|
O lado sombrio dos bronzeadores solaresScience News, 18 de Janeiro de 2006
Novas pesquisas suíças demonstram que os mesmos componentes que nos protegem da radiação ultravioleta podem também ser disruptores endócrinos bioacumulando-se em peixes. Em um estudo publicado na Research ASAP website da Environment Science &Thecnology hoje (10.1021/es052088s), uma equipe de cientistas relatou altas concentrações de ingredientes de dois bronzeadores solares em amostras de tecidos de peixes coletadas em rios no norte da Suíça. Estas descobertas implicam que, em um quente dia de verão, a chance é caso as pessoas tenham aplicado em seus corpos bronzeadores solares é muito provável que também vão acabar ingerindo-os na água potável ou no prato de peixe do jantar
. Novas descobertas mostram que ingredientes de bronzeadores solares, suspeitos de serem disruptores endócrinos, bioacumulam-se em peixes. Apesar de tanto a Europa como os EUA terem cuidados sobre a proteção do consumidor quanto aos produtos inibidores de UV, as agências reguladoras têm colocado pouca ênfase nos riscos ambientais que eles trazem. Muitas das loções, batons para os lábios e outros cosméticos que nós empregamos para nos proteger dos efeitos deletérios da excessiva exposição solar contém compostos químicos que absorvem a radiação ultravioleta (UV). Cientistas suspeitam que alguns destes compostos são disruptores endócrinos. Tanto na Europa como nos EUA, os controles de proteção ao consumidor estão de acordo quanto a muitos destes produtos inibidores de UV, mas as agências reguladoras colocam pouca ênfase nos riscos ambientais que eles apresentam.
Ubíquo em todos os ambientes O estudo suíço mostra que os produtos para a pele e os lábios são quase que ubíquos em todos os ambientes habitados. Quando as pessoas nadam, os filtros de UV destes produtos podem se transferir de suas peles para os lagos e outros mananciais hídricos. Podem também escorrer no momento do banho e podem ser carreados para as estações de esgoto, onde mesmo quantidades traço podem escapar via efluentes do tratamento em direção aos ecossistemas mais amplos. Os protetores solares e produtos para proteção dos lábios vendidos constituem um movimento da indústria estimado em $1 bilhão de dólares anualmente, só nos Estados Unidos, de acordo com pesquisa de mercado. E os números para a produção anual quanto aos filtros solares estão estimados em centenas de toneladas. Isto conforme um estudo anterior sobre os conteúdos de químicos em esgoto de acordo com o que afirma em seu novo trabalho Marianne Balmer (Environ. Sci. Technol. 2005, 39, 3013–3019). Ela conduziu este seu último trabalho com uma equipe de profissionais da área da química junto à Swiss Agriculture Department’s Federal Research Station/Agroscope FAW (nt.: Estação de Pesquisa Federal do Departamento de Agricultura Suíço) em Wädenswil e o Swiss Federal Laboratories for Materials Testing and Research’s Laboratory of Organic Chemistry (nt.: Laboratório de Química Orgânica dos Laboratórios Federais Suíços de Análise e Pesquisa de Materiais) em Dübendorf. Todos os 19 peixes testados neste recente estudo apresentaram traços de dois dos filtros de UV mais comumente utilizados na Europa — o 4-MBC (4-metilbenzilidene camphor) e OC (octocrilene). Os dois químicos biodegradam-se lentamente e podem bioacumular, de acordo com estes pesquisadores.
Níveis muito mais altos presentes nos peixes dos rios. Comparado a outro estudo da mesma estação de pesquisa que analisou peixes dos lagos remotos da montanhas suíças, os peixes apresentavam concentrações muito mais altas de ambos os químicos (Environ. Sci. Technol. 2004, 38, 390–395). As concentrações em peso de gordura de 4-MBC nas espécies lacustres— “peixe branco” (Coregonus) e um tipo de carpa (Rutilus rutilus)— variavam de 20 a 170 partes-por-bilhão (ppb). A truta marrom (Salmo trutta fario) daquele estudo mais recente apresentava concentrações variando de 50 a 1.800 ppb. A substância química OC estava ausente na maioria dos peixes estudados—este feito em conjunto com a Inspetoria Cantonal de Alimentos e o Instituto de Química Ambiental da Umeá University—, mas foi detectado em peixes de rios nas concentrações de 40 to 2.400 ppb. Uma explicação para estas altas concentrações viriam das contribuições das estações de tratamento de esgoto, de acordo com um dos co-autores do relatório, Hans-Rudolf Buser. Todas as amostras de tecido dos peixes no estudo do rio foram coletadas a menos do que um quilômetro (km) da saída dos efluentes das estações de tratamento que serve a uma população que varia entre 6.600 e 48.000 pessoas.
