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MATÉRIA DE CAPA DO SEMANÁRIO
NORTE-AMERICANO:
“TIME” / Latin American
Edition / October 30, 2000; vol.156; nº 18.
“Early Puberty”, “Why girls are
growing up faster” Is
it hormones ? Is it fat ? Is it something in the water ? How parents and
kids are coping.
(“Puberdade precoce”).
Porque as meninas estão se desenvolvendo tão rapidamete.
Serão os hormônios ? As células de gordura ? Haveria algo na água ? Como
os pais e os jovens estão reagindo. “TEENS” antes do seu tempo. Com
seios e pelos pubianos emergindo, as meninas norte-americanas estão amadurecendo
mais cedo do que nunca. O quê estaria provocando isso? E quais são seus
efeitos psicológicos? Por Michael D. Lemonick.
Assim, depois de uma série de consultas médicas, os Carters (todos estes nomes foram trocados por solicitação da família) passaram a dar um hormônio (“lupron”) que abruptamente interrompe as características da puberdade, só para evitar que sua pequena e alegre menina entrasse num processo de altos e baixos em seu humor. “Tínhamos uma criança que agia como se estivesse em plena menopausa”, afirma a Sra. Carter. Os pais decidem paralisar os tratamentos e aos nove anos Sharon teve seus seios plenamente desenvolvidos e logo, logo veio sua primeira menstruação. Laura Stover leva sua filha Karen a um especialista quando a menina começou, aos cinco (05) anos de idade, a desenvolver pelos pubianos. O médico fez com que Karen realizasse uma bateria de exames de sangue para impedir tumores ovarianos (estes podem forçar a geração de hormônios que precipitem a puberdade). No entanto não havia nenhum problema médico aparente e aos oito (08) anos Karen tinha seus pelos pubianos plenamente desenvolvidos. “Não permitimos que ela fosse dormir em nenhum lugar fora de casa”, disse a Sra.Stover, “nem trocar suas roupas de banho na frente de nenhuma outra criança.” Cecilia Morton, em Santa Maria, Califórnia, não tem uma, mas duas filhas que tiveram sua puberdade precoce. Clara, hoje com treze (13) anos, começou a ter seus seios e pelos pubianos florescendo quando tinha oito (08) anos e menstruando no acampamento do verão daquele mesmo ano. Diz sua mãe: “Foi constrangedor e embaraçoso porque suas companheiras de barraca não haviam tido ainda seus períodos de menstruação”. A irmã mais moça de Karen, Susan, aluna do jardim de infância, começa a ter os mesmos sintomas neste mesmo período de vida. Apesar dos exames de Susan serem absolutamente normais, os Morton resolveram aplicar-lhe o tratamento hormonal. “Nós já percebíamos como os homens passaram a olhar para Clara”, diz a mãe. “Se a minha pequenina não tivesse sob o efeito dos medicamentos, nem posso imaginar os problemas que estaríamos enfrentando.” Se estes fossem casos isolados,
poderiam ser anotados como causalidade estatística. No entanto
para cada lado que se olhar hoje em dia, seja nas ruas, nos estádios
de desportos, nas saídas das escolas, sempre há meninas
cursando as primeiras séries do primeiro ciclo que apresentam,
cada vez mais, características em seus corpos como se fossem de
jovens moças que estão em estágios escolares superiores
ou mesmo em universidades. “Cada vez mais estão presentes em nossas
clínicas, jovens meninas - variando entre 05 e 10 anos - tanto
com bustos como com pelos pubianos,”, diz o Dr. Michael Freemark, chefe
do setor de endocrinologia da pediatria do “Duke University Medical Center”,
de Durham, de Carolina do Norte.
