CLUBE DO BIÓLOGO
Ciência e Meio Ambiente

2 de fevereiro de 2005

Degelo da Antártida pode elevar nível dos oceanos

O derretimento da densa camada de gelo que cobre a parte ocidental da
Antártida pode elevar em quase 4,9 metros o nível dos oceanos, segundo os
prognósticos de uma equipe de cientistas britânicos.

Os especialistas, do British Antartic Survey (BAS), sediado em Cambridge
(Reino Unido), descobriram que estas massas de gelo, que até agora eram
consideradas estáveis, podem começar a desintegrar-se, segundo foi
explicado em uma conferência internacional sobre o clima que acontece
desde terça-feira na cidade inglesa de Exeter.

A equipe do BAS, que mediu a densidade da camada de gelo, chegou à
conclusão de que, anualmente, 250 metros cúbicos de água solidificada
estão se soltando e caindo no mar, o que já está elevando o nível dos
mares em 0,2 milímetro por ano.

O professor Chris Rapley, diretor do British Antartic Survey, declarou aos
especialistas reunidos em Exeter que esta descoberta tinha alertado a
comunidade científica sobre o perigo que o fenômeno representa para todo o
planeta.

Há quatro anos, no último relatório do grupo intergovernamental das Nações
Unidas sobre mudança climática, foram desprezados os sinais de alarme
neste sentido.

No relatório da ONU, a Antártida era apresentada como um "um gigante
adormecido em termos de mudança climática". "Mas eu diria que o gigante
despertou. Estamos muito preocupados", afirmou Rapley aos seus colegas.

O cientista britânico acrescentou que hoje não é possível compartilhar do
otimismo de estudos anteriores, segundo os quais não havia perigo de a
camada de gelo da Antártida se desintegrar antes de 2.100.

O eventual colapso destas camadas de gelo constituiria um desastre de
proporções gigantescas, já que inundaria enormes áreas costeiras de países
em desenvolvimento e desenvolvidos.

A conferência de Exeter é parte dos esforços do governo do Reino Unido
para chamar a atenção do mundo para a questão da mudança climática,
enquanto preside durante este ano o G-8 (os países mais ricos e a Rússia).


O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, pediu aos cientistas reunidos
na cidade britânica que tentem determinar a partir de que momento a
mudança climática, ao qual assistimos, começará a ter conseqüências
catastróficas tanto para as sociedades do planeta como para os
ecossistemas.

Ontem, foram apresentados vários relatórios na reunião, entre eles um que
falava do possível impacto da mudança climática na corrente do Golfo. No
entanto, o que causou mais alarme foi exatamente o relacionado ao desgelo
da Antártida.

Este continente encontra-se coberto por uma espessa camada de gelo, que é
muito estável em sua parte oriental devido a um maciço rochoso mais
elevado sobre o qual repousa.

Os cientistas começaram a preocupar-se com o derretimento do gelo polar há
mais de 25 anos, quando descobriram que as rochas que lhe servem de base
estão em boa parte muito abaixo do nível do mar.

Alguns especialistas chegaram então à conclusão de que, em determinadas
circunstâncias, a água do oceano poderia ir escavando essa massa gelada,
que terminaria se desintegrando.

Sobre as conclusões relativamente tranqüilizadoras a respeito do relatório
do Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática de quatro anos
atrás, os cientistas britânicos detectaram o rápido desgelo no mar de
Amundsen a partir de três zonas, Thwaites, a ilha dos Pinheiros e uma
outra não mencionada. "Nossa descoberta reabre o debate" sobre a ameaça
que supõe o degelo da Antártida, afirmou o diretor do BAS.

Na mesma conferência, cientistas israelenses previram também o rápido
desaparecimento dos recifes de corais conforme for aumentando a acidez dos
mares pela absorção do dióxido de carbono da atmosfera.

Os oceanos absorvem aproximadamente 48% das emissões de CO2 lançadas pelo
homem, o que retarda o efeito estufa, mas ao mesmo tempo aumenta a acidez
das águas oceânicas, e isto representa um perigo para os corais e outros
organismos.