MULHERES
EM AÇÃO POR
UM PLANETA MAIS SAUDÁVEL
PRETTY
NASTY** – perguntas
e respostas a respeito dos ftalatos
**
(nt.: pode ser traduzido como
– Bonitinha, mas ordinária –)
1.
O QUÊ SÃO OS Ftalatos?
Ftalatos
são uma grande família de produtos químicos (industrialmente fabricados).
Oito milhões de toneladas são produzidos cada ano.
2.
PARA QUE SÃO UTILIZADOS?
Os ftalatos são prioritariamente empregados como “plastificantes”
para tornar a resina plástica polivinil cloreto (PVC ou “vinil) flexível.
Noventa (90%) por cento do ftalato empregado globalmente é para este uso.
Assim, o ftalato é o principal componente dos produtos flexíveis de PVC
como brinquedos, mordedores, forros, pisos, vestimentas (capas de chuva,
botas, casacos tipo couro, etc.), papel de parede e produtos cirúrgicos
(bolsas de sangue, cateteres etc.). Nos cosméticos
(grifo do tradutor) são empregados
para agregar ao produto flexibilidade, para dar aos óleos uma película
“umectante” e auxiliar a dissolver e fixar outros ingredientes. São também
empregados como solventes em perfumes e para “desnaturarem” o álcool contido
nos cosméticos (fazendo-os intragáveis, assim as pessoas não os beberão).
Alternativas para esta adição potencialmente danosa do ftalato existem,
tal como óleo de lavanda.
3.
QUAL O PROBLEMA QUE APRESENTAM?
Os ftalatos são os poluentes industriais mais abundantes presentes
no ambiente. Estão
amplamente dispersos e presentes no ar, na água, nos solos
e nos sedimentos. Alguns têm sido detectados em ambientes de águas puras
e marinhas como nos icebergs da Antártica e nas
medusas de águas profundas. Os ftalatos são liberados para
a atmosfera durante sua fabricação, podendo lixiviar de quaisquer dos
produtos que os contenham podendo contaminar alimentos de toda ordem,
sendo assim ingeridos, aspirados ou absorvidos pelos seres planetários.
Vários animais de laboratório testados* demonstraram que estas moléculas sintéticas causam lesões em seus
aparelhos reprodutivos e em seu desenvolvimento. Estes efeitos danosos incluem:
-
a. decréscimo de fertilidade nas fêmeas;
-
b. defeitos fetais e de nascimento;
-
c. redução da sobrevivência das proles;
-
d. alteração nos níveis hormonais e danos
uterinos; e
-
e. agressões às próstatas, pênis e testículos
tanto em fetos machos como em recém-nascidos.
Muitas agências reguladoras
concluíram que estes estudos são relevantes para os humanos. Também correlacionaram
a alguns efeitos sobre seres humanos, tais como problemas de gravidez
observados em grupo de mulheres
vivendo cerca de uma fábrica de PVC e em trabalhadores expostos a altos
níveis de ftalatos.
Tudo
isto se constitui num pano de fundo quanto às tendências dos distúrbios
na saúde da reprodução como a elevação nos níveis de câncer testicular
– acima de 84% no Reino Unido desde os anos setenta – e o declínio na
contagem no número de espermatozóides por toda a Europa desde a partir
dos anos trinta.
Efeitos
tóxicos sobre o fígado, rins, coração, pulmões e o sangue foram também
observados em pesquisas com animais.
As indústrias de plásticos e cosméticos contrapõem-se de que
os ftalatos seriam um risco. Citam a opinião do Comitê Científico Europeu em Produtos Cosméticos e Não-Alimentícios Dirigidos
para Consumo, que declarou em junho de 2002 que o ftalato DEP (ver
abaixo) era seguro para seu uso em cosméticos 1. No Painel Norte-americano de Revisão
de Ingredientes de Cosméticos declarou que três das moléculas químicas
diferentes de ftalatos eram seguras, justamente três dias depois que a
Pretty Nasty foi publicada. O painel de especialistas das áreas médica
e científica foi financiada pela indústria de cosméticos mas com representantes
da FDA e dos consumidores attending 2.
Estudos recentes feitos por pesquisadores da Universidade de
Harvard, publicados em dezembro de 2002, sugere uma conexão entre a exposição
ao ftalato DEP e danos ao DNA em espermatozóide humano. Eles estenderão
seus pesquisas para testar seus dados preliminares 3.
4. COMO POSSO SABER UM PRODUTO DE CONSUMO CONTÉM
FTALATO?
Em razão de que na maioria dos produtos não é exigida a colocação
nos rótulos se contém ou não ftalato,
provavelmente não terei condições
identificá-los. Ingredientes de perfumes não precisam ser listados
em sua totalidade. Da mesma forma se um deles for subproduto de sua fabricação,
nada é exigido que conste nos rótulos. Mas se forem deliberadamente agregados
aos cosméticos, por outro propósito, eles devem ser nomeados. Procura
então por nomes ou siglas como estas: – butil benzil ftalato
(BBP), di(n-butil) ftalato (DBP), di(2-etilhexil) ftalato (DEHP), dietil
ftalato (DEP), di-n-hexil ftalato (DHP), di-isodecil ftalato (DIDP), di-isononil
ftalato (DINP), di-metiliso ftalato (DMP), di-n-octil ftalato (DNOP),
mono-n-butil ftalato (MBP), monoetilhexil ftalato (MEHP) e monopentil
ftalato (MPP).