É como se uma geração inteira de meninas tivesse sido colocada num redemoinho hormonal violento: um inchaço de um lado, uma estufada de outro e vão se expandido tal qual a Alice no País das Maravilhas que cresceu enormemente no lado errado do cogumelo. Ou podem parecer como os dois personagens de desenhos animados antigos, o Mutt e o Jeff, onde um era grandalhão e o outro pequenino, do mesmo jeito quando as meninas encontram os meninos que a cada ano parecem mais baixinhos (ver o quadro adiante). Mas o quê está acontecendo? Haveria alguma coisa presente nas águas? Esta é uma possibilidade. Acham também os cientistas que pode estar havendo alguma relação com a obesidade, embora considerem que nesta poção malévola também estejam presentes outros ingredientes – de químicos ambientais a hormônios que fazem parte integrante do leite ou da carne do gado. Mas a verdade é que ninguém sabe ao certo como estes sinais de desenvolvimento sexual têm aparecido em meninas em idades cada vez mais precoces. Hoje, entre as meninas de origem branca e caucasiana, uma em cada sete começa desenvolver busto e pelos pubianos em torno de oito (08) anos. Já entre as meninas de origem negra, afro-americanas, esta realidade está girando em uma entre cada duas. Bem mais problemático do que as mudanças físicas, é o efeito psicológico potencial do desenvolvimento sexual prematuro em meninas que podem ainda estar lendo contos de fadas e não evitando lobos. O receio, entre pais e especialistas da área, é que estas meninas jovens que, por parecerem adolescentes, sofrem intensa pressão para agir como tal. A infância é curta como ela só, no entanto a garotada vendo bombardeada por todos os lados, seja com filmes de sexo explícito, com as letras picantes das músicas de rock-and-roll, ou com os “clips” insinuantes da emissora de televisão MTV e até mesmo com as roupas provocativas da moda atual. Se seus corpos juvenis os empurram para o mundo dos adultos antes que seus corações e suas mentes estejam prontos, o que será perdido para sempre? O perigo, como os escritores Whitney Roban e Michael Conn apontam no relatório para a organização “Garotas Escoteiras da América” chamado “As meninas desabafam”, é que os estágios do desenvolvimento da infância – cognitivo, físico e emocional – sofrem desajustes. Roban e Conn chamam isto de “compressão do desenvolvimento” e apimentam seu trabalho com citações picantes das garotas que se debatem na luta contra as pressões externas e que ainda estão precariamente estruturadas para serem tocadas. “Os garotos”, critica no relatório uma aluna do quarto ano, “ficam vidrados nas meninas que têm peitos”. Numa retrospectiva, pediatras e psicólogos dizem perceber que, desde a última década ou mais, alguma coisa diferente está se passando. Até 1997, ninguém havia levantado nada a respeito. É que neste ano Márcia Herman-Giddens, então professora adjunta na Escola de Saúde Pública da Universidade da Carolina do Norte, publica seu famoso estudo no periódico “Pediatras”. Em sua atividade clínica, Herman-Giddens observou que mais e mais jovens meninas lhe procuravam com peitos e pelos pubianos bem visíveis. Intrigada, principiou uma pesquisa que envolveu em torno de 17 mil meninas para obter dados estatísticos em relação a este problema. O que ela e seus colaboradores encontraram, foi que as mudanças que acontecem na puberdade vêm em dois estágios, cada um com sua própria cronologia. A idade média para a menarca, ou seja, a primeira menstruação, já caiu dramaticamente (de 17 anos para mais ou menos os 13) entre a metade do século 19 e a metade do século 20 – mormente atribuído à melhora na questão nutricional. (A menstruação é considerada, tecnicamente, como o início da puberdade; os sinais externos da maturidade sexual usualmente vêm mais tarde). Mas desde os anos 60, a média da idade para a primeira menstruação permanece basicamente imutável nos 12.8 anos. Para as moças afro-americanas ocorre mais ou menos seis meses antes, possivelmente refletindo diferenças genéticas ou nutricionais. O que chama a atenção no trabalho de Herman-Giddens é como se dá o aparecimento das características sexuais secundárias: os botões dos seios e os pelos pubianos. Um número significativo de meninas brancas – algo como 15% – mostraram os sinais externos de sua incipiente maturidade sexual aos oito anos, sendo que em torno de 5% bem mais cedo, ao redor dos sete anos. Para as afro-americanas as estatísticas estão cada vez mais assustadoras. Quinze por cento desenvolveram busto ou pelos pubianos aos sete anos e quase a metade aos oito anos de idade. O artigo publicado no periódico “Pediatras” levanta várias questões, mas muito ainda sobre este tema permanece sendo um mistério. O estudo não pode determinar precisamente, por exemplo, quanto da média de idade para a manifestação externa do desenvolvimento de seios (em oposição à menstruação) recuou ou avançou e em que período. Já que a peça chave das pesquisas que auxiliaram a fixação do padrão na idade de 11 anos foi um pequeno estudo feito nos anos 60 com meninas brancas que cresceram em orfanatos ingleses. Mas o Dr. John Dallas, um pediatra endocrinologista junto ao Setor Médico da Universidade do Texas em Galveston, apontou que as meninas britânicas podem ter sido pobremente nutridas, um fator que retarda a puberdade. As jovens afro-americanas foram estudadas com muito pouca rigidez. “Por tudo o que sabemos”, diz Dallas, “as meninas afro-americanas têm tido seu desenvolvimento mais cedo já há muito tempo”. O estudo deste periódico também está limitado por não ter incluído quantidades suficientes de meninas tanto de origem asiática como hispânica para tirar conclusões sobre estes grupos. Herman-Giddens acrescenta: “Nós, em saúde pública e medicina comunitária, necessitamos realmente obter dados das jovens americanas de todos os grupos raciais e étnicos”. Precisam também ter dados sobre meninos que não têm sido avaliados de forma sistemática. “Com meninas”, diz ela, “pode-se constatar os botões dos seios. Já com os meninos, o sinal equivalente é o aumento de tamanho de seus testículos. E isto é muito sutil. Mesmo um médico clínico pode não perceber esta mudança se não fizer um exame muito acurado”. Finalmente, precisa-se observar o que está ocorrendo em outros países. Seria este um fenômeno somente norte-americano? Ou, em todo o mundo, as meninas estariam desenvolvendo seios e atingindo a puberdade em idades cada vez menores?
As incertezas que envolvem o fenômeno tornam difíceis as detecções de suas causas pelos cientistas. Mas isto não os impediu de levantar uma longa lista de candidatos potenciais. A teoria que tem maior trânsito entre eles, sustenta que a puberdade precoce está de algum modo conectada com um fenômeno bastante familiar: o ganho de peso. A América do Norte está no epicentro de uma epidemia: a dos jovens obesos e com peso excessivo. Entre o final dos anos setenta e o início dos anos noventa, o percentual de crianças entre os seis e 11 anos que estavam com peso excessivo, quase duplicou, dos 6,5% para os 11,4%, de acordo com o Centro Nacional de Estatística em Saúde O Dr. Paul Kaplowitz, um pediatra endocrinologista, junto à Escola de Medicina da “Virginia Commonwealth University”, em Richmond, Virgínia, explana que “nós sabíamos que garotas com peso excessivo tendiam a ter seu desenvolvimento bem mais precoce e que as jovens muito magras, como as anoréticas, tendiam a amadurecer bem mais tarde do que o normal. O que estamos começando a acreditar é que jovens somente com alguns quilos a mais, podem amadurecer tão cedo como as primeiras.” Kaplowitz enfatiza que a correlação é meramente estatística. Não todas as meninas com um pequeno excesso de gorduras já desenvolverão seus seios precocemente. Exatamente porque estariam a obesidade e o desenvolvimento precoce, conectados um com o outro, não está bem entendido. No entanto Kaplowitz suspeita que o desenvolvimento precoce pode ser encorajado pela proteína chamada “leptina”. “Sabemos que as células da gordura produzem ‘leptina’”, diz ele. “E ela é necessária para o desenrolar do processo da puberdade”. Outro indício, de acordo com Freemark da Universidade de “Duke”, é que nas meninas que estão acima do peso, há maior circulação de insulina em seu sangue. Diz Freemark: “Estes altos níveis de insulina aparecem para estimular a produção de hormônio sexual vindo dos ovários e das supra-renais”. Enquanto há um consenso com relação à conexão com a gordura, os outros estimuladores