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http://www.gea-es.org/agricultura/entrefuku_agricul.html Masanobu Fukuoka. Da "agricultura
natural" ao "reverdecer" Sessenta anos junto à natureza lhe
deram o saber para entender quem somos, o que devemos ser e o que temos
que fazer no futuro para ser. A alma deste homem humilde (vive com sua
aposentadoria), honesto, comprometido até às entranhas, camponês, poeta,
filósofo, intelectual, ilumina as mentes e os corações de milhares de
pessoas pelo mundo. É um revolucionário, um grande sábio. Com seus livros e suas
palavras nos faz pensar sobre nossa maneira de viver e nos indica o
caminho e como chegar nele. Seu método revolucionário de agricultura
natural, seu invento das "nendo dango" (bolinhas de argila
em japonês) para converter desertos em bosques, seus livros, tudo o
que diz e sua filosofia de vida o convertem sem dúvida em um personagem
excepcional. Sua filosofia de vida, faz-lhe feliz? Se não tivesse me conectado
à minha filosofia, há anos que estaria morto. Só existe uma coisa: que
todo é um. Também descobri que não há nada que exista neste mundo, esta
é a idéia que tenho perseguido. Tenho tentado entrar cada vez mais nos
detalhes do mais profundo do NADA. A única grande idéia que tive aos
25 anos é que tudo é o mesmo. Em geral
seu pensamento está conectado com o NADA, “MU”, FAZER NADA. De acordo
com este pensamento, até a educação é inútil. O conhecimento em si mesmo
é algo que separa as coisas. Fukuoca diz "se
utilizas este pensamento para separar o vermelho do negro, aprendeste
a separar o vermelho do negro, mas nada sobre o vermelho ou o negro".
Como se explica que
uma pessoa de sua idade tenha tal vitalidade? Todo o secreto é que não
me preocupo em absoluto com minha saúde. Talvez seja o fato de que há
60 anos decidi fazer-me de louco e fazer loucuras. Crê que sua filosofia
é transcendente? (Sorri) Demasiado simbólico. Não sinto que seja assim. Sou um homem muito simples, muito normal.
Meu grande privilégio foi ter descoberto que sou louco. Por isso não
me sinto ofendido quando alguém diz algo estranho sobre mim, como tampouco
me sinto maravilhado quando me elogiam. Penso que não tenho talento
para fazer uma ONG. Por outro lado nunca vi uma organização funcionando
bem, necessitam dinheiro e infra-estrutura para funcionar. Para reverdecer
só são necessárias sementes e argila. O que lhe pareceu a paisagem do Mediterrâneo desde a Grécia, Itália e Espanha
(com a ilha de Mallorca)? Também comparando com as
paisagens africanas estas aqui são desertos rochosos, que serão muito
difíceis de reverdecer. Às verduras, parece-me que lhes falta o sabor
delicado. Creio que este sabor delicado que lhes falta é como se a natureza
fosse muito simples e os nutrientes também. Parece que isso se passa
com toda a natureza. À natureza falta-lhe vitalidade e esta deficiência
se transmite aos alimentos e através deles, às pessoas. Não vejo variedades
nos campos. Que lhe parece esta
paisagem tomada de oliveiras?
Parece ser a árvore que
mais agüenta este clima. Uma árvore ideal para o deserto. E aqui é um deserto.
Podes pensar que
isso (o que vemos aquí) é a natureza tal qual.
Numa área de uns 10 mts. só
há cinco tipos de frutíferas diferentes. Com 30 tipos de frutíferas
e que cada uma delas tenha 5 a 6 variedades
poderíamos ter 150 tipos de fruta. Fazem 2.000 anos que se cortaram
as árvores da floresta para se construir barcos. Começou a erosão e
o avanço do deserto. Venho o deserto da Espanha para esta ilha (Mallorca).
A agricultura moderna e a erosão são as causas para que este processo
continue. Desapareceram a cultura e o uso dos bosques. A
fome do mundo, a violência social e étnica. Estas coisas ocorrem
porque se acelerou a destruição da natureza, se se
perder mais uns 3% mais dela, o mundo se destruirá. Abri este livro
(tem nas mãos um livro sobre a Mallorca e
o mediterrâneo), demonstrando que é assim que o mundo pode chegar a
ser. Sacrificar la
natureza para o desenvolvimento
de uma civilização. A
civilização e a cultura vão em declínio e terminaremos
neste deserto de pedra e terra. Este local deveria ser um bosque com árvores
de 100 mts. Agora
só nos resta a água armazenada nas pedras e esta é nossa última oportunidade.
