Convocação para regular substâncias químicas que interferem no masculino.  

Cientistas pressionam para frear urgentemente os disruptores endócrinos.


Alok Jha, correspondente científico
Segunda feira, 20 de junho de 2005
The Guardian, England.

Cientistas apelarão, hoje, aos líderes europeus para uma ação urgente para que se apresse na regulamentação de centenas de substâncias químicas, largamente utilizadas em todo o continente, que afetam o gênero masculino.

 

Os efeitos danosos destas substâncias – chamadas de disruptores endócrinos – têm elevado a preocupação sobre elas, em anos recentes. No entanto, este movimento de hoje será a primeira vez em que a comunidade científica leva esta sua preocupação a políticos e ao público em geral.

A Declaração de Praga, denominada depois de um encontro, na República Tcheca, de mais de 100 toxicologistas e químicos no último mês (maio de 2005) terá seu lançamento hoje em Bruxelas. Afirmará de que a legislação sobre o uso seguro de substâncias químicas não vai longe o suficiente além de falhar em evidências científicas sobre os efeitos danosos que estes químicos causam, não podendo-se mais adiar uma ação política.

"Muitos destes químicos podem afetar o desenvolvimento desde o útero”, diz  Andreas Kortenkamp, um toxicologista da London University's School of Pharmacy e um dos signatários da declaração. "O problema é que estes efeitos não são detectados nas análises de rotina”, afirma.

Os disruptores endócrinos fazem parte de um grupo de várias centenas de substâncias químicas – tais como o policloreto befenilas (PCBs) e as dioxinas – utilizados em tudo, dos agrotóxicos aos retardadores de chamas, e dos cosméticos aos fármacos. Alguns deles alteram a função de hormônios em animais, inclusive bloqueando sua ação normal ou interferindo no como eles são produzidos nos organismos. E vão desde os hormônios que regulam atividades como o crescimento e o desenvolvimento, sendo seu potencial de danos bem claro.

A conexão entre estas substâncias e os efeitos deletérios na vida selvagem está bem definida: ursos polares pseudo-hermafroditas com micro-pênis, panteras com testículos atrofiados e trutas machos com ovas crescendo em seus testículos. Todos fatos bem documentados como resultado provável dos disruptores endócrinos presentes no ambiente.

“A vida selvagem têm trazido, há muito tempo, alertas sobre os efeitos gerados pelos disruptores endócrinos e que podem ainda não ser observados em seres humanos,” diz a declaração.

Cientistas têm suspeitado, há longo tempo, que a presença destes químicos é também responsável pela alta prevalência de problemas de fertilidade em homens europeus e pelo crescimento de cânceres de mama e testicular.

No último mês, cientistas na América do Norte (nt.: ver Swan et al.) confirmam este temor de que uma classe de químicos conhecidos como ftalatos – utilizados para deixar os plásticos mais maleáveis  – causam danos ao desenvolvimento de meninos ainda no útero materno. Pesquisadores já sabem há tempos que altas doses desta substância são danosas, mas este último trabalho sugere que mesmo em níveis normais – aqueles comumente encontrados em brinquedos, sacolas plásticas e filmes plásticos para alimentos – podem causam rupturas no desenvolvimento de órgãos reprodutivos dos machos.

“Nosso interesse é aclarar a necessidade de se tratar na regulamentação da União Européia os disruptores endócrinos”, diz o Dr. Kortenkamp.

A próxima legislação da UE sobre segurança das substâncias químicas  - conhecida como REACH (Registration, Evaluation and Authorisation of Chemicals) – têm algumas cláusulas sobre disruptores endócrinos, mas os cientistas estão preocupados de que as propostas não vão longe suficiente.

Eles dizem que enquanto a UE investe dinheiro para detectar como os disruptores endócrinos lesionam animais e plantas, há pouco sobre o que se fará com estes resultados.

O Dr Kortenkamp diz que deve haver mais procedimentos sistemáticos tanto para identificação como para o controle no uso dos disruptores endócrinos. “O nível de prova requerido no REACH é muitíssimo alto – podem ser identificados somente químicos onde já se tem mais ou menos a comprovação que existem efeitos,” diz ele.

"Isto, na nossa opinião, não é bom suficiente. Nós sentimos que precisamos agir rápida e prontamente mesmo que algumas das evidências não sejam tão explícitas.”

Nem o REACH considera os efeitos potenciais do coquetel destes químicos. “Se continuarmos avaliando as substâncias uma a uma, podemos correr o risco de concluir erroneamente que não existam efeitos,“ diz o Dr. Kortenkamp.

A declaração estanca por um tempo a sugestão de banir as substâncias químicas disruptoras endócrinas. “A ação reguladora pode significar alguma coisa desde a rotulagem a um fim bem suave até um banimento com um final bem drástico,” diz o Dr. Kortenkamp.


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Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, 29 de junho de 2005.