“TIME”, semanário norte-americano de 01/mar/99 - SAÚDE

PLÁSTICOS VENENOSOS   ?

  Por Jeffrey Kluger.  

Alguns filmes de plástico em rolo para embalar alimentos, brinquedos para nenês e mesmo bolsas plásticas utilizadas para soro e transfusão de sangue, podem estar impregnadas - e liberando - substâncias tóxicas.  

            Sem dúvida que os filmes plásticos que embalam os alimentos não irão nos matar, como logicamente não se está em perigo iminente em razão dos vasilhames plásticos que se guardou o espaguete do jantar de ontem. Da mesma forma como a bolsa plástica da qual se recebeu sangue uma vez na vida, através de uma transfusão.

            Entretanto, crescem cada vez mais as evidências de que substâncias químicas incorporadas na elaboração de plásticos podem estar migrando das embalagens para os alimentos, tanto líquidos como sólidos, e que acabam contaminando nossos organismos. E uma vez aí, podem de fato causar-nos lesões. É isto o que um grupo de organizações ambientalistas, muito ativas, estão afirmando e cada vez mais a comunidade médica começa a lhes dar mais atenção.

            Os produtos plásticos que estão gerando maiores temores são os fabricados com “PVC”, conhecido pelo nome técnico de “polivinil cloreto”. É que seus fabricantes, para torná-lo mais maleável, agregam em sua elaboração substâncias plastificantes conhecidas pelo nome técnico de “ftalato”. Presentes nos plásticos acabam se liberando de sua estrutura e lixiviam facilmente das embalagens. Nos USA são milhões de bolsas plásticas para soro e sangue, utilizadas anualmente, e feitas com PVC. Estando as bolsas contaminadas com “ftalatos”, estas moléculas podem ser transferidas aos pacientes quando seus “cateteres” são introduzidos em suas veias. Estudos feitos com animais sugerem que os “ftalatos” podem causar danos ao fígado, coração, rins e testículos, além de poderem ser cancerígenos. “Não conhecemos os mecanismos de sua toxicidade”, diz Charlotte Brody, enfermeira profissional que coordena a organização de defesa “Health Care Without Harm” (nt.: Prevenção de Saúde sem Agressão), da cidade de “Fall Church” na Virgínia. “No entretanto, as evidências são perturbadoras.”

            Não são somente os pacientes dos hospitais que estão sob risco. Outros produtos plásticos - de filmes utilizados para embalar alimentos a brinquedos infantis - contém outros tipos de plastificadores similares aos “ftalatos” e conhecidos em inglês pela expressão técnica “adipate”. Estudo feito pela organização independente “Consumer’s Union” (nt.: União dos Consumidores) constatou que queijo embalado com plástico nas lojas de “delicatessen” contém altos níveis desta substância. Da mesma forma outros produtos comerciais embalados com estes materiais estão contaminados, mesmo que com pequenos traços, mas perfeitamente mensuráveis. Entre os brinquedos infantis, alguns pelo menos são para crianças que estão na fase de dentição o que desperta maior preocupação. Isto porque eles passam mais tempo na boca dos nenês do que em suas mãos. Principalmente porque tanto seus danos imediatos como seus efeitos cumulativos são complemente desconhecidos. A maneira como as atuais descobertas estão aparecendo, faz com que grupos como os de Charlotte Brody considere-os que já são suficientes para a tomada de decisões. Alguns hospitais na Europa já querem bolsas e complementos livres-de-PVC. Grupos ativistas dos USA exigem que se vá por este mesmo caminho. De outro lado, os fabricantes de PVC objetam esta posição. Insistem de que seus produtos são seguros. Afirmam também que os animais analisados nos estudos com plásticos mostraram níveis muito mais altos de PVC do que a pessoa humana poderia absorvê-los. No entanto em pelo menos um dos experimentos, ratos receberam deliberadamente doses menores de PVC e mesmo assim apresentaram os efeitos de seus danos. O “Abbott Laboratories”, um dos fabricantes de PVC, admite que dispõe de poucos dados para tirar conclusões, mas que alguns de seus produtos, como bolsas para soro ou transfusões, devem passar a ter uma etiqueta de advertência sobre este risco. Já os utensílios domésticos são menos preocupantes. Os consumidores podem procurar filmes para embalamento feitos com polietileno em vez de PVC. Para que se tenha mais segurança, os alimentos não devem ser colocados em aparelhos de microondas envolvidos em quaisquer filmes de plástico já que a migração dos plastificadores (“adipates”) é muito rápida. Tigelas plásticas feitas para o emprego em microondas são provavelmente mais seguras do que aquelas que não foram fabricadas para esta finalidade. No entanto melhor mesmo é utilizar materiais de vidro ou de porcelana. Além disto muito pouco podem os consumidores fazer. “A indústria desenvolve estes produtos em função de suas características físicas”, diz Peter Orris, professor de medicina interna junto ao “Cook County Hospital” em Chicago, “sem nunca testarem em relação a sua toxicidade humana.” Da maneira como as coisas estão, parece que estes testes são sendo realizados com as pessoas humanas. 

FAÇA O MAIS SEGURO  

Não há nada que se possa fazer quanto aos tóxicos dos plásticos nas bolsas de transfusão ou de soro. No entanto quanto aos venenos em nossa cozinha passa a ser outra história.

Pequenos cuidados podem reduzir, se não evitar, estes riscos:

· eliminar as fatias externas de queijos e de carnes embalados em filmes plásticos;

· guardar as sobras dos alimentos em tigelas fundas para impedir o contato destes filmes com os alimentos;

· não colocar nunca alimentos no microondas em quaisquer tigelas plásticas que não sejam  seguras para

este tipo de utilização.

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha,abril/1999