5.
O QUÊ É: “Pretty Nasty – ftalatos
em produtos cosméticos europeus”?
Um relatório sobre os testes de laboratório financiados por:
Women’s Envionmental Network, Swedish
Society for Nature Conservation e o Health Care Without Harm, Europa,
em 34 produtos cosméticos que estão no top de linha vendidos no Reino
Unido e na Suécia. Estão perfumes, desodorantes, sprays, gels e mousses
para o cabelo. Incluem nomes top das marcas Boots, Chanel, Christian
Dior, L’Oreal, Lever Laberge, Procter & Gamble, The Body Shop, Tommy
Hilfiger e Wella.
6.
O QUÊ FOI ENCONTRADO?
- Ftalatos
foram encontrados em 4 em cada 5 (79%) produtos testados;
- Mais
do que a metade (53%) continha mais do que um ftalato;
- Quarenta
por cento (40%) contém um ou ambos os ftalatos que a União Européia
tinha recentemente decidido que deveriam ser removidos dos cosméticos
(ver abaixo). Todos os perfumes, desodorantes e sprays para cabelo testados
continham ftalatos;
- Em
um produto, os ftalatos estavam fazendo parte em, aproximadamente, dois
por cento do total;
- O
ftalato mais comumente encontrado foi o DEP;
- Ftalatos
foram encontrados nos cinco perfumes, dez desodorantes e cinco sprays
testados;
- Sete
produtos eram livres de ftalatos. Demonstra então que os ftalatos não
são essenciais – produtos similares.
7.
SÃO OS FTLATOS PERMITIDOS LEGALMENTE?
Sim,
mas:
·
Em 1998 a Oslo and Paris Commission (OSPAR)
listou os ftalatos DBP e DEHP entre as substâncias de ação prioritária;
·
Em 1999 a União Européia emitiu um banimento
emergencial que proíbe o uso de DEHP, DBP, BBP, DINP, DNOP e DIDP em brinquedos
de PVC projetados como mordedor;
·
Em 2001 a União Européia acrescentou o
DEHP o e DEBP para sua lista de substâncias que podem causar efeitos lesivos
à reprodução. Classificou-os como ‘categoria
2’, o que significa que eles podem ser vistos como se causassem disfunções
na fertilidade ou tóxicos para o desenvolvimento humano;
·
O Comitê Científico Europeu em Produtos
Cosméticos e Não-Alimentícios Dirigidos para Consumo (SCCNFP),
grupo formado de especialista que assessora tais temas, emitiu a seguinte
opinião em setembro de 2001: “O SCCNFP considera que a presença de substâncias
carcinogênicas, mutagênicas, ou tóxicas à reprodução em produtos cosméticos
é preocupante quando se trata da saúde do consumidor”.
·
O banimento europeu dos DEHP e DBP para emprego em cosméticos espera-se
que se transforme em lei na primavera de 2003. (nt.: em julho de 2005, os ftalatos DEHP, DBP
e BBP foram permanentemente banidos
para todos os produtos infantis, já os DINP, DIDP e DNOP banidos definitivamente
para brinquedos infantis de PVC***).
É ESTA LEI ADEQUADA?
Não.
Os
ftalatos não constam nos rótulos, assim não se pode ser um consumidor
responsável e ter condições de rejeitá-los.
A
concepção de segurança não leva em conta suficientemente a real exposição
durante um tempo de vida a estes múltiplos ftalatos de múltiplas fontes
a cada dia, além de sermos expostos a outras substâncias potencialmente
tóxicas de uso generalizado. De acordo com a norma norte-americana que
trata de cosméticos (76/768/EEC) a indústria atua dentro do parâmetro
da “auto-regulação”; eles são responsáveis pelas avaliações de segurança
sobre a saúde, mas geralmente somente assumem a segurança sobre os ingredientes
isoladamente, não sobre a totalidade do produto (exceto quando a penetração
na pele na maior do que o normal ou se a interação entre ingredientes
puder formar novas substâncias potencialmente tóxicas); os consumidores
não têm acesso aos resultados; e os cosméticos não podem ser revisados
por regulamentações ou autoridades depois de ter sido colocado à venda.
“Ingestão tolerável” ou níveis de exposição são baseados em informações
ultrapassadas. Por exemplo, a ingestão tolerável está baseada num estudo
conduzido pela US Environmental Protection Agency (EPA) em 1953, antes
da evidência da existência da toxicidade do DBP (nt.: um dos integrantes da família dos ftalatos)
sobre a reprodução o desenvolvimento.
A
performance geral do processo de testes dentro das indústrias está baseada
em pressupostos de que:
·
Substâncias químicas que vêm sendo utilizadas
por anos devem ser seguras; e
·
Lacunas de provas sobre dados comprovam
que uma substância química é segura.
