http://pubs.acs.org/doi/pdf/10.1021/es063019w
07 de junho de 2006
Químico Presente em Plásticos Altera Cérebro das Fêmeas
Pesquisa renova debate sobre a toxicidade do Bisfenol A, um químico presente em plásticos e detectado em humanos.
Foi constata em uma substância química que lixivia dos plásticos, sua capacidade de modificar o desenvolvimento dos cérebros de ratas fêmeas que mais tarde se comportam muito mais como seus irmãos. Este último estudo amplia-se em crescente volume de literatura sobre a toxicidade do Bisfenol A (nt.: sigla em inglês BPA-bisphenol A), aumentando as questões sobre seus efeitos em humanos.
Baixas doses de Bisfenol A fazem com que rata fêmea comportarem-se como machos.
Em 1936, pesquisadores observaram que o BPA atuava como o hormônio feminino, estrogênio. Os cientistas estimam que, atualmente, mais do que 3 milhões de toneladas desta molécula são manufaturadas para o emprego em produtos como a resina plástica policarbonato – utilizada para laminar as latas para alimentos – como selantes odontológicos. Citando o princípio da precaução, os supervisores da cidade de San Francisco, recentemente (nt.: junho de 2006), baniram esta substância para o uso em produtos, como as mamadeiras, que são dirigidos para crianças abaixo de três anos de idade.
Em seu ultimo estudo (study), publicado no semanário Endocrinology, Beverly Rubin, um professor de biologia celular associado à Universidade de Tufts, e seus colegas introduziram pequenas bombas no interior de camundongos fêmeas. Do oitavo dia de prenhes até o décimo sexto de aleitamento, essas bombas liberavam doses BPA no interior das mães. Esse período é crítico porque no oitavo dia de desenvolvimento, o embrião começa a formar os neurônios na região do cérebro que é crítico para o comportamento sexual.
O mais importante, diz Rubin, é que as concentrações administradas foram muito reduzidas. Uma parcela das mães foi exposta a dose de 250 nanogramas por quilo por dia (ng/kg/dia), enquanto a outra parcela foi dosada com somente 25 ng/kg/dia.
“Os níveis de BPA que foram usados serem dentro da média que se estima detectar em seres humanos”, diz o pesquisador. No ano de 2005, o CDC/Centers for Disease Control and Prevention (nt.: equivalente ao Ministério da Saúde no Brasil) reportou (reported) que 95% dos norte-americanos excretavam pelo menos 100 partes por trilhão (ppt) de BPA em suas urinas.
Os cientistas então examinaram os cérebros e os comportamentos das novas gerações de camundongos. Na seção do cérebro que controla o ciclo sexual, as fêmeas tinham 2 a 3 vezes neurônios a mais do que os machos. No entanto, as fêmeas que foram expostas ao BPA ainda no ventre materno tinham menos neurônios do que o usual nesta área do cérebro. Elas são tipicamente muito mais energéticas do que machos, mas os níveis de atividade daquelas expostas não só caiu duplamente como também espelhavam a de seus irmãos machos.
“Nós detectamos que as diferenças entre machos e fêmeas, pelo menos para esses dois marcadores, foram obliterados”, acrescenta Rubin.
Steven Hentges, diretor executivo do Conselho Norte-americano dos Plásticos (American Plastics Council), diz que achou pouco importante o que foi considerado nesta pesquisa. “Esse estudo é de limitada relevância para a saúde humana”, diz ele.
“Estamos dentro da média de exposição humana”, diz Ana Soto, professora de biologia celular da Universidade de Tufts e co-autora da pesquisa. Ela aponta que outros estudos detectaram que o BPA pode levar a problemas do trato reprodutivo tanto em machos como em fêmeas de roedores. “Há uma grande quantidade de evidências agora que baixas doses conduzem a esses problemas”, acrescenta ela.
Alguns estudos têm reportado sobre como o BPA pode danificar os seres humanos. Somente um estudo (study) detectou de que a exposição ao BPA está associada com abortos recorrentes.
Por quase duas décadas, Fred vom Saal, professor de biologia na Universidade de Missouri, investigou as substâncias químicas que alteram o sistema hormonal. “As descobertas reportadas neste estudo mostram mudanças permanentes no cérebro em doses que vão de 2 mil a 20 mil vezes mais baixas do que aquela estimada como segura”, diz ele. Em janeiro (nt.: 2006), vom
Saal publicou um artigo (article) que examinava 120 materiais sobre o BPA. Desses estudos, 109 detectaram efeitos em animais de laboratório em baixas doses – 40 daquelas concentrações abaixo do nível de segurança recomendado (recommended safe level) pela EPA dos 50 microgramas/kg/dia.
No entanto, ele relata que 11 pesquisas financiadas pela indústria não foram detectados efeitos do BPA.
E em um material (paper) publicado no Cancer Research, os cientistas descobriram que o BPA pode alterar permanentemente o DNA em ratos. Como no estudo de Rubin, os pesquisadores expuseram os fetos de ratos ao BPA nos níveis similares àqueles detectados em seres humanos. Quando mais tarde foram testados, os ratos machos tinham o DNA com um padrão de metilação alterado. Os grupos metílicos atuam como interruptores e quando ligados ao DNA podem interromper a expressão do gene. Neste caso, a metilação excessiva ocorreu sobre os genes que regulam a função da próstata, glândula que é influenciada por hormônios. Ratos com este padrão de metilação alterado mostraram um incremento na incidência de lesões pré-cancerosas da próstata.
Comentando a pesquisa de Rubin, Scott Belcher, professor associado de farmacologia na Universidade de Cincinnati, diz que o estudo fez um excelente trabalho ao medir as respostas a baixas doses nos estudos do comportamento clássico e neuro-anatômico.
No ultimo dezembro (nt.: 2006), Belcher publicou um artigo no semanário Endocrinology relatando que os cérebros dos ratos foram afetados pelo BPA em doses abaixo de 1 ppt. “Foi surpreendente ver como os efeitos estavam correlacionados com os níveis que foram detectados em seres humanos”, diz ele. — PAUL D. THACKER (nt.: jornalista especializado em ciências, medicina e meio ambiente)
Tradução livre Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2010