ainda não foram confirmados. Uma é a contaminação pela química sintética na cadeia alimentar – especificamente o caso do DDE, metabólito do agrotóxico DDT, e os PCB’s, este utilizado anteriormente como retardador de chamas em equipamentos elétricos. Ambos são suspeitos plausíveis porque mimetizam hormônios que desempenham papéis chave no desenvolvimento do sistema reprodutivo. Além do que, diz o Dr. Walter Rogan, epidemiologista do Instituto Nacional das Ciências da Saúde Ambiental no “Research Triangle Park”, Carolina do Norte, ambos os químicos estão onipresentes no ambiente e persistem no organismo por anos depois de contaminado. Por esta razão, ele escolhe os PCB’s e o DDE, como uns dos poucos químicos com estudos amplos e extensos em sua relação contaminação e puberdade em humanos. Rogan e seus colegas começaram com algo em torno de 600 mulheres grávidas, medindo a concentração destes químicos presentes em seus organismos. Quando seus bebês nasceram, os pesquisadores mediram então os níveis presentes no leite de suas mães. Finalmente o grupo monitorou as crianças enquanto cresciam e na entrada da puberdade. O efeito mais gritante, conforme reportou na última primavera no “Journal of Pediatrics”, foi que meninos expostos ao DDE e meninas aos PCB’s tiveram efeitos mais pesados do que jovens de mesma idade não expostos na idade de 14 anos. O trabalho também constatou um fato intrigante: meninas com alta exposição pré-natal aos PCB’s tendem a atingir os primeiros estágios da puberdade um tempo mais cedo do que as outras. Rogan reforça de que os números foram baixos para serem considerados estatisticamente significativos. “Se havia um efeito dos químicos ambientais na puberdade”, ele diz, “foi bem pequeno porque nós estudamos estes jovens detalhadamente por um longo período de tempo e nós não constatamos isto”. Mas, Rogan adverte, “entretanto não posso descartar estas hipóteses”. Podem outras substâncias além dos PCB’s e do DDE influenciar o desenvolvimento sexual? Talvez, diz Rogan. Mas poucos compostos seriam assim persistentes e penetrantes. Hormônios fornecidos aos animais de produção, por exemplo – outra situação possível, freqüentemente invocada – degradam-se rapidamente no organismo. “Eu não estudei os efeitos dos hormônios em carne e produtos lácteos”, diz Rogan. “ E não seria algo que eu pesquisaria”. O que mereceria ter outra revisão, conforme alguns pesquisadores, é o conjunto de químicos utilizados para a fabricação de plásticos. Um deles é o “Bisfenol A”, sigla BPA. Como o DDE e os PCB’s este é uma substância parente do hormônio feminino estrogênio e mostrou afetar os sistemas reprodutivos de ratas de laboratório. Outros aditivos destinados à fabricação de plásticos, os ftalatos, podem ter desempenhado um papel importante nos casos que desencadeou o desenvolvimento precoce em meninas de Puerto Rico, nos anos oitenta. Meninas em idade tão tenra como dois anos de idade, desenvolveram seios e pelos pubianos. E assim, enquanto não houve outra causa ainda determinada, o trabalho publicado no mês de setembro próximo passado, indica como possível responsável os ftalatos que são utilizados, entre outras coisas, para tornar os plásticos flexíveis. Isto não quer dizer que este já seja um caso encerrado. De qualquer modo, a indústria de plásticos duvida que haja alguma conexão entre este plastificante e a situação destas meninas. Mas, diz Rogan, “o que aconteceu em Puerto Rico é uma boa questão e precisa mais estudos”. Existem então aqueles que acreditam que as mensagens sexuais, bombardeadas de todo o lado, poderiam alavancar nos jovens brechas em suas mentes e que poderiam desencadear este tipo de desenvolvimento. Drew Pinsky, médico clínico e co-participante como convidado do recentemente cancelado programa de orientação “Loveline” da MTV, defende esta visão. “A MTV é, sem dúvida, um dos fatores que provoca a puberdade precoce”. Mas apesar desta idéia soar estranha, diz Herman-Giddens, “não podemos desprezá-la cientificamente. Se alguém cortar uma apetitosa laranja em nossa frente, logo salivamos. Ver coisas pode afetar-nos psicologicamente”. Independentemente da origem da causa – e pode ser eventualmente de uma mistura de alguns ou de todos estes fatores – os