e por isso nós os chamamos de negacionistas – do conhecimento científico sobre as mudanças da química da atmosfera e do clima do planeta induzido pelo homem. IHU On-Line – Qual a importância da glaciologia para a compreensão do clima mundial? Em que consiste os testemunhos do gelo? Jefferson Simões – A ciência glaciológica fornece dois tipos de informações essenciais para o estudo das mudanças do clima. Primeiro os testemunhos de gelo, que nada mais são que a reconstrução da história do clima e também da composição química da atmosfera a partir das amostras de neve e gelo que acumularam através de milhares e milhares de anos. Hoje nós já temos dados de 800 mil anos, onde reconstruímos a composição química da atmosfera ao longo de todo esse período e, por isso, e só por esse tipo de estudo, podemos afirmar que nunca nos últimos 800 mil anos as concentrações de C02 e CH4 estiveram tão altas quanto estão no presente. Temos esse registro de milhares e milhares de anos. Mais do que isso, os testemunhos de gelo são uma forma elegante de reconstruir, muitas vezes até com os detalhes sazonais, a temperatura da atmosfera do planeta, eventos de erupções vulcânicas, a tendência de maior ou menor área de mar congelado e, portanto, de épocas mais frias e mais quentes, a variação nas áreas de onde vem a precipitação – se cai na Antártica ou mesmo nas geleiras dos Andes e outras montanhas. Mais modernamente, por meio da glaciologia, foi possível detectar nos testemunhos de gelo o impacto da poluição global devido à ação humana no período pós-revolução industrial. Seu potencial para informações fornecidas para a ciência do meio ambiente é bastante amplo. O outro é o caso exatamente da questão da avaliação do impacto das mudanças climáticas da massa de gelo do planeta, o que nós chamamos de criosfera. São cerca de 30 milhões de quilômetros cúbicos de gelo que existem no planeta, e que respondem, em diferentes escalas de tempo, às reações do clima – principalmente aumento ou diminuição de temperatura. Então a comunidade de glaciologia monitora principalmente as geleiras pequenas, que são aquelas que respondem mais rapidamente, por exemplo, a um aumento da temperatura da atmosfera. A partir disso, poderemos ver qual é a contribuição, por exemplo, do derretimento das geleiras para o aumento do nível do mar. IHU On-Line – O aumento do nível do mar devido ao derretimento do gelo dos polos é algo possível? Por quê? Jefferson Simões – Nós temos um serviço de monitoramento das geleiras há mais de 160 anos, e hoje satélites como o Cryosat, da Agência Espacial Europeia, e o ICEsat, da NASA, monitoram os grandes mantos de gelo da Antártica e da Groelândia. O que eu falei foi que existe desconhecimento, inclusive um erro entre os diferentes tipos de gelo no planeta. O que contribui para o aumento do nível do mar são os mantos de gelo da Antártica e da Groelândia e das geleiras, que foram formados pela precipitação e acumulação de neve através de milhares de anos e estão em cima de ilhas ou de continentes. Ao derreter, vão levar ao aumento do nível do mar. Infelizmente, tanto a imprensa quanto as pessoas não informadas confundem isso com o mar congelado, como o Oceano Ártico, que pode derreter totalmente e não vai contribuir para o aumento do índice do mar porque está flutuando. É simplesmente a aplicação básica do Princípio de Arquimedes. IHU On-Line – De que maneira a diminuição da espessura do mar congelado é afetada pelo aumento das temperaturas? Como isso impacta o meio ambiente nas perspectivas local e global? Jefferson Simões – Na verdade o que está acontecendo principalmente no Ártico é o desaparecimento – principalmente no verão – e a redução da área do mar congelado. O mar congelado não só está diminuindo de área, a área que é congelada do mar, mas também a sua espessura. Mas a espessura desse gelo é de três a quatro metros, e embaixo tem um Oceano. No momento em que se tira esse cobertor do Oceano, muito mais energia é perdida do Oceano para a atmosfera, aquecendo-a mais ainda. Ao aquecer a atmosfera, intensifica-se o processo de aquecimento em todo o Ártico e isso afeta o clima do Hemisfério Norte como um todo. Na Antártica o cenário ainda não está claro, na verdade tem inclusive aumentado um pouco a extensão do gelo marinho por um processo muito mais complexo. Ao desaparecer gelo marinho, afeta-se a biota, principalmente os microrganismos que vão receber mais radiação, especialmente ultravioleta, porque nós tínhamos uma capa de mar congelado protegendo essa biota e outros que vivem no Oceano. Cortamos rotas de migração das espécies maiores, principalmente dos grandes mamíferos – e não estamos falando só de ursos polares, mas de raposas e outros. Afetamos diretamente a cadeia alimentar, e tem que ocorrer uma adaptação. Por outro lado, também ocorrem modificações políticas e geopolíticas. Hoje a abertura do Oceano Ártico está permitindo a navegação de navios não quebra-gelos entre a Europa e a Ásia via Ártico, e isso deve afetar primeiramente o mercado de transporte marítimo. Também existem estudos, principalmente da Rússia e dos Estados Unidos, que estão mudando a estratégia militar naval, de uma estratégia submarina para uma de superfície, porque agora vai se poder entrar com esses navios