SOBRE FTALATOS

http://www.ourstolenfuture.org/NewScience/oncompounds/phthalates/phthalates.htm#

(TODOS OS LINKS DA TRADUÇÃO ESTÃO ACESSÍVEIS, EM INGLÊS, NO SITE ACIMA)

         novo – Ouça a teleconferência internacional em inglês (international teleconference) com cientistas discutindo os riscos dos ftalatos sobre a saúde.

O que são os ftalatos (What are phthalates) e como eles são utilizados?
Quais são as preocupações sobre a saúde (What are the health concerns?)?
O debate (The debate) sobre a legislação e proteção à saúde pública.

As últimas novidades sobre Ftalatos

(em inglês)

© EnvironmentalHealthNews 2003-2004

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25 June Human exposure to chemicals. Advancements in bio-monitoring are allowing researchers to better detect the levels of chemicals that people's bodies pick up from everyday life. PBS NewsHour.

20 June Call to regulate gender-bending chemicals. Scientists will call on European leaders today to take urgent action to speed up regulation of the thousands of gender-bending chemicals in use across the continent. London Guardian, England.

20 June Fight looms over state biomonitoring efforts. California needs a statewide biomonitoring program to track our exposure to various chemicals, from trans fat to PBDEs and organophosphate pesticides, according to Dr. Richard Jackson, California's top medical officer. Oakland Tribune, California.

19 June Are these sperm doomed? Male fertility is falling. New evidence shows that phthalates - chemicals found in plastics and cosmetics - can damage boys' reproductive development at much lower doses than thought and that hormone exposure in the womb could cause disease later in life London Daily Telegraph, England.

17 June Toxin affecting tiniest infants. A toxic ingredient used is seeping into the bodies of infants in neonatal intensive care units. Springfield Republican, Massachusetts.

Mais novidades sobre

ftalatos (em inglês)

 

 O que são os ftalatos? Como eles são utilizados?

Os ftalatos são uma classe de compostos industriais largamente utilizados e conhecidos tecnicamente como dialquil ou alquil aril éster do ácido 1,2-benzenodicarboxílico. Existem muitos ftalatos com muitos empregos industriais e também com muitas propriedades toxicológicas.

Os ftalatos imiscuíram-se com ampla utilização a partir das últimas décadas em razão de suas muitas propriedades químicas para beneficiamento industrial.  Hoje eles são ubíquos, estando presentes não só em produtos nos quais eles foram intencionalmente agregados, mas também como contaminantes em praticamente todos os ambientes (just about anything). No mundo, sua produção anual gira em torno de 500 mil toneladas.  

Dentro do uso intencional de ftalatos incluem-se: plastificantes (amaciantes) de plásticos, substâncias oleosas para perfumes, aditivos para spray de cabelo, lubrificantes e como retocador de madeira. Aquele cheirinho de carro novo, que se torna especialmente pungente depois que o carro ficou sob o sol por algumas horas, é o odor penetrante dos ftalatos que volatilizam do painel plástico aquecido do carro. Nas tardes mais frescas eles se condensam no ar interno do carro, formando uma crosta oleosa na parte interior do pára-brisa. 

Quais são as preocupações sobre a saúde?
Muito do que existe na literatura sobre as propriedades toxicológicas dos ftalatos estão focadas em velhos paradigmas em toxicologia: 1. a exposição a altos níveis, quando resultaria finalmente em câncer; e 2. a exposição ocupacional que conduziria à infertilidade em adultos. Entretanto, há alguns anos atrás (nt.: 1999), na verdade quando o laboratório junto à US Environmental Protection Agency (nt.: Agência de Proteção Ambiental dos EUA) era chefiado por Earl Gray, a atenção voltou-se para a toxicidade do ftalato a baixas doses durante períodos cruciais no desenvolvimento fetal. Quanto mais estes estudos avançavam, mais se transformava nossa percepção, fundamentalmente quanto ao potencial de riscos dos ftalatos.