médicos dizem que o desenvolvimento precoce passou a ser amplamente considerado como uma aberração médica. No passado, meninas que desenvolveram seios antes dos oito anos receberam muitas vezes terapia hormonal para tornar as coisas mais lentas. Mas em trabalho preparado para a Sociedade de Pediatria Endócrina, Kaplowitz com a co-autoria da Dra. Sharon Oberfield da “Columbia University”, mostra que muitas das meninas que entre seis e oito anos desenvolvem seios ou pelos pubianos poderão ser reclassificadas como normais e sem tratamento hormonal. “Meninas com três, quatro ou cinco anos de idade poderão ainda ser tratadas com intensidade”, ele diz, “mas são poucas”. Isto não significa que o aparecimento de seios aos sete anos de idade pode ser simplesmente ignorado. Mental e emocionalmente, estas meninas não têm nada de diferente de suas companheiras ainda crianças. “Elas não estão tingindo seus cabelos de encarnado e tagarelando a toda a hora no telefone”, diz a Dra.Francine Kaufman, chefe da endócrino-pediatria do Hospital da Criança de Los Angeles. “Estão ainda com sete anos de idade”. Mas elas não têm esta aparência o que poderá gerar uma série de problemas. Uma coisa é certa, esta situação torna estas meninas, obviamente, muito diferentes de suas companheiras – realidade que pode ser profundamente embaraçosa tanto para as que têm seu desenvolvimento precoce como as que têm tardio. “Mais insidioso”, diz Susan Millstein, professora de pediatria da Universidade da Califórnia, em San Francisco, “é que as pessoas pensam que elas são mais velhas e o tipo de pressão sofrido por elas são maiores do que elas podem administrar.” Marissa Carter, mãe de Sharon, é mais dura com esta situação. “As meninas que aparentam ser mais velhas do que sua idade são um favo de mel,” ela diz. “São literalmente atacadas pelos meninos mais velhos”. Manipulação da mídia – imagens sedutoras como estas já sexualizam as crianças; e o desenvolvimento precoce torna isto bastante pior. (nt.: no texto da TIME estão fotos de capa e propaganda de revistas norte-americanas dirigidas à juventude Para as amigas Angelica Andrews, 13 anos, e Emily Jacobson Rinalli, 12 anos, da cidade de Chicago, este tipo de envolvimento é de tal forma uma fonte de orgulho que elas querem, sem nenhum problema, fornecer à reportagem seus nomes verdadeiros. Diz Angelica: “Os caras ficam sempre me importunando. Ficam me perguntando ‘fizeste uma plástica?’. E minhas amigas morrem de inveja.” Emily, cheia dos risinhos, diz: “Sou confundida com garotas de 17 anos.” Mas mesmo assim, elas relatam o lado pesado de parecer quase uma década mais velhas daquilo que elas realmente são. “A vida vai ficando cada vez mais pesada quando tu vais crescendo”, admite Angelica. “Os meninos vêm para cima e ficam ali te tocando. Não querem desgrudar da gente. São como uns cachorros”. Os perigos físicos, pelo molestamento sexual e pela transmissão de doenças sexualmente transmissíveis – e para as que já menstruaram precocemente, a gravidez – são apenas alguns dos resultados mais óbvios associados ao desenvolvimento prematuro. As pressões na escola para entrar numa universidade, associadas às drogas e álcool, além das pressões das turmas de jovens e o sexo explícito presente na mídia, estão conspirando para o encurtamento da infância com conseqüências que ainda não estão bem compreendidas. “Um dos maiores choques durante toda a débâcle do caso Clinton e a estagiária Mônica”, diz William Damon, diretor do Centro de Stanford para a Adolescência, “foi a população tentando filtrar expressões como ‘sexo oral’ quando na verdade não havia uma só criança de oito anos de idade que já não soubesse do que se tratava.” Um resultado desta influência é as meninas utilizando roupas altamente erotizadas, vestindo trajes de gente grande nas salas de aula já do primeiro ciclo. E pior ainda, sem terem ainda corpos adultos. Esta aceleração do crescimento aparece exatamente no momento em que o cotidiano está muito mais para os chocolates “M&M” do que para um alimento saudável. Entre oito e doze anos, explana a psicóloga Mary Pipher, autora do livre “best-seller” - “Revivendo Ofélia” – sobre a adolescência feminina, as meninas estão no assim chamado período latente, é quando