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Funcionários Norte-americanos Acusam DuPont de Esconder os Riscos de Saúde de um Ingrediente do Teflon

18 de janeiro de 2005 — By Michael Hawthorne, Chicago Tribune

 

Jan. 18—PARKERSBURG, West Virgínia

 

Mais do que 50 anos depois de a DuPont ter começado a produção de TEFLON perto desta cidade junto ao rio Ohio, funcionário federais acusaram a companhia de reter informações sugerindo que o material químico empregado para a fabricação da camada anti-aderente e anti-manchas tão popular pode causar câncer, defeitos de nascimento e outras enfermidades.

Os legisladores ambientais estão particularmente alarmados em razão dos cientistas estarem detectando o ácido perfluoroctanóico ou PFOA (nt.: sigla em inglês de perfluooctanoic acid) no sangue de pessoas em todo o mundo, além desta substância química levar anos para deixar os organismos. A U.S. Environmental Protection Agency/EPA (nt.: a Agência de Proteção Ambiental dos EUA) relatou, na semana passada, que a exposição mesmo em níveis baixos pode ser lesiva.

Com praticamente nenhum desconhecimento governamental, o PFOA foi utilizado desde o início dos anos cinqüenta na fabricação de produtos que revestem com uma camada anti-aderente panelas, que formam um película em roupas com capacidade de repelir água além de centenas de outros produtos de consumo. Ao mesmo tempo a EPA informa aos consumidores sobre este produto de que não há razão para interromperem o uso dos itens fabricados com ele. Mas muitas questões não resolvidas permanecem sobre o PFOA e que a EPA está questionando num painel de especialistas de fora da agência para avaliar seus riscos.

"O fato de que um químico com estas propriedades anti-aderentes acumularem nos organismos das pessoas não era esperado," disse Charles Auer, diretor do Setor de Prevenção de Poluição e Intoxicação da EPA.

Os críticos dizem que a falta de conhecimento sobre o PFOA e as substâncias correlatas — chamadas de compostos perfluorados ou perfluorcarbonos — expõem este sistema onde os legisladores ambientais confiam plenamente na responsabilidade das companhias que lucram com estes químicos industriais, está fazendo soar um alarme sobre sua segurança. Questões sobre efeitos potenciais à saúde humana e ao ambiente na maioria das vezes não são levantadas anos antes que as substâncias sejam colocadas no mercado.

A longa e, quase sempre, secreta história do PFOA começa a ser desvendada para fora da fábrica de TEFLON da DUPONT no espaço do Tribunal de Justiça em West Virginia, onde as famílias da cidade de Parkersburg começaram a colocar questões no final dos anos noventa sobre a misteriosa doença devastadora que assolou e matou suas vacas.

Jim e Della Tennant suspeitaram que o culpado podia estar espreitando na espuma que cobria o pequeno arroio que fluía no passado, vindo do aterro de lixo da DuPont perto da fábrica de Teflon, escorrendo para seu pasto. Seus processos jurídicos finalizaram com o acordo financeiro que evitou apontar o culpado pelas vacas mortas. Mas esta batalha legal desvelou uma coleção de documentos da indústria sobre a substância química perfluorada, PFOA.

Um dos documentos detalhava de como os cientistas da DuPont iniciaram a alertar os executivos da companhia sobre o perigo do PFOA e para que o afastassem do contato humano ainda lá por 1961. Os testes da indústria feitos mais tarde determinaram de que esta substância química acumula-se no organismo, não se decompondo no ambiente e causando disfunções orgânicas em animais, incluindo câncer, danos ao fígado e defeitos de nascimento.

Estudos recentes detectaram que os níveis de PFOA em algumas crianças estão nas médias daquelas que causam problemas de desenvolvimento em ratos.
"Nós não somos muito populares com algumas das pessoas que trabalham na fábrica," disse Della Tennant, que vive num quarteirão conhecido como DuPont Manor (nt.: Mansão DuPont), um sinal da importância da firma nesta região de Appalachia. "Mas eu não sei como se pode dormir à noite sabendo que não se relatou às pessoas sobre uma contaminação que está sobe a cabeça delas."

Se for detectada culpa ou retenção ilegal de informações por uma decisão legal adminstrativa, a DuPont poderá se confrontar com mais de $300 milhões de dólares em multas — em torno de $100 milhões a mais do que a companhia estimou fazer a cada ano com os produtos manufaturados com o PFOA.

A DuPont já concordou em pagar acima de $345 milhões para saldar um outro processo arquivado em nome de 60.000 habitantes de West Virginia e de Ohio que estavam utilizando como água potável a que foi contaminada com PFOA. Muito do que o público começou a saber sobre esta molécula veio dos documentos da companhia submetidos à justiça durante os procedimentos do julgamento do processo.

Estes documentos também estimularam o andamento de uma análise da EPA sobre os riscos de saúde, que podem regulamentar o limite ou a eliminação do emprego do PFOA.

Os funcionários da companhia dizem que partilham das preocupações do governo sobre a presença do PFOA no sangue humano, mas afirmam que não há nada errado e que o químico afeta os animais diferentemente do que as pessoas.

