PANCs: Plantas Alimentícias Não Convencionais.

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Hoje vamos falar sobre um assunto muito muito legal e que nós aqui do blog ‘Sabor de Fazenda' estamos vivenciando há um tempo….as PANCs, plantas alimentícias não convencionais.

 

https://viveirosabordefazenda.wordpress.com/2014/11/19/pancs-plantas-alimenticias-nao-convencionais/

 

O que pode ser considerado uma PANC? 

São plantas que encontramos facilmente e que a maioria das pessoas não se dá conta da sua função alimentar. Muitas são consideras matos espontâneos, ou seja, plantas que crescem espontaneamente nos nossos quintais, quais temos a mania de considerar daninhas e retirar sem qualquer utilização posterior. Também podemos considerar algumas plantas PANCs algumas plantas comuns, como a bananeira (Musa x paradisiaca), pois acabamos restringindo o seu consumo a apenas uma parte (o fruto maduro), sendo que as demais são renegadas, como os mangarás (corações ou umbigo) e os frutos verdes. Portanto, plantas com funções alimentícias não conhecidas pela maioria e partes não usuais podem classificar uma planta como uma PANC.

Este tema não é novo, o uso destas plantas já vem sendo registrado e incentivado por muitas pessoas, como nós aqui da Sabor de Fazenda, o renomado Prof. Dr. Valdely Kinupp, Neide Rigo do blog Come-se e a culinarista Neka, atingindo atualmente a alta gastronomia, como através do chef Alex Atala, do restaurante D.O.M. Este assunto é recorrente nos últimos anos, porém neste mês ele tomou seu lugar de destaque com o lançamento de um livro inteiramente dedicado a estas plantas queridinhas!!! O livro é Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no dos autores Valdely Kinupp e Harri Lorenzi.

©Sabor de Fazenda

O lançamento oficial foi realizado durante o II Simpósio de PANCs, no Jardim Botânico Plantarum, em Nova Odessa, no último dia 08. Tivemos o prazer de participar deste dia delicioso dia, inteiramente dedicado a estas plantas.

O Simpósio deste ano contemplou as seguintes palestras, além da palestras de lançamento do livro com Harri Lorenzi:

  • Experiência do uso de PANCs na alta gastronomia – chef Andrew Bushee;
  • Experiência da introdução e cultivo de PANCs em Santa Catarina – Eng. Agr. Amaury Junior;
  • As plantas PANCs mais espetaculares – Dr. Valdely Kinupp;
  • A introdução e cultivo de plantas PANCs no Brasil pela Embrapa – Dr. Numo Madeira.

©Jardim Botânico Plantarum

Apesar de o viveiro já trabalhar há um tempo com plantas não convencionais e matos espontâneos, algumas conhecimentos nos surpreenderam. Durante a palestra do chef Andrew Bushee descobrimos que a urtiga é uma planta comestível, sendo que suas folhas podem ser consumidas em diferentes pratos, desde que seja feito o prévio branqueamento destas, podemos fazer risoto e até nhoque de urtiga.

Ficamos encantados com a apresentação do Eng. Agr. Amaury Junior (EPAGRI), sobre alimentos nutracêuticos, ou seja, alimentos com poder terapêutico, dos quais muitos são plantas não convencionais. Ficamos surpreendidos com a descoberta de uma planta chamada salicórnia (Sarcocornia perennis), da qual é possível produzir um fito-sal que possui um baixíssimo percentual de sódio, com menor proporção de Na/K, rico em lipídios poli-insaturados, como ômega 6 e 3!!! Também pudemos conhecer o grande potencial da inulina, frutose presente em algumas espécies, principalmente no tubérculo do tupinambo (Helianthus tuberosus). O pessoal da EPAGRI comprovou em estudos que a inulina proporciona melhoria das funções intestinais e aumento na absorção de minerais, tornando-se um importante nutracêutico. O destaque também ficou por conta da nossa sempre queria ora-pro-nóbis (Pereskia sp.), qual possui alto teor de proteína, em torno de 25% (!), e apresenta uma incrível versatilidade (e sabor) na cozinha.