viram as costas aos meninos ligando só para suas colegas meninas. “Teoricamente, este é o tempo em que elas estão realmente concentrando um monte de energia. Dedicam-se aos esportes, investigam as questões do mundo, são aprendizes dos segredos e confidências pessoais e sociais. Estão ordenando suas forças para terem capacidade de mergulhar na puberdade.” A pressão cultural sozinha tende a encurtar o período de latência quando a criança usualmente desenvolve o senso de quem é e onde está no mundo. Quando o corpo de uma menina desenvolve-se precocemente, ela está mais propicia a ser fisgada por um menino e assim abandonar seu grupo de amigas, mesmo antes que o processo de desenvolvimento do período de latência aconteça. “Isto”, diz Pipher, “tem toda a sorte de conseqüências negativas social, acadêmica e psicologicamente”. Além do mais, diz Pinsky da MTV, o desenvolvimento precoce satisfaz o que agora é um dos aspectos mais difíceis para um jovem hoje nos Estados Unidos. “Os jovens não têm um bom julgamento sobre si mesmo”, ele diz. “Há uma verdadeira obsessão sobre tudo. A sociedade lhes diz: ‘Aqui está o modo como tu te sentirás feliz: tem um monte de dinheiro, sê que nem a cantora Britney Spears, faz sexo, usa drogas, faz esportes radicais.’ E isto funciona, em nossos dias.” Eventualmente, entretanto, o que é bom perde-se e, diz ele, a auto-estima dos jovens nunca esteve tão lá embaixo. Assim, se os pais preocupados não puderem tratar suas filhas com desenvolvimento precoce, o que poderão fazer então? “Se eu tivesse uma filha que menstruasse aos nove anos de idade,” diz Pipher, “eu lhe diria: ‘isto não significa que agora és uma mulher; significa que és uma jovem menina, com nove anos de idade, e que menstruou. E iremos fazer aquilo que realmente estiver de acordo com esta realidade.’” Significa roupas, livros e música apropriadas para uma menina que cronologicamente tem nove anos e não sua idade física. Isto também significa que ela funcionará de acordo com sua família, fazendo então com que a pressão de suas coleguinhas para que venha a agir sofisticadamente não venha a ser um problema. “Uma das melhores coisas para uma menina de nove anos de idade”, diz Pipher, “é ter muito tempo de convivência com seus avós, primos e outros parentes. Pessoas que possam valorizá-la por todas as coisas que ela tenha que não de sua popularidade ou por sensualidade”. Mais importante, concordam praticamente todos os especialistas, é que os pais permaneçam se comunicando com suas filhas. “Não é importante o que vocês conversem com elas”, argumenta Pipher. “Deixem o diálogo fluir, porque quando elas estão tocadas pela puberdade, têm muitas questões e irão perguntar se sentirem livres e confortáveis”. Nada é mais importante do que esta conexão, diz ele. “É a criança que não confia nos adultos que irá fazer, apesar de seus impulsos biológicos, o que os seus colegas ou mesmo o ambiente cultural sugerir a eles”. Foi o apoio da família que fez Sharon Carter sentir-se segura apesar de seus conflitos com a situação de sua puberdade precoce. “Eu estou realmente muito agitada”, diz sua mãe, “e tive que colocar tudo sob controle e fazê-la sentir que o que estava acontecendo com ela, era normal.” O resultado, diz Sharon: “Eu nem lembro direito como foi comigo. Eu não ia a piscina nadar quando estava menstruada. Ainda hoje não vou, mesmo adorando, nadar. Esta é a única diferença que esta situação gerou para mim.” Angelica Andrews também tem seus pais próximos dela. Recentemente, esta jovem púbere teve sua primeira experiência com beijos mais ardentes. Sua família ao ficar sabendo, comunicou ao jovem que deveria novamente procurá-la só depois que Angelica fizesse seus dezesseis anos, ou talvez, os dezoito. Infelizmente este tipo de vigilância está sendo necessária para as famílias de meninas com doze ou treze anos, enquanto há uma geração atrás, muitos pais poderiam ficar descansados até que suas filhas tivessem dezesseis ou dezessete anos. Mas como diz Angelica: “Benvindos ao século 21”. Conversa de meninos: E o que
há com os jovens? Como um menino de nove anos
reagirá aos primeiros sinais que sua coleguinha de turma além de rapidamente
ficar bem mais alta que ele, já começa a ter seus seios despontando?