"A DuPont permanece confiante de que, fundamentado em mais do que 50 anos de uso e experiência com o PFOA, não há evidências a indicar que ele danifica a saúde humana ou o ambiente," diz o porta-voz da companhia, R. Clifton Webb.

A fábrica de Teflon da companhia — um complexo esparramado de torres, chaminés e construções de metal — eleva-se acima da planície de inundação num cotovelo agudo do rio Ohio. A área transformou-se em algo como um laboratório experimental onde os cientistas disputam por mais aprendizado sobre este químico que está por trás de marcas comerciais, mundialmente famosas, como o Teflon, o Stainmaster e o Gore-Tex.

Desde 1976, uma lei federal determinou que as companhias divulgassem o que elas soubessem sobre quaisquer riscos que pudessem aparecer em substâncias químicas tóxicas. A EPA conta com esforços independentes para calcular como a população está sendo exposta ao PFOA e o que pode ser feito a esta população que já poderia ter sido resguardada desde o início dos anos oitenta quando a DuPont descobriu que uma empregada grávida havia transmitido esta molécula química para seu feto.

Entre outras coisas, a EPA acusa a DuPont de ter falhado quanto a notificar à agência a respeito do nascimento de duas a cinco crianças, filhas de empregadas da fábrica, em 1981, apresentando defeitos nos olhos e nas faces, similarmente ao que foi detectado em filhotes de ratos recém nascidos, expostos ao PFOA.

A DuPont também tinha conhecimento desde, pelo menos, 1984 que as fontes d’água em West Virginia e Ohio estavam contaminadas com PFOA, de acordo com seus próprios registros. Mas a população que dependia destas fontes como água potável não descobriu até 2002, quando documentos internos da DuPont começaram a ser levados torrencialmente à Justiça. "Alguém tomou uma decisão consciente de nos expor a este produto sem nos informar," disse Robert Griffin, responsável geral da Little Hocking Water Association, que fornece água potável a 12.000 consumidores de Ohio oriunda do rio acima da fábrica de Teflon.

"Se querem fazer com a população o mesmo que com os ratos de laboratório por tão longo período," Griffin disse, "ninguém poderá permitir isto."

Os advogados da companhia contestam, afirmando de que a DuPont não teria a obrigação de partilhar as informações porque o PFOA não se encontra definido legalmente como substância tóxica, mas sim como de "risco substancial."

Os documentos da DuPont, de qualquer forma, mostram os funcionários da companhia preocupados que o público pudesse saber que o PFOA havia contaminado seus suprimentos locais de água. Um benefício surge do acordo no processo sobre a morte dos animais da família Tennant. Os advogados da companhia aconselhavam em um e-mail interno, que poderia ser impedida a divulgação da informação sobre a presença do PFOA na água.

"A maior desvantagem potencial: a contaminação da fábrica gera um plano, o caso transforma-se numa ação da coletividade," conclui o advogado da DuPont Bernard J. Reilly em um e-mail em março de 2000 esboçando uma permuta se a companhia escolher lutar com os Tennants na Justiça.

A DuPont informa que reduziu as emissões aéreas e hídricas de PFOA em 90 por cento na fábrica de Teflon. Ainda os níveis do químico nas fontes d’água junto às margens do rio do lado de Ohio são os mais altos relatados nos arquivos, de acordo com os testes feitos no outono de 2004. 

"Os registros quanto à potabilidade da água em posse da DuPont 'razoavelmente sustenta a conclusão' de que o PFOA 'apresenta um risco substancial de injúria à saúde,'" escreveu a EPA num arquivo de outubro.

Cientistas estão exatamente agora começando a saber quanto do químico está presente no sangue da população e quão longe ele viaja dos locais onde ele é fabricado ou usado — informação que destaca novos desafios aos cientistas e reguladores.

Substâncias agregadas à alimentação são regulamentadas pela Food and Drug Administration/FDA (nt.: Administração sobre Alimentos e Fármacos) e precisam passar por testes rigorosos antes de seu uso. Mas os críticos dizem que com os químicos industriais a EPA está limitada por leis tornando difícil ordenar os testes.

A EPA relatou em 1998 que não havia dados sobre a toxicidade ou "nível seguro" para 43 por cento dos 2.800 químicos produzidos nos volumes de 500 mil quilos por ano ou mais.

"Isto está no limiar do ridículo," disse Tim Kropp, um cientista sênior juntamente com a ONG não lucrativa Environmental Working Group, que despertou a atenção da EPA sobre o PFOA e outros compostos. "Não há formas do consumidor se apropriar e ser conhecedor de todos estes químicos. É por isso que precisamos que o governo nos assegure se eles são seguros."

O julgamento da EPA contra a DuPont desenvolveu-se gradualmente há mais de quatro anos assim que as preocupações da indústria sobre o PFOA vieram à baila.

