FIXAÇÃO DE CARBONO EM FLORESTAS COM ARAUCÁRIA Por Carlos
Roberto Sanquetta, Ph.D.,
Laboratório de Inventário Florestal, Departamento de Ciências Florestais RESUMO Este capítulo traz uma contribuição a respeito da
fixação de carbono em Florestas com Araucária. São abordados aspectos
técnicos relativos aos estoques de biomassa e carbono em florestas
naturais e plantadas com a espécie foco. Um breve texto sobre as premissas
para elaboração de projetos de MDL é apresentado ao final, considerando
as condicionantes do Tratado de Quioto. ABSTRACT This chapter gives a contribution to the knowledge on carbon
sink in Araucaria
Forests. Technical
features regarding biomass and carbon stock in natural and man-made
forests are discussed. A brief report on the requirements to write
up a CDM project under the Kyoto Protocol is provided at the end. Key words: araucaria, biomass, carbon, CDM, Kyoto Protocol. INTRODUÇÃO O uso intenso de combustíveis fósseis
e seus efeitos nocivos à Terra são uma das principais problemáticas
da sociedade contemporânea. Além das emissões decorrentes da poluição
industrial e urbana, contribui negativamente nesse processo a devastadora
ação antrópica sobre as florestas, que além de provocar o aumento
da concentração de gases poluentes pelas queimadas também reverte
em menor assimilação do carbono pela redução da massa fotossinteticamente
viva. De acordo com HOUGHTON (1998), de 1850 até o presente, o desflorestamento
vem contribuindo com aproximadamente um terço do aumento das concentrações
de CO2 na atmosfera. FIXAÇÃO DE CARBONO E OS COMPARTIMENTOS
DA BIOMASSA As plantas fixam carbono através
da clássica equação da fotossíntese, retirando gás carbônico da atmosfera
e água do solo, emitindo oxigênio e capturando carbono na sua biomassa
por meio do seu crescimento apical e radial. Esse processo se dá na
presença de luz e sob a ação da clorofila das plantas.
luz 6CO2 + 6H2O C6H12O6
+ 6O2
clorofila As árvores estão entre os seres
vivos com a maior capacidade de armazenar carbono em sua biomassa
devido ao seu porte avantajado, a sua longevidade e à possibilidade
de crescerem em maciços. Por isso as florestas são consideradas como
sumidouros de carbono e o reflorestamento/aflorestamento
aceito como meio efetivo de capturar o gás
carbônico da atmosfera poluída. A fixação de carbono em uma floresta
se dá em todos os seus compartimentos: folhagem, galhos, fuste, raízes,
serapilheira ou material caído (incluindo folhedo e madeira morta)
e também na camada orgânica do solo (Figura 1). Todos esses compartimentos
são passíveis de cômputo em quantificações para formulação de projetos
florestais de MDL. ESTOQUE
DE BIOMASSA E CARBONO EM FLORESTAS NATURAIS As Florestas de Araucária variam
amplamente em termos de composição florística, estrutura e grau de
intervenção antrópica. Conseqüentemente existem variações muito grandes
em termos de estoque de biomassa e carbono. Um dos autores que mais se dedicaram
a avaliar o estoque de carbono em Florestas de Araucária, em distintos
estágios de sucessão, foi WATZLAWICK (2003), em sua tese de doutorado
e em artigos publicados em veículos científicos com outros colaboradores.
WATZLAWICK et al. (2002) apresentaram resultados obtidos a partir
de intenso trabalho de determinação de biomassa pelo método destrutivo
em florestas em diferentes graus de intervenção na região sul do Estado
do Paraná, os quais são sintetizados na Tabela 1.
Serapilheira
Figura
1: Compartimentos da biomassa computada em projetos de MDL florestal Tabela 1: Biomassa seca e
carbono nos compartimentos florestais nos diferentes estágios de regeneração
da Floresta Ombrófila Mista Montana, General
Carneiro, PR
Nota: biomassa seca e carbono,
ambos em t/ha, estágios de regeneração conforme Resolução 02/94 CONAMA Fonte: Adaptado de
WATZLAWICK et al. (2002) Pelos resultados apresentados na
Tabela 1 observa-se que a floresta em estágio mais avançado de regeneração
tem um maior estoque de biomassa e carbono que as florestas em estágios
menos avançados. Ao considerar a Floresta Ombrófila
Mista estudada pelos autores evidencia-se que o estágio avançado de
regeneração possui cerca de 462 t/ha de biomassa
seca, correspondente a quase 190 t/ha de carbono, o que, por sua vez,
implica em um montante de 697 t/ha de CO2 equivalente. Esses valores
referem-se aos compartimentos da biomassa acima do solo, abaixo do
solo e do sub-dossel (sub-bosque) e não incluem o carbono do solo orgânico. Já no estágio médio de regeneração
a biomassa seca atinge aproximadamente 239 t/ha, o que representa
aproximadamente 98 t/ha de carbono e 360 t/ha de CO2 equivalente.