Só alguns percebem. Estão por demais imersos no futebol, no vídeo game
e noutros prazeres deste período considerado como de latência. Ou seja,
é a fase em que estão na escola fundamental e pouca atenção dão ao sexo
oposto. “Os meninos nesta idade tendem a olhar as meninas quase como
se elas fossem de outra espécie”, diz o Dr. Glenn Elliott, diretor do
setor de psiquiatria da criança e do adolescente da Universidade da
Califórnia, em San Francisco. “Eles não têm muita noção do sexo”. E
na falta de pesquisas de como os meninos podem responder a esta fase,
há em compensação uma profusão de especulações informais a respeito.
Muitas são coletadas de consultas clínicas demonstrando que alguns meninos
se assustam e mesmo se surpreendem pelas alterações que suas precoces
colegas de turma começam a revelar. “Lembram da altura do seu filho”,
diz Mary Pipher, autora do livro “Reviving Ophelia/Revivendo Ofélia”,
“quando todas as meninas eram (12 cm) mais altas do que eles? E elas
já começavam a apresentar algum desenvolvimento sexual enquanto os meninos
tinham a voz de taquara rachada além de uma aparência totalmente infantil?
Pois estas diferenças serão ainda mais acentuadas se as meninas principiarem
a ter sua puberdade aos nove anos de idade”. Alguns meninos pré-púberes
podem ser implicantes e incomodarem as meninas como forma de ocultar
um forte aborrecimento do desconforto que talvez ele possa sentir. “Isto
é um típico estímulo da desorientação que eles vivem por sentirem a
grande mudança que estas meninas apresentam”, diz a psicólogo Michael
Thompson, autor do livro “Speaking of boys/Falando de meninos” e co-autor
de “Raising Cain/Gerando Confusão”. “Os meninos podem muitas vezes reagir
de maneira desajeitada, imatura, imperceptível e dissimulada”. Alguns
meninos também podem experimentar precocemente sua puberdade. Enquanto
as evidências permanecem incompletas e controversas, os pesquisadores
encontram marcadores que podem indicar a maturidade sexual de meninos,
com menos de dez anos de idade, tais como o aumento de seus testículos.
Mas este processo de desenvolvimento não é tão visível como o alargamento
dos quadris e o florescimento dos seios das meninas. E até que os meninos
experimentem seu pico de crescimento que normalmente começa em torno
dos treze anos de idade, muitos irão procurar meninas de sua idade,
mas elas estarão bem mais desenvolvidas e exuberantes do que eles. Os
meninos poderão permanecer importunando as meninas no nível médio da
escola no momento em que seus hormônios masculinos realmente começarem
a lhe estimular por dentro. Até lá, muitos poderão desanimar de importunar
as meninas por estarem bem mais avantajadas física e socialmente do
que eles. E suas inseguranças poderão ser intensificadas pelo fato de
algumas delas já terem começado a dirigir seu interesse para os jovens
dos níveis superiores da escola. Aí poderá estar sua chance de encontrar
“homens de verdade”, bem diferente daquele fedelho desajeitado da escrivaninha
ao lado. Especialistas afirmam que os adultos podem ajudá-los, informando
de que as meninas amadurecem naturalmente mais rápido do que eles. “Os
meninos precisam ser auxiliados para se sentirem adequados com o seu
tipo de desenvolvimento e com seus corpos”, afirma Thompson. “Eles não
deveriam se sentir vexados por serem imaturos”. Se as pessoas vierem
a acreditar que os meninos nunca crescerão, ele acrescenta, “esta profecia
se cumprirá”. Por John Greenwald. Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, Porto Alegre, nov/dez de 2000, revista em dez de 2004.
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