que navegam na superfície. IHU On-Line – Em 25 de fevereiro de 2012, um incêndio danificou 40% da Estação Antártica Comandante Ferraz. As perdas de dados e especialmente equipamentos já foram recuperadas? Jefferson Simões – Na verdade nunca houve perda de dados. O que aconteceu é que perdemos a Estação Antártica Comandante Ferraz que, naquela época, só tinha 30-40% de todas as nossas pesquisas. Isso é outro grande erro que sai na imprensa, sobre o papel da Estação Antártica Comandante Ferraz. Ela é importante por três motivos: é uma base para pesquisa em algumas áreas específicas da ciência Antártica brasileira – principalmente na biologia em ciências da atmosfera; é um apoio logístico para o resto do outro programa; e também tem um aspecto político, que é a casa do Brasil na Antártica. Cerca de 60-70% da pesquisa científica brasileira na Antártica não é feita nessa Estação. É feita em navios e em acampamentos, ou mesmo no módulo Criosfera I, que está a 2,5 mil quilômetros ao Sul da Estação Antártica Comandante Ferraz. Imagine, essa é a distância entre Rio de Janeiro e Belém. E esse módulo, que é de responsabilidade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, do INPE e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, está plenamente funcional. Ou seja, o que nós perdemos é aquela estrutura da Estação. Já temos agora módulos emergenciais permitindo que desde o verão de 2013 e 2014 se voltasse plenamente à pesquisa Antártica mesmo no local da Estação. A Estação em si só deve ser construída ou finalizada em 2016-2017 devido, principalmente, ao aspecto logístico, que permite que possamos construir alguma coisa somente entre dezembro e março. IHU On-Line – Por que estar na Antártica? Qual a relevância de um projeto brasileiro para estudar o continente? Jefferson Simões – A Antártica, antes de tudo, é importante porque é parte essencial do sistema clima, do sistema terrestre. É o principal sorvedouro de energia, no nosso jargão de climatologia. Ela coordena toda a circulação atmosférica e oceânica; das águas frias dos oceanos, 80% são formadas embaixo de gelo da Antártica. Basta lembrar aos gaúchos que as friagens, ou frentes frias que entram de tempos em tempos, são formadas no Oceano Austral ao redor da Antártica. Quando temos nevascas aqui no Brasil, afetando inclusive socioeconomicamente, essas frentes frias, essas nevascas são todas formadas em massas de ar frio de lá. Ela também esconde uma biota, hoje sabemos, bastante diversificada, associada a toda a teia alimentar da Terra. Modificações que lá ocorrem e afetam todo o resto do planeta. A Antártica foi também, no passado, parte do grande continente de Gondwana, e evidentemente a evolução geológica da Antártica está associada à evolução geológica de todo o planeta, principalmente dessas massas continentais que formavam Gondwana: a América do Sul, a África, a Índia, a Austrália, a Nova Zelândia e a Antártica. Ou seja, a Antártica é parte integral do sistema Terra, e se quisermos melhorar e ter um processo sustentável para esse planeta, ela sempre estará incluída. IHU On-Line – Você foi o primeiro brasileiro a se especializar na glaciologia. Qual foi o seu interesse em estudar essa ciência? Jefferson Simões – Na verdade, fui o pioneiro na ciência glaciológica não só no Brasil, mas na língua portuguesa, e o interesse básico foi sempre a preocupação com a questão ambiental, de ser pioneiro e trazer uma nova área de ciência para o Brasil, e também a própria atração, eu diria até lúdica, do programa Antártico-Brasileiro, que permite realizar expedições e trabalhar com uma gama muito interessante de profissionais, desde cientistas – cientistas da natureza, físicos ou cientistas sociais -, passando também por diplomatas do Itamaraty e militares que cuidam da logística. Ou seja, é um meio bastante rico profissionalmente e permite uma visão inter e multidisciplinar da ciência e, eu diria, da realidade. IHU On-Line – Quais as perspectivas de pesquisas para o ano de 2014? Jefferson Simões – Nesse final do ano o programa acabou de aprovar um edital. Tivemos 20 projetos de pesquisas. Então vão começar a se intensificar as pesquisas de campo na Antártica no verão de 2014 e 2015, e principalmente nós aqui iniciaremos algumas travessias no manto de gelo da Antártica, a 2,5 mil quilômetros ao Sul de Ferraz – inclusive com a colocação do segundo módulo automatizado, que vai ser chamado Criosfera II, onde vamos ter não só a Estação Meteorológica, mas também coletas de dados atmosféricos e junto com isso a pesquisa glaciológica com coletas de novos testemunhos de gelo, geofísica de geleiras e um entendimento do interior do continente. Ou seja, o problema está como um todo, e principalmente o Centro Polar Climático da Ufrgs vai avançar mais ainda no final do ano; estamos com recursos para reestabelecer o programa, inclusive já aprovamos um novo plano de ação no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação para a ciência e a Antártica nos próximos dez anos. IHU On-Line – Deseja acrescentar mais alguma coisa? Jefferson Simões – Só gosto sempre de lembrar que a Antártica é a nossa última chance de  protegermos parte deste planeta. Se falharmos com a Antártica, certamente vamos falhar com o resto do planeta também.

