http://www.esi-topics.com/fbp/2005/february05-PhilippaDarbre.html

Philippa Darbre responde a algumas questões sobre a entrevista do mês que tratou de Farmacologia e Toxicologia.



Área de interesse: Farmacologia & Toxicologia.

>>Fevereiro de 2005.


Título do artigo: Concentrations of parabens in human breast tumours (Concentrações de parabenos em tumores em mama).


Authors: Darbre, PD;Aljarrah, A;Miller, WR;Coldham, NG;Sauer, MJ;Pope, GS
Journal: J APPL TOXICOL
Volume: 24
Page: 5-13
Year: JAN-FEB 2004.
* Univ Reading, Sch Anim & Microbial Sci, Div Cell & Mol Biol, POB 228, Reading RG6 6AJ, Berks, England.
* Univ Reading, Sch Anim & Microbial Sci, Div Cell & Mol Biol, Reading RG6 6AJ, Berks, England.
* Western Gen Hosp, Edinburgh Breast Unit Res Grp, Edinburgh EH4 2XU, Midlothian, Scotland.
* Vet Labs Agcy, Dept Bacterial Dis, Surrey KT15 3NB, England.
* Vet Labs Agcy, Dept TSE Mol Biol, Surrey KT15 3NB, England.

 Por que a senhora acha que a sua pesquisa tem sido tão citada?

“Este trabalho é parte de um projeto de pesquisa para investigar os componentes de cosméticos aplicados nas axilas e na área do seio que podem desempenhar um papel na  incidência e progressão do câncer de mama humano.”

Este trabalho tem sido tão citado porque os centros de pesquisa sobre fatos de interesse público estão envolvidos na compreensão do desenvolvimento e da progressão do câncer de mama, notadamente se estiverem químicos estrogênicos. O impacto estabelecido pelos disruptores endócrinos na vida aquática selvagem demonstrou o potencial dos químicos poluentes com propriedades estrogênicas também para aumentar os efeitos adversos na saúde humana. Entretanto, o progresso paralisou, em anos recentes, quanto à identificação das reais fontes de exposição humana que possam permitir uma exposição continuada e ampla de forma semelhante àquela a que as espécies aquáticas estão expostas continuamente a estes químicos presentes na água em que vivem. No entanto, no contexto da doença da mama, há uma percepção de que a aplicação de substâncias químicas que compõem determinados cosméticos aplicados nas axilas e na área da mama, podem satisfazer o fato da exposição em termos de emprego generalizado e contínuo diretamente no tecido dérmico e se tais químicos podem acessar à mama em quantidades suficientes [Harvey PW and Darbre PD, "Endocrine disrupters and human health," J Appl Toxicol 24: 167-176, 2004]. Este trabalho descreve pela primeira vez a medição de parabenos (alquil ésters do ácido p-hidroxibenzóico) na mama humana. Os parabenos já foram identificados como possuidores de propriedades estrogênicas. São empregados como preservativo em milhares de cosméticos, alimentos e produtos farmacêuticos aos quais a população humana está exposta. Então é possível que isso possa providenciar uma primeira conexão potencial entre a disfunção endócrina e um problema de saúde humana.

  Foi descrita uma nova descoberta ou uma nova metodologia que é útil para outros?

O impacto principal deste trabalho foi simplesmente a detecção pela primeira vez de parabenos em tecidos humanos. Supunha-se anteriormente que no corpo humano, eles não entrassem, apesar de se saber que penetravam no couro animal. Utilizamos tecidos de mama em razão de estarmos especificamente interessados em saber se os parabenos poderiam entrar no seio humano. Assim agrega-se esta substância química à lista dos químicos estrogênicos que podem ser detectados no seio. Entretanto, diferentemente de outros químicos estrogênicos detectados em mama, como os agrotóxicos organoclorados e os policloretos bifenilos que entram como poluentes químicos ambientais, os parabenos são adicionados aos produtos de consumo que podem, sem dúvida, ser trocados ou eliminados. 

  Poderia resumir a significância de seu trabalho em termos que um leigo entenda?

