24/09/2007 - 11h09


Comunidade científica indignada com venda das florestas brasileiras

Por Redação da Portugal Digital

“Tenho absoluta certeza que o exemplo, mais uma vez, mostra que o Brasil continua não sabendo gerenciar sua floresta. Estão, agora, privatizando a floresta. Não pensam no futuro".

Brasília - O geógrafo Aziz Ab'Saber, presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e professor emérito do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), criticou o anúncio feito sexta-feira (21) pelo Ministério do Meio Ambiente da primeira área pública a ser licitada para concessão, a Floresta Nacional (Flona) do Jamari, em Rondônia.

“Tenho absoluta certeza que o exemplo, mais uma vez, mostra que o Brasil continua não sabendo gerenciar sua floresta. Estão, agora, privatizando a floresta. Não pensam no futuro. Tenho raiva da ignorância ambiental que existe nesse governo. Estou indignado”, frisou Ab'Saber. Aos 83 anos, ele ressaltou que o anúncio feito pela ministra Marina Silva é uma das “maiores tristezas” de sua vida.

Segundo ele, a exploração de áreas ditas auto-sustentáveis “é uma ação anti-brasileira em relação à biodiversidade”, e o aluguel de Flonas para particulares “é um absurdo”. Para Ab'Saber, as áreas serão exploradas por organizações não-governamentais estrangeiras e vão gerar pouca renda para as comunidades locais.

“Minha indignação está relacionada com os conhecimentos que tenho da Amazônia, que são de várias décadas. Quando começarem a exploração das Flonas, vamos ter uma destruição progressiva da Amazônia. Mas, minha maior indignação é por saber que, dentro do Ministério do Meio Ambiente, ninguém entende de exploração auto-sustentada de florestas tropicais”, afirmou ele, em entrevista por telefone à Agência Brasil.

Para Ab'Saber, o melhor manejo para a floresta envolveria o reaproveitamento de áreas já devastadas, a partir da borda da floresta, para o plantio e o uso do solo.

A unidade de conservação do Jamari tem 220 mil hectares de extensão, dos quais 90 mil serão alvo da concessão. A exploração da floresta prevê pagamento pelo usos dos recursos naturais e manejo sustentável, que é a retirada de uma quantidade de produtos que não prejudiquem a recuperação da mata. Dentro da área podem ser explorados madeira, frutos, sementes, resinas, óleos etc. Também serão permitidas atividades de serviços como turismo ecológico.

A licitação irá levar em contra os critérios de preço e técnica. Danificar o menor número de árvores e criar o maior número de empregos diretos, por exemplo, são itens que podem fazer a diferença na pontuação entre os concorrentes. A concessão de florestas públicas pode ser liberada por um período que vai de cinco a 40 anos. Podem participar das licitações empresas brasileiras, independentemente da origem do capital, desde que estejam instaladas no país. As informações são da Agência Brasil.

Crédito de imagem: Universia
(Envolverde/Portugal Digital)

 

 

Últimos Comentários

Ricardo Gama ( [email protected] )
Numa sexta-feira, dia 21.09.2007, com a tradicional forma de agir tendente a fazer o mínimo de alarde possível, nossos governantes deram mais um passo em direção à submissão e dependência, em troca de dinheiro rápido (destinado sabe-se lá para onde).

Trata-se do avanço de uma política pública ambiental que reflete uma piada (de extremo mau gosto), da qual uma das iniciativas é o “Plano Amazônia Sustentável”, promovido pelo Ministério do Meio Ambiente, que tem como uma de suas bases a discutível Lei de Gestão de Florestas Públicas. Estranhamente, com a mesma brevidade com que foi tratado o assunto pelo governo, a questão foi abordada pela mídia em geral.

Com base em uma política ambiental preguiçosa, o Poder Executivo Federal entendeu por bem anunciar à sociedade que irá licitar para a exploração privada (nacional e internacional), uma área de 90 mil hectares da Floresta Nacional do Jamari, em Rondônia, cuja identificação técnica sequer foi realizada.

O argumento principal que embasa a atitude imediatista, desidiosa e mau-caráter da máquina executiva governamental dirige-se para a alegação de que se não houver concessão para uso sustentável das florestas da Amazônia para a iniciativa privada, os demônios do capital irão destruir todos os recursos naturais. Assim, pelo menos, a destruição será mais comedida e beneficiará as populações tradicionais locais.

Em vista da incompetência para fiscalizar os bens ambientais de forma a garantir a implementação efetiva das bonitas palavras incorporadas no artigo 225 e seus parágrafos da retalhada Constituição Federal, o governo pretende simplesmente jogar a administração de mais este patrimônio público (bem de uso comum do povo) para a faminta iniciativa privada, assim como fez com as telecomunicações, bancos e muitos outros setores, e pretende fazer com a saúde (fundações privadas de saúde) e o controle da aviação civil.
Ora, ao transferir suas responsabilidades àqueles que não possuem compromisso com a manutenção do meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações (art. 225, CF), o Estado brasileiro evidencia mais uma face de sua crise funcional e existencial que, a cada dia, torna mais desnecessária e injusta a sua existência e manutenção.

Mister se faz que a sociedade que pensa e age se oponha rapidamente a esta barbárie, impedindo o loteamento de nossas florestas em troca de dinheiro rápido para aqueles que estão no poder e da tão falada e repudiada (pelo menos pelos brasileiros) internacionalização da Amazônia. Na prática esta será a principal conseqüência dos irresponsáveis atos governamentais, pois quem vocês acham que terão mais condições de vencer as licitações para “manejo sustentável das florestas”?? Certamente não serão os povos tradicionais, nem os bem intencionados ecologistas, mas sim aqueles entes transnacionais que passaram os últimos séculos concentrando riquezas e esperando ansiosos por este momento.

Roberto M.F. Mourão ( [email protected] )
Concordo com a posição do cientista Aziz Ab'Saber. Porque não reflorestar ou dar uso sustentável as extensas áreas devastadas com ajuda de entidades internacinais - como por exemplo, o Banco Mundial, que durante o governo (?) militar, a titulo de promover o povoamento regional, praticamente destruiu a região ao longo da Rodovia 364, em Rondônia. Não seriam essas terras aproveitáveis para uma recuperacao séria e sustentável, inclusive para culturas de oleaginosas para biodieses, como tanto propagandeia o governo federal?