Por sua vez o estágio inicial contém 139 t/ha de biomassa seca, com
56 t/ha de carbono, representando 205 t/ha de CO2 equivalente. A ordem de grandeza de biomassa
e carbono nos estágios sucessionais ou de regeneração obviamente decorre
do fato que no estágio mais avançado ocorrem indivíduos de maior diâmetro
e altura e possivelmente maior massa específica devido à idade das
árvores e à composição florística mais rica de espécies com madeiras
duras (muitas delas consideradas clímax). Nos estágios inferiores
seguramente ocorrem indivíduos com menores diâmetros e altura e, em
que pese a maior densidade de plantas por hectare, não chegam a atingir
valores comparáveis de biomassa e carbono em comparação com os estágios
de maior complexidade estrutural. Observa-se pela Figura 2 que os
diferentes compartimentos têm participações diferenciadas nos três
níveis sucessionais da floresta em termos de biomassa seca. No estágio
inicial a maior fração é de raízes, seguida da madeira, dos galhos
vivos e do sub-dossel. Essas frações representam
87% da biomassa seca total. No estágio médio a participação da madeira
sobe para 30%, a dos galhos vivos para 26%, enquanto a casca atinge
9%. Ocorrem reduções significativas para as frações raízes e sub-dossel. Já no estágio avançado a participação dos galhos
aumenta tremendamente, atingindo 40% da biomassa seca. A madeira também
aumenta sua participação, enquanto a casca se estabiliza em termos
percentuais. Os demais compartimentos apresentam participações pouco
expressivas em termos relativos. No tocante ao carbono (Figura 3)
as proporções praticamente se mantêm, não havendo grandes diferenças
em relação à biomassa seca, até porque os teores são relativamente
estáveis para os tecidos vegetais da espécie, na faixa de 40 a 45%
dependendo de alguns fatores. (a) (b) (c) Figura 2: Participação percentual
da biomassa seca em Floresta de Araucária em diferentes níveis sucessionais
(a) (b) (c) Figura 3: Participação percentual
do carbono em Floresta de Araucária em diferentes níveis sucessionais ESTOQUE DE BIOMASSA E CARBONO EM PLANTAÇÕES FLORESTAIS
Os estoques de biomassa e carbono em plantações de Araucaria angustifolia
também dependem do grau de desenvolvimento das árvores da floresta,
ou em outras palavras, no caso de povoamentos eqüiâneos,
da idade. Alguns autores que trabalharam com a questão são: WATZLAWICK
(2003), SCHUMACHER et al. (2004) e DALLA CORTE (2005). A partir dos
resultados alcançados por tais autores e adaptações feitas com base
em uma série de dados coletados pelo Laboratório de Inventário Florestal
da UFPR chegou-se à Tabela 2. Tabela 2: Biomassa seca e carbono
nos compartimentos florestais em diferentes idades em plantações florestais
de araucária
Pelas informações reportadas na
Tabela 2 verifica-se que a biomassa viva e morta mais a serapilheira
em povoamentos adultos de 20 anos pode chegar a cerca
de 254 t/ha, correspondentes a 108 t/ha de carbono ou ainda
396 t/ha de CO2 equivalente. Os resultados das pesquisas não indicaram
diferenças entre os estoques de biomassa e carbono na serapilheira
e no solo, mas esperado que isso ocorra em função da decomposição
e incorporação. Os valores de conteúdo de carbono no solo devem ser
vistos com cautela, pois dependem de muitos fatores intrínsecos ao
próprio solo e a seu preparo durante o plantio. PROJETO
DE MDL EM FLORESTA NATURAL E PLANTAÇÕES DE ARAUCÁRIA
Como mencionado previamente a conservação florestal por ora está fora
do Tratado de Quioto. Portanto, não haveria
condições práticas de elaborar um projeto de MDL dentro dessa premissa
nos dias de hoje. Para plantações, de outro lado, as possibilidades
são plenas, se encaixando bem na modalidade A/R (Afforestation/Reforestation)
dentro do MDL e das especificações do UNFCCC (United Nations Framework fo Climate
Change Convention),
que é a Convenção Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas.
Nessas condições as prerrogativas básicas seriam as seguintes:
1.
Definição de uma metodologia de linha de base para
comprovar a elegibilidade da área a ser reflorestada dentro das condicionantes
do Tratado de Quioto, bem como o estoque
de carbono antes da implantação do projeto;
2.