Além das palestras, houve um delicioso café da manhã e almoço compostos com PANCs, alguns pratos foram: geleia de araça-boi (Eugenia stipitata), pão de ora-pro-nóbis (Pereska acuelata) com geleia, pão de tupinambor (Helianthus tuberosus), salada com flores de astromélia (Alstroemeria caryophyllaea) e malvavisco (Malvaviscus arboreus), salada de góia (Momordica charantia), arroz de clitória (Clitoria ternatea), arroz com fruta pão (Artocarpus camansi), refogado de ora-pro-nóbis (Pereskia acuelata), entre outras delícias.

O livro das PANCs pode ser adquirido no próprio site da editora Plantarum e está em promoção durante estes dias. Nele contém 351 espécies de plantas consideradas PANC, sendo que cada uma delas vem com fotos para identificação, dados botânicos, uso geral e culinário e (claro) três receitas deliciosas. Este é um livro que vale muito a pena ter em casa, ou melhor, na cozinha! Ele é fruto de um intenso estudos dos dois grandes autores, Valdely Kinnup e Harri Lorenzi.

Pessoal!!! Esperemos ter plantado em vocês a sementinha do uso (e valorização) das plantas não convencionais. Sintam-se a vontade para comentar se usam ou não algumas destas plantas. Ainda surgirão muitos posts com este tema por aqui, para ver nosso post falando sobre alguns matos espontâneos comestíveis cliquem aqui.

Venham nos visitar aqui no viveiro ou nas nossas feiras (Modelódromo e Parque da Água Branca) e conheçam nossas PANC!

Aguardem que em breve iremos falar aqui sobre o lindo Jardim Botânico Plantarum.

Av. Nadir Dias de Figueiredo, 395 – Vila Maria, São Paulo

 

Matos espontâneos: relíquias em nossos jardins

Gabriela Pastro

A ideia deste post surgiu assistindo uma das aulas de Jardinagem Gastronômica das herboristas Silvia e Sabrina Jeha aqui no viveiro, elas sempre enfatizam a importância destas plantas para os nossos jardins. Esperamos que aproveitem e se surpreendam, pois…

Nossos jardins escondem relíquias inestimáveis…

Geralmente, não nos damos conta das plantas que crescem espontaneamente ao nosso redor. Estas, que muitos chamam de ervas daninhas, tiriricas ou pragas, escondem poderes medicinais e culinários que só um hortelão observador conhece.

Elas são caracterizadas por rápido crescimento, ótima adaptação climática, fácil dispersão e germinação e alta longevidade, mesmo em solos mal cuidados. Estas plantas são boas indicadoras da condição do solo, pois cada uma surge em uma condição específica.

Porém…

Apesar de todas estas características, elas são temperamentais. Muitas vezes queremos fazer um cultivo forçado, porém isto não acontece.

Existe uma variedade muito grande de matos que crescem espontaneamente e suas presenças variam de região para região e de solo para solo. As que mais encontramos aqui no viveiro Sabor de Fazenda são:

  • Beldroega (Portulaca oleracea): cresce em solo rico em matéria orgânica, portanto ter ela crescendo espontaneamente em nosso jardim é um bom sinal. Esta espécie é chamada de beldroega de verão, nas regiões mais frias, como Argentina, cresce também a beldroega de inverno (Claytonia perfoliata). Em nossas condições, suas sementes germinam o ano todo. Possui propriedades diuréticas e ajuda nos movimentos peristálticos do intestino. As folhas apresentam um sabor picante e podem ser consumidas cruas em saladas, picles, bolinhos, tempuras, salteadas e em omeletes e sanduíches.

Beldroega (Portulaca oleracea) ©Sabor de Fazenda

  • Mentruz (Coronopus didymus): possui sabor bem mais picante que a beldroega. É consumida na forma de saladas e para temperar aguardentes. Cresce frequentemente na região Sul do Brasil e propaga-se apenas através de sementes. Não deve ser confundida com a planta mastruz (ou erva de Santa Maria).

Mentruz (Coronopus didymus) ©Sabor de Fazenda

  • Mastruz ou erva-de-santa-maria (Chenopodium ambrosioides): possui propriedades vermicidas e é utilizada popularmente como inseticida doméstico para afastar pulgas. Propaga-se exclusivamente sob a forma de sementes. É encontrada em praticamente todo o país, porém raramente apresenta grandes infestações. As folhas são usadas como condimento, principalmente no México, como para temperar pratos à base de feijão, cogumelos, milho verdes e em sopas.