Por Andriolli Costa e Ricardo Machado

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Cientistas canadenses detectam novo gás com efeito estufa.

11 de dezembro de 2013 por Luiz Jacques

Um gás que provoca um efeito estufa altamente resistente foi detectado na atmosfera por cientistas da Universidade de Toronto, informaram pesquisadores nesta segunda-feira (9). O perfluorotributylamin (PFTBA) é um gás artificial utilizado, entre outras atividades, para a fabricação de equipamentos elétricos e eletrônicos, que segundo os pesquisadores canadenses tem, entre todos os gases presentes na atmosfera, os efeitos mais radioativos.

 

http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2013/12/11/100799-cientistas-canadenses-detectam-novo-gas-com-efeito-estufa.html

 

O PFTBA não foi, até o momento, incluído na família dos gases de efeito estufa persistente, mas em um período de 100 anos terá um impacto sobre o aquecimento climático muito mais forte que o dióxido de carbono (CO2).

Apenas uma molécula de PFTBA na atmosfera tem o mesmo efeito de 7.100 moléculas de CO2, destaca Cora Young, química da Universidade de Toronto.

Além disso, o gás tem uma vida muito prolongada na baixa atmosfera antes de se dissipar nas camadas mais elevadas, e não se conhece qualquer agente capaz de eliminá-lo, destacam os autores do estudo.

Publicado na Geophysical Research Letters, o trabalho afirma que o PFTBA se inscreve em uma nova classe de gases do efeito estufa, e pedem a realização de análises mais profundas para determinar seus efeitos reais sobre o clima.

(Fonte: G1)

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Emissões nacionais caíram 36,7% entre 2005 e 2012, apontam ONGs.

25 de novembro de 2013 por Luiz Jacques

Levantamento feito por uma rede de organizações ambientais do país, e que analisou as emissões de gases de efeito estufa do Brasil entre 1990 e 2012, aponta que entre 2005 e 2012 a quantidade de gases liberados no país caiu 36,7%.

 

 

http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2013/11/08/99811-emissoes-nacionais-cairam-367-entre-2005-e-2012-apontam-ongs.html

 

 

A redução foi puxada pelo setor de mudanças do uso do solo, que engloba índices de desmatamento. A diminuição foi de 68% em sete anos, segundo o estudo.

Os números são paralelos ao levantamento do governo federal divulgado este ano, que analisou as emissões até 2010 e constatou queda de 38,7% desde 2005.

No entanto, os números alternativos apontaram alta de 7,9% na quantidade de gases-estufa liberada pelo país ao analisar os últimos 22 anos, enquanto que as informações oficiais estimaram queda de 10,5% entre 1990 e 2010.