O trabalho do governo suíço centrou sua pesquisa em produtos farmacêuticos e de cuidado pessoal no ambiente próximo do nível nos EUA, disse Dana Kolpin, hidrologista do US Geological Survey/USGS (nt.: Mapeamento Geológico dos EUA). Kolpin e seus colegas monitoraram (http://toxics.usgs.gov/regional/emc/methods_devel.html) perto de 100 destes compostos tanto na superfície como nas águas subterrâneas num esforço de revelar os efeitos destes químicos na vida selvagem. Apesar da US Enviromental Protection Angecy (nt. Agência Ambiental dos EUA) não regulamentar nenhum produto de cuidado pessoal e dtanto o 4-MBC como o OC não fazem parte da lista do mapeamento norte-americano, Kolpin diz que o trabalho de Balmer auxiliará que o USGS decida como priorizará estudos posteriores em produtos específicos de cuidado pessoal filtros solares. O USGS modificou alguns de seus métodos de análise de sedimentos para incluir alguns dos filtros de UV que logo estabelecerá um novo protocolo de monitoramento para estas substâncias em água, ele acrescenta. Conforme Thomas Kupper do Laboratory of Environmental Chemistry and Ecotoxicology (nt.: Laboratório de Química Ambiental e Ecotoxicologia) de Lausanne, Suíça, o tratamento remove pelo menos 90% do 4-MBC e do OC do esgoto. Entretanto, os níveis que vão para o ambiente são tão elevados que estes químicos são ainda detectados no efluente. Acrescentando, Kupper afirma que existem outras contribuições para o ambiente—e o corpo humano—paralelo a estes contactos diretos ou indiretos com os bronzeadores solares, e os filtros de UV, quando são utilizados como estabilizantes de resinas plásticas. Os cientistas e os juristas tanto nos EUA como na Europa concordam que mais dados são necessários para compreensão destes químicos em espécies específicas, as relações das descargas das estações de tratamento de esgoto, as concentrações nos rios e nos peixes e os efeitos sobre a saúde humana. O 4-MBC é um conhecido disruptor endócrino e foi detectado em leite materno em 1997 em um estudo alemão, conforme Margret Schlumpf (nt.: ver seu trabalho sobre bronzeadores solares: http://www.nossofuturoroubado.com.br/filtros.htm) Que uma toxicologista da Universidade de Zürich atuando no GREEN Tox, ou Group for Reproductive, Endocrine, and Environmental Toxicology (nt.: Grupo sobre Toxicologia Reprodutiva, Endócrina e Ambiental), que pesquisa os efeitos sobre a saúde dos filtros solares para proteção aos UVs. Em um estudo com ratos, Schlumpf mostrou que alguns filtros de UV, incluindo o 4-MBC a níveis tão baixos como de 7 miligramas por quilograma de peso vivo a cada dia (mg/kg/day), pode alterar funções reprodutivas e afetar a relação do peso ao nascer e a sobrevivência pós natal (Toxicology 2004, 205, 113–122). As concentrações significativamente altas nos peixes dos rios detectadas neste novo estudo são chocantes, ela diz, e devem auxiliar e suas pesquisas posteriores. “[Balmer] entregou-me dados que me auxiliam a explicar ou a amparar minhas descobertas,” disse Schlumpf. “Nós avaliamos de que não há somente um tipo de exposição a estes filtros de UV em bronzeadores por os aplicarmos como cremes em nossas peles, mas há um segundo ou meio adicional de contaminação que é através da cadeia alimentar.” Mas as fontes industriais afirmam que os filtros de UV não produzem efeitos danosos de disruptura endócrinos. Os estudos conduzidos pela indústria quanto aos impactos sobre a saúde e o destino ambiental de ambos o 4-MBC e o OC que, atualmente estão atualmente sob a revisão dos responsáveis da União Européia (EU), mostram que não há riscos de contaminação da cadeia alimentar por estes químicos a níveis perigosos, de acordo com Gerald Renner, diretor de ciência e pesquisa da European Cosmetic Toiletry and Perfumery Association (nt.: Associação Européia de Cosméticos, Produtos de Toalete e Perfumes). Contudo, muitos fabricantes substituíram o 4-MBC por um dos outros 25 filtros de UV considerados seguros conforme a European Union Cosmetics Directive (nt.: Diretiva de Cosméticos da União Européia) [144KB PDF] depois de um estardalhaço em razão de uma péssima publicidade há muitos anos atrás, na Escandinávia, disse Renner. O fato é que houve alegações de que o 4-MBC apresentava efeitos estrogênicos. Uma avaliação subseqüente dos técnicos em saúde da União Européia determinou que não era o caso, ele acrescentou. Mesmo que não haja efeitos mensuráveis em termos de saúde humana e ambiental tanto do 4-MBC como do OC podem ter conseqüências cinegéticas negativas quando combinados com outros filtros de UV ou químicos encontrados nos produtos de cuidado pessoal e farmacêuticos, de acordo com Christian Daughton, chefe do National Exposure Research Laboratory da Environmental Chemistry Branch (nt.: Laboratório Nacional de Pesquisa de Contaminação da Divisão de Química Ambiental) da EPA em Las Vegas, Nevada. “Se nós assumimos a atividade estrogênica é aditiva, temos que considerar as atividades combinadas de 20 a 30 agentes dos bronzeadores”, aponta Daughton. Mas Renner contesta a preocupação de que os filtros de UV sejam prejudiciais à saúde. “A fobia aos bronzeadores contraria a prevenção do câncer”, ele diz, acrescentando que a exposição aos raios UV causa acima de 20.000 casos de câncer de pelo 1 milhão de pessoas, anualmente. Sob a legislação da União Européia os filtros para UV são testados para a segurança dos consumidores, mas não quanto aos riscos ambientais, levanta Christoph Studer do Industrial Chemicals Section do Swiss Federal Office for the Environment (nt.: Setor de Química Industrial do Escritório Federal Suíço para o Meio Ambiente) que autorizou o estudo de Balmer. “Os resultados mostrarão se mais informações serão necessárias na medição em água, sedimentos e biota para o refinamento das avaliações de risco”, finaliza Studer. —TASHA EICHENSEHER
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, janeiro de 2006.
FONTE: http://pubs.acs.org/subscribe/journals/esthag-w/2006/jan/science/te_sunscreens.html |