Serviço: Risco no uso de PVC
Um
estudo divulgado em maio pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade
em Saúde (INCQS), laboratório da Fiocruz tido
como referência pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
revelou que os consumidores devem ter cautela com o uso indiscriminado
de filmes plásticos. Segundo a pesquisa, realizada em três anos e que
avaliou amostras de filmes de policloreto
de vinila (PVC) recolhidas em mercados cariocas pela Vigilância
Sanitária municipal, os filmes plásticos podem oferecer riscos à saúde
se forem utilizados para embalar alimentos gordurosos, como queijo,
frango e carne bovina.
A explicação está no fato de que os aditivos, empregados normalmente
para dar maleabilidade aos plásticos PVC, podem migrar para os alimentos
com os quais ficam em contato. A migração, conforme explica a coordenadora
do estudo, a química Shirley Abrantes, acontece por difusão espontânea
e é mais intensa em alimentos gordurosos, cuja composição química é
semelhante à dos aditivos adotados pela indústria.
Dois compostos orgânicos são utilizados para conferir flexibilidade
aos filmes plásticos: ftalato de di-(2-etil-hexila)
ou DEHP e adipato de di-(2-etil-hexila) ou DEHA. Ambos foram objeto de estudo da Fiocruz, e suas taxas de migração superaram os valores fixados
pela União Européia: 3 mg/kg
para o ftalato e 18 mg/kg para o adipato.
O problema é que a lei brasileira só obriga os fabricantes a obedecer
valores máximos de ftalato em embalagens de filmes plásticos. Não há
limites para o uso do adipato. Segundo a Fiocruz,
testes com animais de laboratório detectaram que o ftalato pode provocar
câncer no fígado e problemas de infertilidade. Já os efeitos tóxicos
do adipato são pouco conhecidos. No entanto, “estudos indicam
que a atividade do aditivo é semelhante à ação do ftalato”, ainda de
acordo com a Fiocruz.
Na dúvida, opte pela prevenção
A notícia causou alarde na sociedade, principalmente após divulgação
feita pelo jornal O Dia, do Rio de Janeiro. Para Cléber Ferreira dos
Santos, gerente geral de alimentos da Anvisa,
o tratamento do caso pelo jornal não contribuiu em nada para o esclarecimento
da população nem para a melhoria do controle. “Houve um problema que
foi corrigido. Já no primeiro ano de estudo, as empresas que excederam
o limite de ftalato foram notificadas pela agência. No ano seguinte,
novo teste feito pelo INCQS detectou que houve melhora, e a situação
se normalizou. A presença de adipato, porém,
aumentou nos produtos”, afirmou.
Ao contrário do que alerta a Fiocruz, Cléber
assegura que pesquisas realizadas pela IARC (International
Agency for Research on Cancer), órgão ligado à Organização
Mundial de Saúde, classificaram o adipato
e o ftalato como substâncias do grupo 3, ou
seja, cujos riscos cancerígenos ainda não foram evidenciados para seres
humanos.
Segundo o gerente de alimentos da Anvisa,
o consumidor pode usar filmes plásticos tranqüilamente. A agência anunciou
medidas, em conjunto com o INCQS, para minimizar ou anular os riscos
à população. Entre elas solicitar inspeções nas unidades fabris responsáveis
pela adição do aditivo ao PVC, a fim de verificar se o limite permitido
pela legislação foi ultrapassado, além de encarregar o grupo de trabalho
de embalagens de alimentos de avaliar a necessidade de rever a regulamentação
de DEHA, estabalecendo limites máximos de
exposição. A última medida foi cobrada pelo Idec,
que enviou uma carta à Anvisa
relatando preocupação com o assunto.
Para o coordenador-executivo do Idec, Sezifredo Paz, a Fiocruz é um órgão
de pesquisa com credibilidade. Se os pesquisadores recomendaram cautela
no uso de filmes plásticos para armazenar alimentos gordurosos, a prevenção
deve ser adotada. Como substituto ao filme plástico, procure usar utensílios
de vidro para conservar ou guardar frango, carne e queijos.