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Convocação para regular
substâncias químicas que interferem no masculino.
Cientistas apelarão, hoje, aos líderes europeus para uma
ação urgente para que se apresse na regulamentação de centenas de substâncias
químicas, largamente utilizadas em todo o continente, que afetam o gênero
masculino.
Os
efeitos danosos destas substâncias – chamadas de disruptores endócrinos
– têm elevado a preocupação sobre elas, em anos recentes. No entanto,
este movimento de hoje será a primeira vez em que a comunidade científica
leva esta sua preocupação a políticos e ao público em geral. A Declaração de Praga, denominada
depois de um encontro, na República Tcheca, de mais de 100 toxicologistas
e químicos no último mês (maio de 2005) terá seu lançamento hoje em Bruxelas.
Afirmará de que a legislação sobre o uso seguro de substâncias químicas
não vai longe o suficiente além de falhar em evidências científicas sobre
os efeitos danosos que estes químicos causam, não podendo-se mais adiar
uma ação política. "Muitos destes químicos podem
afetar o desenvolvimento desde o útero”, diz Andreas Kortenkamp, um toxicologista da London University's School of Pharmacy e um dos signatários da declaração.
"O problema é que estes efeitos não são detectados nas análises de
rotina”, afirma. Os disruptores endócrinos fazem
parte de um grupo de várias centenas de substâncias químicas – tais como
o policloreto befenilas (PCBs) e as dioxinas – utilizados em tudo, dos
agrotóxicos aos retardadores de chamas, e dos cosméticos aos fármacos.
Alguns deles alteram a função de hormônios em animais, inclusive bloqueando
sua ação normal ou interferindo no como eles são produzidos nos organismos.
E vão desde os hormônios que regulam atividades como o crescimento e o
desenvolvimento, sendo seu potencial de danos bem claro. A conexão entre estas substâncias
e os efeitos deletérios na vida selvagem está bem definida: ursos polares
pseudo-hermafroditas com micro-pênis, panteras com testículos atrofiados
e trutas machos com ovas crescendo em seus testículos. Todos fatos bem
documentados como resultado provável dos disruptores endócrinos presentes
no ambiente. “A vida selvagem têm trazido, há
muito tempo, alertas sobre os efeitos gerados pelos disruptores endócrinos
e que podem ainda não ser observados em seres humanos,” diz a declaração.
Cientistas têm suspeitado, há longo
tempo, que a presença destes químicos é também responsável pela alta prevalência
de problemas de fertilidade em homens europeus e pelo crescimento de cânceres
de mama e testicular. No último mês, cientistas na América
do Norte (nt.: ver Swan et al.)
confirmam este temor de que uma classe de químicos conhecidos como ftalatos
– utilizados para deixar os plásticos mais maleáveis – causam danos ao desenvolvimento de meninos ainda no útero materno.
Pesquisadores já sabem há tempos que altas doses desta substância são
danosas, mas este último trabalho sugere que mesmo em níveis normais –
aqueles comumente encontrados em brinquedos, sacolas plásticas e filmes
plásticos para alimentos – podem causam rupturas no desenvolvimento de
órgãos reprodutivos dos machos. “Nosso interesse é aclarar a necessidade
de se tratar na regulamentação da União Européia os disruptores endócrinos”,
diz o Dr. Kortenkamp. A próxima legislação da UE sobre
segurança das substâncias químicas -
conhecida como REACH (Registration, Evaluation and Authorisation of Chemicals)
– têm algumas cláusulas sobre disruptores endócrinos, mas os cientistas
estão preocupados de que as propostas não vão longe suficiente. Eles dizem que enquanto a UE investe
dinheiro para detectar como os disruptores endócrinos lesionam animais
e plantas, há pouco sobre o que se fará com estes resultados. O Dr Kortenkamp diz que deve haver
mais procedimentos sistemáticos tanto para identificação como para o controle
no uso dos disruptores endócrinos. “O nível de prova requerido no REACH
é muitíssimo alto – podem ser identificados somente químicos onde já se
tem mais ou menos a comprovação que existem efeitos,” diz ele. "Isto, na nossa
opinião, não é bom suficiente. Nós sentimos que precisamos agir rápida
e prontamente mesmo que algumas das evidências não sejam tão explícitas.” Nem o REACH considera
os efeitos potenciais do coquetel destes químicos. “Se continuarmos avaliando
as substâncias uma a uma, podemos correr o risco de concluir erroneamente
que não existam efeitos,“ diz o Dr. Kortenkamp. A declaração estanca
por um tempo a sugestão de banir as substâncias químicas disruptoras endócrinas.
“A ação reguladora pode significar alguma coisa desde a rotulagem a um
fim bem suave até um banimento com um final bem drástico,” diz o Dr. Kortenkamp.
Tradução
livre de Luiz Jacques Saldanha, 29 de junho de 2005.
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