Enquanto altas doses constituem riscos no senso comum da toxicologia tradicional, estas baixas doses mudaram dramaticamente estes riscos. O trabalho de Gray (Gray's work) revela que o desenvolvimento da reprodução masculina é profundamente sensível a alguns ftalatos. Por exemplo, os ftalatos dibutil ftalato (DBP) e dietilexil ftalato (DEHP) produzem dramáticas alterações nas características sexuais dos machos quando a exposição ocorre no útero em níveis bem longínquos daqueles reconhecidos pela toxicologia anterior. Estas alterações também incluem crescimento nos níveis de hipospádia (hypospadias)(nt.: lesões nos pênis dos meninos quanto à formação de sua uretra) além de outros indicativos de desmasculinização.    

Questões pertinentes sobre ftalatos foram levantadas durante os últimos anos pelo National Toxicology Program (nt.:Programa Nacional de Toxicologia) sob os auspícios do seu “Center for the Evaluation of Risks to Human Reprodution-CERHR” (nt.:Centro de Avaliação de Riscos sobre Reprodução Humana) inaugurado há algum tempo, levando à convocação, em 1999, de um painel de especialistas independentes para revisar as evidências científicas focadas nas ameaças dos ftalatos ao desenvolvimento. Este painel produziu uma minuta de relatório (draft report) em agosto de 2000. Suas conclusões são severamente restritas pelo fato que poucos dos trabalhos necessários, para averiguação dos impactos no feto provocados pelos ftalatos, haviam sido feitos. Pelo menos sobre um dos ftalatos que eles focavam, o DEHP, o painel teve sérias preocupações quanto aos impactos sobre a saúde. Não com surpresa, dado o estágio das pesquisas, as conclusões do relatório são vistas como tentativas e mesmo verificações plausíveis, mas os riscos ainda são incertos. Mas um ponto chave é quanto ao impacto do DEHP sobre o desenvolvimento das células de Sertoli (nt.: fato relatado no vídeo da BBC, “Agressão ao homem”) no trato reprodutivo masculino. Elas são centrais para que ocorra a formação dos espermatozóides. Havendo lesões a estas células durante o desenvolvimento do feto, ocorrerão distúrbios nos espermatozóides na fase adulta, incluindo sua menor contagem (low sperm count). Não é o próprio DEHP que causa lesões diretamente às células de Sertoli, elas vêm de um de seus metabólitos, o monoethylhexyl phthalate-MEHP (nt.: monoetilexil ftalato).      

Em maio de 2005: Pela primeira vez, pesquisadores identificaram uma associação entre exposição de mulheres grávidas ao ftalato e efeitos adversos no desenvolvimento das genitálias de seus filhos (nt.: ver trabalho de Shanna Swan et al. - Decrease in Anogenital Distance Among Male Infants with Prenatal Phthalate Exposure. Environmental Health Perspectives) (ver o site http://www.ourstolenfuture.org/NewScience/oncompounds/phthalates/2005/20050527swanetal.htm). O padrão das alterações genitais observadas nestes bebês meninos tem ligação à “síndrome do ftalato”, anteriormente observada em roedores expostos pré-natal aos ftalatos. Também está relacionada à “síndrome da disgenesia testicular”, uma condição de saúde humana conectada à exposição aos compostos disruptores endócrinos. Os efeitos adversos detectados estão em níveis abaixo daqueles encontrados em ¼ (um quarto) das mulheres dos EUA, conforme levantamento conduzido pelos Centers for Disease Control-CDCs (nt.: Centros de Controle de Doenças dos EUA). More...

Em agosto de 200, cientistas de Porto Rico relataram (reported) uma associação entre exposição ao DEHP e o desenvolvimento prematuro de mamas em meninas bem jovens, possivelmente conectando aos ftalatos estas tendências à puberdade precoce (puberty).

Em setembro de 2000, os CDCs liberaram a primeira avaliação (assessment) substancial sobre a exposição do público norte-americano ao ftalato. Seus estudos analisam resíduos de metabólitos de sete ftalatos na urina. Os níveis são elevados para vários destes compostos estudados, particularmente o metabólito do DBP. Das preocupações, a maior foi quanto à descoberta de que, em suas amostras, havia um número desproporcionado de mulheres em idade fértil que carregavam altos níveis deste metabólito. Oportunizada pelos dados de Gray quanto à vulnerabilidade fetal, esta é precisamente a população que deve minimizar a exposição a este anti-androgênio.