Apesar
de evidências dos riscos potenciais detectadas por algumas substâncias
químicas somente trazem alguma luz nos últimos anos ou não chegam a mobilizar
nenhuma ação. Assim, fechar teus olhos não faz com o monstro desapareça!
O QUÊ ENTÃO ESTE MOVIMENTO ‘Pretty
Nasty’ RECOMENDA?
Os fabricantes deveriam:
·
Rotular claramente todos os produtos que
contenham ftalatos imediatamente enquanto estão sendo formulados;
·
Testar os ingredientes de seus produtos
quanto a ftalatos ou demandar esta informação para seus fornecedores;
·
Comprometer-se a remover todos os ftalatos
de seus produtos e desenvolver um controle de qualidade apropriado para
assegurar que eles não estão presentes;
·
Aplicar o princípio da precaução rejeitando
ao formular seus produtos ingredientes que apresentem evidências de que
eles podem causar danos, mesmo se seus efeitos ainda não sejam completamente
compreendidos.
A União Européia deveria:
·
Introduzir um banimento incondicional
de todas as substâncias, incluindo os ftalatos, que causem preocupações
quanto ao desenvolvimento e à fertilidade humana além de terem efeitos
mutagênicos e/ou carcinogênicos.
·
Introduzir normas que exijam que todos
os ingredientes presentes em quaisquer produtos, incluindo os ftalatos,
sejam claramente listados nos rótulos.
·
Assegurar que a próxima legislação (conhecida
na Europa como REACH) que irá tratar das substâncias químicas, inclua
os produtos cosméticos.
O QUÊ OS CONSUMIDORES DEVEM FAZER:
·
Enviar mensagem para os fabricantes com
o brado “LIVRE DE FTALATOS JÁ!” sobre aqueles produtos testados positivamente.
·
Enviar mensagem para todas as áreas das
atividades públicas e privadas que tratam da saúde, criança, do ambiente,
dos consumidores e da cidadania clamando por medidas que devem ser imediatamente
introduzidas em nosso meio.
·
Fazer uma lista dos produtos que utilizas
para que, quando fores às compras seja onde for, possas perguntar aos
vendedores e gerentes se podem auxiliá-la a convencer os fabricantes a
produzirem cosméticos livres de ftalatos.
·
Escolhe produtos de fabricantes que já
tornaram pública sua opção por fabricar produtos sem o uso de ftalatos4.
Ø
As
ONGs supra citadas devem elas mesmas proclamar que elas “nunca usaram
nem nunca utilizarão ftalatos”.
Ø
O
produto “Hemp Garden” está fazendo
o mesmo.
Ø
A
empresa inglesa “The Body Shop”
declarou que “estamos evitando o uso de
ftalatos em todos os novos fixadores de perfumes usados em nossos produtos”
e “buscando eliminar os ftalatos que permanecem nos perfumes existentes
tão logo seja praticamente possível.”
A Rede Ambiental de Mulheres (WEN) é contra os testes
de laboratório com animais e acredita que métodos alternativos podem ser
encontrados. Nós reconhecemos que as pesquisas com animais não realmente
relevantes para a espécie humana. Entretanto, se os testes que já foram
feitos e resultados de métodos alternativos ainda não estejam disponíveis,
e se os resultados advindos dos sistemas convencionais possam ser efetivamente
transpostos para aplicação para os humanos, nós então os acataremos.
Fontes:
Todas as informações
foram tiradas da campanha ‘Pretty Nasty: Phthalates in European Cosmetic
Products’, WEN, SSNC and HCWH Europe © HCWH, Novembro de 2002, exceto:
1.
Cosmetic, Toiletry & Perfumery Association Ltd, letter to WEN 22/11/02.
2.
Phthalates Esters Panel, American Chemistry Council, news release, 19/11/02
3.
Duty SM, Singh NP, Silva MJ, Barr DB, Brock JW, Ryan
L, Herrick RF, Christiani DC, and Hauser R. 2003. ‘The Relationship Between
Environmental Exposures to Phthalates and DNA Damage in Human Sperm Using
the Neutral Comet Assay.’ Environmental Health Perspectives, US Department of Health Dec 2002.
4.
Correspondence between WEN & companies, Nov-Dec 2002.
Reino Unido, JULHO de 2005.
WEN (www.wen.org.uk).
NOTA DO TRADUTOR
PARLAMENTO
EUROPEU VOTA O BANIMENTO DOS FTALATOS USADOS EM BRINQUEDOS INFANTIS.
O Parlamento Europeu votou a favor do banimento permanente da utilização
de ftalatos em brinquedos infantis, tornando definitiva o banimento temporário
que havia desde 1999. Os ftalatos são substâncias que são empregadas como
amaciante em materiais feitos com resinas plásticas. Três ftalatos (DEHP,
DBP e BBP) que estão classificadas como tóxicas para o sistema reprodutivo
foram are banidos em todos os brinquedos e artigos de cuidado infantil.
Três outros ftalatos (DINP, DIDP e DNOP) foram banidos para emprego com
amaciante de brinquedos de PVC e artigos que as crianças possam sugar
ou morder.
Tradução livre
de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2005.
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