http://www.esi-topics.com/fbp/2005/february05-PhilippaDarbre.html Philippa Darbre responde a algumas questões
sobre a entrevista do mês que tratou de Farmacologia e Toxicologia.
Por que a senhora
acha que a sua pesquisa tem sido tão citada? “Este
trabalho é parte de um projeto de pesquisa para investigar os componentes
de cosméticos aplicados nas axilas e na área do seio que podem desempenhar
um papel na incidência e progressão do câncer de mama
humano.” Este trabalho tem sido
tão citado porque os centros de pesquisa sobre fatos de interesse
público estão envolvidos na compreensão do desenvolvimento e da progressão
do câncer de mama, notadamente se estiverem químicos estrogênicos.
O impacto estabelecido pelos disruptores endócrinos na vida aquática
selvagem demonstrou o potencial dos químicos poluentes com propriedades
estrogênicas também para aumentar os efeitos adversos na saúde humana.
Entretanto, o progresso paralisou, em anos recentes, quanto à identificação
das reais fontes de exposição humana que possam permitir uma exposição
continuada e ampla de forma semelhante àquela a que as espécies aquáticas
estão expostas continuamente a estes químicos presentes na água em
que vivem. No entanto, no contexto da doença da mama, há uma percepção
de que a aplicação de substâncias químicas que compõem determinados
cosméticos aplicados nas axilas e na área da mama, podem satisfazer
o fato da exposição em termos de emprego generalizado e contínuo diretamente
no tecido dérmico e se tais químicos podem acessar à mama em quantidades
suficientes [Harvey PW and Darbre PD, "Endocrine disrupters and
human health," J Appl Toxicol 24: 167-176, 2004]. Este
trabalho descreve pela primeira vez a medição de parabenos (alquil
ésters do ácido p-hidroxibenzóico) na mama humana. Os parabenos já
foram identificados como possuidores de propriedades estrogênicas.
São empregados como preservativo em milhares de cosméticos, alimentos
e produtos farmacêuticos aos quais a população humana está exposta.
Então é possível que isso possa providenciar uma primeira conexão
potencial entre a disfunção endócrina e um problema de saúde humana. Foi descrita
uma nova descoberta ou uma nova metodologia que é útil para outros? O impacto principal deste
trabalho foi simplesmente a detecção pela primeira vez de parabenos
em tecidos humanos. Supunha-se anteriormente que no corpo humano,
eles não entrassem, apesar de se saber que penetravam no couro animal.
Utilizamos tecidos de mama em razão de estarmos especificamente interessados
em saber se os parabenos poderiam entrar no seio humano. Assim agrega-se
esta substância química à lista dos químicos estrogênicos que podem
ser detectados no seio. Entretanto, diferentemente de outros químicos
estrogênicos detectados em mama, como os agrotóxicos organoclorados
e os policloretos bifenilos que entram como poluentes químicos ambientais,
os parabenos são adicionados aos produtos de consumo que podem, sem
dúvida, ser trocados ou eliminados.
Poderia
resumir a significância de seu trabalho em termos que um leigo entenda? A significância do trabalho
é por ser a primeira pesquisa que mede parabenos em tecido humano.
Serve para demonstrar que se a população humana está exposta aos parabenos
através de sua adição a produtos de consumo como um preservativo,
então eles terão chances de entrar no corpo dos consumidores. As descobertas
de parabenos em tecidos de tumores de câncer de mama são de interesse
geral porque eles já haviam demonstrar ter propriedades estrogênicas
e o estrogênio é conhecido por influenciar a incidência e a progressão
dos cânceres de mama em humanos. No entanto, é também importante enfatizar
as limitações deste estudo já que ele não demonstrou nenhuma ligação
funcional entre a presença dos parabenos e o desenvolvimento de câncer
de mama e nem pode identificar a fonte destes parabenos dos milhares
de produtos de consumo aos quais estes compostos são agregados. Como se
envolveu com esta pesquisa? Nos últimos 23 anos,
meu interesse de pesquisa foi centrado na regulação dos estrogênios
no crescimento das células de câncer de mama e foi com este background
que eu comecei a investigar se havia algum papel funcional para os
químicos ambientais que mimetizavam o estrogênio no câncer de mama.
A população humana pode estar exposta aos estrogênios ambientais através
de materiais vegetais comestíveis (os fitoestrogênios), através do
uso de estrogênios sintéticos (por exemplo, a pílula contraceptiva,
terapia de reposição hormonal), ou através dos químicos poluentes
estrogênicos sintetizados pelas fábricas que entram na dieta via cadeia
alimentar ou por aplicação dérmica como preparações cosméticas. Este
trabalho é parte de um projeto de pesquisa para investigar se os constituintes
das formulações cosméticas aplicadas nas axilas ou na área do seio
podem desempenhar um papel na incidência e progressão do câncer de
mama humano. Estes cosméticos são aplicados com freqüência crescente
tanto por mulheres como homens por todo o globo. Além disso agora
estão sendo utilizados por crianças e bebês desde a mais tenra idade.
São colocados na pele, possibilitando sua acumulação e exposição contínua.
O desafio desta pesquisa é identificar o mecanismo de ação de tal
variedade de químicos que são ingredientes destes produtos de consumo
e medir os níveis de diferentes compostos que entram na mama humana.
Um importante passo no futuro será investigar quaisquer sinergias
potenciais existem entre os diferentes químicos nas formulações e
com outros químicos ambientais, especialmente aqueles com propriedades
estrogênicas e conhecidos por entrarem na mama através da dieta como
os agrotóxicos organoclorados e os policloretos. Com relação aos parabenos
especificamente, trabalhos anteriores feitos por nós e outros, demonstraram
que os parabenos podem mimetizar a ação dos estrogênios tanto em ensaios
in vitro como in vivo, e eles podem facilmente ser absorvidos
através do couro dos animais como ésteres intactos [rever em Harvey
PW and Darbre PD, " Endocrine disrupters and human health,"
J. Appl. Toxicol.
24: 167-176, 2004]. No entanto, a questão permanece de como poderiam os parabenos entrar
no corpo humano intactos em longo prazo, em níveis de baixas doses
aos quais os humanos estão expostos através dos produtos de consumo.
Foi o primeiro estudo a demonstrar níveis mesuráveis de parabenos
na forma de ésteres intactos no corpo humano, e, apesar do estudo
não puder identificar a fonte dos parabenos medidos, ele estabeleceu
a existência deles desta forma no seio humano. O projeto somente foi
possível de ser feito pela colaboração dos colegas da Edinburgh
Breast Unit (pelo suprimento de tecido e extrações) e da Veterinary Laboratories Agency em Weybridge (pela medição HPLC-MS/MS). Efetivamente, pesquisas posteriores
são necessárias para expandir este estudo para se avaliar populações
maiores, outros tecidos do corpo e identificar a fonte da exposição.
Philippa Darbre, Ph.D. Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, janeiro de 2006.
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