Definição da metodologia de quantificação do estoque
de carbono acumulado ao longo do tempo, isto é, a metodologia de monitoramento
do projeto e da evolução do carbono ficado pela floresta ao longo
do tempo de vida do projeto;
3.
Elaboração do DCP (Documento de Concepção do Projeto)
ou PDD (Project
Document Design), contendo toda
a descrição do projeto, bem como a avaliação dos impactos ambientais,
sociais e econômicos do mesmo e a impressão dos afetados pelo
projeto (stakeholders). Essas prerrogativas devem
ser formalizadas nos formulários disponíveis na página das Nações
Unidas (www.unfccc.int) e submetidas aos organismos
responsáveis seguindo o roteiro para submissão de projetos de MDL
explanados no site. OUTROS ASPECTOS WATZLAWICK (2003), BALBINOT (2004)
e DALLA CORTE (2005) apresentam muitos outros aspectos sobre a fixação
de carbono em Florestas de Araucária, incluindo a utilização de geotecnologias, ajuste de equações e metodologias aplicáveis
à elaboração de projetos de MDL. Esses trabalhos de doutorado e mestrado
defendidos no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal da
UFPR podem ser acessados através da Biblioteca do Centro de Ciências
Florestais e da Madeira, cujo resumo encontra-se publicado na Revista
Floresta. Nesse contexto uma das principais
definições que precisam ser dadas é com relação ao sistema silvicultural e ao regime de manejo a ser adotado. Grandes
variações de estoques de carbono podem ocorrem em função da qualidade
do sítio, do preparo do terreno, da densidade inicial de plantio,
do regime de podas e desbastes e da idade de rotação. Em suma, não
existe uma receita única e cifras representativas de todas as situações.
É sempre importante realizar um trabalho específico ao estudo de caso
visando ter informações precisas e confiáveis sobre a fixação de carbono
na floresta em apreço. CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Este trabalho procurou dar um breve panorama sobre a fixação de carbono
na Floresta de Araucária, considerando tanto a floresta natural como
a plantada. Foram apresentados alguns números de estoque de carbono
em florestas mais jovens, intermediárias e adultas. Por fim, foi dado
um pequeno relato das condicionantes técnicas para levar a
cabo um projeto de MDL florestal com a araucária. REFERÊNCIAS
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geradoras de créditos de carbono: estudo de viabilidade no sul do
Estado do Paraná, Brasil. Curitiba: Universidade Federal
do Paraná (Dissertação de Mestrado em Ciências Florestais), 2004.
105. CHANG, M.Y. Seqüestro florestal de carbono no Brasil – Dimensões
políticas socioeconômicas e ecológicas. In: FIXAÇÃO
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Curitiba: Universidade Federal do Paraná (Dissertação de Mestrado
em Ciências Florestais), 2005. 106p. HOUGHTON, R.A. As florestas e o
ciclo de carbono global: armazenamento e emissões atuais. In: EMISSÃO
x SEQÜESTRO DE CO2 – UMA NOVA OPORTUNIDADE DE NEGÓCIOS PARA O
BRASIL, 1994. Rio de Janeiro. Anais...
Rio de Janeiro: Companhia Vale do Rio Doce, p.38–76. 1994. SANQUETTA, C.R.; BALBINOT, R. Metodologias para
determinação de biomassa florestal. In: FIXAÇÃO DE
CARBONO: ATUALIDADES, PROJETOS E PESQUISAS (Sanquetta
et al. editores). Curitiba: p.77-92, 2004. SANQUETTA, C.R.; TETTO, A.F. Pinheiro-do-Paraná: lendas e realidades. Curitiba: editorado
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sub-bosque e solo de uma floresta de Pinus elliottii Engelm. aos 36 anos em Santa Maria,
RS. In: FIXAÇÃO DE CARBONO:
ATUALIDADES, PROJETOS E PESQUISAS (Sanquetta
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Curitiba: Universidade Federal do Paraná (Tese de Doutorado em Ciências
Florestais), 2003. 120p. WATZLAWICK, L.F.; SANQUETTA, C.R.; MELLO, A.A.; ARCE,
J.E. Ecuaciones de biomassa aérea en plantaciones de Araucaria angustifolia en el sur del Estado
del Paraná, Brasil. In: SIMPOSIO INTERNACIONAL - MEDICIÓN Y MONITOREO
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- Chile: Anales..., Valdivia: 12p. 2001. WATZLAWICK, L.F.; KIRCHNER, F.F.; SANQUETTA, C.R.;
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In: AS FLORESTAS
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