Os dados foram levantados pelo Observatório do Clima e fazem parte do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), plataforma on-line lançada nesta quinta-feira (7).

Seu objetivo, segundo Tasso Azevedo, consultor de sustentabilidade e clima e principal coordenador do sistema, será garantir informações claras sobre as emissões de gases nacionais, com atualização anual, além de ampliar a capacidade de entendimento da sociedade civil sobre como lidar com os gases-estufa lançados pelo país.

A plataforma analisou as emissões brutas, sem contabilizar dados de sequestro de carbono por meio de florestas em pé – metodologia utilizada pelo governo federal para realizar o inventário nacional de emissões. Paralelo aos dados do governo, o estudo utilizou informações dos inventários nacionais lançados anteriormente.

Apesar de queda, número é alto – Segundo o Seeg, em 2005 as emissões nacionais foram de 2,34 bilhões de toneladas de CO2 equivalente.

Já em 2012, a estimativa caiu para 1,48 bilhão de toneladas de CO2 equivalente (medida que soma emissões de ao menos seis gases poluentes, como o metano, o dióxido de carbono e óxido nitroso).

Os índices dos dois anos analisados foram maiores que as emissões nacionais de 1990, quando o país registrou 1,39 bilhão de toneladas de CO2. No mundo, entre 90 e 2012, as emissões cresceram 37% e passaram de 38 bilhões de toneladas de CO2 equivalente para 52 bilhões de toneladas.

Em 2012, mudanças no uso da terra (que incluem desmatamento) foi o setor que mais emitiu gases. Agropecuária foi o segundo setor que mais emitiu, seguido da energia, processos industriais e resíduos sólidos.

A área de energia foi a que registrou maior crescimento de emissões nas últimas duas décadas. O total passou de 193 milhões de toneladas de CO2 em 1990 para 436 milhões de toneladas em 2012, crescimento de 126% em 22 anos.

“Apenas nos últimos dois anos, as emissões do setor energético aumentaram 13%, graças ao maior consumo de gasolina (+34%) e redução do consumo de álcool (-30%). Além disso, foram acionadas usinas termelétricas (movidas a carvão) por conta da seca no Nordeste. Nos tornamos menos eficientes nessa parte e estamos fazendo com que as emissões cresçam mais rápido do que a nossa economia”, explicou Azevedo.

Ele explicou ainda que o setor deve aumentar ainda mais suas emissões se o país não crescer a participação de fontes renováveis na matriz energética.

Queda no desmatamento – A redução de emissões na mudança de uso da terra é resultado de políticas voltadas ao combate do desmatamento ilegal no país, principalmente na Amazônia, bioma que mais teve retração de emissões.

Dados do sistema Prodes (Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apontaram que o desmate no bioma entre agosto de 2011 e julho de 2012 foi de 4.571 km², menor índice desde que foram iniciadas as medições, em 1988.

No entanto, Azevedo disse que a quantia ainda é alta e faz do Brasil o país que mais desmata florestas no mundo.

A intenção das ONGs ligadas ao sistema de emissões é apresentar as informações para os ministério do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, Casa Civil, Fazenda, além da pasta de Desenvolvimento.

Inventário Nacional – Em junho, o Ministério da Ciência divulgou que entre 2005 e 2010 as emissões brasileiras de gases de efeito-estufa caíram 38,7%. No período, os gases emitidos pelo país caíram de 2,03 bilhões de toneladas de CO2 equivalente para 1,25 bilhão de toneladas de CO2 equivalente.

Segundo o governo, o resultado fez o país atingir em cerca de 62% sua meta total de corte de emissões projetadas para 2020. Este compromisso foi assumido de forma voluntária em 2009, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 15, realizada em Copenhague.

Na época, o Brasil prometeu diminuir ao longo desta década entre 36,1% e 38,9% do total de emissões nacionais. O redutor ficaria dividido em cinco grandes setores: energia, processos industriais, agropecuária, mudança de uso da terra e florestas, e tratamento de resíduos.

Segundo o relatório, a queda foi impulsionada pela redução do desmatamento em florestas (-76,1%), principalmente na Amazônia. Em contrapartida, houve alta das emissões dos setores de energia (+21,4%), processos industriais (5,3%), agropecuária (5,2%) e resíduos sólidos (16,4%).

