O FIM DA ERA DOS ESTROGÊNIOS?

As mulheres foram informadas, por décadas, que a terapia de reposição hormonal iria protegê-las de doenças do coração e preservaria suas juventudes. Agora a evidência é de que esta era está terminada.

Por Geoffrey Cowley e Karen Springen.

NEWSWEEK, Especial Double Issue, Julho, 22-29, 2002.

A menopausa pode ser um evento natural, mas a medicina convencional nunca a encarou como um fato auspicioso.

“Os anos da era do climatério são os mais sombrios do tempo do casamento”, declarava o médico da então Checoslováquia Arnold Lorand  em seu clássico “Old Age Deferred”, de 1910. “Não só para a mulher, que é diretamente afetada por ele, mas também,  em quase idêntico grau, o marido, que precisa demonstrar uma imensa paciência.” Felizmente haveria boas novas para as mulheres na menopausa “se só ela é o elemento inteligente para o seu sexo”. Lorand havia descoberto que extrato de ovários de porcas “poderia jogar a velha idade para a memória dos tempos”. Ou, pelo menos, “mitigar seus efeitos quando ela se expressar com todos os seus terrores”. Lá pelos anos quarenta, as indústrias químicas de medicamentos passam a produzir, em laraga escala, estrogênio originário da urina de éguas prenhes (daí em diante com o nome comercial “Premarin”). E em 1960, na edição de agosto do New England Journal of Medicine, era recomendada esta molécula para “todas aquelas pessoas que apresentassem deficiência estrogênica” – o que quer dizer virtualmente para todas as mulheres com mais de 50 anos. No ano passado (nt.: 2001), os farmacêuticos liberaram em torno de 45 milhões de prescrições de Premarin nos EUA e outras 22 milhões para Prempo que é a mesma droga, amenizada com progestina.

        Pequena maravilha, até então. Na última semana novos dados sobre esta terapia de reposição hormonal (nt.: TRH, em português ou HRT-hormone-replecement therapy em inglês) suspende a respiração de todos. Não era só um trabalho isolado que contradizia esta terapia fazendo-a retornar às manchetes jornalísticas. As áreas oficiais de saúde nos EUA anunciaram na última semana (nt.: metade de julho de 2002) que a comissão nomeada para avaliação da HRT define finalmente que o Prempo faz significativamente mais danos do que benefícios quando ministrado por um longo período. Às mulheres havia sido dito por décadas que estrogênio ingerido com progestina poderia não só aliviar o fogacho, os calorões e a insônia, mas auxiliá-las a preservar a rigidez dos ossos, a acuidade mental e, mais importante, o coração saudável. Não há dúvidas de que a TRH pode atenuar os sintomas agudos da menopausa. No entanto, a afirmativa sobre a higidez dos ossos precisa passar por um exame minucioso. Depois do acompanhamento de mais de 16 mil mulheres por aproximadamente cinco anos, os pesquisadores detectaram conclusivamente que os hormônios em Prempo aumentavam o risco quanto a ataques do coração, derrames cerebrais, coágulos sangüíneos e câncer de mama. A dra. Joann Manson, especialista em saúde da mulher junto à Harvard Medical School, define este fato como “o abalo sísmico mais dramático que já vi em medicina clínica”.

        As descobertas não rejeitam o Prempo como medicamento de emprego por curto prazo para os sintomas da menopausa. E eles não são aplicáveis para mulheres que tomam estrogênio sem progestina seguindo histerectomia (nt.: remoção do útero). Mas para milhões de mulheres que estavam na dúvida quanto aos prós e contra da TRH por longo prazo, as novas descobertas oferecem uma clareza sem precedentes. Até recentemente, as pesquisas disponíveis sugeriam que a TRH em longo prazo seria uma benção para a saúde das mulheres. Quando os cientistas acompanharam grandes grupos de mulheres durante os últimos anos, aquelas que utilizavam estes hormônios já pareciam experimentar melhoras. 

 

http://www.thyroid-info.com/articles/hurlock.htm