Como solucionar a questão
da fome? O erro básico é quando
o ser humano pensa que é ele que produz a comida. Por
isso utiliza produtos químicos. As coisas que se faz para controlar a água, barragens, diques, é
um erro. Parar o fluxo do rio, suja a água. A água ao fluir
com as pedras é muito melhor, a água se purifica. O ser humano pensa que o problema se soluciona
fazendo barragens, mas não faz nada para solucionar a falta de água.
A água é produzida pela quantidade de folhas que há no solo. Este local
está deserto não por falta d’água, mas sim pela falta de vegetação.
Na Espanha, no Egito, na Líbia, tiram a água do fundo da terra, agravando
o problema, ao tentarem puxá-la do fundo da terra. Destruindo liquens
e folhas, pioramos a possibilidade de obter água. Tiramos a água do
mar para produzir riqueza. Com este método cremos que estamos controlando
a água. O trabalho que esse processo inclui realmente destrói a natureza.
O homem queima madeira, carvão, urânio, crê que está criando mais e
mais energia, mas está fazendo o contrário. A energia não serve para
nada. O que pensa das sementes
híbridas? Não. Não utilizo
híbridos. Venho tentando explicar isso há uns 40 anos. Os japoneses
não entendem porque só compreendem uma parte do problema, não sua totalidade.
Quando falo do todo se converte em grande. Quando falo de algo concreto se torna
pequeno. 60 anos
buscando uma boa solução, um bom método, não encontrei. Tornei-me um
pouco pessimista, agora tento explicar meus pensamentos com poemas.
Si semeias sementes e lhe acrescentas fertilizante de um certo ponto
de vista pode estar bem. Mas visto incluindo todas as partes pode o
fertilizante ser um erro. Pode-se dizer que hoje em dia na raça humana
para aqueles que crêem piamente na ciência que esta se converteu em
uma religião. Faz 60 anos que cheguei ao conceito do “não fazer”. A
única palavra em minha cabeça tem sido “UM”. Todas as coisas que tem
valor realmente não existem. O conhecimento humano não tem nenhum valor,
não tem valor a separação das cores, de algo
que existe, que não existe. Como imagina um livro
para crianças? A única esperança para
esta situação são as crianças e talvez sejam os únicos sobreviventes.
O problema está nos professores, pois eles podem criar mal-entendidos
às crianças. Em uma palestra com estudantes na Univ. de
Kioto, uma fala de duas horas, converteu-se
em uma de 8 h. O tema principal da conversação foi que cremos que o
professor de escola média é menos do que um de universidade. Este é
um equívoco e me tomou 20 h. para explicá-lo e porque os seres humanos
são muito mais estúpidos que os cães. O ser humano crê que tem a habilidade
de saber conhecer, e isso não é certo. O ser humano tem dois olhos,
os cães também, nós estamos pensando que vemos as mesmas coisas. Os
cães e os gatos vêem uma coisa através dos olhos, e não fazem discriminação
se é boa ou má, homem-mulher. Os gatos não vêem, é próprio dos humanos.
O ser humano crê que conseguiu capturar a cor azul. O ser humano olha
a montanha, o vale e vê cada um de uma maneira separada. Pensa que conhece
a cada um separadamente. Os gatos e os cães vêem estes elementos, mas
não separados. O ser humano dividiu a natureza em 4 partes, os cães
as vêem como uma unidade. O ser humano crê que conhece a natureza, no
entanto a única coisa que fez, foi dividi-la. O homem a fragmentou
em 4 partes, pensando que realmente a conhece, mas não é verdade. Os cães e gatos conhecem-na verdadeira, os homens a dividem
em partes. É como se tivéssemos um vaso e o rompemos em 4 pedaços. O
ser humano observa um dos pedaços e pensa que é a totalidade, além do
mais pensando que é mais inteligente que os cães e gatos que vêem a
totalidade. Crê que conhece um ponto, uma linha, entretanto na realidade
não conhece nem o ponto nem a linha. De acordo com as palavras de Sócrates:
só sei que nada sei. Os seres humanos nem se quer conhecem-se a si mesmos.
O único que sabemos é que o ser humano é diferente dos cães e dos gatos,
e tendem a pensar que conhecem tudo. Qual crê que é a razão
de que só estudamos o pontual? O problema se resolve admirando
a totalidade. A razão do problema é que utilizamos o conhecimento científico
e este é o verdadeiro problema. Como podemos deixar
de ver as coisas deste ponto de vista científico? Quando o homem se afasta
da natureza não pode sentir o coração da natureza. Quando pensamos em
cobrar da natureza de forma científica isso é impossível. A razão porque
a temos destruído é porque o que fazemos à
ela, estaremos fazendo em nosso próprio benefício. O que pensa dos cientistas?