Mastruz ou erva-de-santa-maria (Chenopodium ambrosioides) ©Sabor de Fazenda

  • Caruru (Amaranthus spp.): também conhecida como amaranto, é muito rica em ferro. Suas folhas podem ser consumidas, porém somente cozida. As sementes torradas são deliciosas em saladas e sucos. Geralmente, é encontrada em locais ricos em matéria orgânica, portanto é uma planta indicadora de solos bons, ricos em potássio e bem drenados. Existem cerca de 7 espécies chamadas de caruru, sendo que a Amaranthus lividus é a que mais encontramos aqui no viveiro

Caruru (Amaranthus deflexus) ©Sabor de Fazenda

  • Dente de leão (Tanaxacum officinale): é um mato espontâneo típico de inverno. Suas folhas têm um sabor amargo e podem ser utilizadas em saladas. Devem-se usar as folhas mais jovens, pois as mais velhas são muito amargas e duras. Possui propriedades digestivas.

Dente-de-leão (Taraxacum officinale) ©Sabor de Fazenda

  • Serralha (Sonchus oleraceus): parente próximo do dente-de-leão, porém possui um porte maior. Pode ser consumida em saladas ou refogada. Propaga-se exclusivamente através de sementes e vegeta nos períodos de inverno-primavera, principalmente.

Serralha (Sonchus oleraceus) ©Sabor de Fazenda

  • Tansagem (Plantago tomentosa): razoavelmente frequente nas regiões Sul e Centro-Oeste, sendo a espécie de Plantago mais comum no Brasil. Cresce em solos pouco movimentados, sem uso e mais intensamente durante os períodos de temperaturas mais amenas do ano. Tolera solos de baixa fertilidade e arenosos. Muito utilizada na medicina popular.

Tansagem (Plantago tomentosa) ©Sabor de Fazenda

Outras plantas consideradas espontâneas que podemos encontrar no nosso jardim:

As plantas espontâneas, além de serem usadas na culinária e medicina, são muito importantes para o controle ecológico da horta. A presença delas funciona como um atrativo para pragas e doenças e acaba deixando nossas plantas cultivadas livres deles. Olhem com a serralha está repleta de pulgões, com isto, as plantas do entorno ficam livres deles:

Serralha infestada por pulgões ©Sabor de Fazenda

Aqui no viveiro nós deixamos estes matos crescerem livremente nas áreas abaixo das bancadas, assim eles protegem nossas mudas comerciais que ficam em cima das bancadas. Vejam a grande variedade de matos espontâneas e como eles estão robustos…um sinal de bom solo:

Plantas espontâneas debaixo das bancadas ©Sabor de Fazenda

O grau de desenvolvimento da planta espontânea é também um bom indicador da qualidade do solo. Em solos ruins estas plantas apresentam-se pouco desenvolvidas e muito rapidamente apresentam floração, por isso plantas de pequeno porte, com folhas pequenas e com muitas florações são típicas de solos pobres e mal cuidados. Já em solos bons, estas plantas alcançam um porte maior e a floração aparece mais tardiamente. Vejam nas imagens abaixo o picão-preto de uma área de solo ruim (esquerda) e outro de solo bom (direta):

Por isto tudo, devemos reverenciar a presença destas relíquias em nossos jardins. De maneira controlada, elas sempre serão muito bem vindas na horta e na nossa cozinha. Lembrando que, se você não tem certeza de qual espécie se trata, não consuma e também nunca utilize matos espontâneos que cresceram nas ruas e calçadas.

Este post não seria possível sem os conhecimentos do nosso querido chefe do viveiro, Ronaldo, a sua sabedoria de anos está sempre nos enriquecendo…

Ronaldo - chefe do viveiro ©André Andrade

Referência bibliográfica:

Lorenzi, Harri. Plantas daninhas do Brasil: terrestres, aquáticas, parasitas e tóxicas. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2008.

Av. Nadir Dias de Figueiredo, 395 – Vila Maria, São Paulo
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