O inventário mostrou ainda uma modificação no ranking dos setores que mais emitem gases-estufa no Brasil. Em 2005, quando foi elaborado o primeiro inventário nacional, o setor de florestas era responsável por 57% das emissões nacionais. Desde 2010, desmatamentos, queimadas e alterações no uso da terra são responsáveis por 22%. (Fonte: G1)

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Pesquisa brasileira revela impacto do efeito estufa na agricultura.

5 de julho de 2013 por Luiz Jacques

Um dos principais produtos vendidos pelo Brasil no exterior, a carne bovina, que coloca o país no topo mundial dos fornecedores desse alimento, pode ser afetada pelo gradativo aumento da presença de dióxido de carbono na atmosfera. Os primeiros resultados de um estudo que faz parte do projeto Climapest da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sobre o impacto do efeito estufa na agricultura apontam para modificações na qualidade da pastagem do gado.

 

http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2013/06/24/95606-pesquisa-brasileira-revela-impacto-do-efeito-estufa-na-agricultura.html

 

 

O estudo será apresentado no encontro sobre o impacto do efeito estufa Greenhouse Gases & Animal Agriculture Conference, que vai até o dia 26 de junho, em Dublin, na Irlanda.

Com base na quantidade presumível de dióxido de carbono no meio ambiente daqui a 30 anos, pesquisadores brasileiros do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo (USP) criaram um ambiente com alto teor desse gás e constataram que, nessas condições, a gramínea brachiaria, mais utilizada na alimentação do gado no país, cresce com mais força, porém, com menos nutrientes.

“Com mais fibras indigeríveis, em vez de se ter mais produção de carne – porque o boi vai ter mais pasto para comer, nós poderemos ter um problema porque a queda na qualidade dessa comida levará o pecuarista a ter de investir mais”, ponderou o coordenador da pesquisa, Adibe Luiz Abdalla, professor do Cena.

Os trabalhos foram desenvolvidos em um campo experimental da Embrapa, em Jaguariúna, na região de Campinas, a cerca de 125 quilômetros da capital paulista. Nesse local foi criado um ambiente que se prevê como realidade no ano de 2040. Nele foram instalados 12 círculos de 10 metros quadrados nos quais foi injetado dióxido de carbono que ampliou a quantidade encontrada atualmente na atmosfera de algo em torno de 370 a 390 para cerca de 590 a 600 partes por milhão (ppm).

O gás carbônico tem o papel de auxiliar no desenvolvimento das plantas por meio da fotossíntese. O professor Adibe estima que com mais fotossíntese haverá um aumento da biomassa. “Esse aumento da produção de biomassa no caso de forragens é interessante porque vai produzir mais e mais capim, só que esse capim pelas informações que a gente está obtendo até agora é de pior qualidade, tem mais fibra, mais componentes indigeríveis”, explicou ele.

Isso poderia comprometer, igualmente, supõe o pesquisador, outras culturas como as de algodão, arroz, feijão, milho e trigo. Mas, segundo ele, ainda não se sabe ao certo o real impacto do efeito estufa sobre essas culturas.

(Fonte: Agência Brasil)

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A derrota dos céticos do aquecimento global.

1 de maio de 2012 por Luiz Jacques

Os pesquisadores de Harvard reconstruíram os eventos que levaram ao fim da era glacial e demonstraram a relação de causa e efeito entre o aumento de dióxido de carbono e o da temperatura. Foi a presença de CO2 que provocou o derretimento do gelo.

 

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/508435-a-derrota-dos-ceticos-do-aquecimento-global

 

A reportagem é de Elena Dusi, publicada no jornal La Repubblica, 12-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A misteriosa cadeia de eventos que levou ao fim da era do gelo foi finalmente reconstruída. Poderia parecer uma análise confinada ao passado remoto. Ao refazer as suas etapas, os climatologistas se encontraram novamente, ao contrário, diante de um espelho que reflete com uma fidelidade inesperada o presente do nosso planeta cada vez mais quente.

O que desfez parte das geleiras que cobriam a Terra entre 20 e 10 mil anos atrás – explicam os pesquisadores de Harvard – foi um aumento de dióxido de carbono na atmosfera. Em 7 mil anos, os gases de efeito estufa passaram de uma concentração de 180 para 260 moléculas por milhão. E uma calota ártica que cobria metade dos EUA diminuiu para as dimensões que conhecemos hoje. Se considerarmos que no último século a concentração de CO2 passou de cerca de 300 para 392 partes por milhão compreende-se por que o alerta dos pesquisadores liderados por Jeremy Shakun, que publicaram na revista Nature as suas análises.

