ALTERAÇÕES NO OCEANO ESFRIARÃO A EUROPA

 

http://news.bbc.co.uk/1/hi/sci/tech/4485840.stm

 

Quarta-feira, 30 de novembro de 2005

 

Por Richard Black, correspondente em Meio Ambiente, BBC News website.

 

 

Alterações nas correntes oceânicas do Atlântico podem esfriar o clima europeu dentre de poucas décadas, dizem os cientistas.

 

        Pesquisadores do National Oceanography Centre-NOC (nt.: Centro Oceanográfico Nacional) do Reino Unido dizem que as correntes derived da Corrente do Golfo está enfraquecidas, levando assim menos calor ao norte.

        Suas conclusões, reportadas na publicação científica Nature, estão baseadas em 50 anos de observações no Atlântico. Eles dizem que os líderes políticos europeus precisam planejar para o futuro devendo levar em conta que haverá mais frio do que calor. As descobertas vêm dos projeto de pesquisa inglês denominado Rapid que tem por objetivo to gather evidência relacionada à rápida alteração climática potencial na Europa.

       

Radiador atmosférico.

 

         A chave é a Corrente do Golfo. Depois que ela emerge no Caribe, ela divide-se em duas, com uma parte direta, a nordeste, em direção à Europa e a outra circula de volta através do Atlântico tropical.

        Conforme a parte nordeste vai flutuando, vai aquecendo a atmosfera o transforma o território europeu quente.

“É como se fosse um radiador fornecendo seu calor à atmosfera”, diz Harry Bryden do NOC junto à Universidade Inglesa de Southampton. “O calor fornecido é, grosso modo, equivalente à produção de um milhão de usinas elétricas”, falou aos repórteres.

No momento em que ela alcança as latitudes mais ao norte junto à Groelândia e Islândia, a água esfria-se tanto que imerge para as profundezas do oceano num processo conhecido como “overturning” (nt.: mais ou menos “reviravolta”).

Esta água fria ruma ao sul, formando a corrente de retorno como se fosse uma correia transportadora. O ciclo completo compreende a água morna vinda da direção norte na superfície do oceano e da água fria retornando a centenas ou milhares de metros nas profundezas. Os cientistas baseados na Flórida monitoram o fluxo da Corrente do Golfo que vem do norte, e constataram que, grosso modo, ele permanecia constante nos últimos cinqüenta anos. Os pesquisadores do NOC concentraram-se na água mais fria fluindo para o sul; e eles encontraram que nos últimos cinqüenta anos, estes fluxos se alteraram marcadamente.

Vimos 30% de declínio na corrente que vem em direção ao sul seguia nas profundezas das águas frias, ” disse Harry Bryden. “E assim, sinteticamente é que em 2004 nos tivemos mais uma corrente de circulação (no Atlântico tropical) e menos ‘reviravolta’.”

E então menos calor foi liberado nas praias européias.

 

Primeira evidência

 

        Os modelos computadorizados do clima predisseram regularmente que a derivação do Atlântico Norte deverá ter uma grande redução em intensidade ou mesmo desviada totalmente, um conceito que foi levado muito além deste limite pelo estrondoso filme de Hollywood “The day after tomorrow”.

        O que resultou é que como o gelo ártico está derretendo e os rios da região mais rápidos – ambas situações muito bem documentadas – os oceanos nórdicos tornaram-se menos salinos. Menos salinidade significa menor densidade; as águas então não conseguem afundar, tornando assim os fluxos transportadores mais fracos. Modelos computadorizados predisseram que se houver este completo impedimento, a Europa talvez esfriará entre quatro a seis graus Celsos.  

        Comentando na publicação Nature, Detlef Quadfasel, da Universidade de Hamburgo, Alemanha, escreveu que o experimento do NOC forneceu “... a primeira evidência de observações que tal decréscimo da circulação oceânica de ‘reviravolta’ é bem underway.”

 

Variação natural

 

        Os pesquisadores do NOC admitem que o caso não está completamente provado. As análises envolvem somente cinco séries de medições feitas em 1957, 1981. 1992 e 1998 de navios e em 2004 de uma linha de bóias de pesquisa fixadas ao fundo do mar.

        Mesmo se a tendência for confirmada por dados posteriores, pode ser rebaixada mais por variabilidade natural do que por indução humana face as alterações da temperatura global.

“Este fato da variabilidade é muito importante”, diz Harry Bryden, “e nós não temos uma boa compreensão disto. Modelos podem predizer isto, mas nós achamos que devemos ir lá e medi-la”.

Michael Schlesinger da Universidade de Illinois junto Urbana-Champaign, o principal especialista em modelos climáticos e circulação oceânica, acredita que mesmo com estas advertências, o grupo do NOC aproxima-se a conectar à alteração climática antropocêntrica.

“A questão da variabilidade é um direito de se levantar”, disse ele à BBC News website, “mas o período está errado”. Há uma década atrás o Professor Schlesinger demonstrou que o fluxo do Atlântico Norte seria submetido a um ciclo natural de 70 anos de fortalecimento e enfraquecimento.

“As medidas feitas por Bryden estão fora deste ciclo”, diz ele. “O ciclo natural tinha um esfriamento no norte até a metade dos anos setenta e o aquecimento depois, e aqui nós vemos um aparente esfriamento.”

Ele também está convencido por outros detalhes das medidas do NOC demonstram que as alterações no fluxo subaquático para o sul ocorreram a grandes profundidades.

“A diminuição da velocidade dos retornos da corrente sul ocorre entre 3 mil e 5 mil metros e isto constitui mais ou menos um ‘smoking gun’ (nt.: mais ou menos como um ‘canhão de vapor’),” diz ele.

 

Elegendo políticas

 

Assim o que tudo isto representa para o clima europeu? Será necessariamente mais frio – ou a recente tendência aparente de verões quentes continua?

“Se esta tendência persistir”, diz Bryden, “observaremos mudanças de temperatura nas latitudes nórdicas talvez de um grau Celso acima daqui a algumas décadas.”

No entanto o clima é um fenômeno complexo; outros fatores podem conspirar, mesmo assim, para produzir um puro calor.

“O governo da Grã-Bretanha está considerando, em termos de uma mudança mitigada no clima e adaptando-se a isto, quanto a um cenário de aquecimento”, diz Phil Newton do Conselho de Pesquisa do Ambiente Natural do Reino Unido que financiou os pesquisadores do Projeto Rapid. 

“Poderias agora estar perguntando que tipo de mitigação e adaptação eles podem estar procurando”. Para responder esta pergunta, o grupo que forma o Rapid planeja continuar suas medições nos próximos anos. Suas bóias permanecem nos seus locais de amarra e os navios podem ir reunindo os dados tão amiúde quanto os recursos financeiros aportem.

As descobertas ressoarão pelas praias do Reino Unido e da Europa como um ardor deixado circulando em torno do Atlântico tropical podendo ter maior impacto sobre os sistemas climáticos na África, Caribe e América Central.  

        Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, dezembro de 2005.