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22/11/2006 - 11h11



Saúde: Cientistas unidos contra químicos cancerígenos

Por Julio Godoy, da IPS



img“Quando digo ftalatos, a maioria das pessoas pensa em sacos plásticos e brinquedos para crianças, mas aexposição procede dos cosméticos”, relevou o médico. “Dos cremes e óleos que são passados na pele, uma parte substancial é absorvida e entra na corrente sangüínea e afeta todos os órgãos, daí vem a exposição aos ftalatos”, explicou Leffers. Os cientistas também destacaram a necessidade de uma reforma radical nas políticas agrícolas européias, que passe da atual ajuda financeira à produção em massa para uma agricultura orgânica, sem pesticidas e outros componentes químicos.

 

 

Paris, 22/11/2006 – Cientistas europeus, entre eles vários ganhadores do prêmio Nobel de Medicina, pediram urgência a instituições internacionais e aos governos do Norte industrializado na adoção de medidas drásticas contra o uso de substâncias químicas perigosas para a saúde humana. No Chamado de Paris, os cientistas reclamam uma “proibição da utilização de produtos cujo caráter cancerígeno, mutante ou reprotóxico no homem é certo ou provável, segundo o definido pelas instâncias ou organismos científicos internacionais competentes”.

Os especialistas destacaram que esses produtos, apesar do risco provado que apresentam, estão presentes em pesticidas e outros produtos muito usados na agricultura intensiva; em muitos artigos eletrônicos de uso doméstico; nos cosméticos e, inclusive, em medicamentos. O Chamado de Paris, apresentado oficialmente no começo deste mês na capital francesa, foi originalmente formulado em 2004 em uma reunião da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Na nova versão, os autores propõem 164 medidas para reduzir drasticamente a contaminação química.

“As enfermidades crônicas registradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), especialmente o câncer, aumentam de forma alarmante”, alerta o documento. “A deterioração geral da saúde é o preço que devemos pagar pela contaminação que produzimos”, disse à IPS Dominique Belpomme, oncologista francês e promotor da iniciativa. “O conceito de desenvolvimento sustentável não é suficiente para compensar os perigos da contaminação para a saúde. Necessitamos vincular o conceito de saúde sustentável, indivisivelmente relacionado com uma política ambiental real”, afirmou.

Entre os signatários do chamado destacam-se os franceses ganhadores do Nobel de Medicina Jean Dausset (1980) e François Jacob (1965), bem como outros cientistas europeus que representam a quase totalidade das associações de medicina dos 25 países-membros da União Européia; centenas de organizações não-governamentais e cerca de 150 mil cidadãos da UE. A iniciativa coincide com a próxima sessão do Parlamento Europeu que aprovará, em meados de dezembro, de forma definitiva, a nova norma a este respeito, o sistema de Registro, Avaliação e Autorização de Químicos (Reach).

“A Reach dará proteção de alto nível para a saúde humana e ao meio ambiente”, segundo a Comissão Européia, órgão executivo da UE. “Ao mesmo tempo, melhorará a competitividade da indústria química do bloco ao incentivar a inovação e garantir altos padrões de segurança para seus produtos”, acrescentou o organismo. Com o Reach não se permitirá o uso continuo de químicos que tenham certo nível de periculosidade, exceto nos casos em que desempenhem um papel essencial e não haja alternativas efetivas.

No Chamado de Paris, Belpomme e seus colegas cobram da UE que “reforce o programa Reach para assegurar a substituição dos químicos mais perigosos para o homem por outros que não sejam tão prejudiciais”. O documento exorta o resto do mundo a adotar o “regulamento internacional para controlar a comercialização de químicos de acordo com o programa Reach em sua versão melhorada”. O documento também reclama maior atenção para os perigos que supõe para a saúde os pesticidas e os ftalatos, que são aditivos químicos muito utilizados em plásticos, artigos domésticos, medicamentos e cosméticos, em geral para que sejam mais suaves e flexíveis.

Novas pesquisas revelam que “muitos recém-nascidos estão expostos, desde que nascem, a mais de 200 substâncias químicas”, disse Belpomme. “Mais de 75% dos casos de câncer se devem à contaminação química”, acrescentou. “Encontrei mais de 300 substâncias químicas no sangue do cordão umbilical de recém-nascidos. Estas são responsáveis por perturbações endócrinas, desde más-formações genéticas até problemas de crescimento e desenvolvimento cerebral, disse, por sua vez, à IPS, Charles Sultan, toxicologista da cidade francesa de Montpellier. Semelhantes achados aconteceram em outras partes da Europa.

Henrik Leffers, pesquisador do Departamento de Crescimento e Reprodução, do Hospital da Universidade de Copenhague, e integrante do grupo que apresentou o Chamado de Paris, destacou que a exposição humana aos ftalatos constitui “uma causa importante de envenenamento por substâncias químicas”. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisa de Segurança Sanitária, da França, cerca de três milhões de toneladas de ftalatos são produzidos anualmente no mundo. “Dos estudos em animais, há cada vez mais provas de que os ftalatos constituem uma ameaça para a saúde”, disse Leffers.

“Quando digo ftalatos, a maioria das pessoas pensa em sacos plásticos e brinquedos para crianças, mas a exposição procede dos cosméticos”, relevou o médico. “Dos cremes e óleos que são passados na pele, uma parte substancial é absorvida e entre na corrente sangüínea e afeta todos os órgãos, daí vem a exposição aos ftalatos”, explicou Leffers. Os cientistas também destacaram a necessidade de uma reforma radical nas políticas agrícolas européias, que passe da atual ajuda financeira à produção em massa para uma agricultura orgânica, sem pesticidas e outros componentes químicos.

(IPS/Envolverde)