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Águas subterrâneas: um importante
recurso que requer proteção
http://www.igc.usp.br/geologia/aguas_subterraneas.php
Por Ricardo Hirata e Alexandra Vieira Suhogusoff
Água é sinônimo de vida. A ingestão de água nos garante a boa qualidade vida. Contudo, quase 4,6 milhões de crianças com menos de cinco anos, em paises pobres, morrem de doenças decorrentes de veiculação hídrica, anualmente. O abastecimento com água potável e o saneamento ambiental poderiam reduzir em 75% as taxas de mortalidade e enfermidades no mundo. Mesmo no Brasil, 50.000 bebês/ano morrem de diarréia e as doenças associadas à água de baixa qualidade correspondem a 65% dos casos de internações hospitalares.
Os esforços empreendidos na melhoria das condições sanitárias dos países pobres têm se mostrado insuficientes para amenizar esse cenário social, agravado por séculos de descaso dos governantes, e que piora em função do crescimento populacional. Segundo o Fundo Mundial da Natureza (WWF), por volta de 2008, 60% da humanidade não disporá mais de água potável, uma vez que o ritmo de consumo dobra a cada 25 anos.
Parece uma incoerência especular-se sobre a falta de água num planeta cuja superfície é constituída por 75% dela. Entretanto, apenas 3% da água disponível é adequada ao consumo humano (não salgada), sendo que 2% estão sob a forma das calotas polares. Deste 1% apenas 3% concentram-se nos rios e lagos, sendo o Brasil um dos países com maior riqueza hídrica no mundo. O restante 97% encontra-se em subsuperfície.
Com a crescente industrialização, urbanização e a tecnificação da agricultura, os recursos hídricos de superfície estão rareando em vista do elevado consumo e pela contaminação de mananciais, suscitada pela expansão não planejada da população. Desta forma, as atenções vêm-se convergindo para essa outra fonte de abastecimento, não tão visível, mas igualmente importante: as águas subterrâneas.
No mundo, 1,5 bilhão de pessoas dependem das águas subterrâneas. Estima-se que, na América Latina, 150 milhões utilizam o recurso. Focalizando o caso do Brasil (detentor de 8% das águas doces do mundo), calcula-se que existam 112 bilhões de m3 de água subterrânea. Por volta de 35 a 40% da população brasileira deve fazer uso do recurso subterrâneo.
No Estado de São Paulo, estima-se que 74% dos núcleos urbanos sejam total ou parcialmente abastecidos por fontes subterrâneas. Mesmo na Bacia do Alto Tietê (Região Metropolitana de São Paulo), onde os recursos são bastante modestos, avalia-se que aproximadamente 7,9 m3/s (249Mm3/a) sejam explorados de 6-7 mil poços tubulares em operação, de um total de mais de 10 mil poços perfurados (dados de 2000). Essa vazão representa 15% do abastecimento público da Bacia.
O ciclo hidrológico
(Figura 1) consiste no intercâmbio entre os reservatórios oceanos, geleiras,
rios, lagos, vapor d’água da atmosfera, águas subterrâneas e
água retida nos seres vivos, e que é movimentado pela energia solar,
representando o processo mais importante da dinâmica externa terrestre.
Figura 1. Ciclo
Hidrológico.
Deve-se ter em mente que a água não se perde do sistema, mas sempre se conserva. No entanto, a dinâmica do ambiente é complexa porque é regida desde fatores meteorológicos, como o vento, chuva, insolação, até pela ação antrópica que, além de modificar a paisagem, provoca distúrbios no clima. Assim, a água pode evaporar-se de um lugar já árido, e se precipitar nos oceanos, ou ainda, enquanto inunda cidades, causa déficit em represas ou em áreas famintas de irrigação.
O balanço hídrico determina o equilíbrio da entrada e da saída da água dentro de uma bacia hidrográfica. A entrada corresponde principalmente à precipitação. A compensação ocorre na saída por meio da infiltração no solo, escoamento superficial, evaporação, evapotranspiração, variação no conteúdo de umidade no solo ou armazenamento do reservatório subterrâneo e a exploração da água para o consumo.
A precipitação pode
ocorrer na forma de chuva, granizo, neve ou orvalho. A taxa de transferência de
água da fase líquida para a de vapor é definida como evaporação, a qual atua
sobre as águas superficiais, a umidade do solo e os tecidos das plantas, tomando
nos dois últimos casos a denominação de evapotranspiração.
As águas que porventura infiltram-se podem ficar
retidas nos poros pela tensão capilar (superficial) exercida entre grãos e o ar
presentes no solo, o que implicará na variação de armazenamento ou umidade
nessa zona conhecida como não saturada, ou serem drenadas pela gravidade em
direção a uma zona cujos poros encontram-se totalmente cheios de água (zona
saturada). A rocha ou sedimento que permite o armazenamento e a exploração da
água é conhecida como aqüífero. Este fenômeno que faz com que
a água atinja a zona saturada é conhecida como recarga do aqüífero.
Quando a
precipitação
supera a infiltração no solo ou quando a água
atinge uma formação impermeável,
como argilas, a água passa a escoar na superfície. Em seu
percurso, estará
sujeita, então, à evaporação, à
infiltração em outro material mais permeável ou
à descarga em corpos d'água, alimentando os rios e
lagos.
Segundo as suas características hidráulicas, há basicamente dois tipos de
aqüífero: o livre e o confinado (Figura 2). No primeiro caso, o aqüífero estará
em contato direto com a pressão atmosférica. Já o aqüífero confinado, como o
próprio nome diz, encontra-se delimitado por camadas litológicas menos
permeáveis, em cujo interior a água está submetida a uma pressão maior que a
atmosférica.
Embora a água subterrânea seja um recurso menos susceptível aos impactos da atividade antrópica comparativamente ao manancial superficial, há dois problemas que podem afetá-la: a contaminação e a super-exploração.
A contaminação ocorre pela ocupação inadequada de uma área que não considera a sua vulnerabilidade, ou seja, a capacidade do solo em degradar as substâncias tóxicas introduzidas no ambiente. A contaminação pode se dar por fossas sépticas e negras; infiltração de efluentes industriais; fugas da rede de esgoto e galerias de águas pluviais; vazamentos de postos de serviços; contaminação por água salina advinda do mar em aqüíferos costeiros, por aterros sanitários e lixões; uso indevido de fertilizantes nitrogenados; entre outros.
Já a super-exploração ocorre quando a extração de água subterrânea ultrapassa os limites de produção do aqüífero, provocando danos ao meio ambiente ou para o próprio recurso, como aumento nos custos de bombeamento, escassez de água, indução de água contaminada e problemas geotécnicos de subsidência (compactação diferenciada do terreno, causando o colapso de construções civis).
Tanto a super-exploração como a contaminação de solos e aqüíferos
podem ser evitadas. A partir de estudos prévios, é possível estimar as vazões
máximas que poderão ser extraídas de uma nova captação, sem que cause danos aos
poços vizinhos. Da mesma forma, avaliações específicas podem mostrar se novas
atividades antrópicas
causarão algum problema ao
aqüífero. Cabe aos órgãos de governo, com
participação da população, definir as
políticas para o bom manejo do recurso, para que este seja
utilizado de forma
sustentável e que possa promover o bem estar e o desenvolvimento
econômico da
sociedade.
Figura 2. Tipo de aqüíferos.
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