Só pensam em fazer dinheiro.
Utilizando o fundo de uma mina a 3.000 mts.
Os cientistas do Instituto Fukuba estão pesquisando
a antimatéria e estudos sobre supercondutores. Em uma piscina aceleram
as partículas e observam como se comportam. Aonde nos levarão estes
experimentos? Porque buscamos coisas que já sabemos que existem? Porque
buscamos coisas que já sabemos que não existem? Estes estudos podem
ter algum valor? Não se pode chamar progresso
aquilo que não sabemos como pode acabar. Poderia chegar a resultados
de uma força superior à bomba atômica. Se formos capazes de findar com
estes experimentos, haveria dinheiro para salvar a África duas ou três
vezes. A investigação da antimatéria pode se converter em a coisa mais
perigosa que jamais existiu. É tão perigoso porque é somente algo antinatural.
Hoje em dia podem ser geradas ratas maiores do que gatos. Imagina-se
u ratão perseguindo um gato. Isto é algo precioso
ou monstruoso? Esse momento está se aproximando.
A montanha no rio e as ervas na árvore estão destroçadas. Aqui não existe
Deus nem Buda. O humanos estão fragmentando
a natureza em minúsculos pedaços. Quando tempo ainda para
a queda do ser humano se isso não se reverte? No Japão a TV recorreu
a cientistas de todo o mundo para discutir este tema e o que se disse
é que nos restam 10 anos de vida. Eu avalio em uns 25-30 anos de vida.
As coisas chegaram a um limiar. Em todas as questões que envolvem a
natureza estamos em um ponto crítico. Penso que se perdermos mais uns
3% da vegetação a humanidade estará em perigo. Se perdermos estes 3%,
perderemos a alegria da vida. Por que perderemos a
alegria da vida? No Japão quando floresce
a cerejeira a gente vai ao campo alegre, para ver sua flor, se senta
embaixo das árvores e fazem festa. Estão felizes. Bebendo sakê admirando as flores. Quando as plantas florescem, produzem uma
oxigenação isso produz ar puro. Se há muito ar puro estamos contentes
e bebemos sakê. Se perdermos os 3% da natureza é igual a perder ar puro
y perderemos o sentimento de bailar e beber sakê, e as pessoas se esfriarão.
Creio que a melhor
maneira de recuperar é atirar as bolinhas de argila. Estou dizendo para
jogar fora os livros e deixar de pensar. Podes anotar o que quiseres
desta entrevista, mas o último parágrafo deves colocar “esta entrevista
não serve para nada”. Temos que semear as bolinhas de argila com rapidez
porque não tem mais tempo. Depende de cada um de vocês para que isto
seja um ponto de partida para o reflorestamento de todo o planeta ou
nos restará somente reverdecer somente esta ilha. Não devemos deixar
que esta ilha se converta no último paraíso. Aqui deve haver um paraíso
para demonstrar para o resto do mundo com um reflorestamento de verdade. O “nendo dango” é um experimento? Não
posso dizer que seja um invento, é uma imitação da natureza. Quando
jogamos nendo dango , semeamos como Deus. Quando fazemos nendo
dango temos que nos sentir que somos Deuses.
Quando se faz os nendo dango
estamos colocando alma na bolinha de argila. Que tipo
de sementes devemos semear e quais não? Já não se trata de introduzir
ou não espécies não autóctones, trata-se de “sobrevivência”. Tenho um
plano de fazer uma olimpíada verde de repovoamento
florestal para o Mediterrâneo. A Espanha, sobretudo, padece de um grave
caso de desertificação. Como podemos chegar à consciência das
pessoas ante o problema de que a natureza está morrendo? Vocês
terão que inventar as palavras. Eu sou capaz de transmitir este pensamento
em poucas palavras. Aqui nesta região da Europa há pouca água, portanto
há que dançar e tocar o tambor para atrair a água. Qual é o seu último projeto? O que está
fazendo ultimamente? Na
Grécia com um grupo, estamos levando a cabo um projeto de reverdecer
uma extensa área de 10 mil hectares desértica com a ajuda de 500 voluntários
e espalhando por todo o espaço bolinhas de argila. Utilizaram 70 toneladas
de argila e 12 toneladas de sementes, 5 toneladas
de algodão e três toneladas de jornais. Todo mundo colaborou, daí não
precisar de dinheiro nem organização. Eu dizia aos jovens: vocês têm
que semear bolinhas com alma para que cresçam melhor.
Quando semeias “nendo dango”, és como Deus. Tradução livre de Luiz
Jacques Saldanha, dezembro de 2005.
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