Os funcionários da EPA inicialmente ficaram preocupados sobre um químico perfluorado próximo presente no produto Scotchgard, uma película antimanchas pioneira da 3M. Os reguladores começaram focando no PFOA depois da EPA ter pressionado a 3M em 2000 para paralisar a fabricação do composto, estimulada pela pesquisa que detectou este químico no sangue humano e em alimentos como maçãs, pães, ervilhas e carne moída. 

A 3M foi o principal fornecedor de PFOA para a DuPont, que agora manufatura este químico na fábrica em North Carolina. A DuPont anunciou na última semana que um novo estudo com mais de 1.000 trabalhadores da fábrica de Teflon que não foram detectados virtualmente efeitos sobre a saúde pela exposição ao PFOA. Em alguns trabalhadores foram encontrados níveis tão altos quanto previsíveis de colesterol.

Em testes com animais de laboratório foram detectadas conexões a enfermidades incluindo canceres de fígado e testicular, redução de peso em recém nascidos e supressão do sistema imunológico. As descobertas preocupam os técnicos da EPA em razão de que nos animais a excreção desta substância, o PFOA, de seus organismos se dá em alguns dias enquanto no sangue humano permanece, pelo menos, por quatro anos.

Como resultado, diz a EPA, o potencial quanto aos efeitos em termos de saúde humana não pode ser descartado.

"A exposição pela população a baixos níveis por um largo tempo produz concentrações no sangue que podem ser preocupantes," diz Auer. "Com a continuação da exposição no tempo e pelas oportunidades de consumo, a presença no sangue pode atingir altos níveis de contaminação."

Os cientistas ainda não estão seguros como o PFOA acabou se espalhando por todo o planeta. Enquanto a DuPont afirma que o processo de fabricação libera somente quantidades traço deste químico tanto nas panelas com anti-aderente como em outros bens de consumo, alguns pesquisadores pensam que assim que os produtos com Teflon envelhecem, acabam liberando substâncias químicas que terminam se metabolizando em PFOA.

O composto também é liberado tanto para a atmosfera como para os mananciais hídricos durante a fabricação. Estudos que haviam detectado PFOA em salmão nos Grandes Lagos, ursos polares no Ártico e nos delfins no Mar Mediterrâneo, sugerem que o químico viaja facilmente através da atmosfera.

Outra teoria que a EPA e pesquisadores acadêmicos estão testando é que outros químicos perfluorados, conhecidos como telomers, metabolizam-se em PFOA. Feito pela DuPont e outras companhias, os telomers são utilizados como uma camada  repelente para manchas e gordura para carpetes, roupas e embalagens para alimentos fast-food.

Pesquisadores estudando os níveis de PFOA nos Grandes Lagos pensam que quando roupas e carpetes tratados com telomers são lavados, parte destes químicos são lixiviados, drenados, para as estações de tratamento de esgoto que não estão equipadas para removê-los antes que o efluente seja descarregado para os lagos e rios. A lixívia dos aterros de lixo pode ser outra fonte.

Na última primavera, o antigo químico da DuPont Glenn R. Evers falou para o advogado da população que vive perto da fábrica da DuPont que estes químicos podem ser absorvidos das caixas de batata frita de supermercado, dos sacos de pipoca para microondas e invólucros de hamburgers entre outros itens, de acordo com uma transcrição parcial dos arquivos da EPA. A companhia respondeu pela descrição de Evers como de um ex-funcionário frustrado e com pouco conhecimento direto do PFOA.

Em Parkersburg, alguns estão relutantes em questionar um dos principais benfeitores da comunidade, mesmo depois da contaminação do PFOA tornar-se pública. Com mais de 2.000 empregados, a fábrica de Teflon é o maior empreendimento perfilado no vale com outras fábricas de plásticos e refinarias. É um centro de atividades de concentração econômica numa região atormentada por um desemprego crônico.

"Nós não estamos ignorando isto, mas devemos observar todas as coisas boas que eles fazem," disse George Kellenberger, presidente da Câmara de Comércio do Mid-Ohio Valley.

Muitos outros chegam a esta região pela promessa de um bom emprego e pelas oportunidades de trabalho informal, já as montanhas cobertas de pinheiros não estão assim tão seguras.

No decorrer dos tempos, Matt e Melinda McDowell construíram sua casa dos sonhos a poucos quilômetros ao norte da fábrica de Teflon E a DuPont sabia por mais de uma década que o local dos suprimentos d’água estava contaminado com PFOA.

Como milhares de outros moradores do vale, os McDowells receberam recentemente uma correspondência informando-os de que a DuPont promete instalar equipamento de tratamento para seis sistemas de água em função da recente condenação legal. Mas eles estão preocupados com seus dois filhos, nas idades de 8 e 12 anos, que beberam e respiraram o PFOA por quase todas suas vidas.

"Nós estamos sujeitando nossos filhos e a nós mesmos a esta experiência científica gigantesca," disse Matt McDowell. "Nós não temos a mínima noção do que isto está causando em nós. Mas o ponto crucial disto tudo é que esta substância não faz parte nem da água nem de nossos corpos."

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, fevereiro de 2006.