A significância do trabalho é por ser a primeira pesquisa que mede parabenos em tecido humano. Serve para demonstrar que se a população humana está exposta aos parabenos através de sua adição a produtos de consumo como um preservativo, então eles terão chances de entrar no corpo dos consumidores. As descobertas de parabenos em tecidos de tumores de câncer de mama são de interesse geral porque eles já  haviam demonstrar ter propriedades estrogênicas e o estrogênio é conhecido por influenciar a incidência e a progressão dos cânceres de mama em humanos. No entanto, é também importante enfatizar as limitações deste estudo já que ele não demonstrou nenhuma ligação funcional entre a presença dos parabenos e o desenvolvimento de câncer de mama e nem pode identificar a fonte destes parabenos dos milhares de produtos de consumo aos quais estes compostos são agregados.

  Como se envolveu com esta pesquisa?

Nos últimos 23 anos, meu interesse de pesquisa foi centrado na regulação dos estrogênios no crescimento das células de câncer de mama e foi com este background que eu comecei a investigar se havia algum papel funcional para os químicos ambientais que mimetizavam o estrogênio no câncer de mama. A população humana pode estar exposta aos estrogênios ambientais através de materiais vegetais comestíveis (os fitoestrogênios), através do uso de estrogênios sintéticos (por exemplo, a pílula contraceptiva, terapia de reposição hormonal), ou através dos químicos poluentes estrogênicos sintetizados pelas fábricas que entram na dieta via cadeia alimentar ou por aplicação dérmica como preparações cosméticas. Este trabalho é parte de um projeto de pesquisa para investigar se os constituintes das formulações cosméticas aplicadas nas axilas ou na área do seio podem desempenhar um papel na incidência e progressão do câncer de mama humano. Estes cosméticos são aplicados com freqüência crescente tanto por mulheres como homens por todo o globo. Além disso agora estão sendo utilizados por crianças e bebês desde a mais tenra idade. São colocados na pele, possibilitando sua acumulação e exposição contínua. O desafio desta pesquisa é identificar o mecanismo de ação de tal variedade de químicos que são ingredientes destes produtos de consumo e medir os níveis de diferentes compostos que entram na mama humana. Um importante passo no futuro será investigar quaisquer sinergias potenciais existem entre os diferentes químicos nas formulações e com outros químicos ambientais, especialmente aqueles com propriedades estrogênicas e conhecidos por entrarem na mama através da dieta como os agrotóxicos organoclorados e os policloretos. Com relação aos parabenos especificamente, trabalhos anteriores feitos por nós e outros, demonstraram que os parabenos podem mimetizar a ação dos estrogênios tanto em ensaios in vitro como in vivo, e eles podem facilmente ser absorvidos através do couro dos animais como ésteres intactos [rever em Harvey PW and Darbre PD, " Endocrine disrupters and human health," J. Appl. Toxicol. 24: 167-176, 2004]. No entanto, a questão permanece de como poderiam os parabenos entrar no corpo humano intactos em longo prazo, em níveis de baixas doses aos quais os humanos estão expostos através dos produtos de consumo. Foi o primeiro estudo a demonstrar níveis mesuráveis de parabenos na forma de ésteres intactos no corpo humano, e, apesar do estudo não puder identificar a fonte dos parabenos medidos, ele estabeleceu a existência deles desta forma no seio humano. O projeto somente foi possível de ser feito pela colaboração dos colegas da Edinburgh Breast Unit (pelo suprimento de tecido e extrações) e da Veterinary Laboratories Agency em Weybridge (pela medição HPLC-MS/MS). Efetivamente, pesquisas posteriores são necessárias para expandir este estudo para se avaliar populações maiores, outros tecidos do corpo e identificar a fonte da exposição.

Philippa Darbre, Ph.D.
Conferencista Senior em Oncologia
Divisão de Biologia Celular e Molecular
Escola de Ciências Animal e Microbiana
Universidade de Reading
Reading, Inglaterra.

 

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, janeiro de 2006.