O estudo derruba um dos argumentos usados pelos céticos do aquecimento global. Até ontem, considerava-se que, no fim da era glacial, a temperatura do planeta tivesse subido, seguida só em um segundo momento pelo aumento de dióxido de carbono. A sequência dos eventos excluía que esse gás de efeito estufa era o responsável pelo aquecimento. Assim como no fim da era do gelo, também para hoje os céticos pediam a absolvição do CO2 da acusação de aquecer o planeta. E foi sobre o vínculo dado por óbvio entre os gases do efeito estufa e as mudanças climáticas que haviam se concentrado as críticas ao filme de Al Gore Uma Verdade Inconveniente.

O argumento foi completamente invertido por Shakun e por seus colegas, que, com um trabalho de investigadores, reunir um número sem precedentes de indícios sobre o clima do passado. O passo à frente da sua análise está em ter coletado não apenas amostras de gelo das profundezas da calota antártica, mas também de ter estendido as suas carotagens para áreas diferentes do planeta, do fundo do mar até a terra firme, tanto no hemisfério Norte quanto no Sul. O que é verdadeiro para a Antártida (o aquecimento precedeu o aumento do CO2) não é de todo se considerarmos o planeta em seu conjunto, onde os gases de efeito estufa precedem – e portanto, com toda a probabilidade, determinam – o aumento das temperaturas.

O complicado mecanismo foi acionado há cerca de 17 mil anos com um leve deslocamento da Terra da sua órbita (fenômeno conhecido pelos astrônomos). O hemisfério Norte se encontrava mais exposto aos raios solares. A calota ártica começou a derreter e fez aumentar os níveis dos mares em 10 metros. As enormes massas de água fria geraram um colapso na circulação oceânica, com o efeito global de confinar o calor dos mares ao polo Sul. O aumento da temperatura na Antártida fez restringir a superfície das geleiras, liberando na atmosfera as enormes quantidades de CO2 que haviam permanecido no fundo do mar.

A conclusão de Shakun parece querer romper de uma vez por todas o debate: “O deslocamento da órbita desencadeou o mecanismo, mas o nosso estudo demonstra que o CO2 desempenhou o papel decisivo. Entre o seu aumento na atmosfera e o aumento das temperaturas, há uma correlação muito clara”.

 

O físico arrependido: ”O fenômeno existe, mas resta entender o papel do ser humano”

 

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/508436-o-fisico-arrependido-o-fenomeno-existe-mas-resta-entender-o-papel-do-ser-humano

 

Ele era contado entre os céticos. Depois, no dia 21 de outubro de 2011, Richard Muller, professor de física da Universidade de Berkeley e autor com o seu grupo Best de uma análise independente sobre o aquecimento do planeta, surpreendeu a todos com um artigo no Wall Street Journal: “Eis o argumento contra os céticos do aquecimento climático”.

A reportagem é do jornal La Repubblica, 12-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Esse estudo o convenceu ainda mais?

Os resultados são surpreendentes e invertem as cartas sobre a mesa. Mas eu não colocaria a mão sobre o fogo com relação à correção das conclusões dessa pesquisa. Medir a temperatura do planeta há milhares de anos não é uma tarefa banal. Trata-se de extrapolar dados, partindo dos restos de antigos organismos marinhos. Não é esse o ponto. A meu ver, a pergunta a ser feita é outra.

Qual?

Eu não teria dúvida do fato de que o dióxido de carbono provoca o aquecimento. E, em comparação com um ano atrás, hoje estou ainda mais convencido da mudança que está ocorrendo no clima do nosso planeta. A dúvida que ainda me resta é: quanto do aquecimento foi provocado pelo ser humano? Somente responder a essa pergunta poderá nos ajudar a orientar as nossas políticas futuras.

Uma sondagem do Eurobarômetro demonstra que 50% dos europeus consideram o clima o problema mais grave em nível global. Os norte-americanos que acreditam no aquecimento causado pelo ser humano passaram de 55% a 62% segundo uma pesquisa da Universidade de Michigan. O ceticismo já está em retirada?

Quando não são ditadas pela ignorância ou pelo desprezo pela ciência, as teses dos céticos deveriam ser ouvidas. O que eu noto, ao contrário, é uma falta de interesse. No seu último discurso sobre o estado da União, o presidente Obama nem sequer mencionou o problema.

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