No inverno/primavera de 2002-2003 (nt.. do hemisfério norte) três trabalhos conectavam exposição a ftalatos à reduções na qualidade do sêmen. Todos eram de homens expostos a níveis de fundo e ambiental de ftalatos, não níveis ocupacionais, mais altos. Um deles demonstrou ter lesão no DNA no espermatozóide (DNA damage in sperm). Dois outros (um dos EUA - one from the US – e outro da Índia - other from India -) demonstraram reduções na qualidade dos espermatozóides como em homens com níveis levemente elevados de ftalatos. Estes níveis de ftalatos associados com o dano estão bem de acordo com a extensão de exposição experimentada por muitos americanos.

O debate sobre regulamentação e proteção à saúde pública.

Depois de alguns anos, o debate tem crescido na área da regulamentação sobre o que fazer quanto aos ftalatos. A indústria argumenta de que o uso do ftalato tem sido por anos sem haver danos visíveis, comprovando então de que o produto é seguro. Críticos se opõem demonstrando que os estudos com animais estabelecem riscos plausíveis, no entanto trabalhos epidemiológicos relevantes em humanos focados especificamente sobre o impacto da exposição fetal simplesmente não foram feitos. Eles apontam, além disso, para o fato que os resultados finais de saúde humana relacionados com os danos dos ftalatos são detectados em experimentos com animais. Eles também apontam de que certas exposições, particularmente aquelas associadas com crianças que mordem brinquedos amaciados de PVC e pacientes que recebem medicação intravenosa através de equipamentos feitos de PVC podem induzir a exposições muito elevadas. [O relatório dos CDCs, abaixo, acrescenta a esta lista uma preocupação de um fonte de alta exposição: fetos de mulheres grávidas que utilizam cosméticos contaminados com ftalatos.]

Os responsáveis pelas regulamentações européias deram o chute inicial neste debate (debate) quando começaram a levantar a possibilidade de banir brinquedos para crianças que continham DEHP. Este processo em movimento enfureceu o lobbying da indústria dos Estados Unidos querendo podar este banimento, mas um esforço que não só provou insucesso ultimamente na Europa, mas um que mediu forças nos EUA por uma conclamação foi o Consumer Products Safety Commission (nt.: Comissão de Produtos Seguros para Consumo) para uma suspensão voluntária das indústrias manufatoras dos EUA do uso dos ftalatos, não só em brinquedos e chupetas/mordedores e outros, mas também alguns assessórios médicos como cateteres, tubos e bolsas de sangue e soro. Várias grandes indústrias manufatoras de brinquedos dos EUA, incluindo Disney e Mattel, fizeram compromissos públicos (public commitments) apoiando esta suspensão.    

O debate pegou mais fogo nos EUA quando uma firma de Relações Públicas da indústria que se mascara como uma organização de saúde pública, a American Council on Science and Health (nt.: Conselho Americano em Ciência e Saúde) montou um painel para revisar a segurança dos ftalatos. Encabeçado pelo cirurgião aposentado General C.Everett Koop, o painel emitiu ao final um relatório falho que concluiu que os ftalatos são seguros.  Seu relatório falha ao considerar várias publicações chaves recentes e deturpa outro, citando este como declarando que não havia dano aos rins quando de fato a pesquisa não avalia este tipo de dano. Além disso, eles cometem um erro ainda mais básico ao aceitar a ausência de dados como prova de segurança. Ausência de dados prova somente ignorância. Uma crítica devastadora sobre este relatório foi publicado por Health Care Without Harm (nt.: Cuidados da Saúde sem Danos) (um arquivo PDF; um longo download em modems lentos).

A American Academy of Pediatrics (nt.: Academia Americana de Pediatria) entrou no debate em junho de 2003 emitindo um relatório (issuing a report in Pediatrics) em que recomenda pesquisas sobre os efeitos dos ftalatos tanto no feto como nos bebês. Sua revisão bibliográfica detectou que não há estudos diretamente dirigidos a estes períodos e que pesquisas com animais demonstram claramente danos além dos dados dos Us Centers for Disease Control-CDCs mostrando ser as exposições a ftalatos amplamente disseminadas, no país.

 

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, junho de 2005.