TENHO MEDO

 

Autora - Ivete Eifler, professora de português – Colégio Dom Bosco – Rio do Sul/SC. 

 

CAPITULO VI – DO MEIO AMBIENTE

 

Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (Constituição Federal de 1988).

 

 

Tenho medo

De que antes

D’eu saber o que é entropia

Já tenham roubado o futuro

Que o passado antevia.

E a química

Que vidas salvaria,

Pois também os transvia.

 

Tenho medo

De que o inferno onde haveria

Choro e ranger de dentes

Seja esta Terra um dia

Para nossos descendentes:

Mutilados, transtornados,

Sem cérebro, coxos, alados,

Homens hermafroditas,

Mulheres não mais benditas.

Sem poder gerar a vida,

Mesmo com aparências,

De certas deusas,

Esculpidas.

E o homem não mais olhará

Seu filho recém-nascido,

P’ra descobrir em seus traços, os traços seus repetidos.

 

Tenho medo

Do homem que ganha milhões

Na banal roleta-viva

Que ocorre na produção

Com hormônios assistida

E já não respeita estação,

E joga nas plantas veneno

P’ra apressar maturação.

Verá ele o inferno

De seus netos que virão

Com sexos em vez de sexo,

Machos sentindo-se fêmeas,

Ou fêmeas sem óvulo dentro?

Verá pássaros sem alegria,

Sem orientação que os trazia,

Aos encontros, cópulas, magia,

De onde a vida surgia?

 

 

Tenho medo

De que os “deuses” que criamos,

Como no mito de Midas,

Nos lancem suas vinganças,

E na terra ressequida

No meio de tanto dinheiro,

Nos falte a simples comida,

Ou nos privem da esperança

De um pouco de água limpa.

 

Tenho medo

De ver rompida algum dia

A teia que sustenta a vida,

Antes de lhe conhecermos

Cada fio que dá sentido.

 

Tenho medo

De que os monstros

do imaginário passado

venham a ser os humanos em nosso futuro roubado.